• Nenhum resultado encontrado

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3 PERSPECTIVA INSTITUCIONALISTA-EVOLUCIONÁRIA DE DESENVOLVIMENTO

2.3.4 Compatibilização entre as Perspectivas Neoinstitucionalista e Evolucionária

O neoinstitucionalismo e a abordagem evolucionária apresentam grandes possibilidades de integração, apontando para novas matrizes teóricas na análise de desenvolvimentos econômicos, trajetórias tecnológicas e do papel das instituições, por exemplo. Os neoinstitucionalistas e os integrantes da Nova Economia Institucional (NEI), embora possuam prioridades distintas, apontam também para a possibilidade de integração, sobretudo, na importância dada à mudança tecnológica e institucional para o desencadeamento do crescimento econômico (CONCEIÇÃO, 2002). A partir dessa visão integracionista

das abordagens, Conceição (2002, p.154) atesta que ―[...] çã b ‖.

Percebe-se que todas as trocas econômicas ocorrem pautadas por instituições, conclui-se, portanto, que os mercados não existem ou operam além das instituições e das regras que estabelecem a estrutura, a compra, a venda e a organização da produção. As instituições nacionais historicamente enraizadas se tornam, nesse sentido, estruturas que direcionam as escolhas das pessoas e estabelecem as regras do jogo. O autor afirma, por exemplo, que cada nação gera uma economia política com uma estrutura institucional distinta para governar os mercados de trabalho, capital, terras e bens. Sendo assim, a estrutura institucional nacional molda a dinâmica da economia política e define limites dentro dos quais as políticas governamentais e as estratégias corporativas são escolhidas. Atua assim como um parâmetro do sistema, criando uma economia política nacional e estabelecendo o surgimento de padrões previsíveis de políticas e estratégias (ZYSMAN, 1994).

As estruturas institucionais nacionais só podem ser compreendidas com esforços históricos de entendimento da modernização política e das fontes de industrialização de cada país. As apostas tecnológicas, por exemplo, criam novas formas de emprego do capital e só podem ser analisadas a partir de um ambiente institucional nacional. A tecnologia segue a mesma perspectiva, pois se desenvolve em comunidades, com raízes e especificidades locais. Assim como os processos de aprendizagem nos quais há o estímulo de seu desenvolvimento são substanciados pela comunidade e pela estrutura institucional. Resumidamente, as trajetórias tecnológicas só podem ser estudadas e definidas se focadas em sociedades particulares. Por isso, o caráter único de organizações e de comunidades molda o processo de inovações tecnológicas e institucionais de maneira única (ZYSMAN, 1994).

b - q deve considerar aspectos históricos çã região, aspectos que se encontram imersos (embedded) em suas instituições. Esse ponto de vista considera, para a compreensã â s inovações físicas e de determinados conhecimentos específicos, além de reconhecer a função primordial das instituições para a dinâmica econômica (CONCEIÇÃO, 2002).

A perspectiva de economia política neoinstitucionalista- evolucionária indica uma série de princípios para promover um arranjo institucional e tecnológico desenvolvimentista. A política econômica neoinstitucionalista é pautada por uma perspectiva de que o mercado não é prevalecente, já que ele não é o maior imperativo. Na realidade, o mercado é constituído por instituições que, por sua vez, é mais uma instituição, em que contrações e expansões econômicas são amplamente dependentes dos Estados nacionais, via significativas demandas em áreas como segurança e infraestrutura (O'HARA, 2007).

Para Zysman (1994), as políticas públicas provêm de instituições, em mercados regionais específicos. Uma economia particular detém uma estrutura institucional, nela agentes constituem dinâmicas nacionais (ou regionais) particulares quanto à trajetória político-econômica, de acordo com o processo evolutivo da história. A estrutura das instituições de uma economia cria diferentes padrões, por sua vez, eles restringem e incentivam os atores a certos comportamentos. Assim, são criadas certas lógicas de mercado que guiam as escolhas estratégicas das empresas de uma dada região, levando-as ao desenvolvimento e à produção de produtos e serviços que seguem um caminho dependente (path dependent) de estruturas institucional-produtivas passadas (lock-

in).

Apesar de essas abordagens neoinstitucionalista e evolucionária possuírem prioridades distintas, ambas concedem importância à mudança tecnológica e institucional para o desencadeamento do crescimento econômico. Mesm ã ê arcabouço teórico neo q íb

Da interação com os evolucionários parece haver um crescente estreitamento, pois a noção de que o ambiente evolucionário é sustentado pela presença das instituições, revela a importância das mesmas, embora reivindiquem a constituição de uma agenda de pesquisa comum em que o respectivo conceito assuma uma maior depuração [...]. (CONCEIÇÃO, 2008b, p.19)

O'Hara (2007) constrói uma visão global, pautada nas similaridades dos assuntos abordados por autores heterodoxos, sobre a política econômica institucionalista-evolucionária.

Desse modo, definindo-a:

Institutional-evolutionary political economy is a realistic, interdisciplinary study of the dynamic structure, evolution and transformation of human action within socioeconomic systems, paying particular attention to the reproduction, functions, contradictions, and unstable dynamics of the institutions of production, distribution, and exchange of material and immaterial resources set within a social and ecological environment through historical time.(O'HARA, 2007, p. 6) De acordo com O'Hara (2007), a perspectiva institucionalista- evolucionária é interdisciplinar, centrada no homem e orientada pelo conceito de sistemas. Essa orientação política e econômica também é realista, pois visa a promover uma análise preocupada com uma realidade econômica pragmática e cotidiana, em que as instituições funcionam de maneira sistêmica com a economia. Além disso, sugere que os agentes econômicos têm relativa ignorância quanto ao futuro, que têm racionalidade limitada e que acreditam existir uma distribuição assimétrica de conhecimento entre eles. Os autores institucionalistas e evolucionários estão ―[…] primarily concerned with the formation and change of these preferences, knowledge, technologies and institutions through historical time.‖(O'HARA, 2007, p.6).

Por ser um estudo holístico, é comum que os paradoxos e as contradições apareçam no processo ao serem constituídas as tecnologias e as instituições. O sistema capitalista evolui de maneira endógena devido aos inerentes e aos complexos processos da dinâmica do mundo real. A irreversibilidade é padronizada na dinâmica capitalista, uma vez que o processo de mudança impacta as tecnologias e as instituições que estão sujeitas à metamorfose e a um path dependence. A perspectiva institucionalista-evolucionária é apropriada para analisar o capitalismo, pois ele é pautado por incerteza, uma vez que os investimentos são dependentes de expectativa futuras sobre as quais existe pouco conhecimento, em que a racionalidade dos agentes é limitada (O'HARA, 2007).

Indeed, the pure market system could not survive and would destroy itself under the impact of its motion. This leads to a ―double movement‖, namely, that for capitalism to reproduce in an ongoing fashion requires both the propagation of markets in addition to the establishment of a protective response in the form of institutions to sustain the social fabric to reduce the uncertainty and contribute to the long-term reproduction of capitalism's conditions of existence. What this effectively means is that for the control of capital and markets to survive in the long-term requires certain institutions to protect the market and capital from itself. For instance, systems of innovation, market niches, and internal corporate networks are established which create structured environment and potentially embedded processes (O'HARA, 2007, p.20)

Nesse entendimento, o neoinstitucionalismo histórico aborda as diferentes trajetórias tecnológicas, aquelas definidas pelos Sistemas de Inovação locais, regionais, setoriais e nacionais, derivados de distintas configurações históricas e institucionais (RANGA; ETZKOWITZ, 2013; NELSON, 2011; NELSON; NELSON, 2002; ZYSMAN, 1994).

Modern evolutionary theorists focus centrally on what they tend to call ―technologies‖. For evolutionary theorists, y‘ technological competence is seen as the basic ‘ y w technological advance the central driving force behind economic growth. As noted, increasingly evolutionary economists are coming to see ―institutions‖ as molding the technologies used by a society, and technological change itself. However, institutions have not as yet been incorporated into their formal analysis (NELSON; NELSON, 2002, p. 267).

Compreende-se que existe uma conexão histórica entre a teoria econômica evolucionária e a análise institucional, de maneira que as

estruturas institucionais influenciam e modelam o processo de evolução da tecnologia. O conceito de rotinas aproxima e fornece um caminho possível de ser transitado em conjunto, tanto pelos cientistas evolucionários quanto pelos pesquisadores institucionais. Normalmente, as novas tecnologias sociais (moldadas pelas instituições) surgem como mudanças nas formas de interação, novos tipos de mercados, novos modos de organização laboral, novas leis e formas de ação coletiva (NELSON; NELSON, 2002). Nesse sentido, esse é um processo de análise histórica,

[...] from the time modern economic evolutionary theory emerged, it has been open to, indeed strongly drawn towards, embracing institutional analysis. The innovation systems idea is an institutional conception, par excellence. (NELSON; NELSON, 2002, p.265)