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3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

3.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO

Nesta seção, qualificou-se o presente trabalho quanto a sua natureza, a sua finalidade e a sua abordagem ao problema de pesquisa. A presente tese argumenta que uma pesquisa teórico-empírica sobre a interação U-E-G sob a perspectiva de uma empresa de classe mundial pôde se tornar justificável. Almejou-se criar um referencial de análise estratégica em uma perspectiva complementar entre a Criação de Valor Compartilhado e a Hélice Tríplice, por meio de pontos de diálogo existentes provindos dos conceitos de Sistemas de Inovação, de tecnologias físicas e de tecnologias sociais.

De acordo com Gil (1991), esta pode ser considerada uma pesquisa de natureza aplicada, já que construiu conhecimento com base na utilização empírica de teorias, intencionando o avanço científico a partir de resultados obtidos na própria realidade social.

Segundo Lakatos e Marconi (1986), quanto aos seus fins e objetivos, esta investigação foi descritiva, pois detalha e sistematiza o ambiente natural, sendo este último o fornecedor direto dos dados. Diante dessa perspectiva, o pesquisador realizou uma descrição detalhada e minuciosa, relatando historicamente os acontecimentos. Segundo Gil (1991), a pesquisa descritiva visa a apresentar de maneira meticulosa as características de certos fenômenos ou de certas populações. Uma dentre suas especificidades é o uso de técnicas padronizadas para a obtenção de dados, como entrevistas semiestruturadas, questionários e observação sistemática, sendo frequentemente utilizadas em pesquisas qualitativas.

A perspectiva institucionalista e evolucionista sugere que o desenvolvimento econômico deve ser analisado por meio de um estudo temporal, considerando as especificidades de uma região. Pesquisadores afirmam que é fundamental que estudos sejam realizados qualitativamente, por meio de narrativas históricas sobre as transformações das instituições e das organizações. Devem ser descritos os acontecimentos em uma perspectiva histórica do segmento industrial, considerando o tempo e a geografia. Portanto, a historicidade demanda uma pesquisa com aspecto qualitativo (NORTH, 1991; 1994; NELSON, 1991; CHANDLER, 1992; PORTER, 1998; LEWIN; VOLBERDA, 1999).

Uma abordagem qualitativa do problema de pesquisa é a forma mais apropriada para a compreensão das mudanças temporais no setor fotovoltaico, do ponto de vista da coevolução do ambiente institucional e da estratégia empresarial. De acordo com Bryman (2008), os métodos qualitativos permitem maior flexibilidade para a compreensão e a interpretação do inter-relacionamento entre o pesquisador e o pesquisado. Utiliza-se habitualmente na abordagem qualitativa a técnica de estudo de caso como design de pesquisa (DENZIN; LINCOLN, 2006; BRYMAN, 2008).

3.2 DELINEAMENTO

A presente pesquisa utilizou o delineamento por estudo de caso único em profundidade. Desenvolveu-se um caso da atuação estratégica da WEG no setor de energia fotovoltaica do ponto de vista da coevolução, com base nos princípios da interação U-E-G visando avançar teoricamente e compatibilizar a CVC e a Hélice Tríplice. O caso foi escolhido pelas especificidades únicas da WEG quanto à CVC já estudada pelo autor no passado (MORAIS NETO; PEREIRA, 2014) e também devido às condições propícias ao estudo desta firma nesse incipiente segmento, em transformação. Depois, prosseguiu-se com a construção do referencial de análise da estratégia por meio de entrevistas realizadas com colaboradores da WEG e com outros experts de organizações universitárias, governamentais e de associações.

3.2.1 Estudo de Caso

Um estudo de caso visa a aprofundar a pesquisa por meio de unidades de análise nitidamente estabelecidas (GODOY, 2006). Deve ser evidenciada a razão pela qual o caso foi escolhido, algum interesse particular para a sua escolha. Concentra-se nos casos individuais, na unidade que o torna em algo especial, devido a sua possibilidade de evidenciar um achado específico (STAKE, 1994; GODOY, 2006). Portanto, elegeu-se a WEG por ela já praticar a sua estratégia sob a lente da CVC. Além disso, sabe-se que a WEG atua em conjunto com membros de universidades e de agências governamentais para promover o avanço tecnológico e institucional (MORAIS NETO; PEREIRA, 2014). O setor de energia solar fotovoltaica foi eleito por estar em momento único de emergência e de importância para o país (MME, 2015).

Outro fator determinante para a escolha da WEG como unidade de análise foi a história de ética e de princípios da empresa. Morais Neto e Pereira (2014) demonstram em uma perspectiva histórica o legado ético que os fundadores Werner, Egon e Geraldo deixaram para a firma. De acordo com um livreto chamado Princípios WEG, recebido pelo autor como presente de Harry Schmelzer Jr. (CEO), são citadosos princípios adotados permanentemente e desde a sua fundação:

b) Uma autêntica qualidade dos produtos e serviços. c) Tratar fornecedores e clientes com respeito e justiça. d) Reinvestir os lucros.

e) Atualização de produtos quanto a normas e padrões e utilizar tecnologia de ponta.

f) Ser independente tecnicamente em serviços e produtos. g) O acionista é igual ao sócio.

Desde 2005, a empresa de consultoria Strategy& (ex-Booz & Company), conduz o estudo Global Innovation 1000, que investiga a relação entre o quanto que as companhias de capital aberto gastam em P&D e o seu desempenho financeiro geral. Ano após ano o estudo reforça a análise de que não há relação estatisticamente significativa entre as duas variáveis. A Revista The Economist já elogiou esse trabalho (STRATEGY&, 2014). Nesse contexto, o Brasil conta com oito empresas dentre as mil mais inovadoras do planeta, que somados os investimentos em inovação, geram um total de US$ 2,65 bilhões entre junho de 2013 e junho de 2014. Em nível global, a Apple é líder com US$ 4,5 bilhões de investimento em inovação, o segundo lugar é o Google (US$ 8 bilhões). O que demonstra que o ranking não considera apenas o total de investimentos, mas, também, a estratégia utilizada, a finalidade e o nível de sucesso com que os investimentos em P&D foram aplicados. As oito empresas nas melhores posições nesta relação são: a Petrobras em 126ª, a Vale em 166ª, a Embraer em 492ª, a Gerdau em 739ª, a Totvs em 879ª, a Eletrobrás em 938ª, a Natura em 978ª e a WEG, na posição de número 980 (BRASIL TEM OITO EMPRESAS..., 2014).

Uma razão que fundamenta a escolha da WEG para objeto de estudo é que, de acordo com Barron (2007), o mundo nos negócios está em constante mudança, tanto a literatura acadêmica quanto a praxis exploram a importância de uma postura por parte dos gestores, de modo a promover a flexibilização em suas organizações para que se mantenham competitivas. Diversas pesquisas tomam uma abordagem no modelo de levantamento cross-seccional ou survey, além de serem utilizados dados de grandes empresas, muitas vezes membros da Fortune 500 ou da FTSE (Financial Times Stock Exchange) 100. No entanto, a perspectiva evolucionária argumenta que, para uma apropriada compreensão da maneira como as organizações e as indústrias emergem, desaparecem e se desenvolvem, é necessário um estudo histórico e temporal das mudanças. Nessas investigações,

também são consideradas empresas de pequeno e de médio porte, ou seja, firmas ou subunidades que estão passando por transformações que podem ou não serem bem-sucedidas.

Por fim, a WEG ganhou o título de Melhor Empresa do Ano da

Revista Exame em 2015, dentre o ranking das melhores e maiores. Além

disso, essa empresa foi mais uma vez escolhida para integrar o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da BM&FBOVESPA, sendo a única empresa que pertence ao segmento de Máquinas e Equipamentos. O ISE foi criado para o desenvolvimento de um ambiente de investimentos alinhado com a demanda pelo desenvolvimento sustentável. É um índice comparativo que verifica o desempenho das empresas que negociam suas ações na BM&FBOVESPA, sob o aspecto das dimensões social, ambiental, econômico-financeira e de mudanças climáticas (BM&FBOVESPA, 2015). A presença da WEG no ISE, ano após ano, demonstra que o mercado reconhece que essa empresa pratica suas ações pautadas por princípios de sustentabilidade empresarial, conceito basilar da CVC.

Como método de pesquisa, o estudo de caso tem interesse em casos individuais e na compreensão obtida a partir das análises, por meio dele, o pesquisador pode obter insights sobre algum assunto específico Normalmente, o estudo de caso tem uma estrutura conceitual construída em torno de perguntas de pesquisa. O que se busca no estudo de caso é a análise das especificidades dele (STAKE, 1994).

Portanto, esta tese visou compreender como construir um referencial de análise estratégia, sob as lentes da CVC e da Hélice Tríplice. Embora seja um modelo estruturado a partir das ações da WEG, esta é uma empresa de classe mundial que comprovadamente pratica a CVC (MORAIS NETO; PEREIRA, 2014), o que possibilita que os resultados aqui gerados fomentem conceitos teóricos acerca desse assunto, uma generalização naturalística.