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O professor da educação básica no Brasil está submetido a condições de trabalho sufocantes. As condições ofertadas para que realizem o ato de lecionar é, de um modo geral, degradante. A remuneração a que nos submetemos faz com que tenhamos que lecionar nos três turnos letivos, nas redes públicas e privadas, para percebermos uma remuneração que seja capaz de prover condições mínimas de vida aos nossos familiares.

A condição docente dos professores da educação básica em nosso país torna a prática docente um processo de repetições de ações, em que professores e estudantes se engalfinham em uma luta pela simples deglutição do conhecimento, transferido daquele que sabe para aquele que não sabe. O planejamento de ações diferenciadas na tentativa de construção de sentidos com os estudantes se torna um desafio somente vencido pela dedicação dos professores, infelizmente extenuados pela carga horária de trabalho. Avaliações que permitiriam entender como os estudantes estão se adaptando ao processo educacional, maneiras de perceber os desejos dos estudantes, ávidos pela possibilidade de descobertas.

O aperfeiçoamento dos professores, quando acontece, se faz mais pela vontade individual do que por um estímulo efetivo das redes de ensino, que deveriam estimular esta formação continuada. Tentar buscar possibilidades de unir o conhecimento que está sendo produzido pelos pesquisadores em educação com os conhecimentos que devemos apresentar aos nossos estudantes se torna inviável, por questões de tempo e espaço para pensar projetos que permitam esta integração.

Contudo, dentro desta realidade que assola a maioria das redes de ensino em nosso país, uma proposta ampliação da rede federal de educação técnica e tecnológica começou a se formar a partir de 2002. Com a perspectiva de constituir centros de educação integrada, em que os estudantes teriam uma formação técnica associada à educação básica, houve a implementação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, pela Lei 11892, de 29/12/2008. Estes institutos são criados pela aglutinação dos antigos Centros Federais de Educação Tecnológica e das Escolas Agrotécnicas Federais, sob uma gestão regional unificada, que leva

66 em consideração os arranjos de produção locais na constituição de seus cursos, e a abertura de novos campi. Estes Institutos Federais vão ser definidos como

(...) instituições de educação superior, básica e profissional, pluricurriculares e multicampi, especializados na oferta de educação profissional e tecnológica nas diferentes modalidades de ensino, com base na conjugação de conhecimentos técnicos e tecnológicos com as suas práticas pedagógicas (Art. 2º da lei 11.892).

À parte o fato de que a existência de escolas de educação básica vinculadas ao governo federal já tem mais de cem anos, a partir de 2003 esta rede passou por um processo de expansão nunca verificado na história de nosso país e seus campi se espalharam, em um processo de interiorização da rede de educação tecnológica.

Gráfico 1: Expansão da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, em

número de unidade

Fonte: Portal da Rede Federal de Educação Profissional, Cientifica e Tecnológica7.

A intensão era de que estas instituições, vinculadas à Secretaria de Educação Tecnológica do MEC, se espalhassem por todo o país, com um grau de capilaridade que nem as grandes universidades conseguiram atingir. Esta nova rede de ensino possuía, no final de

67 2016, trinta e seis mil trezentos e setenta e seis professores, atuando desde os grandes centros metropolitanos da região sudeste até os recônditos da floresta amazônica. A implantação de cursos técnicos integrados ao ensino médio escolhidos de acordo com as necessidades dos sistemas de produção locais, visou dar resposta às demandas destas localidades. Os cursos superiores criados nestes institutos seguiram a orientação da verticalidade da oferta – ou seja, os cursos superiores têm a mesma natureza dos técnicos criados nos campi. Essa decisão gera sinergia entre os níveis de educação e economia de recursos públicos.

Esta proposta de ampliação da rede federal de educação básica implicou aos docentes destas instituições um novo papel, de realizarem, para além do ensino, também atividades de pesquisa e extensão. Neste contexto, tendo a responsabilidade de um cargo público em regime de trabalho de dedicação exclusiva, vimo-nos desafiados pela legislação pertinente não somente a organizar processos de aprendizagem efetivo por parte de nossos estudantes dos conhecimentos estruturados nas nossas várias áreas de formação, mas também a produzir conhecimento a partir da pesquisa e apresentar os resultados desta pesquisa às comunidades nas quais nossos campi estão localizados, desenvolvendo atividades de extensão.

Desta forma, docentes e discentes dos institutos federais se veem envolvidos em projetos já desde o início de seu trajeto escolar. Esta ampla gama de atividades podem possibilitar que os estudantes recebam bolsas para atuar como monitores, criando um ambiente de trabalho diverso do que se percebe na maior parte das escolas de educação básica no nosso país. Alunos envolvidos em projetos que os interessam, tendo a oportunidade de pesquisar acerca de temas interdisciplinares para além das salas de aula, tentando responder a problemas reais da comunidade interna ou externa ao campus.

O processo de admissão dos estudantes ao nível médio integrado se dá por um processo seletivo vestibular, realizado pelos estudantes ao final do 9º ano do ensino fundamental. Neste processo, em obediência à lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012, os Institutos Federais reservam 50 % de suas vagas para estudantes que realizaram todo o ensino fundamental em redes públicas, municipais ou estaduais. Esta reserva de vagas ainda faz distinção entre os estudantes quanto à sua renda (igual ou inferior a 1,5 salário mínimo), ou à autodeclaração de cor (candidatos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas e candidatos deficientes), gerando pela intersecção destes diferentes itens um total de oito diferentes modalidades de reserva de vaga. Assim, recebemos estudantes dos mais variados matizes econômicos e socioculturais.

68 Especificamente no campus em que atuo tivemos no processo seletivo de 2018, 1153 inscritos para uma oferta de 150 vagas distribuídas por três cursos técnicos integrados ao ensino médio, quais sejam química, automação industrial e mecânica. É interessante notar que em todos eles, contudo, a relação candidato/vaga para a cota que corresponde aos estudantes oriundos de escola pública, autodeclarados negros, pardos ou indígenas e com renda familiar menor ou igual a 1,5 salário mínimo é maior que a relação candidato/vaga da ampla concorrência. No caso do curso técnico de química, este número chegou a 24,8 candidatos por vaga ofertada. Na ampla concorrência, este número foi 21,4 candidatos por vaga.

A cada ano mais estudantes realizam a prova, buscando uma oportunidade para estudar nesta instituição de ensino. Atividades de extensão como o IFMG Aberto recebem estudantes de escolas públicas para conhecer o campus e informar sobre o processo seletivo. O processo de seleção se dá por meio de provas escritas, aplicadas aos estudantes concluintes do Ensino Fundamental. Esta prova utiliza como matriz de referência o Currículo Básico Comum (CBC) do ensino fundamental para o estado de Minas Gerais, das áreas de Língua Portuguesa, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas.

A administração do campus no qual as atividades foram desenvolvidas conta com 36 Técnicos Administrativos em Educação (TAE), servidores que executam atividades auxiliares ao processo educacional. Trabalhando na gestão de recursos financeiros, operacionalização de atividades, suporte aos professores e estudantes, apoio nos laboratórios de ensino técnico, estes servidores desempenham funções variadas no contexto da administração pública. Dentre eles, temos duas pedagogas, uma assistente social e uma psicóloga, constituintes do Núcleo de Apoio Educacional, órgão voltado ao atendimento da comunidade interna e que tem como objetivo de colaborar para que os processos educacionais possam acontecer com qualidade e viabilizar condições de desenvolvimento e permanência escolar.

O corpo docente é selecionado por concursos públicos e trabalha, em sua totalidade, em regime de Dedicação Exclusiva (DE). Neste caso, a carga horária de trabalho semanal é de 40 horas e somos responsáveis pelo desenvolvimento de atividades de ensino, pesquisa e extensão, tripé no qual se baseiam os Institutos Federais e que estão previstos na lei de criação dos IF. Contando hoje com 57 docentes efetivos, em sua maioria pós-graduados. Estes docentes têm, portanto, qualificação para realização de atividades de pesquisa nas mais variadas áreas, inclusive de cunho tecnológico. Há que se inquirir, contudo, se tal formação se reflete

69 diretamente na qualidade do trabalho pedagógico destes docentes, uma vez que muitos deles tem sua formação vinculada às linhas duras dos respectivos conhecimentos.

O campus conta com um grupo de pesquisa registrado no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o CNPq. O Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Tecnologias (GIPET) tem como objetivos de pesquisa verificar os limites e potencialidades da abordagem interdisciplinar como metodologia que permita a construção de conhecimento de forma autônoma por parte dos estudantes. Reuniões têm sido realizadas para discutirmos estas questões e suas implicações ao trabalho docente no nosso campus.

O campus oferta atualmente a educação em nível médio e superior. Na modalidade de Educação Profissional Técnica de nível médio, isso se dá em três cursos integrados: técnico em automação, técnico em mecânica e técnico em química. Atendemos 453 estudantes nesta modalidade de ensino, distribuídos no 1º, 2º e 3º anos, além de uma última turma (6º Módulo) ainda no sistema semestral. O Gráfico 1 apresenta uma visão geral da distribuição dos estudantes por ano do ensino médio: 36% dos alunos estão cursando a primeira série do ensino médio, 31% a segunda série; 30% a terceira série e 3% o sexto módulo. A progressão semestral das turmas, característica do que chamo aqui de “módulo”, foi abandonado a partir do ano letivo de 2017, mas mantivemos a obrigação de ofertar turmas até a terminalidade dos estudantes que ingressaram nesta forma de ensino.

70

Gráfico 2: Distribuição dos Estudantes do Ensino Médio Integrado no campus, por ano de

estudo

Fonte: Secretaria Acadêmica do IFMG campus Betim

A terceira proposição das finalidades e características do IF ao qual nosso campus se vincula, descrita no seu plano de desenvolvimento institucional é promover a integração e a verticalização da educação básica à educação profissional e educação superior, otimizando a infraestrutura física. Isto justifica que no Ensino Superior disponibilizemos à sociedade os cursos de bacharelado em Engenharia de Controle e Automação e Engenharia Mecânica. Nestes, temos cerca de 305 alunos cujas matrículas estão ativas, sendo 154 da engenharia mecânica e 151 da engenharia de controle e automação. Uma característica interessante da condição docente nos Institutos Federais é que um professor pode lecionar nas duas modalidades de ensino tendo turmas com estudantes desde 14 anos até adultos.

O novo campus foi inaugurado em 2016, contando com um pavilhão central de aulas, um galpão para os laboratórios de química e mecânica e um ginásio poliesportivo. Além destes, há um prédio com salas administrativas, cantina terceirizada que serve almoço e lanches, sala para o grêmio e uma pequena área de convivência. Como os estudantes ficam todo o dia no campus, há um aquecedor de marmitas elétrico, adquirido para que eles pudessem aquecer suas refeições. Um auditório com capacidade para 195 pessoas assentadas, completa o conjunto de edificações.

164 (36%)

139 (31%) 137 (30%)

13 (3%)

Distribuição dos estudantes do Ensino Médio

71 A biblioteca, com dois andares, está localizada no pavilhão central de aulas. Uma equipe de quatro funcionários a mantêm em funcionamento durante todo o horário de aulas, inclusive o noturno. Esta equipe se destaca por realizar diversas atividades voltadas aos estudantes, conseguindo criar um excelente ambiente par ao estudo e a discussão. O acervo da biblioteca foi completamente catalogado e os estudantes podem acessá-la pela internet, permitindo a renovação de empréstimos.

Também no pavilhão de aulas estão dois laboratórios de controle e automação, bem como três laboratórios de informática com 30 computadores cada um, mais um computador para uso do professor, projetor multimídia e lousa eletrônica. Os agendamentos para utilização destes laboratórios ficam por conta da coordenação do curso técnico de automação, uma vez que as práticas realizadas nestes espaços são fundamentais para as disciplinas técnicas deste curso. Mais uma sala de aula foi apropriada pelo laboratório de desenho técnico, com 30 mesas de desenho.

Devido ao uso de espaços no pavilhão de aulas pelos laboratórios, temos muita dificuldade com relação à acomodação dos estudantes. Para contornar o problema, decidimos aplicar a distribuição das salas de aula – 11, no total – não pela vinculação às turmas, mas como salas ambientes. Desta forma, pudemos otimizar os ambientes atendendo um total de 17 turmas de ensino médio ao longo do dia, bem como 10 turmas das engenharias a noite. Estas salas ambientes são equipadas com armários em que o material específico da disciplina pode ser acondicionado. Os livros didáticos utilizados são distribuídos aos estudantes de tal forma que pelo menos 30 fiquem disponíveis na sala ambiente. Assim, aliviamos o peso das mochilas dos estudantes, que também transportam marmitas, materiais de higiene pessoal e roupas para a educação física.

O campus hoje prepara um projeto de construção de um prédio de laboratórios, o que permitiria que aqueles ambientes do pavilhão central de aulas que hoje são usados para tal fim, pudessem ser utilizados como sala de aula, o que permitiria ampliar o atendimento da comunidade do entorno coma disponibilidade de mais vagas para o ensino médio. Outra proposta neste sentido envolve e a abertura de um curso de licenciatura, uma obrigação prevista na alínea b) do inciso VI do artigo 7º, que trata dos objetivos dos Institutos Federais, na sua lei de criação, (Lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008). Comissão criada em 2016 e da qual fiz parte aponta o atendimento desta demanda por meio da criação de uma licenciatura em ensino

72 de ciências, com ênfase em química, o que atenderia tanto a previsão de verticalização quanto a obrigatoriedade da licenciatura.

Especificamente no ensino médio integrado, as aulas distribuem-se ao longo do dia letivo, alternando disciplinas técnicas e disciplinas no núcleo comum. Em média, os estudantes têm 36 horas-aula distribuídas em cerca de 16 disciplinas. Este número pode variar ao longo dos três anos, com o máximo de 40 horas-aula distribuídos em 18 disciplinas no curso técnico de química, no 2º ano. A construção do horário anual é realizada pelo diretor de ensino em conjunto com os coordenadores dos cursos técnicos, com alguns turnos de ensino reservados para as disciplinas técnicas.