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Os sujeitos que participaram dessa pesquisa são estudantes regularmente matriculados no ensino médio do IFMG. O processo seletivo dos estudantes para entrada nesse IF distribui 50% das vagas para a modalidade de Ampla Concorrência, enquanto as demais vagas são destinadas aos estudantes que realizaram todos os anos do ensino fundamental no ensino público. A distribuição das vagas reservadas é feita em oito categorias distintas, que levam em consideração a autodeterminação de raça e cor e as condições socioeconômicas das famílias.

Graças a isso, temos uma grande variedade de estudantes no campus em que aplicamos as sequencias de ensino. As condições econômicas dos estudantes constituem uma amostra da grande discrepância social em nosso país, e a permanência daqueles que possuem dificuldades para se manter é garantida pela criação de sistemas de bolsa que os permita enfrentar a jornada escolar, garantindo condições de alimentação e transporte. Infelizmente, temos percebido uma deterioração no sistema de apoio à permanência destes estudantes, devido aos cortes financeiros na verba destinada a este fim. Somente os esforços da gestão do campus, com alocação de recursos destinados a outras áreas e readequação dos percentuais destinados a cada setor de suporte aos estudantes tem garantido a manutenção destes recursos. Nossos estudantes são de várias cidades do entorno do campus, sendo que a maioria deles se desloca até o campus usando o transporte em vans.

Tais estudantes, apesar de pertencerem a classes sociais distintas, tem em comum fazer parte do que Prensky (2001) chamou nativos digitais. Este termo foi cunhado para definir as

73 novas gerações humanas, expostas às redes sociais e à internet desde o seu nascimento. Estas crianças e jovens se relacionam com o conhecimento de maneira diversa da que as gerações anteriores, não tendo mais o ambiente escolar como principal fonte de informações. Desta forma, encaram processos de aprendizado tradicionais, baseados na repetição de respostas prontas e na aquisição de modelos de resolução de problemas, como algo ultrapassado. O sentido do que aprendem é constantemente confrontado com aquilo que veem na rede mundial de computadores e, em alguns casos, inclusive se dedicam à produção de conteúdo audiovisual para esta mesma rede. Neste contexto, atividades diferenciadas de ensino poderiam estimular as discussões realizadas em sala de aula.

Para além disso, reforçamos aqui o entendimento de que a escola tem papeis que vão além da simples transferência de informação, como defendido por Hannah Arendt (1979). envolvendo aspectos de divulgação de uma cultura científica, sendo espaço de socialização e discussão democrática sobre a realidade que devemos enfrentar. Há que se ter responsabilidade sobre aquilo que a humanidade já produziu em termos de conhecimento e formas de relação com o ambiente e vivência social, com a adicional questão de apontar novas formas de reestabelecermos estas relações, numa perspectiva sustentável e humanizadora.

Streit (2015) apresenta a discussão sobre a existência de uma crise na educação, fruto desta nova era digital. Um embate entre alunos digitais e escolas analógicas. Ela contrapõe esta percepção, contudo, às discussões de outros autores. Wolton (2010), defende que o que está disponível a estes estudantes não é conhecimento, mas somente informação. A forma como os estudantes estruturam esta informação e as tornam úteis em processos de pesquisa são mais relevantes para a educação que os instrumentos tecnológicos que utilizam no processo. Mais uma vez, podemos nos referir a Werstch (2002) que aponta que a ferramenta cultural ao mesmo tempo que permite que certas ações sejam realizadas pelos seus usuários, limitam que outras ações sejam realizadas.

Vale ressaltar que os estudantes do instituto acabam sendo expostos a uma situação de extrema liberdade, pois não há controle rígido de entrada e saída dos estudantes do campus. Uma vez que permanecem na escola praticamente todo o dia, durante os três anos de ensino, acabam se envolvendo em várias atividades que estão vinculadas à prática esportiva e cultural, para além da educação tecnológica e científica que é oferecida tradicionalmente. Organizam-se em grupos de interesse que os levam a construir robôs, montar bandas, realizar leituras de várias

74 obras, encenar peças teatrais e produzem pequenos curtas metragens, relatando o dia a dia atribulado que vivem. Alguns deles se perdem perante o grande leque de possibilidades ofertadas. Infelizmente, as famílias destes estudantes têm a percepção de que não devem buscar a escola para acompanhar os resultados dos jovens. Algumas vezes chamadas quando problemas que podem afetar o rendimento acadêmico dos estudantes são identificados pela equipe do Núcleo de Apoio ao Estudante, as famílias muitas vezes se surpreendem pelo mal resultado dos estudantes.

Essa pesquisa foi desenvolvida com quatro turmas mistas, que reúnem estudantes dos três cursos técnicos ofertados em uma mesma turma, relativas à 2ª e 3ª série, além de uma turma mista do 5º módulo, modalidade em que os níveis de ensino são semestrais.

O grupo de estudantes constava de um total de 158 estudantes do 2º ano, sendo que destes oito foram reprovados ao final do ano letivo de 2016 e sete deixaram a escola. Assim, em 2017, 143 estudantes realizaram as atividades descritas neste trabalho. Destes, 93 estudantes consentiram em que eu utilizasse as atividades escritas e gravações nesta pesquisa, entregando os termos de assentimento e consentimento A turma modular possuía 19 estudantes no 1º semestre de 2017 e 15 estudantes no 2º semestre deste ano. Destes, 11 deram autorização para utilização dos materiais escritos e dos recursos audiovisuais gravados.

Os estudantes podem ser caracterizados como nativos digitais, com atenção dispersa entre várias fontes de informação e uma contínua busca por novidades. Eles alternam as fontes principais de busca, mas atualmente utilizam os aparelhos celulares para praticamente toda a interface com os ambientes virtuais. Somente ao realizar trabalhos específicos se utilizam de computadores, como quando os professores propõem alguma atividade lançando mão do Ambiente Virtual de Aprendizagem do instituto, que utiliza a plataforma MOODLE e os leva até os laboratórios de informática. Também nas disciplinas técnicas devem usar programas específicos de desenho técnico como o AutoCad ou realizar atividades como construção e algoritmos na programação de robôs ou confecção de softwares.