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COMO LIDAR COM AS VIOLÊNCIAS NA ORGANIZAÇÃO ESCOLAR

Para Debarbieux (2002), é em meio às tarefas cotidianas da educação que se deve ao desenvolver desde cedo um processo contínuo, o trabalho de prevenção das violências, de modo a se preparar para os conflitos e ações violentas, contando, se necessário, com a ajuda de outros atores, especializados ou não: os professores, é claro, mas também as famílias e as comunidades, tantas vezes vistas como inimigas ou culpadas. É imprescindível, como prática educativa, o respeito pelo diverso e o diferente (DELORS et al., 1998; BOGGINO, 2005), isto é, aprender a conviver com o outro na superação das violências. Todavia, esse desafio envolve não somente os alunos, mas a comunidade escolar como um todo, para que tenham coerência entre discurso e ação. Não pode a escola ser cúmplice das violências, ignorando os fatos que ocorrem no seu ambiente, as formas como se desenvolvem e suas consequências, buscando ter coerência entre suas ações e seu discurso.

Não há receituários para superação das violências até porque cada escola constitui um universo único, composto de pessoas vivas e, por isso, adquire suas características (GOMES, 2001, 2005a). Somente ela própria (gestão, alunos, professores, funcionários e comunidade)

pode encontrar o melhor caminho para o alcance dos seus objetivos. Cabe-lhes, pois, encontrar medidas eficazes para a prevenção e superação das violências e outros problemas, investindo num clima positivo para se proteger das violências vindas de fora. Assim, a solução para os problemas de insegurança causados pelas violências não reside na instalação de sistemas de segurança de alto desempenho, que são refúgios de algumas escolas, mas sim a realização de avaliações mais regulares do clima interno para averiguar, por exemplo, os níveis de violências, de modo a lhe permitir medidas mais apropriadas tanto de prevenção quanto de superação, num processo contínuo (DEBARBIEUX; BLAYA, 2002). Por isso, Costa (2003) alerta, por meio das imagens organizacionais da escola, que não existe um único e melhor modelo de gestão para compreender e administrar os contextos organizacionais escolares. Assim, cabe ao gestor repensar a escola com todos os seus envolvidos para favorecer a tomada de decisões acertadas para solucionar seus conflitos e não mais por meio de práticas repressivas e autoritárias.

Por ser a escola um espaço privilegiado de encontro cotidiano entre os jovens, com função de aprendizado curricular e de socialização das juventudes, deveria ser potencializada, por meio da busca de melhores níveis e melhores formas de integração entre cultura escolar e cultura jovem, o que pode ser alcançado por muitos caminhos, mais complementares que alternativos, tanto nos espaços curriculares como não-curriculares (UNESCO, 2005, p. 209).

Outro aspecto no trabalho de superação das violências é o gestor, que constitui o diferencial no enfrentamento das violências, porém ele não é o “salvador da pátria”, mas o modo como se relaciona com os diferentes atores e executa o seu trabalho influencia os resultados das suas ações, bem como a criação de um clima positivo na escola, necessário para que o ensino-aprendizagem ocorra (CARREIRA, 2005).

Para estabelecer uma cultura da não violência, a comunidade escolar deve desenvolver atividades eficazes: ressignificação do espaço escolar, aulas significativas, mudanças relevantes do projeto pedagógico e do currículo escolar, momentos de convivência, estabelecimento em equipe de normas e punições para garantir a ordem e o respeito entre os seus membros, estabelecimento de parcerias, realização de atividades culturais, criação de projetos que envolvam os alunos, os pais e a comunidade, acompanhamento e apoio e a alunos que se considerem em situação de risco (ABRAMOVAY; NUNES, 2005).

Na superação das violências, vale destacar que as medidas de punição adotadas são importantes para a educação do aluno. Elas devem ser justas e capazes de fazer o aluno reparar o dano. Essas medidas devem ser repensadas, já que as adotadas pela escola pouco

contribuem para a educação do aluno, além de serem perigosas (violência institucional), já que muitas vezes são usadas sanções acadêmicas (provas, trabalhos extras, perda de pontos etc.). Sobre as punições é importante envolver os pais, e comunicar-lhes. Assim, eles exigirão do filho boa conduta, ajudando a escola e o próprio filho no que se refere à importância do respeito à autoridade. Os pais devem saber que o filho recebe instrução e aprendizados equilibrados (FERNANDEZ, 2005). Além disso, elas não ultrapassam os limites e as obrigações da escola, que é a de zelar pela qualidade do ensino. Merecem por isso, maior atenção por parte da escola. Caso contrário, ações isoladas não alcançarão êxito no trabalho de superação das violências.

Algumas ações vêm sendo implementadas pelo Poder Público e a UNESCO em escolas de diferentes Estados brasileiros, na tentativa de superar as violências que ocorrem em seu interior, contribuindo de certa forma para amenizar as violências fora dela, por meio de projetos como Abrindo Espaços /BA, Escolas de Paz / RJ, Escola Aberta /PE (cf., p. ex., ABRAMOVAY; NUNES, 2005). Tentar não apenas buscar soluções para as violências que as atingem, mas, sobretudo, desenvolver um trabalho de prevenção por meio da participação da família e da escola, evidenciando que, garantir uma educação de qualidade é responsabilidade de todos.

Contudo, a escola sozinha não resolverá o problema. A superação das violências demanda um esforço coletivo e um compromisso de toda a comunidade escolar. A criança e o jovem necessitam de um projeto pedagógico destinado a mantê-los na escola e reaproximá-los do convívio familiar e da comunidade. Esta, por sua vez, tem seu papel na luta pelos seus direitos, já que eles não são garantidos naturalmente (NOGUEIRA, 2006, p. 239).

Portanto, sob o olhar atento às violências que ocorrem no espaço escolar, verifica-se que três necessidades tornam-se emergenciais para lidar com esta problemática. A primeira delas é a escola saber onde quer chegar, o que lhe exige traçar o perfil de seu clima, avaliá-lo para que seja feito o reconhecimento da necessidade de mudanças e identificação de suas limitações e prioridades. Assim, ter-se-á se dado o primeiro passo. Em seguida, a escola precisa definir como chegar lá. Esse segundo passo constitui desafio à escola, já que se faz necessário ouvir toda a comunidade escolar para não incorrer em escolhas mal sucedidas. Porém, é preciso ter ciência de que o caminho escolhido pode ou não levar ao lugar desejado, devendo-se, portanto, realizar os ajustes necessários para se conseguir chegar ao lugar pretendido em menos tempo e mais facilmente. O que equivale a afirmar, segundo Boggino (2005), que a escola precisa criar instâncias, projetos e programas que atendam às suas

necessidades, como é o caso das violências. Para isso, convém conhecer outras experiências, que podem propiciar êxito ou não, já que cada escola possui realidade diferenciada. Por fim, é preciso ter a clara consciência de que as mudanças exigem tempo, trabalho e persistência nos objetivos, mas, sobretudo, querer mudar é elemento fundamental à escola. Assim, conclui-se que a organização escolar pode e deve fazer diferença frente às violências que ocorrem em seu interior. Consequentemente, também estará fazendo diferença para as violências fora dela.

7 METODOLOGIA

Antes de ser mencionada qual a metodologia empregada para realização desta pesquisa, faz-se necessário relembrar ao leitor, que se optou por fazer uso de todos os dados da pesquisa para o MPDFT, realizada pela Cátedra UNESCO de Juventude Educação e Sociedade da UCB no primeiro semestre de 2008, conforme justificativas apresentadas. O tema clima na organização escolar e suas relações com as violências são complexos para se abordar a partir de uma só perspectiva metodológica, isto é, quantitativa ou qualitativa.

Vale ressaltar que não se trata apenas de um aproveitamento de dados: esta autora participou da pesquisa desde a apresentação da proposta de avaliação do MPDFT à Cátedra até a elaboração do relatório final de pesquisa. A Cátedra estimulou os participantes ao aprofundamento de certos tópicos em comunicações para congressos, elaboração de artigos e trabalhos de conclusão de curso (FERREIRA, 2009; SANTANA, 2009).