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Mais do que falar sobre o arquivo sonoro da Fundação INATEL, instituição que completou 77 anos no passado dia 13 de junho de 2012, importa atestar o interesse do arquivo desta Instituição e dar a conhecer o seu atual estado e o empenhamento que esta Instituição tem vindo a colocar na sua organização, desde 2009, para futuramente poder disponibi- lizá-lo à consulta pública.

No entanto, quando se fala de um arquivo de uma instituição, não podemos deixar de falar da História dessa mesma instituição. O que é a Fundação INATEL? A Fundação INATEL foi instituída em 1935, como Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT), tendo sur- gido inicialmente como um organismo corporativo do Estado e, nessa medida, como uma instituição pública. Com a instauração do regime democrático, em 1974, este organismo deu lugar a um Instituto Público que, no essencial, manteve a política de apoio e de valorização da cultura popular e tradicional que vinha sendo desenvolvida durante o regime político an- terior corporativista. Só em 2008, com a transformação do Instituto Público em Fundação de direito privado e utilidade pública, a INATEL se tornou numa Organização Não-Gover- namental com a missão, entre outras, de “apoio e promoção da cultura tradicional (ranchos folclóricos, bandas filarmónicas, orfeões e grupos corais e de teatro amador)”.

Em 2009, a Fundação INATEL adotou o seu plano estratégico para a área cultural onde assumiu claramente o seu papel de instituição de referência na cultura tradicional em Por- tugal, que procura, num quadro internacional, a excelência na formação e capacitação das

instituições (associações e organismos seus associados) e dos cidadãos nas suas práticas culturais de carácter amador:

- na recolha, preservação e divulgação do património cultural imaterial português; - no desenvolvimento da investigação e conhecimento sobre o associativismo e sobre os movimentos culturais amadores;

- na criação e difusão da cultura tradicional e popular, designadamente na etnogra- fia e folclore, teatro amador, e música;

- no compromisso com o desenvolvimento pessoal e cultural dos trabalhadores. O Centro de Documentação e Arquivo Histórico do INATEL foi criado em 1997, como área dependente da Direção do anterior instituto público, mas funcionou inicialmente como mero depósito. Em fevereiro de 2009, deu-se a integração do Centro de Documentação/Arquivo Histórico na Direção Cultural e iniciou-se o transporte da quase totalidade da documentação das diferentes direções orgânicas da Fundação e do material diverso existentes na Sede, em Lisboa, e no armazém da Póvoa de Santo Adrião, para depósito nas instalações da INATEL Évora, Palácio do Barrocal. Este Pólo Cultural da INATEL sofreu obras de requalificação para acolhimento deste acervo no valor de 491.000,00€, com comparticipação do QREN, tendo-se depois efetuado igualmente um investimento de 80.000,00€ em equipamentos. Falamos, pois, de um custo total na ordem dos 600.000,00€.

Em 2010, foi solicitado ao Ministério da Cultura o Registo Patrimonial para a classificação do arquivo histórico FNAT/INATEL como “bem de interesse público”. Deu-se também início, no Pólo Cultural INATEL Évora, ao processo de separação dos diferentes materiais acumulados e de seleção de documentação. Foi constituída, para isso, uma equipa de seis jovens orientados pelo investigador/historiador João Lopes Filho, que durante cerca de um ano (agosto 2010- junho 2011) trabalhou com o objetivo de diminuir o volume de papel sem valor documental. Em junho de 2011, foi assinado o protocolo com a Direção-Geral de Arquivos – Torre do Tombo que permitirá iniciar o processo de recuperação, tratamento e organização dos acervos documentais, a decorrer até 2013, ano que marcará a disponibilização do Arquivo Histórico da FNAT/INATEL e integração deste na Rede Portuguesa de Arquivos (RPA). Também em 2011, iniciou-se o levantamento dos fundos dos diversos núcleos de biblioteca da Fundação INATEL. O original acervo da Biblioteca da Sede, que se estima superior a 10,000 volumes e que foi transferido para o Pólo Cultural INATEL Évora em 2008, incluindo as espécies pertencentes à extinta Biblioteca do Gabinete de Etnografia, encontra-se parcialmente inventariado e sumariamente catalogado no sistema informático DOCBASE, num total de cerca de 3894 registos. Com vista à divulgação futura do catálogo dos fundos de biblioteca da Fundação INATEL na Intranet e Internet, tornava-se necessário finalizar o processo de inventariação das espécies disseminadas pelo país. Assim, teve início no mês de novembro de 2011 um levantamento nacional dos fundos dos diversos núcleos de biblioteca da Fundação. O levantamento incidiu, numa primeira fase, nas 18 Unidades Hoteleiras; posteriormente, irá também estender-se às 23 Agências, ao Teatro da Trindade, ao Polo Cultural da Mouraria, aos Complexos Desportivos e aos Serviços Centrais.

No que respeita à documentação sonora ou com interesse sonoro, existem dois tipos de arquivo, diretamente ligados à Fundação INATEL:

1.

Material de arquivo da Fundação INATEL que se encontra à guarda de outras instituições, ao abrigo de diversos protocolos realizados:

Arquivo Nacional das Imagens em Movimento; Cinemateca Portuguesa;

Rádio Clube Português;

Arquivo da Emissora Nacional; Arquivo da RTP;

Arquivos Distritais vários; Biblioteca Nacional.

2.

Material de arquivo da Fundação INATEL que se encontra nas suas próprias instalações, disperso entre dezoito unidades hoteleiras, vinte e três agências, o Teatro da Trindade e dois Pólos Culturais.

Este arquivo contém essencialmente cerca de 5500 Cd’s, mais de 1000 cassetes audio, cerca de 300 singles, sensivelmente 800 LP’s e aproximadamente 100 vídeos e 200 DVD’s. Este acervo resulta de setenta e sete anos de ofertas e de apoios a edições bibliográficas, discográficas e fílmicas que a Fundação INATEL concedeu aos seus parceiros, editoras e Associações da Rede Fundação INATEL, Centros de Cultura e Desporto (CCD).

Todo este manancial está neste momento só parcialmente identificado, mas não se encontra ainda tratado. Do que se encontra na Sede da Fundação INATEL e tendo em conta a minha experiência de treze anos nesta instituição, estes suportes são quase na sua totalidade posteriores a 1975 e cerca de 70% é emanado de grupos folclóricos e etnográficos portugueses ou grupos de música tradicional e popular portuguesa. No Plano Estratégico da Direção Cultural para o quadriénio de 2012-2015, que nos encontramos a elaborar, um dos pontos será o tratamento deste acervo e a sua disponibilização.

Não gostaria de terminar sem referir também um outro suporte, as partituras, que embora não fazendo parte do arquivo sonoro podem ser consideradas como um seu complemento. Em espólio temos mais de 1200 partituras, das quais cerca de 400 pertenceram à Companhia Portuguesa de Ópera, fundada em 1964 por Serra Formigal no Teatro da Trindade. As restantes 800 partituras são aquisições realizadas entre 1992 e 2000, sendo que mais de metade são peças para banda filarmónica ou orquestra de sopros (num total de 420) e as restantes para coro (70 partituras), orquestra (80) e ensembles diversos (230).

É este o nosso universo. Sabemos que só agora começámos a dar os primeiros passos e que existe ainda um longo caminho a percorrer, certamente o mais longo e árduo, mas estamos também conscientes que só cuidando do passado, poderemos com objetividade e clareza projetar com sucesso o futuro.

António Manuel Nunes

[

Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX, Universidade de Coimbra

]

Professor de História, natural da Ilha do Pico (1965), licenciado e mestre em História. Docente do quadro do MEC, investigador- colaborador do CEIS20, autor de diversos trabalhos sobre história da Canção de Coimbra e património judiciário lusófono: No rasto de

Edmundo de Bettencourt (1999), A espada e a balança (2000), Sob o olhar de Témis (2000), Flávio Rodrigues da Silva/Fragmentos para uma guitarra (co-autoria, 2002), Da(s) memórias da Canção de Coimbra

(2002); Templos da justiça e arte judiciária (2003), Justiça e arte (2003), A Canção de Coimbra no século XIX. 1840-1900 (2002, editado no blogue Guitarra de Coimbra), Identidade(s) e moda/Percursos

contemporâneos da capa e batina e insígnias dos conimbricenses

(2014). Desenvolveu trabalhos para a TradiSom e para a EMI no âmbito da contextualização e reedição de documentos fonográficos relacionados com práticas musicais de expressão conimbricense.

Coordenador de políticas editoriais e autor/co-autor de artigos e ensaios publicados no blogue Guitarra de Coimbra (2005 e ss.).

Canção de Coimbra,