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Caracterização da escola como campo de estudo e breve descrição dos participantes de pesquisa

ANO OBJETO DE ESTUDO ÁREA DE PESQUISA

4 O MERGULHO EM CAMPO: DESCRIÇÃO DOS

4.2 A FORMALIZAÇÃO INSTITUCIONAL DO ESTUDO E A DESCRIÇÃO DE CAMPO E PARTICIPANTES DA PESQUISA

4.2.1 Caracterização da escola como campo de estudo e breve descrição dos participantes de pesquisa

A escola onde os dados foram gerados pertence à rede estadual de educação de Santa Catarina e fica localizada na região central da capital do estado, atendendo a alunos de diferentes bairros da região metropolitana de Florianópolis. Sua estrutura física conta com 75 salas de aula (conforme ANEXO B), sendo seis delas utilizadas pelo Centro de Línguas Estrangeiras (CELE), centro anexo à escola onde são oferecidos cursos de Inglês, Francês, Espanhol e Alemão, tanto a alunos matriculados na instituição, quanto a pessoas da comunidade. Outras onze salas de aula são destinadas a espaço de formação74. Fazem parte também das dependências da escola um complexo esportivo, quadras cobertas, uma biblioteca central e outra destinada ao espaço de formação, uma sala para canto coral, auditório, duas salas de professores (uma destinada aos profissionais do mencionado espaço de formação e outra aos demais professores), laboratórios específicos a cada disciplina (todos com biblioteca também específica), uma sala de direção de turno, quatro salas de coordenação de ala, duas salas pertencentes ao Serviço de Orientação Educacional (SOE), espaço para audiovisuais com duas salas de projeção, oficina, almoxarifado, uma sala dos Recursos Humanos, laboratório de

73 Os alunos com quem realizamos entrevistas tiveram seus nomes indicados pelas próprias

professoras.

74 Este espaço não será nomeado em nome de manter a codificação da escola, dado que a

informática, um espaço destinado para Direção Geral e Coordenadorias (Geral, de Ensino, Administrativo-Financeira), dois refeitórios, um no espaço de formação e outro no pátio central com atendimento diário para alunos, funcionários e professores e, por fim, uma sala destinada a equipamentos, além de sanitários. Como a escola conta com um número grande de dependências, sua organização se dá via alas, conforme podemos observar no Anexo B. Trata-se, pois, de um prédio com amplos recursos em se tratando de disponibilidade de espaço físico para a ação educativa.

Com relação ao número de profissionais atuantes na instituição, segundo dados oferecidos pelo Setor de Pessoal em situação informal de interação, no ano letivo de 2015 havia 168 funcionários efetivos e 202 funcionários contratados em caráter temporário. Quanto ao número de professores de Língua Portuguesa especificamente, o quadro docente contava com um número total de catorze profissionais, sendo sete substitutos e sete efetivos.

No que diz respeito à quantidade de alunos matriculados, de acordo com dados obtidos via interação informal com Secretária da escola, a instituição atende a uma média aproximada de quatro mil a cinco mil alunos, divididos nos períodos matutino, vespertino, noturno e integral. Seguem dados numéricos:

Tabela 1 - Número de alunos matriculados por área de ensino

Área de Ensino Turmas Cursando Período

Fund. (Anos Iniciais) 40 1139 Matutino e vespertino Fund. (Anos Finais) 45 1390 Matutino e vespertino Médio 32 1583 Diurno e noturno Ensino Médio Inovador 15 476 Integral Magistério 5 207 Noturno Projetos ---- 958 Diurno e noturno Fonte: Elaboração nossa.

Conforme podemos observar na Tabela 1, a grande maioria dos alunos cursa o Ensino Fundamental – estudando pela manhã ou à tarde – e o Ensino Médio, com turmas ofertadas nos períodos diurno e noturno. Além desses ciclos, há alunos matriculados no espaço de formação, que objetiva habilitação profissional para Educação Infantil e Séries Iniciais, e acontece no período noturno; no Ensino Médio Inovador75, que ocorre

em período integral; e em Projetos, que são: CELE, Esportes, Studio de Dança, Banda, Coral e Dança (Projeto Dança, Educação, Arte e Cidadania), alguns ofertados durante o dia e outros à noite.

Quanto a indicadores oficiais, conforme disponível no site da Secretaria de Educação do Estado de Santa Catarina, os resultados no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) indicam um aumento gradativo do desempenho dos alunos da escola, tanto nos Anos Iniciais quanto nos Anos Finais, no período de tempo de 2005 a 2013, havendo um pequeno declínio neste último ano, 2013. Vejamos tabela a seguir:

Tabela 2 - Resultados no Ideb

Ano Anos Iniciais Anos Finais

2005 4,8 3,4 2007 5,0 3,7 2009 5,7 4,1 2011 6,1 4,8 2013 5,9 3,4 Fonte: SED/SC (2015).76

75 O Programa Ensino Médio Inovador – ProEMI, instituído pela Portaria n. 971, de 9 de outubro

de 2009, integra as ações do Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, como estratégia do Governo Federal para induzir a reestruturação dos currículos do Ensino Médio. O objetivo do ProEMI é apoiar e fortalecer o desenvolvimento de propostas curriculares inovadoras nas escolas de Ensino Médio, ampliando o tempo dos estudantes na escola e buscando garantir a formação integral com a inserção de atividades que tornem o currículo mais dinâmico, atendendo também as expectativas dos estudantes do Ensino Médio e as demandas da sociedade contemporânea. Os projetos de reestruturação curricular possibilitam o desenvolvimento de atividades integradoras que articulam as dimensões do trabalho, da ciência, da cultura e da tecnologia, contemplando as diversas áreas do conhecimento a partir de oito macrocampos: Acompanhamento Pedagógico; Iniciação Científica e Pesquisa; Cultura Corporal; Cultura e Artes; Comunicação e uso de Mídias; Cultura Digital; Participação Estudantil e Leitura e Letramento. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/component/content/article?id=13439:ensino-medio-inovador>. Acesso em: 08 dez. 2015.

Observamos, pela Tabela 2, que nos Anos Iniciais os resultados foram melhorando ao longo do tempo, havendo um pequeno decréscimo no ano de 2013, quadro análogo ao dos Anos Finais, cuja pontuação alcançada em 2013 retrocedeu àquela apresentada em 2005.

O site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) apresenta o desempenho dos alunos da escola em questão no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), no ano de 2014. Tal apresentação se dá por área do conhecimento:

Tabela 3 - Resultado no Enem

Área do

conhecimento Média da escola Média nacional

Linguagens e códigos e suas tecnologias 533,15 507,90 Matemática e suas tecnologias 489,17 473,50 Ciências humanas e suas tecnologias 558,00 546,50 Ciências de natureza e suas tecnologias 495,41 482,20 Fonte: Inep (2011).77

Considerando que a média nacional do Enem, no ano de 2014, na área de linguagens, foi 507,90, notamos que a escola apresentou uma pontuação superior, indicando um desempenho satisfatório, assim como nas demais áreas – em que pesem especificidades de tais exames classificatórios que requerem olhares críticos. Nosso intuito, com tais registros, é informar, de maneira ampla, o universo da escola em estudo, uma vez que nesta seção nos dedicamos à descrição do campo de pesquisa.

<http://serieweb.sed.sc.gov.br/cadueendportal.aspx?YLReO3S1oJ0M1qFw1JEEsr+cmP5LTvp 4wA0W5AdUvWw=>. Acesso em: 05 nov. 2015.

77 Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/web/enem/enem-por-escola>. Acesso em: 09 dez.

Com relação às professoras participantes de pesquisa, nos reportaremos a elas, nesta tese, como GRF. e SHP.78. SHP. tem 34 anos de idade, é graduada em Letras-Língua Portuguesa79, tendo concluído o

curso no ano de 2008 e iniciado sua carreira de docência por volta do ano de 2011. Desde então, vem trabalhando com turmas dos anos finais do Ensino Fundamental, seriações essas objeto de nossa pesquisa. Em resposta ao questionário por nós aplicado (conforme APÊNDICE F), essa professora informou estar lecionando somente em uma escola, no ano letivo de 2015, em caráter temporário, atendendo ao total de oito turmas, compostas, aproximadamente, por quarenta alunos cada uma, em um regime de trabalho de quarenta horas-aula semanais. Ela registra não ter podido participar de cursos de formação continuada e, no que diz respeito ao planejamento das aulas, informa fazê-lo sozinha.

Quanto a GRF., tem 45 anos de idade, é graduada em Letras- Português e Italiano, tendo finalizado seu curso no ano de 1999. Dois anos depois, em 2001, concluiu uma especialização na área. GRF. leciona há vinte anos, estando há dez envolvida com turmas dos anos finais do Ensino Fundamental. É professora efetiva na escola campo de pesquisa, cumprindo um regime de trabalho como professora regente de vinte horas-aula, tendo sob sua responsabilidade cinco turmas, compostas, também, por volta de quarenta alunos; nas vinte horas restantes, esta participante de pesquisa ocupa-se de setor responsável por documentação, matrículas, boletins de desempenho, divisão de turmas, fornecimento de históricos e outros. Em resposta ao questionário, esta professora, assim como a anterior, informou não participar de cursos de formação continuada e planejar suas aulas sozinha.

Além das professoras mencionadas, interagimos com a orientadora educacional – nomearemos DLG. –, responsável pelo acompanhamento das duas turmas por nós observadas; com ela estabelecemos um único contato por meio de uma entrevista individual (APÊNDICE N). DLG. faz parte do corpo de funcionários da escola desde o ano de 2001 e é graduada em Pedagogia com habilitação em Orientação Educacional; atua, portanto, como orientadora, e sua função, segundo nos foi informado, é

78 Por questões éticas, todos os participantes da pesquisa serão nomeados, ao longo do texto, com

as iniciais dos nomes registradas randomicamente, com substituição de algumas dessas iniciais. Esse é um procedimento que adotamos em nosso grupo de pesquisa por entendermos demasiado artificial o uso de nomes fictícios, assim como compreendermos o uso de recursos de codificação distintos da nomeação verbal como incompatíveis com o tipo de pesquisa que realizamos. O uso de ponto final após as iniciais do nome decorre da intenção de distinguir esse uso de siglas que eventualmente componham o texto.

79 Não identificaremos as universidades de origem para preservar a identificação das

trabalhar junto a professores e alunos, intermediando as relações com pais dos estudantes na identificação de possíveis problemas a fim de solucioná-los; ela atua no Serviço de Orientação Educacional da escola (SOE) que funciona junto da Supervisão Escolar (SUE).

Por fim, entrevistamos também a coordenadora do Laboratório de Português (conforme APÊNDICE O), a qual denominaremos TPA., uma profissional de 44 anos de idade, com duas graduações – Língua Portuguesa; Língua Espanhola e Literaturas. Estava cursando, no momento da entrevista, pós-graduação em nível de Mestrado na área de Língua Espanhola. De acordo com o que nos foi informado, TPA. atua há vinte anos na Educação e, como coordenadora do Laboratório de Português, há aproximadamente dois anos, em caráter temporário, atendendo aos catorze docentes atuantes na escola, cumprindo uma carga horária de quarenta horas semanais. Dentre suas funções, estão: zelar pelo Laboratório e seu acervo; distribuir, no início do ano letivo, livros didáticos de Língua Portuguesa aos alunos matriculados; ao final do ano, receber tais livros; organizar e empreender reuniões semanais com os professores da disciplina a fim de que se coloquem em pauta questões várias relacionadas aos processos de ensino e de aprendizagem; organizar o processo de seleção de livros didáticos junto aos docentes nos períodos devidos e atividades afins.

Vale relembrar que, além dessas participantes de pesquisa, contamos com interações com alguns alunos em entrevistas e rodas de conversa, os quais passaram a participar do estudo no decorrer de seu percurso, o que nos conduz a descrevê-los de acordo com inferências nossas a partir das vivências em campo.

Como assinalado anteriormente, as turmas em que imergimos continham entre trinta e quarenta alunos, que residiam em distintas localidades do município de Florianópolis, bem como nos arredores da instituição. Os estudantes selecionados para a participação neste estudo, na turma de sétimo ano, tinham entre doze e treze anos, enquanto que aqueles do nono ano tinham entre catorze e quinze anos de idade. Esses participantes de pesquisa provinham de classes sociais desprivilegiadas socioeconomicamente e os estudantes do nono ano envolvidos nesta tese estavam em seu primeiro ano de matrícula na escola em questão e contavam, em geral, com familiares com baixos níveis de escolaridade.

Tais estudantes tiveram seus nomes indicados pelas professoras sob o critério de estarem dentre aqueles com interesse explícito pelas aulas e participação tida como mais significativa, isso sob o ponto de vista das docentes. Desse modo, contatamos os estudantes indicados, explicamos a eles nossa ação na escola, os convidamos a participarem da

entrevista e da roda de conversa e entregamos a Carta de Esclarecimento sobre a Pesquisa e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE P) a fim de que levassem a seus pais ou responsáveis. Seguindo normatizações do Comitê de Ética da Universidade, entregamos a cada um dos alunos, paralelamente, um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido a fim de que eles próprios assinassem (APÊNDICE Q). Nas duas turmas, convidamos quatro alunos, contudo, na turma do nono ano, contamos com a participação de apenas três estudantes em virtude de um deles não ter recebido anuência do familiar responsável por ele para compor o grupo em questão.

Importa explicar que o foco desta tese não se coloca na análise do desenvolvimento microgenético desses alunos no ato de ler (VYGOTSKI, 2012 [1931]), mas em suas enunciações sobre as vivências com leitura e em seus artefatos escolares como elementos de triangulação analítica acerca do mencionado espaço para tal ato. Por esse motivo, não levamos a termo um traçado mais detalhado de um perfil desse grupo no que respeita a dados constitutivos de sua historicidade subjetiva.

4.3 INSTRUMENTOS DE GERAÇÃO DE DADOS: DIÁLOGO

COM ESTUDOS ETNOGRÁFICOS

A tipificação de nosso estudo e os objetivos por nós traçados requereram de nós uma vivência na realidade em questão pelo período de um semestre letivo (2015/2), período este em que lançamos mão de distintos recursos a fim de compreender a dinâmica do campo em estudo, atendendo ao cuidado de triangulação dos dados, de que trata Yin (2010), de modo a salvaguardar o processo de geração desses mesmos dados maximamente possível do paradoxo do entrevistador/paradoxo do observador (com base em LABOV, 2008 [1972]; DURANTI, 2000). Assim, utilizamos questionário, rodas de conversa, observação participante acompanhada de diários de campo, entrevistas e pesquisa documental nas relações estabelecidas entre nós e os sujeitos participantes de pesquisa, sempre na busca por uma posição de ausculta à palavra outra, às singularidades daqueles sujeitos com quem interagíamos.

Em geral, podemos traçar cinco movimentos de geração de dados: um primeiro caracterizado por roda de conversa com as professoras participantes deste estudo; um segundo momento em que adentramos em sala a fim de compreender as aulas de Língua Portuguesa; no terceiro momento entrevistamos individualmente cada qual das professoras; no quarto momento, entrevistamos individualmente os alunos selecionados

para esta etapa da pesquisa em cada uma das turmas com que convivemos e, por fim, realizamos rodas de conversa com esses mesmos estudantes, agora em uma interação coletiva. Os demais passos (imersão em Reuniões de Departamento, entrevista com orientadora educacional e com coordenadora do Laboratório de Língua Portuguesa) constituíram interações adicionais elucidativas que nos auxiliaram a compreender a configuração do espaço destinado à leitura nas aulas de Língua Portuguesa, em o havendo ou não. Assim, os instrumentos utilizados por nós funcionaram de maneira complementar, tal qual Yin (2010) sugere que aconteça, e, por meio deles, os dados gerados permitiram contemplar o foco da pesquisa.