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7.1 Sistema público de certificação: o caso do Sistema de Inspeção Federal (SIF)

7.2.1 Caracterização do sistema privado de certificação PQNN

O PQNN é um conjunto de normas e procedimentos que pretende garantir a conformidade, confiabilidade e origem das carcaças bovinas, mantendo-as nos padrões estabelecidos e controlando os sistemas de cria, engorda e de escolha de reprodutores da raça. A estrutura básica do sistema de certificação é composta por produtores, associados à ACNB, frigoríficos e redes varejistas.

O programa é dividido em quatro módulos que apresentam funções próprias específicas, a saber: Módulo I – Qualidade da Carne; Módulo II – Rastreabilidade do sistema de cria; Módulo III – Rastreabilidade do sistema de engorda; e Módulo IV – Qualidade de reprodutores. A figura 24 ilustra a organização do sistema de certificação Nelore Natural.

Figura 24 – Representação esquemática da organização do Caso Nelore Natural

A ACNB é responsável por toda organização e pela gestão da certificação. Técnicos credenciados pela Associação se envolvem na mobilização dos pecuaristas em torno da produção dos animais, acompanhando, também, todo o processo industrial no frigorífico, monitorando inclusive o trabalho realizado nos estabelecimentos varejistas.

ACNB Acreditadora/Normas

/Certificadora

Os pecuaristas interessados em participar do programa devem ser sócios da ACNB e preencher o termo de adesão, atestando o conhecimento das normas e procedimentos do programa. Os participantes devem assinar inclusive um termo de responsabilidade, no qual assumem que cumprirão as normas e autorizam a realização de auditorias realizadas pelo corpo técnico da Associação. Como um dos pilares da certificação é o bem-estar animal, os pecuaristas se responsabilizam por disseminar aos seus funcionários e colaboradores as recomendações relativas ao tema.

O frigorífico interessado em participar do programa deve manifestar seu interesse e sofrer uma avaliação prévia, realizada por um inspetor da ACNB. Nessa inspeção, é verificado se o estabelecimento atende às condições básicas para sua habilitação, que particularmente, se consubstancia na regulamentação junto ao Serviço de Inspeção Federal – SIF e na adoção de métodos, instalações, equipamentos e procedimentos do sistema de abate sanitário recomendado pelo órgão federal.

Após este procedimento, o frigorífico assina o termo de responsabilidade em que consta a aceitação das normas do manual de qualidade e declara que possui as condições técnicas e de controle de qualidade que atendem às exigências do programa. O termo também autoriza a ACNB a realizar auditorias e treinamentos dos funcionários responsáveis pelos procedimentos previstos.

Os estabelecimentos de varejo para participarem do PQNN devem cumprir as exigências estabelecidas pela vigilância sanitária e sofrerem a inspeção de habilitação conduzida pela ACNB. Nessa inspeção, o técnico da associação avalia os setores de recebimento de mercadoria, as câmaras de armazenagem, as salas de manipulação e o balcão expositor.

Após a habilitação, o varejista deve assinar o termo de responsabilidade, no qual consta a aceitação dos manuais de qualidade e procedimentos, declarando também que possui as condições técnicas e de controle de qualidade para atender às exigências do programa, bem como, as normas de utilização da logomarca. Por fim, o estabelecimento deve utilizar um código específico de controle para a comercialização da carne com o selo Nelore Natural e, ainda, autorizar, à semelhança dos outros seguimentos, a ACNB a realizar auditorias periódicas.

O Programa de Qualidade Nelore Natural apregoa que se baseia na simplicidade e praticidade. Os módulos são independentes, mas, o produto final de cada um é matéria- prima para o módulo seguinte. Essa condição visa permitir que qualquer criador, independente do seu porte ou setor, possa participar.

O módulo “Qualidade de Carne” tem por objetivo fornecer ao mercado carne bovina com identificação de origem, conformidade e qualidade intrínseca controladas. Para a análise da conformidade, as carcaças são avaliadas individualmente com relação à raça, idade, peso e acabamento.

Os animais participantes do programa devem ser nelores, machos ou fêmeas, enquadrados nos padrões da raça, sendo aceitos aqueles com até 25% de “sangue” de outra raça que não a zebuína. Os padrões exigidos dos animais para entrarem no programa PQNN podem ser observados no quadro 16.

Quadro 16 – Padrões exigidos dos animais pertencentes ao PQNN.

SEXO REFERENCIA IDADE DE DENTES INCISIVOS PERMANENTES Novilhos (machos castrados) Até 36 – 42 meses Até 6

Tourinhos jovens (machos inteiros) Até 18 – 24 meses 0 (dentição de leite completa)

Novilhas e fêmeas jovens Até 26 – 28 meses Até 4

MÍNIMO MÁXIMO CATEGORIA Kg @ Kg @ Macho 240 16 285 19 Fêmea 195 13 285 19 Fonte: ACNB (2007).

Além dos padrões descritos acima, os bovinos devem estar perfeitamente terminados, com cobertura de gordura de 2 mm a 8 mm, distribuída uniformemente na carcaça.

Todos os animais devem ser criados e recriados a pasto, recebendo suplementação mineral adequada. Eles podem ser alimentados estrategicamente com suplementos protéticos e energéticos, e também podem ser terminados em confinamento ou semiconfinamento, utilizando-se, sempre, produtos de origem vegetal.

O programa preconiza o cumprimento do calendário oficial de vacinação e a não utilização de produtos proibidos pela legislação.

Outro ponto de grande relevância é a atenção ao bem-estar animal. Considerando isso, deve-se, portanto, evitar agressões aos animais e a aplicação de vacinas ou medicamentos na região do lombo e da anca deles. Esses cuidados são verificados pela observação das carcaças, que são desclassificadas quando apresentam hematomas, contusões ou lesões provocadas por manejo inadequado ou pela aplicação incorreta de vacinas.

Na criação, outros cuidados reforçam a preocupação com os bovinos. Eles não devem passar fome ou sede, ter condições plenas de conforto, serem criados livres para poderem expressar o comportamento natural da raça e não devem ser submetidos a situações de estresse e medo.

Os Módulos II e III - Rastreabilidade de cria e de engorda, têm como objetivos comuns propiciar maior transparência ao mercado, garantindo a origem do produto e o cumprimento dos procedimentos necessários para a classificação do animal no programa. Todos os bovinos devem possuir a marca da fazenda e ter os dados zootécnicos registrados. Os animais aprovados a participar recebem brinco oficial do PQNN e passam a ter suas informações coletadas e inseridas em um banco de dados da Associação, disponível na internet, no site http://www.nelore.org.br.

O quarto módulo é o “Qualidade de Reprodutores” e tem por objetivo identificar touros nelores registrados e reconhecidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, aprovados por avaliação/seleção. Os animais devem ter idade entre 18 e 30 meses, apresentarem exame andrológico positivo e estarem em plenas condições física e funcionais para efetuarem monta natural a campo.

Como medida regular do programa, todos os módulos são orientados e auditados por técnicos da Associação de produtores. Esses profissionais é que realizam as auditorias periódicas nas fazendas, nos frigoríficos e supermercados que integram o programa de qualidade.

Os pioneiros do PQNN foram pecuaristas do estado de Rondônia responsáveis pelo fornecimento do primeiro lote de animais que viabilizaram a chegada da carne “Nelore Natural” às gôndolas das lojas do Hipermercado Andorinha em São Paulo, em Setembro de

2001. Essa carne foi oriunda do Frigorífico Frigovira, pioneiro na adesão ao programa. Posteriormente, três lojas do Empório São Paulo, também situadas em São Paulo e quatro lojas da rede varejista Bom Marche do Rio de Janeiro passaram a comercializar a carne produzida.

Atualmente, o PQNN opera com produtores dos estados de Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Rondônia. Hoje, a comercialização da carne é feita pelas redes varejistas pioneiras, como também pelos frigoríficos Independência e Marfrig. Os canais de distribuição desses estabelecimentos são utilizados na comercialização da carne. A evolução do programa pode ser verificada através do número de animais abatidos ao longo dos anos de 2003 à 2007, assim como pelo número de animais classificados e o volume, em toneladas, de carne comercializada. Esses dados estão apresentados na tabela 12.

Tabela 12 – Volume de abate do PQMN

2003 2004 2005 2006 2007

Animais abatidos 256.992 459.865 596.655 1.018.801 871.928*

Animais classificados 118.721 215.401 274.887 396.795 353.025*

Carne Comercializada

(tonelada) 6.963 8.843 10.055 13.483 9.123**

*: período de jan-ago/07; **: período de jan-mai/07

Fonte: ACNB (2007).

Apesar de estarem inseridos no mesmo programa, os frigoríficos parceiros possuem estratégias de comercialização e distribuição distintas. Um deles sempre teve a maior parte de suas operações voltadas para o mercado externo; porém, após os últimos casos de febre aftosa ocorridos no Brasil e a criação de barreiras sanitárias à exportação decorrentes disso, levaram a uma inversão nas negociações e ele foi forçado a operar mais no mercado interno, preferindo comercializar seus produtos nas pequenas redes varejistas e pequenos distribuidores.

O outro frigorífico, ao contrário, tem por foco o mercado interno, utilizando grandes redes varejistas. Dessa forma, a carne Nelore Natural está distribuída de maneira ampla e diversificada.

Sem dúvida, o estabelecimento de parceria entre produtores rurais, frigoríficos, redes de distribuição, juntamente com a coordenação é que possibilitou o expressivo aumento dos números do programa. O número de animais abatidos aumentou aproximadamente quatro vezes entre 2003 e 2006. Nesse mesmo período o volume de carne certificada e comercializada dobrou.

Não se pode deixar de comentar que apesar dos números expressivos, o ano de 2006 foi muito difícil para o programa, em decorrência das dificuldades que a pecuária nacional enfrentou, havendo restrição de recursos destinados a ações de marketing da carne e para as atividades internas da associação.