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5.1.2 Salinas do Sacavém

Nessa área foram selecionadas 4 ( quat ro) residências para o m onit oram ent o t erm o higrom ét rico ( P4, P5, P6 e P7) todas const ruídas em alvenaria, sendo duas com cobert ura de cerâm ica e duas com cobert ura de fibrocim ent o. Os dados foram colet ados na área conhecida no bairro com o Salinas do Sacavém . (Figura 31)

Há um a relativa heterogeneidade no que se refere às edificações em alvenaria. Ao invés de se constit uir em cat egoria uniform e, not a- se que exist em significativas variações no que se refere ao padrão de const rução, m at eriais em pregados, proporções e caract erísticas do local de edificação, em bora a m aior part e das habit ações sej a caract erizada por padrão e t am anho razoáveis e pelo tipo de cobert ura (Figura 32) . Ent ret ant o, as m oradias de m elhor localização, padrão const rutivo e com dim ensões m aiores, geralm ent e, pert encem a antigos ocupant es.

A dinam ização da econom ia da cidade provocou o crescim ent o populacional principalm ent e devido ao afluxo de m igrant es. I st o, por sua vez, levou a intensificação do uso do solo urbano a um a nova espacialização da cidade, caract erizada por m odos de apropriação espont âneo do solo pelos m igrant es e out ros grupos em pobrecidos da sociedade local.

A expansão da cidade m ediante t ais m odalidades de apropriação do espaço urbano result ou em significativa desigualdade no que se refere à infraest rutura disponível para os diversos t errit órios da cidade em int ensa ex pansão. Est a desigualdade se t ornou m ais acent uada at ravés de m odalidades contem porâneas de produção e apropriação do espaço pelo que são designados de grupos sociais dom inant es. ( SANTOS, 2013)

A Salinas do Sacavém se encont ra localizada dent ro dos lim it es legais da Unidade de Conservação ( UC) Parque Est adual do Bacanga, assim com o out ras áreas de ocupação irregular que ao longo dos últim os 30 anos foram gradat ivam ent e ocupando e suprim indo sua área legal.

Criado conform e Decret o Est adual nº 7.547/ 80 com binado com os Decret os nº 9.550/ 84 e 9.677/ 84, o Parque Est adual do Bacanga oficialm ent e possui um a área de 30,61 km 2. Todavia os dados obtidos revelam que a área t ot al dest a UC corresponde a 31,32 km 2, sendo 30,28 km 2 equivalent es à cobert ura veget al e dem ais inst alações enquant o 1,04 km 2 relacionam - se à Represa do Bat at ã. Com o caract erística fisiográfica m arcant e apresent a aspect os de m at a am azônica, que prot ege os m ananciais, cuj as nascent es alim ent am o reservat ório do Bat at ã, que abast ece aproxim adam ent e 20% população de São Luís. Est a UC foi dem arcada t rês vezes haj a vist a, principalm ent e, a presença de áreas de ocupação irregulares em que part e da população pratica atividades agrícola e ext rativa ( m adeira de m angue, pedra et c.) e com o const rução de m oradias. ( FERREI RA, 1999)

Figura 31. Localização dos pont os na área de est udo da Salinas do Sacavém - São Luís/ MA

Figura 32. Classificação do Uso e Cobert ura do solo da Salinas do Sacavém com os pont os de m onit oram ent o.

Algum as das áreas de ocupação irregular m ais antiga, em bora não sej am ainda devidam ent e regularizadas pelo fat o de não possuírem a posse legal do t erreno e em alguns casos, isent as de pagar im postos sobre o foro da t erra ou o I m post o Predial e Territ orial Urbano ( I PTU) , foram de cert a form a, legitim adas pela sua consolidação na área, na m edida em que o poder público foi dot ando nessas ocupações de serviços públicos básicos, com o rede de energia, abastecim ent o de água, asfalt am ent o, escolas, ent re out ros.

Som ent e as áreas de ocupação desordenada recent es, ist o é, aquelas que surgiram após 1988, em m édia, não se encont ram consolidadas. A infraest rut ura é inexist ent e ou m ínim a. A procedência da população é predom inant em ente da Baixada, do Lit oral e out ras áreas do int erior do Est ado e at é m esm o de out ros bairros de São Luís.

Convém sobressair que a ineficaz utilização de dispositivos legais que visem ao uso e à ocupação do solo, e que, port anto, poderiam am ainar os problem as de uso e posse do solo cont ribuiu para o increm ent o de ocupações desordenadas, engendrando out ros problem as.

Dessa form a, se considera essa form a de ocupação espacial com o result ado da at uação de agent es sociais, que apresent a dinâm ica e m ovim ent o em função do espaço a ser ocupado e do t em po t ranscorrido, bem com o que esses agentes são influenciados por fat ores políticos, econôm icos e sociais.

A Salinas do Sacavém , não foi beneficiada com a im plem ent ação de serviços básicos m ínim os, pois apresent a um a sit uação de condições sanit árias e de infraest rut ura urbana precária, a rede de energia é constit uída de ligações legais e clandestinas, não apresent a rede de esgot o, apenas fossas rudim ent ares feit as nos fundos das casas pelos próprios m oradores, lixo expost o nos t errenos ( Figura 32a) , abast ecim ent o de água ausent e ou at ravés de poços art esianos ( Figura 32b) e não apresent a pavim ent ação asfáltica de suas ruas (Figura 32c) . A presença de t erra expost a e a ausência do sist em a de esgot o é um agravant e preocupant e se considerarm os os problem as respiratórios e de veiculação hídrica de doenças associados a esse tipo de am bient e ( Figura 32d) .

A Salinas do Sacavém se enquadra assim , com o um a parcela populacional da cidade que não participa das benesses da m odernização, o que acarret a o surgim ent o, a m anutenção e a expansão de grandes espaços de exclusão, represent ados pelo que são cham ados de grupos sociais dom inados.

São Luís assum e um padrão de segregação t ípico do Planeta Favela, t erm o que Mike Davis ( 2006) usa para se referir à difusão do padrão de segregação socioespacial das cidades at ravés da consolidação e am pliação do fosso que separa a cidade form al ( conec- t ada ao fluxo de t rocas no m ercado global) da cidade inform al ( derivada das est rat égias de sobrevivência dos grupos dom inados, que result am nos assent am ent os precários) . ( SANTOS, 2013)

Out ro aspect o preocupant e na Salinas do Sacavém é a presença de residências em áreas de risco, considerando a exist ência de m oradias em áreas de encostas que ali exist e ( Figura 32e) . Os riscos associados aos m oradores derivam de dois aspect os, o deslizam ent o de casas que se encont ram nas bordas da barreira e pelo sot erram ent o de pessoas que retiram a t erra na base dessa encost a para a const rução de suas casas ou para vender clandestinam ent e para loj as com erciais ligadas a const rução civil.

Os riscos são elevados para as fam ílias que ocupam essas áreas, caract erizadas pela acentuada declividade. Est as ocupações se expandem sem a infraest rutura necessária para a segurança das habit ações, t ais com o saneam ent o, asfalt am ent o e sistem a de colet a das águas pluviais. Nos períodos chuvosos, a exposição dessas fam ílias aos riscos de deslizam ent os é ainda m aior, pois, aos fat ores cit ados, é acrescent ada a carga da chuva que desgast a os t errenos nos quais as m oradias se situam .

Figura 32a. Lixo expost o em t erreno baldio na Salinas do Sacavém .

Fonte: ARAUJO, R. R. Regist ro fot ográfico de t rabalho de cam po ( nov./ 2012)

Figura 32b.Poço artesiano com caixa d’água (ao

fundo) na Salinas do Sacavém )

Fonte: ARAUJO, R. R. Regist ro fot ográfico de t rabalho de cam po ( nov./ 2012)

Figura 32c. Ruas sem asfalt o na Salinas do Sacavém .

Fonte: ARAUJO, R. R. Regist ro fot ográfico de t rabalho de cam po ( nov./ 2012)

Figura 32d. Morador m olhando a t erra expost a na Salinas do Sacavém .

Fonte: ARAUJO, R. R. Regist ro fot ográfico de t rabalho de cam po ( nov./ 2012)

Em bora haj a det erm inadas fam ílias em algum as áreas da Salinas do Sacavém com razoáveis condições de m oradia, t am bém há fam ílias com at ribut os sociodem ográficos que sinalizam para condições que as t ornam m ais vulneráveis aos deslizam ent os, t ais com o baixos rendim ent os, habit ações const ruídas com m at eriais precários e percent ual significativo de pessoas que vivem sozinhas e com poucos recursos.

A vulnerabilidade dessas fam ílias aos deslizam ent os t orna- se ainda m ais evidente, pois, na política am bient al e urbana em vigor, as fam ílias resident es nas m uit as áreas de risco de deslizam ent os est ão proibidas de fazerem reform as nas habit ações, sendo m onit oradas perm anentem ent e. No int ervalo de t em po ent re a proibição das reform as nas m oradias por part e das fam ílias e o reassent am ent o podem ocorrer deslizam entos devido à com binação das chuvas com os fat ores de risco relacionados com os at ribut os geográficos locais e as condições at uais das ocupações.

Existe ainda o risco da proxim idade com um a subest ação de energia elét rica pert encente à ELETRONORTE ( Cent rais Elét ricas do Nort e do Brasil S/ A) em que na base das t orres de t ransm issão e ao longo do percurso da fiação elét rica t em a presença de residências em m uit as delas, crianças e adolescent es utilizam com o espaço para brincadeira com o j ogar futebol, constit uindo por si só um perigo em inent e de elet rocussão e um a ilegalidade, que não é coibido pela em presa e nem órgãos responsáveis em evit ar a ocupação nesses espaços e prevenir a população para os riscos que correm em ficar próxim a a rede elét rica. ( Figura 32f)

Com relação aos seus indicadores sociais, a Salinas do Sacavém foi a que apresent ou os piores result ados em relação as t rês áreas escolhidas para a pesquisa. O acesso a rede de abast ecim ent o de água é péssim o, pois, na sua m aioria depende de encanam ent o clandestino ou de poços art esianos, m uit as das vezes próxim os ao sistem a de esgot o deficient e ou sem o destino adequado. Em regiões carent es e excluídas da rede

Figura 32e. Casas em área de risco na Salinas do Sacavém .

Fonte: ARAUJO, R. R. Regist ro fot ográfico de t rabalho de cam po ( nov./ 2012)

Figura 32f. Linhas de t ransm issão de energia na Salinas do Sacavém .

Fonte: ARAUJO, R. R. Regist ro fot ográfico de t rabalho de cam po ( nov./ 2012)

básica de serviços públicos, a falt a de acesso a font es seguras de água e fat or agravant e das condições precárias devida. A busca por font es alt ernativas pode levar ao consum o de água com qualidade sanit ária duvidosa em volum e insuficient e e irregular para o at endim ent o das necessidades básicas diárias.

Questões relativas ao acesso regular a água potável e segura tem causado preocupação, principalmente em países em desenvolvimento, que sofrem com a rápida expansão urbana, o adensamento populacional e a ocupação de áreas periurbanas e rurais, com evidentes deficiências e dificuldades no suprimento de água para satisfazer as necessidades básicas diárias. O provimento adequado de água, em quantidade e qualidade, e essencial para o desenvolvimento socioeconômico local, com reflexos diretos sobre as condições de saúde e de bem-estar da população. Condições adequadas de abastecimento resultam em melhoria das condições de vida e em benefícios como controle e prevenção de doenças, pratica de hábitos higiênicos, conforto e bem-estar, aumento da expectativa de vida e da produtividade econômica. (RAZZOLI NI e GÜNTHER, 2008, p. 23)

Do m esm o m odo, os indicadores que avaliam a qualidade da rede de esgot o e da colet a de lixo são classificados com o péssim os. O prim eiro evidencia um descom passo ainda m aior em relação a São Luís ent re a ofert a de água e a ofert a de rede colet ora de esgot o, pois na Salinas do Sacavém nem um ou out ro est ão sequer disponíveis para os seus m oradores, que recorrem aos m eios e form as possíveis para que t enham um m ínim o desses serviços, nem sem pre, sendo o m ais recom endável para os devidos cuidados sanit ários. Ações isoladas de int ervenção por part e da população carente, m esm o represent ando m elhores condições de acesso a serviços básicos de saneam ent o, por exem plo, não atinge por si só o nível desej ado.

O segundo, pela precariedade das ruas sem o asfalt am ent o e esburacadas é a j ustificativa dada pela em presa que prest a o serviço público com o o m otivo que dificult a o acesso dos cam inhões de colet a de lixo. Com isso, os m oradores opt am pela queim a ou deposição em t errenos baldios dos seus resíduos dom ésticos.

Dessa form a, o result ado do saneam ent o am bient al da área é com prom etido pelos serviços básicos m al prest ados ou inexist ent es por part e do poder público, pois t ais condições podem cont ribuir decisivam ent e para a qualidade sanit ária e de saúde da população. Em localidades onde se verifica inexistência ou precariedade do esgot am ent o sanit ário, disposição de resíduos sólidos a céu abert o, fat ores que induzem a proliferação de inset os e roedores vet ores, cont am inant es podem ser dissem inados e alcançar as font es de água e os reservat órios de arm azenam ent o, e consequentem ent e doenças infecciosas relacionadas com excret as, lixo e vet ores podem atingir a população expost a.

I ndubit avelm ent e, os indicadores de educação e renda geral, são denot adores das desigualdades socioeconôm icas em São Luís e na área em quest ão isso não poderia ser diferente. Ao m esm o t em po, são t am bém , indicadores que possibilit am analisar as diferenças int raurbanas e servem de elem ent os com plem ent ares para se avaliar a qualidade am bient al urbana.

O ensino básico na localidade não funciona adequadam ent e, pois a única escola que exist e na área é com unit ária, que at ende at é o 1° Ciclo do ensino fundam ent al e, apesar de receber recursos financeiros da Secret aria Municipal de Educação não são suficient es para suprir t odas as necessidades e dem andas de professores e alunos, dependendo assim , de t rabalho volunt ário e da aj uda dos pais e doadores que colaboram desde alim ent os para a m erenda a livros e m aterial escolar para que a escola possa funcionar com condições pedagógicas m ínim as. Contudo, ressalt a- se, que no 2° Ciclo do ensino fundam ent al m aior e no ensino m édio, o fat o de t er escolas da rede m unicipal e est adual nas proxim idades da área favorece as crianças e os j ovens t erem a possibilidade de acesso as vagas disponíveis colaborando assim para que o result ado desse indicador não sej a t ão crítico.

Os dados sobre as escolas brasileiras m ost ram que as políticas não t êm sido suficient es para garantir condições adequadas de at endim ent o, especialm ent e no caso das escolas onde est ão os m ais excluídos. Ou sej a, ainda são necessárias ações que m elhorem a ofert a. O aum ent o de recursos financeiros – decorrentes da Em enda Constitucional nº 53/ 2006, que criou o FUNDEB (Fundo de Manutenção e Desenvolvim ent o da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) , e da elim inação da incidência da Desvinculação dos Recursos da União ( DRU) , em 2009, sobre os recursos const it ucionalm ent e vinculados à educação, no âm bit o da União – constitui condição favorável para o increm ent o de investim ent os na área e para a m elhoria das condições da ofert a educativa.

A renda fam iliar é um im port ant e fat or a distinguiras crianças e os j ov ens que est ão na escola dos que est ão fora dela. Quant o m enor a renda da fam ília, m ais elevado o percent ual fora da escola, em t odas as faixas et árias consideradas Na Salinas do Sacavém esses dois indicadores quando confront ados reforçam a relação de dependência que m ant ém que é caract erístico da realidade brasileira.

Quant o m enor a renda per capit a da fam ília, m aior a exclusão escolar. Conform e o Censo 2010 do I BGE, enquant o 72,6% das crianças ent re 4 e 5 anos de fam ílias com renda fam iliar per capit a de at é um quart o de salário m ínim o est ão na escola, o índice salt a para 93,9% das crianças da m esm a faixa et ária quando a renda fam iliar é superior a dois salários m ínim os.

Na Salinas do Sacavém , o indicador renda com base nos dados censit ários de 2010 prat icam ent e em t oda a área é péssim o. Apesar de não se t er dados quantitativos, foi

possível identificar at ravés de conversas inform ais com os m oradores que m uit os em idade econom icam ent e ativa est ão desem pregados ou t rabalham em subem pregos e na grande m aioria das fam ílias resident es exist e um a dependência com program as sociais do governo, em especial, o Bolsa Fam ília.

Cabe lem brar aqui a im port ância de não se lim it ar a com preensão da pobreza som ent e com o falt a ou insuficiência de renda. A pobreza é, sobret udo, e na sua part e m ais sensível, um a quest ão de inadequação dos m eios econôm icos da pessoa para a sua realização na sociedade ( por realização podem os t am bém dizer sua expressão com o pessoa, seu acont ecim ent o, com a possibilidade de efetivo desenvolvim ento de sua personalidade) . Assim , por exem plo, um a pessoa que possui m et abolism o alto, ou é de grande com pleição física, ou ainda sofre de algum a parasit ose que absorve seus nut rien t es est ará em desvant agem quant o à capacidade de realizar- se em relação à out ra pessoa que receba a m esm a renda, m as que não t enha essas peculiaridades.

É por isso que o critério da baixa renda, por ser independent e das condições pessoais, não serve para avaliar corret am ent e o universo das pessoas denom inadas pobres. Mais apropriado a um conceit o relevant e da pobreza é o critério da inadequação da renda para a geração das capacidades m inim am ent e aceit áveis. Falando de outro m odo, a renda é fundam ent al para afast ar a pobreza, m as o est abelecim ent o de um critério único e obj et ivo para fixação de quem pert ence ou não a essa faixa social conduz a result ados equivocados por recusar o reconhecim ent o das diferenças pessoais que podem fazer com que um a pessoa de m aior renda, que hipot eticam ent e a sit uaria fora da linha de pobreza, possa ser de fat o m ais pobre que out ra com m enor renda, m as com m enor dem anda de det erm inados recursos ou 'insum os'. Daí porque t ant as políticas públicas de redução da pobreza não obt êm o result ado esperado: suas prem issas de ação são falhas, incom plet as ou, por t rat arem uniform em ent e destinat ários t ão diversos, são erradas.

Essas caract erísticas podem ser verificadas na figura 33 que faz um a sínt ese da represent ação espacial dos indicadores que foram analisados da Salinas do Sacavém .