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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO

1.1 TEMA E CONTEXTO

Teorias e estudos têm enfatizado as relações sistêmicas entre diferentes tipos de organizações, tanto privadas quanto governamentais, no que tange ao processo de geração de inovações (FREEMAN, 1982; LUNDVALL, 1985; PORTER, 1990; NELSON; NELSON, 2002; RANGA; ETZKOWITZ, 2013). Entretanto, há poucas décadas existia um papel predominante, muitas vezes exclusivo, do Estado na demarcação da trajetória do desenvolvimento socioeconômico (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000; RANGA; ETZKOWITZ, 2013).

Utiliza-se o conceito de North (1991) de que as organizações de uma região apenas existem devido à possibilidade criada pelas instituições locais, ou seja, as instituições são as regras do jogo (leis, normas, cultura) e as organizações são os jogadores (firmas, universidades, agências governamentais, associações). A trajetória tecnológica é moldada por instituições ao longo do tempo e são específicas geograficamente, restringindo e incentivando o padrão de inovações e de crescimento das empresas (DOSI, 1982; GRANOVETTER, 1985; PORTER, 1990; NELSON; WINTER, 2002; O'HARA, 2007; PORTER; KRAMER, 2011).Sendo assim, parte-se do pressuposto de que as organizações e as instituições detêm um papel essencial: constituir um paradigma social e tecnológico. São gerados estímulos e barreiras que limitam as empresas de um local, restringindo- as para inovar apenas até certo ponto e de determinada maneira.

O conhecimento sobre o relacionamento interorganizacional Universidade-Empresa-Governo (U-E-G) e a promoção de desenvolvimento por meio de inovações foi um assunto vigorosamente debatido nas últimas décadas (FREEMAN, 1982; LUNDVALL, 1985; PORTER, 1990; ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000; RANGA; ETZKOWITZ, 2013). Quando a pauta passa a ser uma mudança na economia e na sociedade, a tecnologia é a pedra fundamental dessa

renovação. O acúmulo de conhecimento por meio de rotinas e de repetições, que geram o aprendizado (learning), moldam as características das companhias e promovem um padrão de modificação tecnológica singular dependendo das características e das qualidades institucionais locais (FREEMAN, 1982; PORTER; 1990; LUNDVALL, 1992; NELSON; NELSON; 2002).

A perspectiva descrita anteriormente pode ser analisada pelas concepções da sociologia econômica e da economia política institucional-evolucionária, que podem ser remetidas a princípios queabordam a influência da estrutura social nas tomadas de decisões econômicas. Essas linhas teóricas percebem sociedade como um suprassistema, e esta, por sua vez, é constituída de outros subsistemas,que são institucionalizados com o passar do tempo. Vista dessa maneira, por meio da ótica conjunta neoinstitucionalista- evolucionária(NELSON; NELSON, 2002; NELSON, 2011), a realidade organizacional também aceitaa racionalidade limitada dos agentes econômicos, admitindo decisões gerenciais satisfatórias e não ótimas (SIMON, 1955; DOSI; NELSON, 1994). Além disso,entende-se que a economia é um subsistema constantemente perturbado por outros subsistemas institucionais, como o cultural e o político, que juntos compõem a sociedade (GRANOVETTER, 1985; RANGA; ETZKOWITZ, 2013).

O conceito de subsistemas institucionais remete ao conceito de Sistema de Inovação (SI), que foi trabalhado paralelamente na Europa e nos EUA, durante as últimas décadas do século XX (FREEMAN, 1982; LUNDVALL, 1985). Para Freeman (1995), o primeiro autor a utilizar o termo Sistema Nacional de Inovação – SNIs (National System of

Innovation) foi Lundvall (1992). Todavia, esse termo se remete a

Friedrich List, em sua obra O Sistema Nacional de Economia Política, publicado em 1841. Freeman (1987) ofereceu à academia o termo Sistema de Inovação Nacional (National Innovation System), ao estudar o sucesso da economia do Japão. Vale ressaltar que os termos Sistema de Inovação Nacional e Sistema Nacional de Inovação (SNI) ou Sistemas Nacionais de Inovação (SNIs) foram sempre utilizados como sinônimos na presente tese. De acordo com Schumpeter (1989), a inovação é alcançada quando são logradas novas combinações (novos fatores de produção), de produtos ou processos, culminando em novas tecnologias físicas ou técnicas inovadoras.

Mesmo que não exista uma concepção unificada sobre os SNIs, há uma convergência para a alegação de que o desenvolvimento tecnológico de uma nação é fruto de um complexo arranjo institucional. Os relacionamentos formais e informais entre os agentes, principalmente, de universidades e de centros de pesquisa, de empresas e de governos locais e nacionais moldam o output tecnológico e social de um sistema econômico. Segundo Freeman (1987), o SNI é uma complexa rede de organizações e de instituições, tanto de escopo governamental quanto do setor privado, que está em interconexão, promovendo a geração, a modificação, a importação ou a difusão de produtos e de processos.

Utiliza-se a definição de que os principais componentes de um SNI são as organizações e as instituições (NELSON; NELSON, 2002). As primeiras são as estruturas formais e as últimas são os fatores que regem as relações socioeconômicas. As instituições podem ser informais como hábitos, padrões de conduta e rotinas, mas também podem ser formais como as normas e as leis que condicionam as interações e as relações entre organizações, grupos e indivíduos (NORTH, 1991; 1994; EDQUIST, 2005). Além disso, entende-se que haja SI de diferentes níveis, em âmbitos que se diferem entre nacional, regional e setorial. Os SIs podem ser subnacionais (locais ou regionais), nacionais ou supranacionais e, concomitantemente, são setoriais dentro de uma dessas limitações geográficas. Usualmente, as variações no conceito de SIs são complementares e não são mutuamente excludentes. Portanto, o autor se autobeneficia e toma a liberdade literária para argumentar que o conceito de clusters de Porter (1990) tem similaridade suficiente para não conflitar com o conceito de SI. Considera-se os SIs regionais e setoriais como partes integrantes ou relacionados ao SNI.

Lundvall (1992) enfatiza o papel do governo nacional como delimitador e direcionador de um SNI. Nesse ponto de vista, o Estado atua como um fator de convergência entre a produção, a difusão e a utilização do conhecimento economicamente viável e proveitoso. Desse modo, o relacionamento em rede entre os agentes econômicos está delimitado e também enraizado dentro das fronteiras de uma nação. Ressalta-se que os termos, ―Estado e governo‖, serão utilizados como sinônimos nesta tese. Em uma linha de pensamento similar, Porter (1990) publicou a obra A Vantagem Competitiva das Nações, superando a perspectiva das vantagens comparativas em direção a uma abordagem

distinta e inovadora para a época, nela a competitividade de regiões e de nações é fruto da qualidade do ambiente institucional e produtivo disponível para as firmas.

Estudos têm dado ênfase à importância e aos impactos do processo de globalização em relação às economias nacionais. Entretanto, os clusters são unidades de análise essenciais para os estudos econômicos (PORTER, 1998). Isso se deve às conexões entre os agentes econômicos, os atores públicos e os pesquisadores, em que tal ligação pessoal é imprescindível para a inovação por parte das firmas. Mesmo que as conexões internacionais sejam de crescente valor, a influência e o alcance dos inter-relacionamentos dentro das fronteiras nacionais ainda se tornam mais relevantes. Alinha-se com tal argumento o de Freeman (1995), de que o controle do Estado sobre as relações industriais e as organizações de educação técnica e científica, somado às condições geradas pelos contextos institucionais formais, como a lei, e informais, como a cultura, conferem um destaque especial para a análise de âmbito nacional.

Sendo assim, as instituições de um país, tanto as formais quanto as informais, influenciam no desenvolvimento de novas tecnologias e de novos processos, são elas que formatam as características e moldam os padrões da inovação na esfera nacional. Conceberas instituições como direcionadoras da criação e da disseminação de tecnologias faz parte do arcabouço teórico dos Sistemas de Inovação (SIs), que são os reais promotores do desenvolvimento socioeconômico (NELSON; NELSON, 2002). O SNI é um conceito regido pelas perspectivas econômicas: neoinstitucionalista e evolucionária (NELSON; NELSON, 2002; EDQUIST, 2005; PORTER; KRAMER, 2011; PEREIRA; DATHEIN, 2012; RANGA; ETZKOWITZ, 2013).

O conceito de tecnologia como um saber (know-how) sistematizado culmina na criação ou no desempenho de uma tarefa específica e particular. Esse know-how pode estar relacionado a uma sequência de procedimentos que obtém como resultado (output) uma inovação física ou social. Portanto, esse saber sistematizado pode gerar uma tecnologia física, como também pode dizer respeito a um output com caráter de uma tecnologia social (NELSON; NELSON, 2002; NELSON, 2011). O processo coevolutivo de tecnologias físicas e de tecnologias sociais (rotinas hábitos, sanções, tradições, leis, regras e normas) é fundamental para o estabelecimento de SNIs. O processo de

aprendizagem cumulativo baliza a geração de inovações destacando o papel das firmas nesse processo (PEREIRA; DATHEIN, 2012).

De acordo com Etzkowitz e Leydesdorff (2000), o arquétipo de análise dos SNIs de Lundvall (1988; 1992) e de Nelson (1993) confere importância para o papel de liderança que uma companhia deve assumir no processo de inovação. Por outro lado, a perspectiva da Hélice Tríplice (Triple Helix) foi criada com uma perspectiva um pouco distinta para a interação U-E-G em um SI, pois ela concede à universidade uma posição de destaque nesse relacionamento tripartite. Com o término da Guerra Fria e a diminuição da influência dos militares sobre as estruturas institucionais, os acadêmicos puderam ter mais liberdade para direcionar o rumo das inovações, fazendo com que a rede de relações entre a empresa, o governo e a universidade também fosse transformada (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000).

Diversos novos conceitos vêm enfatizando as características sistêmicas da inovação, mas com foco em níveis da economia que vão além do papel dominante do Estado na definição dos rumos do desenvolvimento (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000; RANGA; ETZKOWITZ, 2013). A mais nova versão do Sistema Hélice Tríplice (SHT) (Triple Helix System) aponta para uma interação mais equilibrada e coordenada na interação U-E-G voltada para a inovação. Além disso, verifica-se uma hibridação de elementos constituintes dessa conexão tripartite, em que há a criação de novos espaços e de inovadores formatos institucionais e sociais para a produção, a aplicação e a transferência do conhecimento, por exemplo, os parques e as incubadoras tecnológicas (RANGA; ETZKOWITZ, 2013). Nesse contexto, a Hélice Tríplice possibilita que as instituições e as organizações de uma localidade, com destaque para a universidade, desempenhem papel fundamental para gerar conhecimento e,também, para transformá-lo em inovações comercializáveis (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000; RANGA; ETZKOWITZ, 2013).

Seguindo linha semelhante, a Criação de Valor Compartilhado – CVC (Creating Shared Value) também admite a interação tripartite U- E-G comoessencial para o processo de inovação e de desenvolvimento socioeconômico. Entretanto, a CVC confere uma posição de destaque para as firmas, no que se refere aos rumos de uma economia capitalista. Nesse sentido, sugere-se que a iniciativa privada e o Estado trabalhem de maneira mais sincronizada, para que obtenham um papel mais ativo

no processo inovativo, ao promoverem uma interação mais coesa com as universidades e com as organizações ou associações civis (PORTER; KRAMER, 2011).

Portanto, verifica-se a importância do relacionamento U-E-G para a formatação e para a promoção de SIs regionais e setoriais, uma vez que eles são os propulsores do desenvolvimento de uma região e de uma nação (FREEMAN, 1982; LUNDVALL, 1985; PORTER, 1990; NELSON; WINTER, 2002; EDQUIST, 2005; ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000; PORTER; KRAMER, 2011; RANGA; ETZKOWITZ, 2013).

De acordo com os princípios de CVC, as empresas conseguem gerar novas maneiras de melhorar o seu desempenho econômico, caso consigam ajudar a aumentar os níveis educacionais, científicos e de produtividade laboral de sua região ou de seu setor de atuação. As firmas podem ter um papel mais ativo na educação da população, por meio de parcerias com universidades, organizações sem fins lucrativos e governos (KRAMER et al., 2013). A CVC é um modelo de gestão estratégica que possibilita que as empresas gerem vantagem competitiva por meio da criação de retornos sociais decorridos de suas atividades (PORTER; KRAMER, 2011). Percebe-se que o setor privado, ao buscar o valor partilhado, pode assumir um engajamento maior na melhoria da educação e de tecnologias sociais, culminando na gênese de inovações e, portanto, gerando vantagem competitiva.

As firmas, por meio da CVC podem assumir uma postura proativa perante a sociedade, ao conectar o seu negócio principal com alguma necessidade social, uma vez que no capitalismo a prosperidade econômica é criada somente por meio dos negócios. Destarte, a CVC pode ser definida como as práticas e as políticas gerenciais que elevam a competitividade da companhia e,ao mesmo tempo, essas práticas e políticas contribuem para a melhoria das condições socioeconômicas nas comunidades em que ela opera (PORTER; KRAMER, 2011).

De acordo com Porter e Kramer (2011), a CVC possibilita a percepção de perspectivas mais abrangentes para a criação de valor, que permitem o desencadeamento de novas ondas de inovações de cunho social e de crescimento econômico. As firmas atuam para fortalecer a capacidade de inovação de produtos e de processos em Sistema de Inovação de interesse, por meio do suporte às organizações parceiras e à infraestrutura local. Nesse ponto de vista, o engajamento corporativo no

fortalecimento da interação U-E-G para o desenvolvimento de um SI reforça a conexão entre o sucesso da nação, do setor e da companhia.

De acordo com Porter (1996), a estratégia para competir em alguma indústria deve considerar um lucro acima da média do segmento, o qual pode ser obtido por meio da vantagem competitiva.Tal vantagem é alcançada por meio da geração e da manutenção de competências fundamentais de difícil cópia por outras empresas, pelas atividades de produção e gestão únicas. A vantagem competitiva ocorre do estabelecimento de atividades únicas na Cadeia de Valor da firma e tem como meta duas opções: a primeira é a redução de custos, a eficiência e a venda de um produto ou de um serviço-padrão por um preço mais baixo que a concorrência; a segunda pode ocorrer ao se cobrar mais caro que a média do mercado, um preço premium, para entregar um produto ou um serviço diferenciado.

Porter e Kramer (2011) ampliam a abordagem do conceito de vantagem competitiva. Quando a estratégia empresarial é guiada pelos conceitos da CVC, a vantagem competitiva pode ser obtida por meio da provisão de demandas suprimidas da sociedade, ou seja, necessidades da humanidade e não somente desejos pontuais e específicos de públicos- alvo. Para atender às exigências sociais, as companhias podem lançar mão de novas formas de gestão estratégica, por exemplo, apresentar inovações que podem trazer retornos sociais ou que satisfaçam as necessidades de públicos subestimados ou esquecidos. Nota-se,na proposta do valor compartilhado, a valorização de aspectos sociais e também um significativo reconhecimento da importância,para a gestão estratégica empresarial, de que as instituições (formais e informais)e as organizações (empresas, universidades e agências governamentais) possuem na formação de um SI ou cluster de inovação. Os termos SI e

cluster inovativo são utilizados como sinônimos.

Por um lado, a Hélice Tríplice foca na relação U-E-G oferecendo um papel de destaque para a universidade. Por outro lado, a CVC confere à firma e aos empresários o papel proeminente para as inovações, por meio da promoção do relacionamento U-E-G em SIs, em uma perspectiva similar a de Freeman (1987) e a de Lundvall (1992). Sendo assim, não foram verificadas evidências de que o conceito de CVC tenha sido considerado em conjunto com o de Hélice Tríplice, em uma perspectiva de análise da estratégia empresarial (ver seção 1.4.2). Parte-se do pressuposto de que a interação U-E-G é a base de um SI,

que, por sua vez, torna-se o dinamizador do crescimento econômico. Destarte, a interação sistêmica dos atores de universidades, de empresas e de governos, em clusters inovativos, promove a geração de tecnologias sociais e físicas.

Há uma significativa diferença em como a literatura sobre gestão e a economia ortodoxa tratam as firmas. A primeira considera as empresas organismos complexos cujos gestores têm certa autoridade e capacidade de implementação de ações estratégicas, a prática de boas ações de gestão é a finalidade da administração de negócios. De acordo com o arcabouço teórico de gestão, o ambiente econômico que a companhia está imersa determina a rentabilidade possível de um negócio, impondo-lhe barreiras, oportunidades e dificuldades. Na segunda perspectiva, os economistas neoclássicos (ortodoxos) consideram as firmas como simples entidades, eles se preocupam com as trocas econômicas e não com a estrutura produtiva e o desenvolvimento econômico (NELSON, 1994).

Por sua vez, os economistas baseados no avanço técnico (evolucionários) não estão de acordo com essas suposições dos ortodoxos. Para os evolucionários, os neoclássicos reprimem a incerteza, a confusão e a surpresa que existe nos esforços de inovação das firmas, além de não considerarem as diferentes opiniões e, tampouco, as arriscadas apostas sobre os rumos mais rentáveis ou mais viáveis de uma inovação. Os economistas evolucionários consideram que, por vezes, algumas empresas são mais efetivas em gerar tecnologias comercializáveis do que outras; e para esse fato não é oferecido, pela teoria da firma neoclássica, um ponto inicial para a compreensão do ocorrido. O que sinaliza que existe a possibilidade de haver alianças intelectuais entre acadêmicos de gestão organizacional e de economistas do avanço técnico (NELSON, 1994).

Como demonstrado até agora, assume-se um ponto de vista sobre a gestão estratégica que considera a coevolução da firma, de seu segmento industrial e do ambiente institucional que ela está imersa. Assim, a estratégia deve ser estudada considerando os três diferentes níveis, ou seja, o macroambiente, o mesoambiente e o microambiente (LEWIN; LONG; CAROLL, 1999). Similarmente, para Smelser e Swedberg (2005), a análise organizacional deve considerar que as transações e os interesses econômicos estão imersos em relações sociais, em que os agentes econômicos nem sempre tomam uma decisão ótima

visando à maximização de retornos, uma vez que sua racionalidade é limitada.

Nesse sentido, verifica-se a possibilidade de se compatibilizar a CVC e a Hélice Tríplice, considerando a interação interorganizacional das três hélices (U-E-G), para a gestão estratégica. A presente tese tem como unidade de análise a firma e, conforme exposto anteriormente, a perspectiva institucional-evolucionária aceita um estudo histórico empresarial. Portanto, buscou-se por uma companhia que já pratique a CVC, que esteja disposta a abrir as suas portas para uma investigação empírica e que os seus líderes tenham conhecimento dessa perspectiva de análise da estratégia.

Porter et al. (2012) ressaltam que algumas empresas de classe mundial exercem a sua estratégia, em grande monta, de maneira alinhada com os conceitos da CVC. Vale ressaltar que a CVC considera a concepção e a gestão estratégica em um modelo top-down, em que a cúpula da empresa define a direção a ser seguida, ou seja, a visão é constituída pelos diretores e, a partir desse norte, os gerentes e os demais funcionários agem. Dessa forma, Morais Neto e Pereira (2014) apresentam uma pesquisa que teve como objetivo compreender como a empresa WEG promove a CVC. Como resultado, os autores observam que ela considera em sua estratégia os três níveis da CVC.

Além da empresa, existe a necessidade de se limitar a pesquisa em um segmento industrial específico, mesmo que o foco da presente tese seja o ponto de vista da firma. Isso, pois, a WEG atua em diversas indústrias correlatas, o que dispersaria o foco da interação U-E-G além de um setor, podendo comprometer o delineamento da pesquisa. Nesse sentido, além de não terem sido encontradas evidências sobre análises estratégicas com a perspectiva mútua da CVC e da Hélice Tríplice, o setor de energia solar fotovoltaica nacional, aparentemente, também não foi alvo de análises com esse escopo. Remete-se o termo setor ao invés de indústria ou de segmento industrial, pois a intenção é englobar as universidades e as esferas governamentais que, também, estão relacionadas. Por outro lado, quando se utiliza o termo indústria ou segmento industrial,limita-se somente o escopo para as empresas.

A ausência de energia e de eletricidade, ou se estas forem demasiadamente instáveis ou caras,compromete a competitividade internacional das empresas brasileiras. Esse argumento se torna mais atual, na medida em que se considera o cenário deixado pela crise de

2008, isto é, uma forte desaceleração do crescimento econômico, medido pelo Produto Interno Bruto (PIB), por parte de grandes economias. Entretanto, segundo o relatório da British Petroleum (2014), ainda assim, o setor energético mundial demonstrou um contínuo crescimento de sua demanda que, entre 2000 e 2013, ampliou 38%. Seguindo essa tendência, as energias renováveis, durante o mesmo período, tiveram um crescimento de 81%, destacando-se a energia solar fotovoltaica, com um aumento de 14.000% (BRITISH PETROLEUM, 2014).Considera-se no conceito de setor energético diversas fontes de combustível, desde lenha a aquecimento residencial, mas, principalmente, petróleo (automotivo e aviário) e gás (industrial e residencial). Por outro lado, o setor elétrico abrange apenas a energia elétrica, ou seja, as suas várias formas de geração.

Em 2013, as energias renováveis apresentaram um incremento em sua capacidade instalada, no sentido de aumentara sua proporção sobre a matriz energética total, indo de 10% no início da década de 1980, para perto de 20% em 2013. A previsão para 2035 é de um aumento de 40% de consumo energético no mundo, com um acréscimo nesta proporção em favor das energias renováveis. Entretanto, os combustíveis fósseis ainda serão a principal matriz energética do planeta (BRITISH PETROLEUM, 2014).

A tecnologia fotovoltaica é uma forma de geração de energia que