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4.4 PERCURSO DA PESQUISA: DETalhameNTO METODOLÓGICO

4.4.1 Procedimentos metodológicos: primeiros dados do percurso

4.4.1.1 Caracterização dos sujeitos

Após os primeiros contatos, encaminhamos a aplicação do questionário, na intenção de conhecer o perfil dos sujeitos da pesquisa. Com esse questionário (APÊNDICE A), compusemos um cenário com informações como idade, tempo de atuação, tipo de formação. O grupo, então, é composto por 15 sujeitos, sendo 5 professoras formadoras e 10 professoras participantes. Todas do sexo feminino (100%), como já dissemos, reafirmando as pesquisas que informam a histórica predominância das mulheres no magistério (CERISARA, 2007). As professoras formadoras têm idades entre 41 e 53 anos, e as professoras participantes, entre 28 e 48 anos. O grupo é muito diverso, formado por mulheres com várias idades e em diferentes fases da vida. Algumas atuando na Educação Infantil há até 27 anos, e outras com menos de um ano de experiência profissional nesta etapa. Uma diversidade que torna o grupo ainda mais singular, possibilitando perspectivas distintas de um mesmo projeto de formação. Em relação à atuação, no subgrupo de professoras, 13 atuam na docência em turmas

de Educação Infantil, 1 atua na gestão e 1 na coordenação pedagógica. No subgrupo de professoras formadoras, 2 atuam como formadoras, 2 como gestoras e 1 como coordenadora pedagógica. Reiteramos que, em nossa pesquisa, as docentes são reconhecidas e assumidas primeiramente como professoras, ainda que estejam exercendo funções diferentes, considerando a transitoriedade das funções e o pertencimento ao contexto da Educação Infantil.

Quanto à maior escolaridade, das 5 formadoras temos: 1 com graduação, 3 com pós- graduação lato sensu e 1 com pós-graduação stricto sensu: mestrado na área de Letras: estudos literários. No grupo de 10 professoras, todas têm pós-graduação lato

sensu. Um dado apurado nas respostas de professoras e formadoras quanto à escolaridade que chamou nossa atenção foi a variedade e o quantitativo de especializações lato sensu por elas mencionadas, como vemos na tabela a seguir:

Tabela 3 – Cursos de especialização informados pelas professoras e formadoras concluídos até 2017

.

Fonte: Elaborada pela autora

A especialização em Gestão é a mais mencionada, 8 vezes, sinalizando para o interesse na atuação fora da sala de aula, seguida da especialização em Educação Infantil, com 6 menções, o que pode sinalizar a intenção em atuar e permanecer nessa área. Ainda, se compararmos o quantitativo de cursos informados no total (35) com o número de sujeitos da pesquisa (15), podemos inferir que cada professora buscou se

Cursos de especialização Quantidade de

professores

Gestão integradora/ Gestão educacional 8

Educação Infantil 6

Anos iniciais do Ensino Fundamental 5

Educação especial/ Educação inclusiva 4

Planejamento educacional 4 Supervisão escolar 3 Alfabetização e letramento 2 Psicopedagogia 2 Pedagogia empresarial 1 Total 35

especializar em diferentes áreas, como podemos observar no Gráfico 3.

Gráfico 3 – Número de especializações realizadas por cada sujeito da pesquisa até o ano de 2017.

Fonte: Elaborado pela autora.

Analisando os dados apresentados no Gráfico 3, observamos que, com exceção dos sujeitos 13, 14 e 15, que informam uma ou nenhuma especialização, os demais sujeitos informam duas (7 sujeitos), ou mais (5 sujeitos) especializações, chegando ao informe de cinco especializações por sujeito. Com isso, é possível afirmar que esse tem sido um investimento pessoal das professoras em sua formação. Investimento, inclusive, financeiro, tendo em vista que dos 35 cursos mencionados, apenas 1 foi realizado em uma instituição pública federal; os demais foram realizados em instituições de ensino superior particulares.

Nesse conjunto, há professoras que têm até 5 cursos de pós-graduação, o que nos leva a analisar que, para além do incentivo natural do Plano de Cargos e Salários da rede, que prevê salário diferenciado para professores com esta formação, há um esforço pessoal para a busca da formação. Outro fator que podemos indiciar para justificar este investimento é o fato de o município fomentar essa prática também ao pontuar esses certificados, tanto nos concursos de remoção quanto na contratação de professores temporários.

Já a pós-graduação stricto senso é informada por apenas uma professora (formadora) em nível de mestrado na área de Letras: estudos literários. Acerca dessa problemática, a formadora Lenira Paz 9 enuncia que:

9 Nome fictício da formadora, cujo contexto de escolha será apresentado no próximo capítulo. 5 4 4 3 3 2 2 2 2 2 2 2 1 1 S 1 S 2 S 3 S 4 S 5 S 6 S 7 S 8 S 9 S 10 S 11 S 12 S 13 S 14 S 15 ESPECIALIZAÇÕES/SUJEITO

Às vezes, até um curso como um mestrado, um curso que demanda mais dedicação, pra gente aqui do interior é bem mais difícil fazer. É muito mais difícil! E a gente encontra até profissionais que são colegas e que dizem “Ah, mas os profissionais que estão se formando, em nível de mestres e doutores, oneram o município”. Então, ainda existe essa visão de que essa pessoa que estudou vai ficar pesada para o município, de que traz prejuízo e isso não pode ser uma verdade. As pessoas que estudaram precisam de ser aproveitadas, ter um reconhecimento do município de que aquilo que ela ganhou lá pode ser aplicado aqui (Lenira Paz, F, 2017).10

A formadora nos fala da dificuldade do professor que reside no interior conseguir fazer um mestrado, e aborda uma complexa questão: a falta de incentivo e reconhecimento da importância do investimento na formação dos profissionais que atuam na Educação Infantil. A ideia de que para atuar nesta etapa basta boa vontade e amor e de que não há necessidade de uma formação de mestre ou doutor para “cuidar” de crianças em “creches” ainda é muito forte e evidencia um preconceito com a criança pequena e com o profissional que com ela atua (NASCIMENTO; CAMPOS; COELHO, 2007). Essa problemática está no bojo de outras questões que se relacionam com a inserção da Educação Infantil na educação básica e o processo de negociação instituído, buscando igualdade nos investimentos e nas prioridades (CÔCO, 2013).

Assim, conhecer o perfil das interlocutoras foi fundamental para a potencialização da análise dos dados e para a orientação de nossa interlocução no desenvolvimento da pesquisa, uma vez que, no encontro com o outro:

Ao construir meu enunciado, procuro defini-lo de maneira ativa; por outro lado, procuro antecipá-lo, e essa resposta antecipada exerce, por sua vez, uma ativa influência sobre o meu enunciado (dou resposta pronta às objeções que prevejo, apelo para toda sorte de subterfúgios, etc.). [...]; levo em conta as suas concepções e convicções, os seus preconceitos (do meu ponto de vista), as suas simpatias e antipatias – tudo isso irá determinar a ativa compreensão responsiva do meu enunciado por ele (BAKHTIN, 2012, p. 302).

O perfil construído por meio dos questionários auxiliou no endereçamento de nossos enunciados, no encaminhamento das interlocuções posteriores e até mesmo no ajuste nos demais procedimentos, se necessário. Mas, especialmente, a elaboração de um perfil dos sujeitos estudados foi fundamental para a compreensão e análise das narrativas por eles produzidas, uma vez que: “O princípio da interlocução refere-se à ideia de que tudo aquilo que é dito é dito a alguém. Se quero analisar a palavra do

10 O enunciado apresentado compõe o conjunto de dados produzidos nas rodas de conversa, este especificamente, na roda realizada com as formadoras que será abordada posteriormente.

outro enquanto enunciado e não enquanto frase, é preciso levar em conta quem é o interlocutor” (AMORIM, 2004, p. 259).

Considerar “quem” está narrando e “para quem” o faz é essencial no movimento de compreensão e análise dos sentidos daquela narrativa, num reconhecimento da singularidade de sujeitos e dos diferentes papéis que cada um pode ocupar. Assim, reconhecemos a importância disso, ao assumirmos que:

[…] nas ciências humanas, seu objeto de estudo é o homem, “ser expressivo e falante”. Diante dele, o pesquisador não pode se limitar ao ato contemplativo, pois encontra-se perante um sujeito que tem voz, e não pode apenas contemplá-lo, mas tem de falar com ele, estabelecer um diálogo com ele (FREITAS, 2002, p. 24, grifos da autora).

Com essa assertiva, passamos ao próximo subtópico, em que abordamos as rodas de conversa e o itinerário de seu desenvolvimento em nossa pesquisa.