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3. Trilhas metodológicas

3.3. Contextualização dos aspectos institucionais

3.3.1. Caracterização do Serviço de Verificação de Óbito

As necropsias de morte por causa natural eram realizadas num espaço destinado a esta finalidade, nas dependências de um hospital da cidade e tinha como responsável o Departamento de Anatomia Patológica da universidade. Em 1979, os exames dos cadáveres de morte por causa natural passaram a ser realizados nas dependências do Instituto Médico Legal da cidade, graças à parceria da Secretaria de Segurança com a universidade federal. Os docentes da área de patologia eram os responsáveis pela realização das necropsias (Serviço de Verificação de Óbito, 2016).

A sede do SVO foi construída na área física pertencente ao hospital que é referência em doenças infecciosas e tropicais do Estado e foi inaugurada em novembro de 1990. Nessa época vigorava o convênio entre a universidade e a Secretaria de Saúde Pública do Estado. Com o rompimento do referido convênio, em outubro de 2004, a secretaria supracitada abriu concurso para compor seu quadro funcional. É importante notar que o SVO da cidade em questão teve em sua origem grande apoio da universidade federal e da Secretaria de Segurança, ou seja, vínculos com o campo acadêmico e com o serviço de medicina legal do Estado (Serviço de Verificação de Óbito, 2016).

No referido manual consta ainda a declaração da missão institucional do SVO, que seria: “executar necropsias em cadáveres cujo óbito se deu em residências e sem assistência médica,

identificando a causa da morte e preenchendo o respectivo Documento de Declaração de Óbitos”. Consta ainda no referido documento a descrição do quadro funcional atual, que conta com: 1 (um) diretor geral, 1 (um) coordenador de patologia, 1 (um) coordenador científico, 1 (um) diretor administrativo, 8 (oito) médicos patologistas, 5 (cinco) assistentes sociais, 5

(cinco) secretários, 3 (três) auxiliares de serviços gerais, 4 (quatro) recepcionistas, 3 (três) motoristas e 13 (treze) técnicos em necropsia (Serviço de Verificação de Óbito, 2016).

As características do espaço físico onde a pesquisa foi desenvolvida e dos recursos encontrados na instituição contribuem para ampliar a compreensão acerca do contexto no qual os técnicos em necropsia trabalham. As referidas informações, fruto dos registros do diário de campo, permitem além disso, tornar mais claros alguns relatos que serão apresentados nos capítulos de resultados e análises.

Em termos de espaço físico, o prédio do SVO está localizado na lateral de um hospital de infectologia da cidade, ao fundo de um estacionamento, e conta de 2 (dois) pisos. No primeiro, ficam os espaços destinados ao atendimento ao público e aos procedimentos que envolvem os exames de necropsia. O estacionamento supracitado é arborizado e, desde a sua entrada, é possível ver parte da estrutura de atendimento do SVO.

A recepção não possui parede frontal, o que contribui para uma boa ventilação do espaço para a visualização do ambiente externo (estacionamento e rua). Ainda na recepção, temos a entrada para a sala do(a) assistente social e dois banheiros destinados aos usuários do serviço, um feminino e um masculino, planejados para acesso a pessoas com deficiência.

No canto esquerdo da recepção há duas mesas juntas posicionadas em formato de “L”, uma ao lado da parede, a outra de frente para a entrada, onde fica o(a) recepcionista. No ambiente há ainda aparelho de televisão, ventilador instalado na parede, além de 3 (três) longarinas, com assentos e encostos confeccionados em polipropileno – com o total de 9 (nove) lugares – destinadas à acomodação dos(as) usuários(as) do serviço. Vale destacar que no período noturno este espaço é assumido pelo técnico em necropsia plantonista, que além de suas tarefas específicas passa a fazer os atendimentos dos usuários do serviço.

Ao fundo da recepção fica a porta que dá acesso às demais dependências do SVO, onde o vigilante normalmente se posiciona para controlar a entrada das pessoas. Ao passar por essa porta, à direita, fica a sala dos(as) médicos(as) patologistas, onde os usuários do serviço são recebidos para uma entrevista. À esquerda fica a sala que dá acesso à escada do segundo piso. Ao seu lado encontra-se um purificador de água (de parede), um armário de arquivos, uma prateleira, garrafa de café e lixeira. Na sequência, ficam as portas da secretaria, dos vestiários e as dependências dos fundos, destinadas aos exames de necropsia e acomodação dos cadáveres.

Entre a porta do vestiário e a secretaria há uma mesa de madeira junto à parede, onde ficam várias pastas com documentos e modelos de encaminhamentos do SVO. Nesta mesa há duas cadeiras e, na parede ao lado, um grande mural com proteção de vidro, onde são colocados informativos diversos. Cabe ressaltar que todas as portas da instituição contam com placas informativas em acrílico.

Ao lado da porta do vestiário há um extintor de incêndios, uma lixeira e uma caixa de madeira fixada na parede, onde são guardadas as luvas descartáveis. Nota-se que a referida caixa encontra-se posicionada de maneira estratégica, próxima à porta que dá acesso às dependências do fundo, ambiente onde são destinados os cadáveres, o que facilita o acesso a este equipamento de proteção individual (EPI) quando os técnicos necessitam entrar em contato com os cadáveres. No final da sala supracitada fica uma porta dupla, semelhante àquelas de emergência de hospital, que dá acesso às “dependências dos fundos”, onde há uma antessala, que dá acesso a duas salas de necropsia e um pátio, destinado à recepção/acomodação/liberação dos cadáveres.

Foi possível conhecer o referido ambiente em circunstâncias diferentes, antes e após a realização dos exames de necropsia. Quando ingressamos no espaço após as necropsias e à higienização, não havia qualquer sinal de odor específico. Enquanto que, na ocasião em que

nos encontrávamos previamente aos exames de necropsia, mesmo o ambiente estando limpo e organizado, foi possível sentir um odor característico emitido pelos cadáveres.

As salas de necropsia têm tamanhos diferentes. A primeira sala é maior, com aproximadamente 32m², e estava frequentemente em atividade durante o período das observações. Além dos diversos instrumentos de trabalho, nessa sala há relógio de parede (analógico), pia e bancadas grandes, que ficam localizadas nas paredes do fundo e lateral direita. Há também duas mesas de necropsia, com pia e água encanada em uma das suas pontas; a outra ponta conta com uma peça própria para fixar a cabeça quando há necessidade de seccionar a calota craniana. Cada mesa dispõe de tomada elétrica. Quando a demanda de trabalho é superior à quantidade disponível de mesas de necropsia, utilizam-se macas como recurso adicional.

A segunda sala é menor, com aproximadamente 16m², e está desativada. Nela há uma mesa de necropsia posicionada ao centro, que apresentava sinais de desgaste (marcas de ferrugem). Há também bancadas e prateleiras, contendo materiais do SVO e recipientes que guardam peças anatômicas. A direção nos informou que, antes de ser desativada, essa sala era utilizada apenas para a realização dos exames de necropsias que poderiam apresentar maior risco de contaminação, como os cadáveres com suspeita de meningite, por exemplo.

Cada sala de necropsia possui ar condicionado, ventilador/exaustor e as paredes internas são revestidas de azulejos brancos. Há um painel de vidro posicionado na parede que separa as duas salas de necropsia. As dimensões deste painel de vidro transparente possibilitam a boa visualização de uma sala para a outra, nos dois sentidos, medindo aproximadamente 2,5m de largura por 1,5m de altura, instalado a aproximadamente 1,5m do chão e posicionado no centro da parede.

A última porta da antessala dá acesso ao pátio, uma área coberta onde os veículos estacionam para entregar e recuperar os cadáveres. Após o encerramento do exame de

necropsia, o cadáver retorna para este local, onde permanece à espera de transporte, até o momento da entrega. O pátio conta ainda com cavaletes, onde são colocadas as urnas funerárias; e 5 (cinco) geladeiras cadavéricas, utilizadas para a conservação dos cadáveres. Este equipamento às vezes para de funcionar, lançando aos técnicos em necropsia o desafio de acondicionarem os cadáveres. Uma estratégia utilizada por eles é manter os corpos na sala de necropsia com o ar-condicionado em baixa temperatura.

No segundo piso ficam algumas salas administrativas, bem como as áreas de convivência e de repouso dos servidores e dos trabalhadores terceirizados. Ao subir a escada chegamos na copa-cozinha, ambiente central, que dá acesso aos demais. Este espaço é bem iluminado, conta com um grande vitrô de 6 (seis) aberturas individuais ao fundo e um ar- condicionado. Nele há 1 (uma) mesa com 6 (seis) cadeiras, fogão, pia, forno micro-ondas, lixeira e purificador de água instalado na parede.

Ao ingressar na copa-cozinha, a primeira sala que localizamos do lado esquerdo é destinada à macroscopia, ambiente de uso dos(as) médicos(as) patologistas para avaliação e arquivamento de amostras biológicas coletadas nos exames de necropsia. Na sequência, ficam as portas dos banheiros feminino e masculino, onde os técnicos em necropsia normalmente fazem a higienização pessoal. Por último, o dormitório reservado aos médicos e às médicas patologistas.

À direita há uma sala de TV (sem porta), com uma divisória de meia-parede que a separa da copa-cozinha. Este ambiente dá acesso a outras salas, como a da direção e da administração, e nele há uma TV e 2 (duas) longarinas, com 3 (três) assentos cada. Ainda do lado direito da copa-cozinha, há um outro ambiente com porta, que conta com prateleiras e uma geladeira, onde é possível guardar os alimentos fornecidos pela instituição e os que os próprios servidores trazem.

Na sequência, há dois dormitórios com as seguintes placas: “dormitório dos necrotomistas” e, em seguida, “dormitório feminino”. No dormitório dos necrotomistas há 12 (doze) armários de metal de uso dos necrotomistas, quantidade inferior ao quadro de técnicos em necropsia. Ao lado destes há uma mesa de escritório com uma cadeira acolchoada. Constam também 2 (dois) beliches, situados um de cada lado do quarto. Após o beliche da direita há um frigobar e após o da esquerda há uma cadeira acolchoada, um rack e um computador conectado à internet.

É importante frisar que muitos destes recursos foram conquistados pelos próprios técnicos em necropsia, que se organizaram para custear a aquisição, como o frigobar, o computador e o pagamento da taxa de internet. Registramos ainda que outros servidores utilizam os recursos do dormitório dos necrotomistas, como os armários e o frigobar, a exemplo do motorista da instituição.

No dormitório feminino há 2 (duas) camas, uma ao lado da outra, ambas posicionadas de frente para a porta, contando com colchões revestidos de material impermeável. Ao lado da porta há 1 (um) rack de computador, com um aparelho televisor sobre ele. O ambiente conta também com ar-condicionado, janela com cortina, longarina de 03 assentos e lixeira, que fica no canto do quarto.

A utilização do dormitório feminino já foi ponto de conflito entre as servidoras da instituição, quando as técnicas em necropsia deixaram de repousar no dormitório dos necrotomistas e passaram a fazê-lo no dormitório em questão. O conflito se deu principalmente pelo fato de as demais servidoras que utilizam o espaço não quererem compartilhar o uso da cama com as técnicas em necropsia.

Atualmente esta questão está resolvida e o dormitório feminino é utilizado pela maioria das servidoras da instituição, salvo as médicas patologistas. É interessante notar que, apesar de

haver um armário com 8 (oito) repartições no referido ambiente, as duas técnicas em necropsia utilizam o armário que fica no dormitório dos necrotomistas, mesmo após ter garantido o uso do dormitório feminino.