• Nenhum resultado encontrado

CARACTERIZAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES ESCOLARES PESQUISADAS

O estudo de casos múltiplos, conforme justificativas anteriores, foi desenvolvido em cinco escolas da rede pública nas séries finais do ensino fundamental. Apesar de estarem situadas em área de risco e com histórico de violências, cada uma delas possuía peculiaridades que a constituía única, sendo, pois, imprescindível diferenciá-las para compreender a análise da relação entre clima e violências nessas escolas a que se propôs esta pesquisa.

Embora as Escolas 4 e Escola 5 ficassem um pouco afastadas do comércio local, todas eram de fácil acesso. Nas proximidades dessas escolas não havia bares ou caso de jogos, que segundo informações dos policiais foram fechados anteriormente para melhor garantir a segurança da comunidade escolar. Apenas a Escola 3 tinha uma lan house próxima. Quanto ao turno de funcionamento, as Escolas 3, 4 e 5 funcionavam também no período noturno, representando uma demanda maior aos seus gestores. Entretanto, os dados desta pesquisa contemplaram apenas o turno diurno.

Apenas a gestora da Escola 4 atuava nos três turnos, perfazendo uma jornada de 60h. como é possível acontecer na SEEDF, já que era opção dela ficar o tempo todo na escola, apesar de também contar com a presença do vice-diretor, como nas Escolas 3 e 5 no terceiro turno, isto é, turno da noite.

Informações sobre o número de alunos atendidos, dependências e número de funcionários podem ser conferidos na tabela 1:

Tabela 1 - Informações gerais sobre as escolas pesquisadas.

Escolas Turnos de

funcionamento nº. alunos de

atendidos

Dependências Recursos Humanos

nº. de salas de aulas Outras Salas nº. de professores Outros funcionários nº. de voluntários 1 M/ V 1294 18 07 50 36 02 2 M/V 1134 15 04 35 31 0 3 M/V/N 1200 15 05 24 10 0 4 M/V/N 1900 16 05 51 35 1 5 M/V/N 1328 17 05 47 25 0

Fonte: Pesquisa de campo

Nota: As informações que constam da tabela referem-se apenas aos turnos matutino e vespertino, focalizados pela pesquisa. Todavia, atuando também no turno noturno, a diretora, nos dados qualitativos, se refere a um número maior de servidores, como, por exemplo, ocorre na página 114 deste trabalho.

8.1.1 Escola 1

A Escola 1 estava situada em uma cidade com 38 anos de inauguração, marcada pelo alto índice de violências. Era a que possuía estrutura mais precária em relação às outras quatro escolas pesquisadas. Tratava-se de uma estrutura antiga com ambiente desorganizado, descuidado e com muitos lixos espalhados pelos corredores. Sua estrutura apresentava sinais de vandalismo e depredação. Havia vidros trincados nas salas de aula e a maioria das portas sem fechadura. Os banheiros dos alunos estavam depredados e também não havia fechadura nas portas. Possuíam espelhos e sanitários quebrados. Estavam sem condição de uso, como, aliás, encontravam-se os banheiros das demais escolas. Não continham papel higiênico e sabão para higiene adequada dos alunos que, além da sujeira fazia com que as alunas, em especial, se privassem de suas necessidades porque o considerava desagradáveis e inseguros; evidenciando assim, a necessidade de reeducação dos alunos em geral para responsabilidade coletiva de conservação do espaço escolar. E para completar, havia próximo à escola uma usina de lixo, que por exalar mau cheiro tornava o ambiente da escola desagradável a todos. Havia entulho de construção nas imediações da escola sugerindo descuido do bem público e falta de conscientização para o perigo a que estavam expostos os alunos que transitavam por ele sem nenhum impedimento.

Atendia a 1294 nos turnos matutino e vespertino, entre eles alunos com liberdade assistida. É entre as escolas pesquisadas, a que atendia um maior número de estudantes da comunidade local (81,2%), ao contrário da maioria de seus professores que, não moram no mesmo bairro (76,9%). Contava com o apoio de 86 funcionários, sendo 50 deles na função docente e 36 distribuídos em outras funções (técnico, administrativo, limpeza e segurança). Além disso, contava com o apoio de dois voluntários, um deles, uma mãe que participou da pesquisa como membro do CSE desta escola em entrevista.

No que se refere às dependências da escola, possuía 25 salas, sendo 18 salas de aulas com iluminação insuficiente e pouca ventilação. A escola contava com biblioteca, auditório, cantina, laboratório de ciências e laboratório de informática com disponibilização de 10 computadores com acesso à internet para uso dos alunos e da comunidade. A sala da direção e dos professores, assim como na Escola 3, ficava separada das salas de aulas e corredores da escola por uma grade, o que parecia proporcionar uma separação entre os adultos e estudantes

e propiciados a prática de violências diversas entre eles no intervalo como pode ser presenciado, já que este não era supervisionado.

Contava ainda com um pequeno estacionamento para uso dos funcionários, o que

dificultava a manobra dos carros e acabava por atrapalhar as salas de aula que ficava ao lado. Havia exposição de trabalhos de alunos. Entretanto, não havia um lugar próprio para eles

evidenciando uma desorganização. Alguns trabalhos estavam pichados e semidestruídos.

8.1.2 Escola 2

A Escola 2 também estava situada na mesma cidade que a Escola 1, porém, em lado oposto (Sul/Norte). Sua estrutura física era nova e ampla. Apesar da boa estrutura, a qualidade dos móveis e das lousas deixava a desejar.

Possuía 1134 alunos em um espaço de 15 salas de aula e mais quatro salas (direção, apoio, professores e biblioteca). Mais da metade dos alunos (62,5%) era moradores da comunidade. Assim como a Escola 4 não possuía o 9º. ano do ensino fundamental.

O corpo de funcionários era composto por 35 professores que segundo a diretora eram, em sua maioria, contratados temporariamente e 31 outros funcionários que desempenhavam diferentes funções. Era a única escola que não possuía orientador educacional.

Quanto às instalações era a única biblioteca que possuía ventiladores, entretanto ela era pouco organizada. Não havia auditório, laboratórios de informática e ciências, refeitório e ainda salas de vídeo. Porém, em visita às dependências da escola, uma pequena sala amontoava inúmeros computadores empoeirados, que segundo a diretora isso se dera por falta de espaço e manutenção. Ao contrário da Escola 1, as salas de aulas eram mais ventiladas porque possuíam janelas amplas, mais mesmo assim pouco iluminadas. As salas dos corredores próximos aos muros da escola eram mais quentes, porque necessitavam fechar as janelas devido às ações violentas da comunidade para com a escola.

A escola 2 destacou-se a princípio pela organização do espaço físico e limpeza, com exceção dos banheiros e a higiene do lanche dos alunos como pode se presenciar. Talvez, por se tratar de uma pintura, nova não havia pichações nos corredores. Entretanto, perceberam-se sinais de vandalismo nos banheiros dos estudantes que revelavam a desvalorização do patrimônio público, tanto por meninos quanto por meninas. Nos banheiros não havia espelhos.

Havia murais com frases e nos corredores da direção exposição de pinturas desenvolvidas pelos alunos como trabalho acompanhado pelo professor de Artes da escola para recepção do MPDFT para lançamento da Cartilha do PSE. Dentro das salas de aula também havia exposição de trabalhados, boa parte, rasgados e pichados. O portão da escola era um pouco diferente das demais, pois seu portão principal fora interditado com abertura transferida para os fundos da escola devido à rivalidade entre gangues de quadras vizinhas da comunidade.

8.1.3 Escola 3

Das cinco escolas pesquisadas, a Escola 3 era a que estava situada em uma cidade mais desenvolvida que as demais, com 51 anos de fundação. Bem estruturada, com Universidade próxima, metrô, Shopping Center, amplo comércio e diversas opções de lazer, sendo, por isso, referências às cidades vizinhas e entorno. Ainda assim, ela fazia parte das comunidades violentas da capital brasileira e nem por isso, mas privilegiada que as demais.

Suas instalações eram compostas de 20 salas no total, sendo 15 delas destinadas às salas de aula. Que eram bem iluminadas; porém pouco ventiladas comprometendo o desempenho dos alunos e professores. Assim como na Escola 1, nesta escola, a sala dos professores e da direção ficavam separadas do restante da escola parecendo provocar uma cisão entre eles. Organizavam-se em sala “ambiente” em que os alunos faziam rodízio das turmas de acordo com as disciplinas. As turmas de aceleração da aprendizagem não participavam deste rodízio e seus professores se deslocavam até as salas, detectado como forma ruim para a prática de violência entre os alunos.

Era a escola que mais atendia alunos moradores de outra comunidade (70,7%). No total, contemplava 1200 alunos. A equipe de funcionários era composta de 34 colaboradores, sendo 24 deles docentes.

Quanto às dependências da escola, havia um auditório, mas nada que o caracterizasse como tal, pois era usado como espaço multifuncional destinado inclusive às refeições dos alunos. Havia biblioteca em funcionamento na escola, entretanto, um pouco apertada e com pneus velhos lá alocados. Além da precariedade do auditório, faltavam laboratórios de informática e ciências.

A Escola 3 era a única que possuía sala de vídeo. Nas turmas de aceleração da aprendizagem havia televisão com vídeo e DVD fixos, confirmando o interesse dos alunos pelas aulas, nos relatos de grupos focais. Foi o único estabelecimento que não possuía quadra de esportes. Para realização das atividades físicas, os professores faziam uso da quadra esportiva da comunidade local quando não ocupada, dificultando o trabalho já que os educadores tinham que proteger os alunos das violências de fora.

No geral, a limpeza da escola era boa. Havia nos corredores lixeiras educativas, patrocinadas por empresas privadas para desenvolvimento de trabalho de consciência ambiental junto aos alunos. Não havia pichações nos corredores e nas salas de aula, pois recentemente havia sido feito trabalho de grafitagem na parede de fundo de cada uma das salas de aula para desfazer as pichações dos alunos e tornar as salas mais agradáveis. Contudo, boa parte das mobílias e lousas estavam deterioradas.

No espaço da escola, havia um cantinho destinado para amontoar cadeiras quebradas, pneus velhos e barras de ferros, além de pedaços de telhas e paus, no entanto, não havia nenhuma barreira de proteção aos alunos. Havia várias portas sem fechaduras e ainda foi possível perceber vidros quebrados com pedaços de cacos, comprometendo a segurança no espaço da escola. As janelas não possuíam grades.

Não havia murais informativos e ainda exposições de trabalhos dos alunos. Não havia algum atrativo para os estudantes na hora do recreio como não tinha também na Escola 5.

8.1.4 Escola 4

A Escola 4 era localizada em uma comunidade mais nova que as demais cidades das outras escolas pesquisadas, com 16 anos de fundação. Entretanto, foi a escola que apresentou melhor estrutura e desenvolvimento que as demais. Tratava-se de uma arquitetura bastante diferente das demais, com primeiro andar, onde ficavam os alunos de séries mais elevadas.

Acolhia a 1900 alunos e possuía 86 funcionários, sendo 51 deles educadores. Atendia também alunos do quarto ano da Educação Infantil. Possuía 16 salas de aula e mais cinco salas com diferentes funções. Apenas 10 salas de aulas eram destinadas aos alunos do 5º ao 9º ano. As salas de aula eram ventiladas; porém pouco iluminadas. A qualidade dos móveis era boa, mas os quadros não eram de boa qualidade.

No que se refere às suas dependências, o espaço destinado às salas da direção e apoio era muito apertado, parecendo que a diretora quisesse priorizar os outros espaços, como se

pode ver o amplo espaço da sala dos professores que funcionava como coordenação e momentos de reuniões.

Ainda quanto às dependências da escola, ela possuía sala de artes, laboratório, com acesso à internet com oferecimento de projetos de informática aos alunos em horários contrários e à comunidade também. E, embora com espaço bem apertado e pouca ventilação possuía biblioteca com boa organização. Assim como nas Escolas 1, 2 e 5, a Escola 4 também carecia de salas de vídeo e auditório e laboratório de ciências. Como a escola possuía o formato de U, as atividades sociais eram realizadas no pátio central da escola; porém este não era coberto. Possuía uma boa quadra de esportes aos alunos e a comunidade que participavam de projetos.

Havia pichações nos muros de fora da escola, que estava sendo pintados pelos alunos para desenvolver um trabalho de grafitagem com o apoio de um profissional após a realização de um trabalho de conscientização com toda a escola. No geral, a escola era limpa e cuidada. Diferente da escola 1 e 3, possuía espaço destinado para os entulhos da escola, separado por um portão que não comprometia a segurança dos alunos e a organização da escola. E, apesar disso, verificou-se a existência de vidros quebrados nas janelas e o empilhamento de carteiras e cadeiras no parapeito do andar superior, podendo acidentar alguém. Fora isso, a escola demonstrava ser bem cuidada. Os armários da direção eram bem organizados, com disponibilização de atas e registros diários aos pesquisadores.

Na direção, havia uma mural com um projeto da Escola “Passado/Presente/Futuro” com exposição de fotografias de como ela era antes da reforma como ela está, como desejavam que estivesse no futuro, motivando a todos. Nas imediações da escola havia murais com temas educativos (doenças sexualmente transmissíveis, higiene e outros) e exposição de trabalhos dos alunos sugerindo melhor comunicação que as demais e protagonismo dos estudantes. Na Escola 4, assim como na Escola 5 era oferecido à comunidade o programa da UNESCO Abrindo Espaços: Educação e cultura para a paz.

8.1.5 Escola 5

A cidade em que estava situada a Escola 5 era a mais velha de todas, com 52 anos de fundação. Entretanto, com forte histórico de violências, principalmente com o tráfico de drogas e roubos na comunidade local.

A Escola atendia nos turnos matutino e vespertino um total de 1328 estudantes, número que excedia a sua capacidade, segundo informações do diretor que destacou também atender vários alunos remanescentes do Centro de Atendimento Juvenil Especializado (CAJE). Segundo o diretor, a escola atendia a uma demanda de alunos superior a sua capacidade. Quanto ao quadro de funcionários, 47 representavam os professores e 25 desenvolviam outras funções.

A Escola possuía 22 salas, sendo 17 destinadas às aulas e cinco salas com outras funções (apoio, direção, professores, coordenação e biblioteca). Esta última (biblioteca) não estava funcionando por falta de organização e disponibilidade de funcionário. Ainda no que se refere às instalações, carecia também de auditório, sala de vídeo e laboratórios de ciências. O laboratório de informática, sem justificativas também estava desativado. Ele possuía 10 computadores para uso.

No que se refere à sua estrutura, era uma escola grande, ventilada; porém com pouca iluminação. Apesar de ser uma escola arejada, em tempos mais quentes a escola ficava extremamente abafada, pois possuía teto de aço, provocando sensação térmica elevada ou fortes ruídos quando chovia.

A pintura da escola era nova, e, por isso, não havia pichações, ao contrário do que se viu nos banheiros. No geral, tratava-se de uma escola limpa e organizada. Havia na entrada da escola um mural com exposição de trabalhos dos professores, mas, não havia exposição de trabalhos dos alunos.