• Nenhum resultado encontrado

3. Trilhas metodológicas

3.3. Contextualização dos aspectos institucionais

3.3.3. Caracterização dos participantes

Conforme descrição do quadro funcional apresentado na seção anterior, este SVO conta com um efetivo de 13 (treze) técnicos em necropsia. Destes, há 11 (onze) homens e 2 (duas) mulheres. Apesar de o requisito mínimo de escolaridade para pleitear este cargo público ser ensino médio completo e curso técnico específico, 9 (nove) deles possuem ensino superior, nível de escolaridade acima do exigido, incluindo as 2 (duas) mulheres. Os demais encontram- se com a escolaridade de nível médio, sendo eles 4 (quatro) homens. Todos os técnicos em necropsia são servidores públicos da esfera estadual, vinculados à Secretaria de Saúde Pública.

Quanto à experiência profissional, quase que a totalidade deles possui tempo superior a 6 (seis) anos de atuação na função. Identificamos durante a Etapa 01 que apenas um dos técnicos em necropsia possuía tempo de experiência profissional menor que os demais. No decorrer da entrevista, o técnico em necropsia em questão afirmou ter assumido o cargo no SVO há 10 (dez) meses. Além disso, pontuou que possuía experiência como técnico de necropsia de um IML de outro Estado, onde teria permanecido por aproximadamente 6 (seis) meses e que contava com o total de 1 (um) ano e 4 (quatro) meses exercendo a função, embora em instituições de perfis

diferentes. Em suma, durante a pesquisa de campo, identificamos que todos eles exerciam a sua função de maneira autônoma, sem necessitar de supervisão.

O regime oficial de trabalho dos técnicos em necropsia é de escala, cujo revezamento é de 24h trabalhadas por 72h de descanso. Eles atuam em equipes, que normalmente são formadas por 3 (três) ou 2 (dois) profissionais no período diurno, a depender da escala e/ou da demanda de trabalho. No período noturno normalmente fica 1 (um) técnico em necropsia de plantão, que é a pessoa responsável por todos os encaminhamentos neste turno. Nestes plantões o único profissional que o acompanha é um vigilante.

A escala de trabalho é flexível e há ainda acordos internos entre os técnicos em necropsia com relação às trocas de plantões, sobretudo entre aqueles que residem em outro município. Tudo isso contribui para que as jornadas de trabalho tenham equipes montadas com diferentes membros da equipe. Não há uma relação de hierarquia entre os técnicos em necropsia e todos desempenham as mesmas atribuições. Eles, no entanto, se reversam na distribuição das tarefas no plantão diurno.

É interessante informar que a distribuição equilibrada das atribuições nem sempre existiu. Durante as entrevistas, uma das técnicas em necropsia relatou possíveis preconceitos que ela teria sofrido ao ingressar na instituição pelo fato de ser mulher. Ela frisou que, ao se inscrever no edital do concurso público para concorrer ao cargo, este não era restrito aos homens. Contudo, ao tomar posse do cargo público, ela teria encontrado problemas com os membros da direção, pois eles teriam tentado fazer a alocação dela e da colega em um laboratório para que não trabalhassem na função, proposta recusada por ambas.

Quando elas de fato assumiram o cargo, a direção não permitia que assumissem os plantões noturnos, por achar que não teriam força ou responsabilidade suficientes. Portanto, as técnicas em necropsia precisaram conquistar espaço e provar que eram capazes de atuar no

cargo. Pelo que observamos e pelos diversos relatos das técnicas em necropsia, este tipo de distinção que ocorria com relação à divisão de tarefas deixou de vigorar nas práticas institucionais. Quanto à prescrição do trabalho do técnico em necropsia, encontramos no manual institucional (Serviço de Verificação de Óbito, 2016) a seguinte definição de descrição de cargo (negrito acrescentado para comentários posteriores):

a) Receber, identificar e guardar os cadáveres, diuturnamente;

b) Guardar os corpos em câmara frigorífica enquanto o mesmo aguarda o exame ou aguarda os familiares após a necropsia;

c) Colocar e retirar os corpos nas mesas de autópsia;

d) Auxiliar o médico patologista e o médico legista durante a necropsia (abrir e eviscerar o corpo, abrir a calota craniana, seccionar o gradil costal, pesar alguns órgãos, fornecer material cirúrgico ao patologista);

e) Auxiliar o patologista durante a documentação fotográfica do exame;

f) Providenciar o acondicionamento dos fragmentos retirados durante o exame, com sua adequada identificação;

g) Preparar a solução fixadora de formalina, não deixando que ela falte ao serviço; h) Colaborar na colheita [sic] de amostras para envio de material à fresco para serviços de referências em outros Estados da União;

i) Recompor e realizar o asseio no cadáver após o exame, para entregá-lo aos familiares; j) Realizar a limpeza das salas de necropsia e dependências anexas, bem como das câmaras frigoríficas;

k) Transportar tais recipientes para a sala de clivagem do material, colocando-o na prateleira do respectivo médico;

l) Executar outras tarefas de mesma natureza ou complexidade associada à especialidade.

Com relação aos itens de descrição da atividade prescrita para o cargo de técnico em necropsia, convém chamar atenção para algumas questões. Uma delas é a referência ao médico legista, no item (d). O SVO não conta com este profissional em seu quadro funcional, pois esta é uma ocupação que se vincula aos Institutos Médicos Legais. Importa também destacar que o item (j) foi, por diversas vezes, contestado pelos técnicos em necropsia durante as entrevistas, que argumentaram que a atividade de limpeza do ambiente seria de responsabilidade dos auxiliares de serviços gerais (ASG). Eles concordam, porém, que a higienização dos instrumentos de trabalho é de responsabilidade deles.

Para ingressar nas atividades da Etapa 01, os técnicos em necropsia deveriam atender aos seguintes pontos: a) atuar como técnico em necropsia vinculado ao SVO onde a pesquisa foi desenvolvida; b) desempenhar a sua função de forma autônoma, sem necessitar de supervisão; c) apresentar interesse e disponibilidade em participar pelo menos da Etapa 01.

É importante pontuar que a Clínica da Atividade considera imprescindível que haja um tempo de imersão do sujeito na atividade para que ele possa dela se apropriar a ponto apreendê- la e de ter condições de realizar expansões no gênero profissional (Osório da Silva, 2014). Assim, tomamos esse nível de imersão do trabalhador na atividade como critério fundamental para o ingresso na pesquisa desde a Etapa 01. Vale ressaltar que todos os técnicos em necropsia atendiam aos critérios acima definidos e que houve adesão total dos trabalhadores ao convite realizado. Portanto, a Etapa 01 contou com a participação dos 13 (treze) técnicos em necropsia da instituição.

Para a formação da dupla que ingressou na Etapa 02, realizamos uma análise das equipes que estavam montadas na escala do mês de setembro, concedida por um dos parceiros de pesquisa. Tomamos como base então os seguintes critérios: a) os membros deveriam ter participado da Etapa 01; b) os membros deveriam ter manifestado interesse em participar de

ambas as etapas; c) os membros terem apresentado algum nível de entrosamento e parceria no trabalho; d) os membros estarem escalados nos mesmos plantões das semanas posteriores.

Conforme esclarecido nesta seção, não há uma regularidade na composição das equipes de trabalho dos técnicos em necropsia. Estas são arranjadas de modos diferentes tanto com relação aos integrantes que compunham cada equipe, quanto no que diz respeito ao quantitativo, que costuma oscilar. Inicialmente pretendíamos montar uma equipe com 3 (três) técnicos em necropsia mas, dada a configuração do campo e as dificuldades de encontrar equipes que atendessem a todos os critérios, decidimos desenvolver a Etapa 02 com uma dupla. O critério “d)” foi o mais difícil de ser atendido para a composição do grupo.