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Os dados a partir do qual serão realizadas as análises foram obtidos a partir da gravação em áudio e vídeo das interações entre professor/estudantes, e estudantes/estudantes. Tais gravações foram tomadas nos momentos de comunicação dos resultados dos trabalhos dos grupos ao realizar as atividades envolvendo o uso do cinema como ferramenta cultural que permite a discussão e apropriação de conceitos. Foram gravadas um total de 15horas e 31 minutos de apresentações, debates e argumentações, relativos às atividades realizadas pelos estudantes que envolviam a comunicação de conhecimentos.

Acreditamos que os estudantes vivenciaram durante a realização das atividades que envolviam o uso do cinema na educação, processos e práticas que se aproximaram das práticas que os cientistas realizam em seus trabalhos. Estes processos podem ser verificados pela observação das ações de percepção e validação de significados durante os momentos de comunicação social dos estudantes. Segundo Rodrigues Silva (2011):

Os estudos epistemológicos sobre educação científica são estudos que se interessam em compreender como os estudantes participam das práticas discursivas e de produção do conhecimento científico escolar e como esta participação influencia no seu aprendizado epistêmico. (...) Em comum, essas reflexões destacam a dimensão social da construção do conhecimento científico, ressaltando os atores, a linguagem, as ações, os valores e as ferramentas que configuram a atividade científica. (RODRIGUES SILVA, 2011, p.37)

Estas gravações foram parcialmente transcritas para inserção nesta dissertação. A transcrição envolveu a análise dos vídeos e áudios e a percepção dos trechos relevantes para o estudo, por meio do mapeamento das características investigativas detectadas.

Observando o previsto na resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde, que aprovou as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos, em nosso projeto de pesquisa foi garantido aos participantes que

102 tomaríamos precauções para minimizar os riscos envolvidos em toda forma de pesquisa. Assim, asseguramos aos estudantes que preservaríamos a confidencialidade e a privacidade, conjugando a proteção da imagem e a não estigmatização dos participantes. No apêndice F apresentamos os modelos dos termos de consentimento e assentimento livre e esclarecido enviados aos estudantes ou a seus responsáveis, quando era o caso. Ao transcrevermos e analisarmos os vídeos e áudios visando a construção dos dados, optamos pela não divulgação dos nomes dos estudantes que participaram das várias atividades. Em seu lugar, utilizamos letras para representar os estudantes. Como se trata de uma pesquisa acerca da própria prática, o nome do professor foi citado quando necessário.

Na transcrição, foi usado o símbolo barra ( / ) indicar pausa. Para cortar trechos longos de fala e apresentar no trabalho pontos importantes destas falas, usaremos o sinal reticências (...). As falas dos estudantes foram transcritas em itálico, utilizando o mesmo parágrafo das citações. As anotações para complementar ou esclarecer alguma transcrição, são realizados logo a seguir ao trecho que se quer explicar, entre parênteses e sem o itálico, dentro da própria citação. Caso se refiram a reações corporais dos estudantes, estarão dentro das citações, entre parênteses e em negrito. No caso de não termos conseguido identificar o autor da fala, seja por ter dito muito baixo ou por vários estudantes terem falado ao mesmo tempo, usaremos o termo “indefinido”, como autor do turno de fala. Nos casos em que não foi possível identificar determinado trecho de fala, usaremos a palavra “imperceptível”, colocado entre parênteses, indicando estes problemas.

Para permitir uma leitura mais fluida das transcrições dos estudantes, tomamos a liberdade de alterar trechos destas falas, retirando determinados vícios de linguagem que dificultam a leitura. Apesar de os estudantes terem usado o suporte escrito para suas apresentações, alguns deles tem dificuldade com o discurso oral, o que é natural em um sistema de ensino que poucas vezes dá a voz ao estudante. Contudo, tomamos o cuidado de não alterar o sentido da fala do estudante, de maneira a preservar a intenção comunicativa estabelecida em seu texto.

Para além destas gravações, também foram realizadas anotações durante as aulas em que os estudantes comunicaram o consenso construído nos grupos, a partir de suas pesquisas. Weber (2009), defende que todas as anotações realizadas pelo pesquisador quando no campo de observação das práticas fazem parte do caderno de campo. Contudo, estas anotações não se

103 traduzem necessariamente em um “texto”. São anotações puntuais, reflexões momentâneas e apontamentos acerca de cada apresentação dos estudantes, enquanto ocorriam. Alguns destes apontamentos foram explicitados aos alunos durante a seção de apresentação dos trabalhos, estando também registrados nos áudios e vídeos; outros somente orientaram, a posteriori, a construção de categorias a partir das quais analisei as gravações. A posição como o grupo se organizou, a distribuição das tarefas entre os membros, as interações não externadas oralmente, mas estabelecidas pela troca de gestos e olhares; a comunicação não verbal realizada e que foi percebida por mim, estas são as anotações a que me refiro. Um conjunto de folhas sem coerência prevista, mais ou menos organizadas de acordo com os momentos em que a investigação acontecia. Assim, um esforço deve ser empreendido para que tal ajuntamento se transforme efetivamente em um diário de bordo.

Em todas as atividades realizadas pelos estudantes sob orientação do professor houve a produção de textos escritos. Em alguns casos, registros de pesquisas prévias às discussões. Em outros, dissertações consolidando os consensos construídos pelo grupo, posteriores à comunicação dos resultados das pesquisas realizadas nas sequências didáticas. Os registros destes textos, sejam eles impressos, sejam digitais também estão arquivados e foram utilizados como fontes de pesquisa. Em pelo menos uma atividade os estudantes construíram desenho e diagramas sobre processos físicos de transferência de calor, sendo que com uma turma registrei o diálogo entre os grupos durante a construção do diagrama. Estas atividades se configuram também como fonte de dados acerca do entendimento dos estudantes.

Em todas as sequências didáticas as intenções e objetivos das atividades foram apresentados aos estudantes durante a fase de problematização do ensino, ainda no primeiro encontro. Fiz isso pela leitura de textos em que justifico o porquê da realização do trabalho com cinema e de sair da estrutura limitadora do livro didático. Entendo que hoje, no momento de análise do conjunto de atividades realizadas, este material se torna também fonte de dados relevantes, pois esclarecem algumas decisões que tomei, apontando motivos que devem ser elencados, quer na escrita da monografia, quer no produto a ser apresentado.