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4.4 PERCURSO DA PESQUISA: DETalhameNTO METODOLÓGICO

4.4.1 Procedimentos metodológicos: primeiros dados do percurso

4.4.1.3 Registros do Projeto

No intuito de buscar outras vozes sobre o projeto de formação, também empreendemos uma busca por documentos que pudessem conter registros dessa trajetória coletiva. Documentos como: avaliações, planejamentos, fotografias, documentos oficiais da Secretaria de Educação e outros que porventura encontrássemos. Com essa reunião, não tivemos propósito avaliativo ou analítico, considerando nosso escopo metodológico e nossos referenciais teóricos, mas intencionamos buscar marcas já registradas do projeto de formação no curso de sua história, uma vez que reconhecemos que “[...] a lembrança é uma imagem construída pelos materiais que estão, agora, à nossa disposição, no conjunto de representações que povoam nossa consciência atual” (BOSI, 2009, p. 55). Assim, não apenas as memórias reconstituem essa história, mas também registros do passado construídos no curso dos acontecimentos.

Para o encontro com esses materiais, buscamos a Secretaria Municipal de Educação, órgão responsável pelo projeto de formação, e, após obtermos a permissão, buscamos com os profissionais responsáveis os documentos que pudessem conter esse tipo de registro. Nesta busca, dos documentos encontrados, selecionamos dois que diagovam mais aproximadamente com nossa proposta metodológica. O primeiro documento selecionado, como já mencionamos, foi um Livro de Memórias da

Formação (2011), um material com caráter avaliativo, com linguagem poética e lúdica,

produzido na formação no ano de 2011.

Imagem 3 - Capa do Livro de Memórias da Formação

O projeto não dispõe de um registro formal atualizado. Segundo as responsáveis, o registro feito no início foi atualizado algumas vezes e, quando necessário, o registro era reelaborado, incorporando as características de funcionamento vigente. Em 2017, ano em que se desenvolveu a pesquisa, em função, inclusive, da mudança de governo vivenciada na Secretaria, não houve atualização do registro do projeto de formação. Outro caminho que trilhamos na busca por documentos foi o digital, por meio do sítio da Prefeitura Municipal. Nele encontramos a Proposta Curricular da Educação Infantil, publicada no ano de 2016 e elaborada a partir dos encontros da formação continuada, conforme narra o excerto da apresentação do documento:

Considerando as muitas vozes reveladas num processo contínuo de estudo e avaliação das práticas, surgiu, então, a necessidade de elaborar um documento que pudesse subsidiar as instituições de Educação Infantil na construção de suas propostas pedagógicas e orientar os profissionais na realização do trabalho com crianças de 0 a 5 anos, em conformidade com as orientações previstas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) (Proposta Curricular do Município pesquisado, 2016).

Como já dissemos, os registros encontrados são aqui assumidos como outras vozes que dialogam com as vozes dos sujeitos da pesquisa. É importante destacar que não temos o propósito de analisar ou avaliar tais documentos, mais sim com eles estabelecer um processo dialógico, buscando as narrativas neles contidas.

Nesse propósito, optamos por abordar tais enunciados nos eixos de análise, em dialogia com as narrativas dos sujeitos da pesquisa, num reconhecimento de que podem auxiliar nas análises dos dados produzidos, em função de serem marcados pelos sentidos de um “outro presente”, ou seja, de um tempo que já não está.

Nessa conformidade, reiteramos que, além de ampliar as informações, esses documentos se constituem em fontes que auxiliam nas análises, na medida em que nos auxiliam a articular as vivências narradas pelos sujeitos num determinado contexto histórico. Acerca dessa temática Souza (2007, p. 63) afirma que:

Quando invocamos a memória, sabemos que ela é algo que não se fixa apenas no campo subjetivo, já que toda vivência, ainda que singular e auto- referente, situa-se também num contexto histórico e cultural. A memória é uma experiência histórica indissociável das experiências peculiares de cada indivíduo e de cada cultura.

Com a realização desses procedimentos, marcamos o encontro com o outro como pautado numa perspectiva de alteridade, no reconhecimento de seu excedente de

visão como fundamental no processo de busca dos sentidos do outro e de produção de nossos próprios sentidos sobre a formação continuada na Educação Infantil. Reiteramos, assim, que a escolha dos procedimentos utilizados nesta pesquisa está vinculada à metodologia narrativa reconhecendo que:

Trabalhar com narrativas não é simplesmente recolher objetos ou condutas diferentes, em contextos narrativos diversos, mas, sim, participar na elaboração de uma memória que quer transmitir-se a partir da demanda de um investigador. Por isso, o estudo autobiográfico é uma construção da qual participa o próprio investigador [...] (ABRAÃO, 2003, p. 85).

Com nosso referencial, compreendemos a impossibilidade de, no encontro real com o outro, permanecermos imparciais. A responsabilidade consiste em tomar parte, participar, ouvir o enunciado do outro e a ele responder, como ato responsável e responsivo. Assim, assumimos nesta pesquisa uma posição exotópica, com a possibilidade de compartilhar o mundo com o outro, mas sem perder o nosso lugar singular e a nossa visão única, reconhecendo que ao outro também é resguardado seu lugar único e singular. Nas palavras de Bakhtin (1997, p. 43, grifo do autor):

Esse excedente constante de minha visão e de meu conhecimento a respeito do outro, é condicionado pelo lugar que sou o único a ocupar no mundo: neste lugar, neste instante preciso, num conjunto de dadas circunstâncias — todos os outros se situam fora de mim.

Assim, a produção dos nossos dados se dá no encontro com esses sujeitos e seus enunciados, na compreensão da singularidade do olhar e da vivência de cada um. Esses sujeitos que, na relação dialógica formativa com a pesquisadora, contribuem com a produção dos dados do estudo, por meio de suas narrativas e seu excedente de visão, num movimento de intercâmbio de memórias, de sentidos e de saberes, uma vez que “[...] ensinamos aquilo que somos e que, naquilo que somos, se encontra muito daquilo que ensinamos” (NÓVOA, 2009, p. 38).

Com esse itinerário metodológico, avançamos para a apresentação dos princípios éticos que nos orientam na abordagem dos sujeitos da pesquisa.