• Nenhum resultado encontrado

Foi possível perceber que o clima escolar era percebido como negativo por grande parte dos informantes, nas cinco escolas pesquisadas. Todavia, o clima conflituoso era mais intenso nas Escolas 1, 2, 3 e 5. Isso se devia ao fato de a comunicação entre os atores ser falha, principalmente entre os alunos, os quais se desentendiam e se relacionavam mal. Além disso, o sentimento de insegurança causado pelas violências dentro e fora da escola, a desorganização do espaço escolar, o estilo de liderança dos gestores, a má qualidade das aulas e a falta de atrativos nessas escolas contribuíam para a deterioração do respectivo clima, tornando-as desagradáveis para a maioria dos estudantes (51,1%) e educadores (53,2%), conforme expresso nas tabelas 12 e 13. Apesar disso, cerca de metade dos alunos (50,7%) declarou gostar muito da escola em que estudavam, principalmente na Escola 4, com o maior número de satisfeitos (59,2%).

Tabela 11 - Gosto muito da escola (Alunos em %)

Resultados por escola Total

Escola 1 Escola 2 Escola 3 Escola 4 Escola 5

nº.=165 nº.= 134 nº.= 165 nº.= 162 nº.= 137 nº.=763

Concordo muito e um pouco 53,3 38,1 50,9 59,2 49,7 50,7

Não concordo nem discordo 18,2 14,2 14,6 12,4 15,3 14,9

Discordo muito e um pouco 18,8 24,6 20,6 10,5 24,1 19,5

Em Branco 9,7 23,1 13,9 17,9 10,9 14,9

Total (%) 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Apesar do clima de conflito também existente na Escola 4, porém significativamente menos intenso, ela foi considerada a mais agradável pelos estudantes (64,5%) dentre as escolas pesquisadas, ao passo que as Escolas 3 (32,1%) e 5 (37,1%) foram identificadas como as menos agradáveis.

Tabela 12 - O ambiente de minha escola é muito agradável (Alunos em %)

Resultados por escola Total

Escola 1 Escola 2 Escola 3 Escola 4 Escola 5

nº.=169 nº.=137 nº.=165 nº.=166 nº.=140 nº.= 777

Concordo muito e um pouco 49,1 50,4 46,0 64,5 44,3 51,1

Não concordo nem discordo 20,7 21,2 21,9 16,9 18,6 19,8

Discordo muito e um pouco 29,6 25,5 32,1 18,6 37,1 28,4

Em Branco 0,6 2,9 - - - 0,7

Total (%) 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: Pesquisa de campo

Assim como os alunos, as respostas dos professores sugerem que o ambiente dessas escolas poderia ser mais agradável. O ambiente das Escolas 1 e 3 foi apontado pelos educadores como menos agradáveis, sendo a de número 3 consenso entre os corpos docente e discente. Os professores das Escolas 2 e 5 se manifestaram mais positivamente em face das escolas em que davam aulas.

Tabela 13 - O ambiente da escola é muito agradável (Professores em %)

Resultados por escola Total

Escola 1 Escola 2 Escola 3 Escola 4 Escola 5

nº. =28 nº.=18 nº.=12 nº=.29 nº.= 24 nº.= 111

Concordo muito e um pouco 39,3 83,3 33,4 51,7 58,4 53,2

Não concordo, nem discordo 17,9 - 8,3 20,7 12,5 13,5

Discordo muito e um pouco 42,8 16,7 58,3 27,6 29,1 33,3

Total (%) 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: Pesquisa de campo

O ambiente desagradável contribuía para que alunos e professores não sentissem o desejo de ir à escola. Entretanto, a falta de motivação expressa pelos educadores era ainda maior que a de seus alunos, conforme ilustram as tabelas 14 e 15. Esse é um aspecto evidenciado nos relatos dos alunos quanto à falta de qualidade das aulas e à falta constante de professores: “...Os professores tinham que faltar menos, porque não tem substituição. Às vezes a falta não é justificada. Acho que algumas vezes nem tem motivo. E a gente fica sem fazer nada e sai mais cedo todo dia” (Aluno, Grupo focal, Escola 5).

Houve consenso entre os alunos e professores da Escola 4 ao declararem ter mais vontade de retornar ao espaço dessa escola, ao contrário dos estudantes e professores da

Escola 3. Ainda que com um clima de conflito instaurado nessas escolas, considera-se relevante o somatório de alunos (70,3%) que declararam ter a escola como referência. Esse aspecto pode favorecer o trabalho de superação das violências.

Tabela 14 - Sempre tenho vontade de vir à escola (Alunos em %)

Resultados por escola Total

Escola 1 Escola 2 Escola 3 Escola 4 Escola 5

nº. = 163 nº. = 128 nº. =164 nº.= 163 nº.= 136 Nº.= 754

Concordo muito e um pouco 77,3 60,2 67,2 79,7 64,1 70,3

Não concordo nem discordo 8,0 10,9 14,0 8,6 15,4 11,3

Discordo muito e um pouco 8,6 9,4 9,7 4,3 9,5 8,2

Em Branco 6,1 19,5 9,1 7,4 11,0 10,2

Total (%) 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte pesquisa de campo

Tabela 15 - Sempre tenho vontade de vir à escola (Professores em %)

Resultados por escola Total

Escola 1 Escola 2 Escola 3 Escola 4 Escola 5

nº.=28 nº.=18 nº.= 12 nº.= 29 nº.= 24 nº.=111

Concordo muito e um pouco 53,6 77,7 58,3 86,3 58,3 67,6

Não concordo nem discordo 7,1 11,1 - 6,9 4,2 6,3

Discordo muito e um pouco 39,3 11,2 41,7 6,8 33,3 25,2

Em Branco - - - - 4,2 0,9

Total (%) 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: Pesquisa de campo

Nos dados qualitativos, os adultos, ao justificarem porque consideravam o ambiente desagradável, relacionavam o clima aos acontecimentos que se davam dentro da escola, como as brigas, o vandalismo etc., como ilustra a fala de um servidor não docente, membro do CSE da Escola 5: “A escola poderia estar mais calma, mais branda, uma mais amigo do outro. Falta mais educação, isso não existe. Antigamente não existia isso (falta de educação), os alunos batiam na porta ... dá licença.... aqui não ... o aluno derruba a porta e entra mesmo assim”. As violências da comunidade também foram destacadas pelos adultos como contribuintes para degradação do clima: “O clima é muito conflituoso. Tem gente de fora que joga pedra na escola” (Aluna, Grupo focal, Escola 2).

Os estudantes, ao tratarem do clima, se referiram à ocorrência de violências, em especial às brigas, mas também se referiram à falta de atividades significativas como o esporte:

Tipo assim, o clima é mais ou menos, porque tem muitas brigas. A gente até evita conversar. Eles aqui fazem muito projeto, mas o que falta aqui é uma quadra decente. A quadra não tem espaço, não tem espaço pra basquete, pra nada. A

quadra ta toda quebrada, cheia de mato. Não tem como andar por ali com o tanto de mato que tem ali. Aparece rato um bocado de coisa (Aluno, Grupo focal, Escola 2).

Contudo destacam Abramovay e Rua (2002), as atividades esportivas, mais requisitadas pelos alunos, eram motivo de desavenças entre eles, como também pode ser constatado na análise dos dados nestas escolas.

Os alunos também relacionaram o clima à estrutura física da escola que desfavorecia o ambiente da escola:

Poderíamos manter a escola mais organizada, um ambiente diferente e também uma sirene diferente. Esse sinal, estamos enjoados dele. Tem lugar da escola que você entra, dá aquele clima de presídio. Dá aquele clima de lugar que só tem bandido. Tipo assim, o clima tem haver com a estrutura da escola, tipo assim tudo aqui gera revolta (Aluno, Grupo focal, Escola 1)

Além da estrutura, a conservação e limpeza do espaço físico também foi um dos aspectos destacados pelos alunos das cinco escolas no que se referia ao clima escolar:

Os banheiros dos meninos quando você passa tem cheiro ruim. Eu acho injustiça limpar a escola só quando vem gente fora, visitas. Deveriam tratar a gente com igualdade. Só arrumam a escola quando vem gente importante que parece que é melhor do que a gente. Já que a escola está arrumada deveriam arrumar sempre (Aluna, Grupo focal, Escola 2)

Já na Escola 4, quando perguntado aos alunos sobre a qualidade do clima, eles consideraram meio termo, nem insatisfatório nem satisfatório. Destacaram que mudanças tinham ocorrido, mas ainda assim, o clima não era muito satisfatório: “O clima é bom e ruim, um pouco de cada, ´tá no meio, mas melhorou bastante. É só a gente querer a gente pode melhorar. Mas ela ta no caminho, ´tá melhorando. Mas, se eu fosse professora, eu preferia trabalhar num presídio que nesta escola” (Aluna, Grupo focal, Escola 4). Essa percepção de mudança também é destacada pelos adultos em entrevista nesta escola: “Só estando aqui pra acreditar o que a escola já superou e, por isso, está um pouco mais tranquila” (Servidora, Membro do CSE, Entrevista, Escola 4) .

Boggino (2005) destaca a importância de a escola ser organizada e gerida de modo a tornar o seu clima mais agradável, entretanto, as escolas pesquisadas deixavam a desejar nesses aspectos. Considera Boggino (2005) que quando há na instituição ruídos, desencontros, desorganização e improvisação se geram climas estressantes. Entretanto, esta deve organizar- se de modo a melhorar o seu espaço, fazendo com que os alunos tenham melhores percepções dela. E o aluno, deve ser responsabilizado a zelar pelo espaço da escola.

Comparando as informações entre os participantes, verificaram-se contradições de informações entre os diretores e os alunos (Escolas 1, 2, 3 e 5) no que se refere às atividades desenvolvidas para superar as violências e tornar o ambiente da escola mais agradável: “A escola podia ser mais agradável, mais ventilada. Podiam oferecer mais atrativo e liberar mais a biblioteca. Os banheiros também são muito sujos (Aluna, Grupo focal, Escola 3). Diversas falas retrataram a percepção dos alunos por sua escola que as consideraram desinteressante: “[Acho] que podiam fazer alguma coisa para a gente se relacionar melhor, mais atividades” (Aluna, Grupo focal, Escola 3). Os alunos até tentavam tornar o ambiente mais agradável investindo, por exemplo, na limpeza da sala:

A gente entra na sala e o ambiente ta todo cheio de poeira aí nos das três oitavas e da aceleração tirou um dia para gente só lavar a sala. A gente não fez nenhum dever. A gente tirou todas as carteiras, jogou água, encerou. Aí a gente fez esse trabalho porque a gente não estava mais aguentando mais conviver naquela sujeira (Aluna, Grupo focal, Escola 1).

Para os alunos a falta de atividades interessantes e a má qualidade das aulas fazia com que os alunos se sentissem desmotivados e revoltados: “...´Tá faltando muita atividade pra gente. Tem um ditado que diz assim, cabeça vazia é oficina do diabo. Então, a diretora aqui da Escola 2 não ´tá fazendo nada pra gente” (Aluno, Grupo focal, Escola 2). Uma vez o clima não sendo propício para que os alunos se sintam protagonistas e valorizados eles acabam sentindo-se inseguros, quando acabavam por ocupar seu tempo com práticas de violências entre si: “A gente ´tá precisando de coisa diferente, coisas novas” (Aluno, Grupo focal, Escola 3).

Os gestores, quando indagados sobre o clima da escola que administravam, todos se referiam à escola negativamente. A gestora da Escola 1, por exemplo, destacou a questão da violência e a dificuldade de participação de todos:

Quando cheguei à escola no início de janeiro a “fama” da escola era muito ruim, inclusive o ex-diretor saiu porque foi ameaçado de morte por aluno (...). As violências melhoraram um pouco e o ambiente escolar como um todo. Então, a nossa escola não é assim 100% até porque a gente não tem participação de todos, mas já ocorreu mudança significativa, porque eles passaram a preservar a escola, não pichando as paredes e conservando melhor os móveis substituídos. As paredes estavam pichadas (Entrevista, Diretora, Escola 1)

Desta forma, foi possível verificar que, o clima escolar era influenciado por um conjunto de fatores externos, porém, percebeu-se que uma série de fatos dentro do próprio espaço da escola determinavam a qualidade do clima da escola, os quais apontavam a falta de comprometimento dos gestores como igualmente responsáveis pelo clima encontrado, que

uma vez desfavorecido propiciava revoltas, indisciplina e violências na escola e contra a escola. Destaca Campos (2002, p.63) que o desempenho organizacional pode ser aumentado criando-se um clima que satisfaça as necessidades dos membros da organização e, ao mesmo tempo, canalize seus comportamentos motivados para a realização dos objetivos organizacionais. Para tanto, a organização preocupada com a qualidade de seus serviços deve aferir periodicamente o seu clima, pois dependendo de como este se apresenta, o trabalho pode ficar prejudicado, as relações interpessoais comprometidas e os resultados aquém das expectativas. Entretanto, houve contradições entre os gestores, assistentes e professores entrevistados nas Escolas 1, 2, 3 e 5 no que se refere ao oferecimento de atividades a fim de superar as violências e tornar o clima da escola mais agradável. Já os alunos da Escola 4 também apontaram sugestões, mas confirmaram as ações mencionadas pela gestora, membros do CSE e policial. Assim, montou-se um quadro com as falas dos alunos quanto ao que era feito em suas escolas e suas sugestões para tornar o clima mais agradável, quando se é possível perceber que eles não pedem nada além do que já lhe é de direito: lâmpadas, filtros com água, melhor qualidade do ensino etc., conforme demonstra quadro a seguir.