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3. METODOLOGIA DA PESQUISA CAMINHOS METODOLÓGICOS E SEUS

3.1 Caracterização do lócus e sujeitos da pesquisa O contexto da escola, formação das docentes

docentes partícipes, área de Ciências da Natureza e as propostas curriculares vigentes

A pesquisa desenvolveu-se em uma escola estadual no município de Santa Rosa, RS. A escola localiza-se em um dos bairros da cidade e atende a comunidade que vive no setor ao redor da escola, ou em bairros vizinhos. As características sociais do público da escola são variadas, sendo que, os que se encontram em condições de vulnerabilidade social representam a maioria dos estudantes. Além disso, os problemas de envolvimento com drogas e violência de variadas formas também estão presentes. Nos arredores da escola existem moradias, postos de combustíveis, praças, supermercados, lojas de vários segmentos. Na época da pesquisa (2016) a escola contava com, aproximadamente, 800 alunos, 53 professores e 13 funcionários.

Em 2017, o número de docentes e funcionários permaneceu o mesmo, contudo, o número de estudantes neste ano letivo passou para 550. Supomos que essa redução de matrículas pudesse ser influenciada pela migração de alunos para escolas particulares e com as ofertas de bolsas ou abertura do Ensino Médio do Instituto Federal Farroupilha, dentre outros. A escola atendia em três turnos - manhã, tarde e noite, desde os níveis de Ensino Fundamental de nove anos, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos - EJA. O Município de Santa Rosa apresentava, no ano de 2016, uma população estimada de 72.504 habitantes. Desta população, no ano de 2015 (última atualização), o município contava com 2.541 matrículas no Ensino Médio do sistema público estadual, atendidas por 184 docentes, em 8 escolas distribuídas por todo o município (IBGE, 2016).

O trabalho foi desenvolvido junto ao grupo de professoras da área de Ciências da Natureza, das disciplinas de Biologia, Física e Química, regentes de classe no 1º ano do Ensino Médio. Os sujeitos participantes da investigação foram sete professoras, com a seguinte formação: três Licenciadas em Física, duas em Química, e duas em Ciências Biológicas. As sete docentes possuem pós-graduação em nível de especialização em várias áreas. Uma é Mestre, sendo que, no momento da pesquisa estava cursando doutorado. As docentes escolheram seus nomes fictícios para serem identificadas durante o trabalho, com o intuito de garantir o sigilo e respeitar preceitos éticos da pesquisa, além da autoria das afirmações. Assim, no Quadro 1, apresenta-se a caracterização básica das participantes, indicando nome, formação, tempo de escola e participação do grupo de Pesquisa-ação Colaborativa.

QUADRO 1 - Nomes fictícios, formação, tempo de trabalho na escola e participação do grupo de Pesquisa-ação Colaborativa das partícipes

Partícipes Formação Pós-Graduação Tempo na escola Pesquisa-ação

Colaborativa

Ana Física  11 anos 

Cátia Física  16 anos Não continuou

Helena Química  12 anos 

Jane Física  15 anos 

Luana Biologia  1 ano 2/3 do percurso

Maria Química  23 anos 

Mariana Biologia  2 anos Não continuou

Fonte – a autora

As entrevistas iniciais foram respondidas por sete professoras. Já em relação à constituição do grupo de Pesquisa-ação Colaborativa, cinco docentes continuaram a participar

do projeto, Maria, Helena, Jane, Luana e Ana. Contudo, apenas quatro delas participaram de todo o percurso das etapas da pesquisa, pois Luana teve que interromper sua participação no grupo por entrar em licença maternidade. Dessa maneira, pelos critérios de inclusão propostos na pesquisa, consideramos que as análises seriam centradas em docentes que obtivessem uma participação efetiva no mínimo em 80% das atividades, bem como nas três Etapas da Pesquisa (Diagnóstico Inicial - Encontros de Planejamento Colaborativo – Sistematização).

Essas participantes, juntamente com a pesquisadora, formaram um grupo de Pesquisa- ação Colaborativa. Porém, antes da pesquisa ser realizada, o grupo de professoras já estava organizado em área, com reuniões semanais em que planejavam conjuntamente as principais atividades pedagógicas da escola. Assim, as condições proporcionaram os horários de reunião de área na escola, a partir da Reestruturação do Ensino Médio da rede Estadual de Ensino do

Rio Grande do Sul, proposta vigente entre os anos de 2012 a 2016, iniciada em 2011. No Quadro

2, temos uma comparação entre os períodos letivos de 2012 a 2016 e 2017, em que o número de horas/aulas anuais variava de acordo com o ano e a disciplina.

QUADRO 2 - Comparativo de distribuição da carga horária das aulas de Ciências da Natureza para o Ensino Médio Diurno dos períodos letivos vigentes entre 2012 a 2016 e em 2017

Componente Curricular Ano 2012 a 2016 2017 Biologia 1° 68h/ano 80h/ano 2° 100 h/ano 80h/ano 3° 66h/ano 80h/ano Física 1° 68h/ano 80h/ano 2° 98h/ano 80h/ano 3° 66h/ano 80h/ano Química 1° 68h/ano 80h/ano 2° 68h/ano 80h/ano 3° 66h/ano 80h/ano Fonte – a autora

Além disso, com a Reestruturação da Proposta Pedagógica (2012-2016), considerava- se, dentre outros princípios orientadores, o trabalho interdisciplinar como estratégia metodológica. Desse modo, com vistas a viabilização do estudo de temáticas transversalizadas e a pesquisa como princípio, pedagogicamente estruturada, possibilitaria a construção de novos

conhecimentos e a formação de sujeitos pesquisadores, críticos e reflexivos (RIO GRANDE DO SUL, 2011).

Dessa maneira, a partir da reestruturação, as reuniões entre os docentes e coordenadores pedagógicos foram organizadas por áreas do conhecimento (Ciências da Natureza e suas Tecnologias, Ciências Humanas e suas Tecnologias, Linguagens e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias), com periodicidade semanal, em que cada área tivesse à sua disposição um dia específico da semana para esses encontros de estudos e planejamento. Além disso, a proposta contemplava a articulação entre as áreas do conhecimento - base comum- e o SI- parte diversificada - a partir do desenvolvimento dos eixos Temáticos Transversais (Acompanhamento Pedagógico, Meio Ambiente; Esporte e Lazer; Direitos Humanos; Cultura e Artes; Cultura Digital; Prevenção da Doença e Promoção da Saúde; Comunicação e Uso de Mídias; Investigação no Campo das Ciências da Natureza; Educação Econômica e Áreas da Produção) (RIO GRANDE DO SUL, 2011).

Com isso, a partir dessa articulação nas concepções reveladas pelas docentes (e também constatada pela pesquisadora, por ter feito parte desse processo), a percepção de significativas e profundas transformações na forma de muitos docentes atuarem em sala de aula, seja em suas práticas ou concepções. Os princípios como: o trabalho interdisciplinar e a pesquisa pedagógica, dentre as mudanças de currículo, conceituais, epistemológicas, filosóficas e sócio antropológicas que ocorrem com a reestruturação foram, para uma grande parcela de professores da escola, os fatores que mais contribuíram para as mudanças em suas práticas de sala de aula. As reuniões de área, os grupos de estudos e a reestruturação nos modos de trabalho nas disciplinas propiciaram novas e distintas experiências aos docentes impulsionando-os a buscar por intermédio da pesquisa, formação continuada para aperfeiçoamento pessoal e profissional.

Contudo, durante o período letivo de 2016, ocorreram alterações na gestão da Secretaria Estadual de Educação – SEDUC e, novamente modificaram as orientações para a organização do currículo escolar. Além das mudanças em relação ao modo de distribuição curricular, também se alteraram as demandas de disciplinas (em que algumas passam a ter maior número de aulas e outras deixam de existir, um caso é o do Seminário Integrado -SI24). Em que, mesmo a área de CN passando a ter maior número de aulas durante o ano, considerando os três anos,

24 Nova componente curricular, o Seminário Integrado – o SI, passou a integrar o contexto da implementação do

ainda assim, o grupo de docentes percebeu que as mudanças refletiram negativamente sobre o trabalho, pois, reduziu o tempo disponível para planejamentos e atividades em conjunto

Além disso, dentre as alterações ocorridas, a que mais impactou no trabalho docente (podemos apontar em relação ao grupo da escola em que foi realizada a pesquisa, pois é o local de trabalho da pesquisadora) ocorreu na noção de área e da sua relação com a avaliação, passando de um sistema organizado em áreas do conhecimento, com expressão de resultados através de conceitos, para o retorno das disciplinas independentes com expressão dos resultados por intermédio de nota.