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Na relação aluno/aprendizagem /língua

Capítulo 2. Alguns estudos sobre as Imagens das línguas e sua aprendizagem

2.3. Impacto das Imagens na acção dos sujeitos

2.3.1. Na relação aluno/aprendizagem /língua

Alguns estudos comprovam que as imagens podem influenciar a relação dos aprendentes com a língua e sua aprendizagem no que concerne: à escolha/abandono das línguas a aprender, ao grau de comprometimento com a aprendizagem dessa língua, às decisões didácticas (objectivos, estratégias de aprendizagem), sempre relacionadas com as imagens de facilidade/dificuldade, e à forma como a língua é percepcionada. Estas imagens podem constituir um obstáculo à aprendizagem, ou, pelo contrário, um impulsionador. Esta é uma das razões pelas quais o professor deve levá-las em linha de conta.

Monnanteuil (1994) enfatiza a preocupação por parte dos responsáveis pelo sistema escolar no que concerne à escolha das LE a estudar pelos aprendentes. Não há dúvida que as escolhas dependem, muitas vezes, da oferta por parte das escolas e do sistema escolar em que se inserem. No entanto, chama a atenção para a existência de outros factores que influenciam esta escolha, nomeadamente, a imagem das línguas e dos países que as falam. Exemplifica com o caso do Russo e do Português em França, cujas imagens passadas pelos

mass media e pelos manuais não são muito abonatórias dos países e respectivos povos. O

autor defende que estas imagens influenciam as escolhas dos alunos e, consequentemente, a diversidade das línguas estudadas em França, contribuindo “…aussi à déterminer les attentes des classes, et donc d’une certaine manière le contenu de l’enseignement” (op. cit.: 6). Isto é, precisamente, o que acontece com a forma como os EUA são retratados nos manuais franceses: por um lado, são apresentadas imagens de paisagens grandiosas mas,

problemas com a droga, a violência e as tensões raciais. Esta dualidade transmite dois tipos de imagens aos aprendentes que se sentem fascinados pela grandiosidade americana mas que, ao mesmo tempo, se sentem reticentes face aos problemas sociais aí existentes.

A escolha de determinada LE a estudar pode ser fruto de uma imagem positiva da língua relativamente ao seu estatuto, conforme nos mostra Martel (1997). Ao investigar a convergência entre as pressões sócio-económicas e as escolhas das LE em estudo de alunos universitários do Québec, conclui que a imagem do Inglês e do Francês, como línguas internacionais e importantes economicamente, faz com que os aprendentes as escolham. O estudo permitiu concluir que esta convergência existe: em 1993, as inscrições em FL2 foram superiores a todas as outras LE em conjunto; também as inscrições em Inglês

aumentaram 21% de 1990 a 1994. O que aconteceu neste país foi o que aconteceu um

pouco por todo o mundo: houve uma expansão do comércio internacional, o que fez com que o país mantenha um grande fluxo de trocas comerciais com vários países cujas línguas são, essencialmente, o Inglês, Japonês, Alemão, Chinês, Italiano e Espanhol. Hafez (1999), cujo estudo foi já brevemente descrito, também mostra de que forma as escolhas das línguas a aprender são condicionadas pelas mudanças sócio-económicas e a forma como estas, no Líbano, conduziram a uma preferência crescente pelo estudo do Inglês.

Pétillon (1997), por seu lado, analisa de que forma as imagens sobre a França, os franceses e a língua francesa podem justificar a descida do Francês como língua de ensino em Itália. Conclui que esta descida se deve, essencialmente, à imagem que os aprendentes têm do Francês como uma língua cujo valor e estatuto no mercado internacional têm vindo a diminuir. Mais uma vez fica evidenciado que a imagem relativamente ao estatuto de determinada língua no mundo económico e político e, consequentemente, no futuro profissional dos sujeitos, condiciona as suas escolhas e as próprias políticas educativas dos países. Rouault (2001) conclui, igualmente, que as imagens dos alunos, relativamente à utilidade/prestígio atribuídos às línguas e sua aprendizagem, influenciam as suas escolhas.

Também a escolha de determinada língua se relaciona, por vezes, com o grau de dificuldade/facilidade de aprendizagem que lhe é conferido. Em Portugal isto nota-se, por exemplo, com a língua alemã que é percepcionada por grande parte dos aprendentes como

uma língua difícil, devido à distância linguística, sendo essa uma das principais razões pelas quais é menos escolhida nas escolas portuguesas (cf. Simões5).

Para além de influenciarem as escolhas, estas imagens das línguas condicionam a forma como a aprendizagem é percepcionada pelos aprendentes e o seu grau de investimento neste processo, o que passa pelos objectivos delineados e estratégias de aprendizagem colocadas em prática. Seixas (1997) conclui que os alunos portugueses na Suíça francófona, que aprendem língua e cultura portuguesas, consideram o Português como uma língua socialmente minorada e sem qualquer valor escolar. Esta percepção faz com que os seus esforços na sua aprendizagem sejam reduzidos, levando-os a considerá-la uma língua difícil quando comparada com o Francês.

Billiez (1996), ao estudar as imagens de línguas vizinhas por parte de sujeitos romanófonos, conclui que a imagem de proximidade interlinguística faz com que línguas próximas da LM dos aprendentes sejam colocadas em segundo plano: “…la proximité entre langues… est ressentie un peu négativement comme un mélange sinon comme un appauvrissement des structures…” (op. cit.: 498), daí serem menos escolhidas como LE a aprender. É o caso do Espanhol em Portugal. Esta imagem de língua demasiado fácil/pobre, de acordo com autora, influencia as estratégias levadas a cabo pelos sujeitos. Exemplifica com a forma como é percepcionado o Catalão: “Cette vision de langue à ‘grammaire rudimentaire’ a d’ailleurs été corroborée dans les stratégies mises en oeuvre par les sujets qui, en exécutant les tâches de décodage du catalan, langue inconnue, se centraient très peu sur la grammaire” (op. cit.: 409).

Relativamente à língua alemã, Bartram (2004) mostrou existir uma relação entre as atitudes de aprendentes britânicos (14-16 anos) face à língua e a aprendizagem. De facto, a relação afectiva negativa que alguns alunos mostram manter com a língua (“Hate it”, “boring”…) e com o povo (“ignorant”, “annoying”…) parece levá-los a considerar a aprendizagem difícil em termos gramaticais e compreensão oral. De igual modo, Müller & De Pietro (1998) examinam de que forma as imagens de aprendentes, de Bienne, acerca da Suíça alemã influenciam o processo de ensino-aprendizagem do Alemão. Concluem que estas imagens desempenham um papel fundamental no processo de aprendizagem e, em particular, na motivação dos alunos para a mesma.

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Estes resultados vão ao encontro dos que nos chegam de um projecto coordenado pela Comissão Francesa da UNESCO, em colaboração com as respectivas comissões da Bulgária, Hungria e Suíça, sob responsabilidade científica do INRP (Institut National de Recherche Pédagogique, Paris) e do IRDP (Institut Romand de Documentation Pedagogique, Neuchâtel) (Baruch et al, 1995). Com o objectivo de estudar as representações culturais face às línguas alemã, francesa e inglesa e respectivos países, de quase três mil alunos (búlgaros, franceses e suíços francófonos), os autores concluem que existe uma relação significativa entre as representações dos alunos acerca dos países em causa, as suas dificuldades de aprendizagem e o prazer nesse processo.

As imagens têm também um papel importante na forma como a língua é percepcionada. Castelloti, Coste & Moore, como já referido, colocam em evidência três pontos de vista diferentes sobre as línguas, que podem não coincidir: “un point de vue descriptif”, un point de vue d’usager” e “un point de vue d’apprentissage” (2001: 101). O primeiro relaciona-se com a caracterização do objecto língua “en tant justement qu’objet descriptible” (op. cit.) e aqui incluem-se descrições linguísticas e descrições que apelam a critérios estéticos ou afectivos. O segundo insiste sobre a produção, recepção e compreensão de discurso, o que faz com que as línguas sejam percepcionadas de forma mais pragmática. Já no terceiro ponto de vista, os aprendentes percepcionam a língua como objecto de aprendizagem, o que faz com que os seus esforços se concentrem na aquisição da língua (no que concerne a pronúncia, a gramática, a sintaxe, ortografia…) para fins académicos.