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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.4 INTERAÇÃO UNIVERSIDADE-EMPRESA-GOVERNO

2.4.1 Hélice Tríplice

2.4.1.1 Componentes e Fronteiras do Sistema Hélice Tríplice

A literatura sobre a Hélice Tríplice se foca nas esferas organizacionais U-E-G, por vezes, esquecendo-se de se aprofundar nos nível dos atores de cada âmbito da universidade, empresa e governo. Uma visão mais aperfeiçoada para os agentes Hélice Tríplice é necessária para a devida compreensão sobre os comportamentos e a complexa divisão do trabalho existente no processo de geração e de difusão do conhecimento. Nesse sentido, podem ser feitas estas três distinções, preconizadas por Ranga e Etzkowitz (2013):

a) Inovadores com motivação organizacional e com motivação pessoal: o SHT admite a importância individual de inovadores em consolidar e iniciar processos institucionais, por exemplo, agentes públicos, empresários, executivos,

empreendedores, cientistas, estudantes, capitalistas de risco,

business angels, dentre outros. O processo de inovação pode

ser motivado por parte do indivíduo ou da estrutura hierárquica da organização para qual ele trabalha, esses dois processos se fortalecem mutuamente. É possível distinguir dois tipos de papéis individuais. Organizador de inovação, normalmente, é uma pessoa que ocupa uma posição relevante dentro da organização, que pode ser de qualquer uma das esferas U-E-G. São pessoas que promovem uma visão baseada em conhecimento e têm suficiente respeito e autoridade para aproximar as outras duas esferas. Cientista empreendedor é o acadêmico que visa, concomitantemente, a avançar as fronteiras da ciência e a atingir resultados econômicos a partir de suas pesquisas. São pesquisadores que facilitam e promovem a formação de spin-offs, relacionam-se com escritórios universitários de transferência tecnológica, participam de conselhos científicos em empresas, não têm interesse em empreender, mas sim em usar as firmas para o desenvolvimento e o avanço de suas pesquisas.

b) Inovadores relacionados a atividades de P&D e não conectados a P&D: esta perspectiva reconhece que a P&D não é a única forma de se promover a inovação. Os inovadores P&D, indivíduos que produzem tecnologias físicas, podem ser encontrados em cada uma das três esferas U-E-G e em organizações não mercadológicas como em fundações de pesquisa e em Organizações Não Governamentais (ONGs). Inovadores não P&D, também encontrados nas três esferas U-E-G, produzem tecnologias sociais, são as pessoas que provêm a inovação em atividades financeiras, de negociação, de vendas, de aquisição,de

marketing, dentre outras.

c) Organizações de esfera única e organizações híbridas: nas economias intensivas em conhecimento, a comunicação e a interconectividade entre as pessoas e as organizações promovem a geração de novas habilidades e demandam uma integração dinâmica de ambientes de trabalho. Organizações de esfera única são aquelas delimitadas dentro de uma única

esfera organizacional, com baixos níveis de interação, alto nível de especialização e centralização do trabalho, modelo equivalente à Hélice Tríplice II. Organizações híbridas, que trabalham nas intersecções das esferas de relacionamento U- E-G, são exemplos: escritórios de transferência de tecnologia, incubadoras de empresas, parques tecnológicos, empresas de capitalistas de risco e redes de business angels. Normalmente são organizações com poucos níveis hierárquicos e com processos de tomada de decisão menos centralizados, em que as fronteiras entre o relacionamento U-E-G se apagam, por meio de forças de trabalho conjuntas, voltadas para a realização de tarefas e de projetos conjuntos. 2.4.1.2 Relacionamento entre os Componentes do Sistema Hélice Tríplice

As relações entre organizações mercadológicas e não mercadológicas do SHT enfatizam a venda e a transferência de tecnologia entre as esferas U-E-G, essa interação entre os componentes da Hélice Tríplice é marcada pelos seguintes aspectos, mencionados por Ranga e Etzkowitz (2013):

a) Transferência de tecnologia: esta transmissão pode ocorrer entre organizações de mercado como também entre organizações não pautadas pelo lucro. Devido à capacidade de geração e de transferência de tecnologias, as universidades deixam de ser apenas fonte de recursos humanos e assumem um papel de líderes em direcionar o rumo do desenvolvimento de suas cidades e regiões, sua meta passa a ser a transformação de sua localidade em ecossistema empreendedor de classe mundial. O processo de transferência das inovações deixa de ser ligado somente a laços informais dos pesquisadores e passa a ser um processo institucionalizado na universidade, onde existem escritórios cuidando dos direitos de propriedade intelectual dos professores e estruturas burocráticas para lidar com patenteamento e licença tecnológica. Nesse ponto de vista, os acadêmicos também estão mais presentes dentro das organizações, oferecendo cursos de atualização de conhecimento.

b) Colaboração e moderação de conflitos: existe a necessidade de se estar atento a problemas relacionados a conflitos no relacionamento U-E-G, que podem ser divididos em duas classes. Conflitos relacionados à execução da tarefa, devido a divergências em pontos de vista profissionais, relacionados ao conteúdo do trabalho desenvolvido. O segundo tipo são os conflitos de relacionamento, eles acontecem, pois podem existir incompatibilidades entre as personalidades das pessoas envolvidas, levando a frustração, tensão e outros aspectos negativos. Outra fonte de conflito no SHT é devido a confrontações de tabus, hábitos e normas acadêmicas, oriundos da insatisfação ou da resistência de membros da academia no que tange ao relacionamento com as empresas. Nesse âmbito, a resolução de conflitos passa a ser fundamental para a interação U-E-G, ela pode ocorrer por meio do monitoramento dos relacionamentos e da difusão de melhores práticas (best practices) para as situações que possam ocorrer.

c) Liderança colaborativa: é uma parte integrante da capacidade de se moderar conflitos, os organizadores de inovação são peças fundamentais para a manutenção do relacionamento U-E-G. Essas pessoas conectam indivíduos de outras esferas e outros setores, promovem encontros entre pessoas que têm pontos de vista diferentes, criam consenso e trabalham para solucionar conflitos.

d) Substituição de papéis: no SHT, a interação entre as esferas organizacionais podem ocorrer por meio do preenchimento de lacunas de capacidade técnica de membro por parte do outro. As empresas podem suprir as necessidades educacionais e de treinamento de alto nível no lugar de universidades, que por sua vez, podem gerar produtos finais comercializáveis. Tanto a academia quanto a indústria podem atender a debilidades governamentais, auxiliando no direcionamento dos rumos para o desenvolvimento.

e) Networking: o processo de criação e de manutenção de redes profissionais e científicas não é algo único da interação Hélice Tríplice, também é uma manifestação própria do processo de criação e de difusão tecnológica. As redes têm

sido vistas como um caminho central (meio termo) entre as hierarquias rígidas das firmas e a frouxidão de direcionamento de esforços do mercado.