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Diretrizes analíticas com base no ideário histórico-cultural

ANO OBJETO DE ESTUDO ÁREA DE PESQUISA

4 O MERGULHO EM CAMPO: DESCRIÇÃO DOS

4.2 A FORMALIZAÇÃO INSTITUCIONAL DO ESTUDO E A DESCRIÇÃO DE CAMPO E PARTICIPANTES DA PESQUISA

4.4.1 Diretrizes analíticas com base no ideário histórico-cultural

A fim de levar a termo o processo analítico deste estudo, lançamos mão do que vimos chamando de Diagrama Integrado, que representa nossa vontade de buscar caminhos analíticos com base no simpósio conceitual em que nos ancoramos – conceitos bakhtinianos, vigotskianos e dos estudos do letramento –, cientes de que os construtos desses ideários teóricos não discutem detalhamentos de natureza analítica. Assim, tal diagrama foi construído como recurso metodológico analítico para geração e análise dos dados, em relação, sobretudo, aos eventos e às práticas de letramento que inferimos nas aulas de Língua Portuguesa em estudo. Justificamos tal escolha em consonância com o embasamento teórico desta pesquisa no que diz respeito ao encontro que constitui, por um lado, a aula de Português, e por outro, o próprio ato de ler, nosso objeto de estudo. Importa-nos, pois, o encontro de singularidades (eu e o outro) por intermédio da modalidade escrita da língua que se dá na aula de Português e, mais especificamente, na leitura empreendida nessa aula.

A fim de responder à questão geral de pesquisa, expomos o Diagrama Integrado em que se estabelece uma inter-relação entre eventos e práticas de letramento, partes estas, a nosso ver, integradas em relações ecológicas. Tal diagrama pode ser observado de maneira ampliada no Anexo C e, neste momento, traremos separadamente as duas partes dele constituintes objetivando tão somente precisar o processo analítico; no original, as duas partes – os eventos de letramento e as práticas de letramento – estão intrinsecamente imbricadas e não são passíveis dessa separação.

Eventos de letramento descritos pelas professoras e pelos alunos participantes desta pesquisa se eliciaram por meio das interações promovidas nas rodas de conversa e nas entrevistas durante o percurso de geração de dados, tanto quanto em processo de imersão nas aulas. Tais eventos foram descritos por nós no intuito de compreendermos as práticas de letramento que subjazem a esses eventos, possibilitando-nos, dessa maneira, responder à nossa questão geral de pesquisa. A ancoragem no Diagrama Integrado materializa a tentativa de delinear caminhos que nos possibilitassem analisar os eventos e as práticas de letramento passíveis de descrição/inferenciação, a partir de ressignificações que Cerutti- Rizzatti, Mossmann e Irigoite (2013) propõem para Hamilton (2000).

Vejamos a primeira parte do diagrama e como esperamos que ela fundamente o processo de análise de dados:

Figura 1 – Diagrama Integrado – Parte I

Fonte: Adaptado82 de Cerutti-Rizzatti, Mossmann e Irigoite (2013).

Como podemos observar, essa primeira parte do Diagrama faculta a explicitação dos eventos de letramento – concebidos como encontros do eu e do outro instituídos pela escrita (com base em HEATH, 2001 [1982]; HAMILTON, 2000; BARTON, 1994) –, contemplando os seguintes elementos: esfera da atividade humana – no nosso caso, a esfera escolar em que processos educacionais são realizados e nos quais, a priori, livros didáticos são utilizados com frequência; cronotopo – concebido como a associação de distintas dimensões (social, cultural, geográfica, histórica e temporal) em que têm lugar tais encontros protagonizados por sujeitos que empreendem ações docentes que têm o livro didático como parte do processo (ou não); interactantes – professores, alunos e gestores que participam das ações empreendidas no espaço escolar; o ato de dizer nos gêneros do discurso – no nosso caso, a análise da maneira com que a modalidade escrita da língua se materializa nas ações docentes, as aulas

82 A adaptação deste Diagrama de Cerutti-Rizzatti, Mossmann e Irigoite (2013) é uma adaptação

realizada no âmbito do Grupo de Pesquisa Cultura Escrita e Escolarização, vinculado ao Núcleo de Estudos em Linguística Aplicada – NELA.

aqui compreendidas como gêneros do discurso, no que concerne às atividades de leitura propostas pelas professoras e pelos livros didáticos. Na segunda parte do Diagrama, conforme podemos observar a seguir, há um enfoque nas práticas de letramento:

Figura 2 – Diagrama Integrado – Parte II

Fonte: Adaptado de Cerutti-Rizzatti, Mossmann e Irigoite (2013).

As práticas de letramento, contempladas nesta segunda parte, são compreendidas como a maneira como os sujeitos participam dos eventos de letramento. As práticas constituem aquilo que ancora, que subjaz aos eventos e que pode ser depreensível dessa participação (STREET, 1988; HAMILTON, 2000; BARTON, 1994). Nesse sentido, essa parte do Diagrama compreende: a esfera da atividade humana – a construção social e histórica da esfera – escolar, neste caso – em que têm lugar os eventos em que o livro didático é usado (ou não); o cronotopo – correspondente à construção histórica do espaço social implicado na realização de tais eventos, com ou sem os livros didáticos como artefato; os interactantes – que faculta o estudo da historicidade dos sujeitos participantes desses eventos (nesta pesquisa, em especial as professoras);

e o ato de dizer nos gêneros do discurso – que possibilita a inferenciação das significações do agenciamento dos seus atos de dizer utilizando os livros didáticos como artefatos. Essa segunda parte do Diagrama com focalização nas práticas de letramento é de fundamental relevância no sentido de nos possibilitar analisar representações, concepções, posicionamentos etc. dos participantes no encontro de (com base em PONZIO, 2010a).

Partindo da ressignificação do quadro de Hamilton (2000) proposta pelas autoras, compreendemos a importância de conceber o encontro instituído pela modalidade escrita da língua como sendo situado. Afirmar isso implica tomar tal encontro em uma determinada esfera da atividade humana, em tempo e espaço específicos nos quais sujeitos se historicizam e, portanto, carregam suas representações, concepções, valorações e afins acerca do artefato livro didático, o que irá nos possibilitar responder à questão de pesquisa, por intermédio do processo analítico.

5 APÓS O MERGULHO, A EMERSÃO: EM BUSCA DE