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Rodas de conversas: evento dialógico de produção de sentidos

4.4 PERCURSO DA PESQUISA: DETalhameNTO METODOLÓGICO

4.4.1 Procedimentos metodológicos: primeiros dados do percurso

4.4.1.2 Rodas de conversas: evento dialógico de produção de sentidos

Na abordagem da roda de conversa como procedimento de pesquisa, reiteramos a importância do diálogo com e entre os sujeitos. As rodas de conversa se constituíram em procedimento fundamental para a produção das narrativas dos sujeitos. Elas foram realizadas com os grupos de professoras que atuaram como formadoras e com o grupo de professoras participantes da formação. Destacamos que as distintas temporalidades de atuação e de participação dos sujeitos no projeto constituíram-se como fator potencializador das discussões e reflexões no compartilhamento das especificidades vividas por cada um (APÊNDICE B).

Com as professoras formadoras foi realizada uma roda de conversa e com as participantes, em virtude dos tempos do grupo, foram realizadas duas rodas de conversa. A realização da roda se deu em dois momentos: no primeiro, foram apresentados ao grupo a temática e os objetivos da pesquisa. Em seguida, foi discutido o procedimento de produção de dados “Roda de conversa”, a partir de algumas imagens e fotografias que apresentavam pessoas dispostas em roda, em diferentes situações culturais. Com essa reflexão, apresentamos, também, nosso referencial, abordando o círculo de Bakhtin e a base dialógica de nossa produção. Assim, os sujeitos foram convidados a tomar assento na Roda para dar início à conversa.

No segundo momento, já dispostas em roda, apresentamos ao grupo os temas orientadores da discussão, deixando claro que eles tinham uma função disparadora, para dar movimento à conversa e possibilitar que diferentes dimensões da formação fossem abordadas. Mas que, no escopo da formação, qualquer assunto não abarcado pelos temas poderia ser por elas abordado. Do mesmo modo, o assunto sobre o qual elas não quisessem falar não precisaria ser tratado, ainda que estivesse previsto nos temas. Na sequência, os temáticos iam sendo apresentados separadamente, em plaquinhas, e dispostos sobre a mesa, à medida em que a conversa ia se desenvolvendo.

São eles: 1) a relevância da formação continuada na Educação Infantil; 2) os modos de organização da formação continuada; 3) os processos de formação do professor (formador e participante); 4) a perspectiva atual acerca do vivido; 5) a experiência de narrar as vivências da formação. Por fim, foi solicitado, àquelas que desejassem, que narrassem uma memória da formação. Esses temas, inicialmente pensados para orientar a Roda de Conversa, contribuíram para inspirar a organização dos dados, auxiliando na composição dos eixos de análises, como mostraremos mais adiante.

Imagem 2 - Registro da mesa de Roda de conversa

Fonte: Acervo fotográfico próprio.

No âmbito da pesquisa narrativa, a roda de conversa se apresenta como uma maneira de produção de dados na qual o pesquisador se insere na pesquisa como sujeito, pela participação na conversa, ao mesmo tempo em que produz dados para análise (MOURA; LIMA, 2014). Ela se constitui num procedimento que “[...] permite a partilha de experiências e o desenvolvimento de reflexões sobre as práticas educativas dos

sujeitos, em um processo mediado pela interação com os pares, através de diálogos internos e no silêncio observador e reflexivo” (MOURA; LIMA, 2014, p. 99).

Nessa perspectiva, a roda de conversa é, ao mesmo tempo, espaço de fala e de escuta, de ruído e de silêncio, de colocar-se e de permitir que o outro se coloque, de observar e de ser observado. O pesquisador, na roda de conversa, compartilha esse espaço circular como aquele que observa, mas que também é observado. Esse é um espaço privilegiado, na medida em que sujeitos e pesquisador têm a possibilidade de a todos olhar nos olhos. Assim, circunscrevemos nosso olhar no encontro com as professoras, uma vez que o observador, para Bakhtin (1997, p. 355), “[...] não se situa em parte alguma fora do mundo observado, e sua observação é parte integrante do objeto observado”. E disso depende a compreensão. Compreender o enunciado do outro não é possível do exterior, uma vez que a natureza da compreensão é dialógica, é preciso entrar em dialogia com os enunciados para compreender (BAKHTIN, 1997), é preciso entrar na roda e dela participar.

O sujeito é sempre um narrador em potencial. O fato é que ele não narra sozinho, reproduz vozes, discursos e memórias de outras pessoas, que se associam à sua no processo de rememoração e de socialização, e o discurso narrativo, no caso da roda de conversa, é uma construção coletiva (MOURA; LIMA, 2014, p. 100).

Esse procedimento nos possibilitou rememorar as trajetórias e compartilhar os sentidos das experiências. E, ainda, no intercâmbio das rememorações, atribuir outros sentidos ao vivido, por meio do contato com as lembranças significadas pelo outro. Assim, é no encontro com o outro que os fios de memória puxados por um podem se entrelaçar nos fios de outros, tecendo uma trama coletiva e polifônica de lembranças, com pontos dados pelos sentidos singulares que cada um atribuiu àquilo que viveu. Como em qualquer roda de conversa, buscamos possibilitar um ambiente propício para que os sujeitos pudessem se sentir à vontade para participarem do diálogo. Essa se constitui numa preocupação fundamental para possibilitar o envolvimento dos sujeitos, de forma que a conversa fosse relevante para o grupo “suscitando a atenção e a escuta” (MOURA; LIMA, 2014).

Nas rodas de conversa realizadas, observamos encontros e desencontros, concordâncias e dissonâncias, tensionamentos e amenidades, mas, sobretudo, uma intensa troca de ideias e negociação de sentidos. Assim, concordamos com Moura e Lima (2014, p. 101) que “[...] as rodas de conversa promovem a ressonância coletiva,

a construção e a reconstrução de conceitos e de argumentos através da escuta e do diálogo com os pares e consigo mesmo”.

Assim, no itinerário elaborado para a produção deste estudo, as Rodas de Conversa – procedimento que já acreditávamos ser potente – acabaram por se constituírem em frutíferas fontes de dados, abarcando nossas necessidades enunciativas. Como já mencionamos, foram realizadas três rodas. As conversas foram registradas em gravações de áudio. As gravações das duas rodas com as professoras têm, respectivamente, 35 min e 1 h 6 mim, e a gravação da roda com as professoras formadoras tem 1 h 47 min. Além da riqueza em narrativas, as rodas também se apresentaram como procedimento singular, por se constituírem em eventos dialógicos e alteritários, em que cada sujeito, ao expressar seus próprios sentidos, teve a oportunidade de, estando com o outro, buscar neste outro os sentidos que produzia (BAKHTIN, 1997).

A escolha do nome a ser utilizado no relatório da pesquisa para representar cada participante, considerando a opção ética pela não identificação dos sujeitos, também guarda um sentido único para cada uma, considerando a sugestão de que escolhessem um nome que para elas fosse significativo. O nome de uma professora que fizesse parte de suas trajetórias, que tenha sido importante em suas vidas, em suas histórias, como uma maneira de homenagear mulheres tão distintas e admiráveis quanto elas. Assim, para uma melhor organização e compreensão dos dados produzidos e selecionados neste estudo, na apresentação das narrativas produzidas nas Rodas de conversa, como o grupo é composto por dois subgrupos, para identificarmos as narrativas das professoras participantes utilizaremos, após o seu nome, a letra P, e para identificarmos as narrativas das professoras formadoras, utilizaremos a letra F. Essa informação é importante, tendo em vista que os sentidos expressos nas narrativas das docentes podem ser compreendidos de diferentes modos, conforme o papel/função que elas ocupam ou ocuparam no projeto de formação analisado. Entretanto, assinalamos que, nas análises, só faremos essa distinção quando se fizer necessário, assumindo que no conjunto da pesquisa todos os sujeitos são professores da Educação Infantil.

Com isso, seguimos na discussão dos procedimentos, abordando a busca empreendida por documentos que contivessem registros do projeto de formação.