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Nos últimos anos o Brasil obteve uma impressionante evolução das exportações de carne, tornando-se, em 2004, o maior exportador mundial deste produto. Esse sucesso deu- se, em grande parte, pela capacidade técnica dos pecuaristas e dos frigoríficos brasileiros, que nos últimos anos, caminharam profissionalizando o setor, e pela habilidade deles em aproveitar as mudanças do mercado mundial de carnes (SAMPAIO, 2005). O volume de carne exportada em 2004 por diferentes países, entre eles o Brasil, está representado na figura 14.

Figura 14: Maiores exportadores mundiais de carne bovina. Fonte: Anualpec, 2006. 0 400 800 1200 1600 2000 Brasil Austrália N. Zelândia

India Argentina Canada União Européia

Deve ser ressaltado mais um fator que foi preponderantemente favorável ao Brasil no mercado internacional de carne bovina. Esse fator foi o surgimento da doença da vaca louca (Encefalopatia Espongiforme Bovina – BSE) e da febre aftosa em países consumidores e exportadores. Devida a condição sanitária do rebanho brasileiro livre dessas doenças, deu-se oportunidades para o escoamento da produção brasileira e conquista de novos mercados, especificamente a China e a Rússia, com maior valorização do gado zebuíno, criado a pasto (ABAG, 2002).

Os fluxos de carne bovina no mercado mundial sempre foram bem definidos até a década de 1990. Tradicionalmente, os principais fluxos de comércio podem ser divididos em duas grandes áreas: o mercado do Pacífico e o mercado do Atlântico. No Pacífico, os principais produtores são a Austrália, a Nova Zelândia e os Estados Unidos, e os principais importadores são o Japão, a Coréia do Sul e também os Estados Unidos, que sempre foram grandes importadores, principalmente do Canadá, da Austrália e da Nova Zelândia. No Atlântico, os países do Mercosul foram, freqüentemente, fornecedores para a Comunidade Européia, que por sua vez dominava os mercados do Leste Europeu, Rússia e Oriente Médio. Outros países do sul da África também mantiveram, embora em menor escala, fluxo regular de fornecimento de carne aos países europeus (SAMPAIO, 2005). O comércio tradicional de importação ou exportação de carne bovina entre os países citados, pode ser visualizado na figura 15, logo mais abaixo.

Entretanto, esses fluxos comerciais foram alterados, motivados por problemas sanitários do rebanho Europeu e dos Estados Unidos, pelas condições de câmbio favoráveis aos países do mercosul e também por novos acordos mundiais de comércio. Segundo Dyck e Nelson (2003), podem ser adicionados a estes fatores, as condições territoriais de expansão da atividade e de manutenção de custos baixos existentes no Brasil, na Austrália e na Nova Zelândia. A estratégia brasileira de diversificação das exportações com o objetivo da construção de um novo fluxo mundial deve figurar com mais um fator favorável e essas mudanças. Os fluxos atuais do comércio de carne bovina no mundo estão apresentados na figura 16.

Fonte: Adaptado de Sampaio (2005) Figura 15 – Fluxo mundial tradicional de comércio da carne bovina.

Figura 16 – Fluxo mundial atual de comércio da carne bovina.

Fonte: Adaptado de Sampaio (2005) Canadá EUA Brasil Uruguai Argentina Austrália Nova Zelândia Rússia U.E O.M. Canadá EUA Mercosul Botswana Namíbia África do Sul U.E O.M. Rússia Austrália Nova Zelândia Japão Coréia Japão Coréia

O aumento das exportações também foi favorecido pela manutenção do real desvalorizado no período de 2000 a 2005, que possibilitou a permanência dos preços baixos da carne brasileira junto aos padrões internacionais. O maior controle da febre aftosa após anos de vacinação, se somou a isso; e ainda houve aumento da demanda internacional, principalmente motivada pelo crescimento dos países emergentes e pelo ciclo de baixa da pecuária mundial, devido o grande abate de matrizes (ANUALPEC, 2005).

Os dados sobre a exportação de carne bovina contidos no anuário publicado pela FNP consultoria (ANUALPEC, 2006) demonstram que o Brasil passou a ser o maior exportador mundial de carne bovina no ano de 2004 mantendo esta posição em 2005. Entretanto, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA (2006) afirma que o país é o maior exportador de carne mundial, superando países tradicionais em exportação de carne, como a Austrália e os EUA, desde 2003. Nesse ano, as exportações de carnes diversas, que haviam crescido 31% em 2002, foram responsáveis por aumento de 17% das exportações, tendo destaque especial à carne bovina in “natura”, que passou de US$ 776 milhões para 1,154 bilhão no período de 2002 a 2003, com aumento de 48,7%. A conquista de novos mercados como a Ásia, o Oriente Médio e a Europa Oriental é considerada o fator mais importante para esse aumento.

Estudo realizado por Pedroso et al. (2004) exemplifica o aumento de países compradores do Brasil, sendo que em 1999 a carne brasileira era exportada para 40 países, e em 2003 para 104. Esse aumento foi contínuo até 2004, com 146 países comprando carne do Brasil (VISÃO AGRÍCOLA, 2005). É importante ressaltar que, além da quantidade de carne exportada, a aquisição de melhores preços foi fundamental para a consolidação do Brasil como exportador. Altas alíquotas tarifárias e imposições de cotas de importações representam sérios entraves a maior expansão da carne brasileira no mercado internacional. As tarifas impostas ao comércio internacional da carne brasileira estão apresentadas na tabela 8.

Tabela 8 – Tarifas internacionais aplicadas sobre a carne brasileira.

Importador Tarifa extracota* Regionalização**

Suíça 620% (congelada) 360% (refrigerada) Não reconhece

Noruega 334% Não reconhece

União Européia 176% (congelada) 98% (refrigerada) Reconhece

Coréia do Sul 40% Não reconhece

Japão 38,5% Não reconhece

* Tarifa sobre o produto, expressa em porcentagem; ** Reconhecimento firmado em acordo entre Brasil e o importador, de que existem no país regiões produtoras livres de doenças.

Fonte: ICONE (2005).

Além da tarifação e cotas impostas ao comércio internacional, barreiras sanitárias de diversas naturezas estão também presentes, tanto na compra apenas de carne industrializada, até no fechamento total do mercado. Devida à importância desse assunto, os principais problemas sanitários que afetam a cadeia da carne bovina brasileira serão discutidos, detalhadamente, a seguir.

Na visão de Sampaio (2005), o quadro atual de exportações da carne brasileira é promissor, mas seu futuro dependerá da capacidade do país em resolver problemas estruturais, econômicos e sanitários, tanto para manter-se no patamar conquistado, quando para conquista de novos mercados. Segundo o autor, também é possível afirmar que para ampliar a oferta de carne, atendendo o mercado externo e os consumidores de carnes mais exigentes, será necessário atentar-se para produtos seguros, de qualidade superior e ecologicamente corretos.

Além da possibilidade do mercado internacional de carnes, o comércio de couros, que é da ordem de 270 milhões de peles ao ano, está em crescimento e com espaço promissor para o Brasil (ABAG, 2002). Todavia, ainda há muito a ser melhorado na produção brasileira de couros. Os desperdícios e maus-tratos infligidos aos animais e ao couro geram perdas anuais para a economia do país em torno de US$ 1,6 bilhão/ano, apenas considerando o couro. Essas perdas advêm de problemas observados nos diversos setores da cadeia, desde a fazenda, passando pelos frigoríficos, chegando até os curtumes (FRIZZO FILHO, 2005). Assim, programas de conscientização e o melhor pagamento pelo

couro de qualidade, são necessários para o desenvolvimento deste setor da cadeia de carne bovina.