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Caracterização metodológica do estudo

Capítulo 3. Metodologia do estudo

3.3. Metodologia de investigação

3.3.1. Caracterização metodológica do estudo

Como refere Abric (1994), o estudo das representações sociais coloca dois problemas metodológicos: a recolha e a análise dos dados. Por estarmos conscientes deles, e antes de decidirmos como proceder na recolha de dados, considerámos necessário

observar, nos estudos consultados para este trabalho, a forma como diversos investigadores têm procedido para diagnosticar, descrever e explicar as imagens das línguas e culturas.

Encontra-se uma multiplicidade de procedimentos metodológicos, sendo os mais frequentes os testes de associação de palavras ou de evocação livre (cf. Müller, 1997); os inquéritos por entrevista semi-directiva (cf. Billiez, 1996; Castellotti, 1997; Lopez, 1997; Matthey, 2000), sendo que, por vezes, este método utiliza-se em grupos de três/quatro sujeitos para facilitar a contra-argumentação, confronto e a auto-gestão pelos próprios sujeitos da troca verbal; as sondagens/inquéritos (cf. Hafez, 1999); a análise de discurso (cf. Matthey, 1997b), a observação directa (cf. De Pietro & Müller, 1997; Lopez, 1997). Aparecem ainda outros métodos mais articulados com a DL, tais como observações das produções dos alunos (cf. Grigoletto, 2002; Yang & Lau, 2003), actividades de sala de aula (gravação, transcrição, grelhas de observação) (cf. Rimbert, 1995).

É possível articular estes procedimentos em torno de dois grandes paradigmas de investigação, os quais, embora aparentemente contrastantes, funcionam como complementares e estão intimamente associados às temáticas, aos objectivos e às

predominâncias teóricas das investigações (cf. Matthey, 1997b). Explicitando,

encontramos estudos mais orientados para a Psicologia Social, cuja finalidade é, essencialmente, descrever as imagens, dando delas desenhos estáticos, e outros mais orientados para as Ciências da Linguagem, que visam compreender os processos de construção, mediação e difusão das imagens nos e pelos discursos.

Numa organização do mesmo género, Vasseur (2001) refere dois tipos de metodologia: abordagens tematizadas, as que privilegiam o conteúdo, considerando as imagens e os seus aspectos declarativos como um valor absoluto que permite explicar um certo número de competências próprias a um indivíduo ou a um grupo, analisando as representações independentemente das situações de interlocução nas quais ocorrem, com a finalidade de compreender o sistema de organização do mundo linguístico que os indivíduos constroem através de meios diversos, como os conhecimentos escolares ou as suas experiências familiares e sociais (cf. ainda Müller & De Pietro, 2001, quando se referem a abordagens objectivantes) (destacam-se aqui os trabalhos de Cain & De Pietro, 1997; Castellotti, 1997; Martel, 1997; Müller & De Pietro, 2001); abordagens não

tematizadas, com forte influência das análises etnometodológicas e da Sociolinguística

tendo em conta os seus efeitos no texto que os sujeitos produzem, visando apreender a natureza dinâmica das representações e tendo em vista a esquematização de actividades educativas destinadas a favorecer um trabalho de (re)construção destas mesmas imagens (cf. de novo Müller & De Pietro, 2001, quando se referem a abordagens construtivistas) (destacam-se, aqui os trabalhos de De Pietro & Müller, 1997; Berthoud, 2001; Cavalli et

al, 2001; Vasseur, 2001).

No nosso estudo situamo-nos metodologicamente numa perspectiva de abordagem objectivante/tematizada, uma vez que pretendemos descrever e compreender as imagens das LE por parte da turma do 3º ano de LRE da Universidade de Aveiro, independentemente, do ponto de vista metodológico, das situações de interlocução.

Para atingir este objectivo, levámos então a cabo um estudo com a turma referida ao longo do primeiro semestre do ano lectivo de 2003/2004, insistindo na descrição de atitudes, estereótipos, perspectivas. Esta postura implica que o nosso estudo se situe metodologicamente no quadro dos paradigmas de investigação qualitativa, numa perspectiva etnográfica, onde o investigador toma o papel de um intérprete da realidade, preocupado com a posição dos sujeitos (“El etnógrafo se preocupa per lo que hay detrás, por el punto de vista del sujeto y la perspectiva con que éste ve a los demás”, Bisquerra, 1996: 146), e com a forma como estes utilizam os procedimentos a partir dos quais vão construindo o conhecimento:

“Le projet scientifique de l'ethnométhodologie est d'analyser les méthodes ou, si l'on veut, les procédures, que les individus utilisent pour mener à bien les différentes opérations qu'ils accomplissent dans leur vie quotidienne. C'est l'analyse des façons ordinaires que les acteurs sociaux ordinaires mobilisent afin de réaliser leurs actions ordinaires” (Coulon, 1993: 13).

Para além desta abordagem qualitativa, o nosso estudo também se integra, simultaneamente, numa abordagem quantitativa uma vez que inclui dados quantitativos no que diz respeito não só aos inquéritos por questionário mas também às composições dos alunos.

Bogdan & Biklen (1994) reconhecem a investigação qualitativa como uma das principais tendências da investigação actual em educação. Os autores sublinham, como primeiro traço distintivo, o papel preponderante desempenhado pelo investigador no

contexto da investigação. O facto de este se movimentar nesse espaço para melhor compreender o que se propõe estudar, implica que deve realizar um esforço adicional para não interferir na situação em estudo e adoptar uma posição descritiva-interpretativa.

Assim, estamos conscientes das limitações que este tipo de metodologia pode encerrar no que concerne à interferência da subjectividade do investigador nos dados. Daí que tenhamos em conta a dimensão subjectiva não só dos sujeitos em análise, mas também do investigador que procederá a um relato crítico e reflexivo do que observou, partindo do seu conhecimento teórico. Desta forma, apresentamos os dados analisados (cf. Anexo 3) abrindo a possibilidade de outras leituras.

Consideramos, pois, que para além da necessidade de recolher o maior número de dados possível através do recurso a diferentes métodos e instrumentos de recolha, se torna imprescindível, ao rigor científico deste tipo de investigação, um quadro teórico bem definido de onde podem surgir os fundamentos para uma análise rigorosa dos dados.

Os autores acima citados apontam, também, a especificidade dos dados recolhidos que são apresentados de forma descritiva e não reduzidos a símbolos numéricos e o facto das investigações qualitativas se focalizarem mais no processo do que propriamente no produto.

Como quarta característica deste tipo de investigação, os autores conferem-lhe um carácter aberto na medida em que se pretende construir conhecimento e não confirmar hipóteses. Finalmente, apontam como principal finalidade desta metodologia a tentativa de descobrir os significados que os sujeitos atribuem às suas acções.

No esforço de descobrir esses significados procedemos, também, a uma análise estatística dos dados por considerarmos que poderia facilitar a interpretação qualitativa dos mesmos, levando-nos a apresentá-los sob diversas formas.

É a partir destes pressupostos que consideramos que a opção por uma abordagem mista, simultaneamente qualitativa e quantitativa, é a mais adequada para dar resposta ao objectivo por nós delineado.