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Cartografias midiáticas sul-mato-grossenses

No documento PORTCOM (páginas 85-91)

Mapeando as mídias do estado

O projeto Portal de Mídia, coordenado pelo prof. Mário Fernandes, tem realizado um trabalho diferenciado no enten- dimento de quem são os media de todo Mato Grosso do Sul. O pesquisador mapeia emissoras de rádio e de televisão, jornais impressos e sites jornalísticos (ou informativos) em todos os 79 municípios do Estado.

No levantamento foi identificada a presença de 75 jornais impressos distribuídos em 33 de 79 municípios do estado, o que corresponde a 41,7%. Já as facilidades que as plataformas digitais possibilitam ao universo de leitores, bem como o custo inferior de manutenção do portal e produção da informação para os empresários do setor, resultam num maior número de sites de notícias no estado em relação aos outros meios. Atu- almente, são 322 sites de informação situados em 67 cidades sul-mato-grossenses, o que corresponde a 84,8% de um total de 79. (PORTAL DE MÍDIA, 2017).

Com relação as emissoras de televisão, ao todo, são 11 ca- nais com concessão para operar em Mato Grosso do Sul nos cincos maiores municípios do estado: Campo Grande, Doura- dos, Três Lagoas, Corumbá e Ponta Porã. Já o rádio apresenta potencialidades que o faz ser um meio de comunicação com abrangência considerável nos municípios. O meio está presen- te em 76 dos 79 municípios do estado, ou seja, praticamente 96% do território, sendo, portanto, o mais abrangente. Mesmo não havendo emissoras constituídas em todos os municípios, a cobertura do rádio deve, inegavelmente, chegar a 100% dos ouvintes.

Mapeando as mídias da fronteira

Daniela Ota (2011) e Lairtes Chaves Rodrigues Filho (2014) trabalham com as questões ligadas à mídia radiofônica na fronteira Brasil-Paraguai e Brasil-Bolívia. Mato Grosso do Sul é um Estado com 79 municípios e com 730,8 quilômetros de fronteira seca direta com países com o Paraguai e a Bolívia. As pesquisas desenvolvidas têm como objetivo analisar os con- teúdos jornalísticos das rádios e verificar se o meio, que atua como instrumento de divulgação, representa de forma simbó- lica a cultura e a identidade das comunidades fronteiriças.

O mapeamento dos veículos radiofônicos segundo Ota (2011) conta com 23 emissoras de rádio distribuídas em oito municípios (Antônio João, Bela Vista, Caracol, Coronel Sapu- caia, Corumbá, Mundo Novo, Paranhos e Ponta Porã) da fron- teira sul-mato-grossense.

Mapeando os jornalistas da fronteira

Ainda trabalhando sob o signo da fronteira, o Prof. Marcelo Vicente Cancio Soares desenvolveu com seu grupo de pesqui- sa as especificidades do jornalismo na fronteira Brasil-Para- guai. O estudo identificou jornalistas nas cidades de Mundo Novo, Japorã, Paranhos, Sete Quedas, Aral Moreira, Bela Vista, Ponta Porã e Porto Murtinho, no lado brasileiro e Salto Del Guayrá, Ype Jhu, Pindoty Porã, Pedro Juan Caballero, Car- melo Peralta e Bella Vista Norte, no lado paraguaio. Ao todo o trabalho identificou 63 jornalistas em 15 cidades, atuando em 43 empresas diferentes. Todo o material é disponibilizado em: jornalismonafronteira.ufms.br.

Identificou-se que a maior partes dos profissionais que trabalham na fronteira com o Paraguai tem mais de 45 anos (31,7%), e em segundo lugar de idade entre 36 e 45 (28,5%). Quase 81% dos profissionais são do sexo masculino. Cerca de 61% dos profissionais são bi ou trilíngues (português, espanhol e guarani), produzindo matérias nos respectivos idiomas para os dois países. Cerca de 50% trabalham em rádio e 22% em jornais impressos.

Mapeando lugares de memória no interior

Lairtes Chaves, Ruth Vianna e Daniela Ota desenvolveram trabalhos de identificação e mapeamento de cinemas no inte- rior do Estado, mais precisamente na região da Serra da Bo- doquena, formada pelos municípios de Jardim, Guia Lopes da Laguna, Bonito, Caracol e Bodoquena, vista sua importância histórica para o estado, na ocasião da Retirada da Laguna no século XIX e, a convalidação das diversas etnias e minorias pre- sentes na região. Foram encontradas quatro salas de cinema na região– duas em Jardim, uma em Guia Lopes da Laguna e uma em Bonito. Das quatro o cinema de maior destaque foi o CineJardim, no primeiro município

Durante o trabalho, evidenciou-se a ausência de qualquer registro acerca da presença dos próprios cinemas nas cidades.

Algumas plantas e escrituras de terreno da década de 70 surgi- ram como registros materiais únicos. A matéria prima e objeto principal do estudo estabeleceram-se então apenas pelo uso do relato acerca da história das cidades, dos cinemas e depois, dos cinejornais enfim. Em Guia Lopes da Laguna encontraram- se relatos e registro de planta de um cinema, desativado no co- meço dos anos 90. Em Bonito relata-se a presença de um cine- ma entre 1980 e 1986. Bodoquena não teve cinemas ou salas de exibição. Jardim teve dois cinemas, um iniciado na década de 60, logo após a fundação da cidade, destruído por ordem do comando militar em 1989 (o CineJardim) e, outro comercial, falido pela falta de público e período desconhecido.

Considerações finais

A pluralidade das paisagens e a diversidade cultural e ecoló- gica dos espaços em Mato Grosso do Sul têm gerado curiosida- de dos pesquisadores em comunicação para as relações sociais em interface com as construções e representações midiáticas. Evidente que o próprio aspecto geográfico é responsável por essa atenção especial dada aos aspectos espaciais (a fronteira com Paraguai e Bolívia como elemento integrante da cultura do Estado, a mescla dos costumes e crenças pelos fluxos mi- gratórios no âmbito da proximidade dos territórios; a presença acentuante do Pantanal e do Aqüífero Guarani que alteram e produzem discursos ambientais impondo questões jurídicas e culturais sob os modos de produção e o consumo – inclusive cultural).

Aos poucos como já é tendência dos estudos sociais, o para- digma do espaço no Estado ganha força pelas relações ecológi- cas diferenciadas em cada região (no Pantanal a vida se altera pela cheia do Rio Paraguai, nas cidades rurais pela sazonalida- de das chuvas, nas cidades maiores pelos problemas relaciona- dos à chuva e as doenças de estação). Não seria enganoso se entendermos que uma etnografia sul-mato-grossense tivesse elementos igualmente representativos aos dos Nuer, descritos com propriedade única por Evans- Pritchard (1978).

Como perspectiva, entendemos que ainda cabe o desafio de análises mais tenras sobre o espaço urbano em sua comple- xidade polifônica, urbanística, legalista e limitadora. As formas expressivas e os espaços de expressão precisam ainda ser pen- sados tanto nos emplacements, como diria Foucault, quanto das utopias e heterotopias e heterocromias. Os espaços de encontro precisam ser estudados bem como sua crescente desvalorização em favorecimento das relações mediadas pelas tecnologias de comunicação e informação, da mesma forma quanto aos lugares de memória e troca cultural pelo entreteni- mento à domicílio pelos meios de comunicação.

Ainda é necessário estabelecer, e aí cabe o desafio para próximas pesquisas, explorar os conflitos de territórios e a es- truturação das instituições e seus espaços no âmbito do simbó- lico, do sensível e, principalmente, da opinião pública. A disputa espacial sobre a opinião pública e os desejos dos sujeitos nos territórios microrregiões dentro do espaço urbano precisam ser socialmente cartografados e relacionados às crises pós- modernas que atingem todas as instituições (da representação

política até a própria mídia, que mesmo na demanda regional é faltosa e não supre as necessidades e desejos de sua própria audiência).

As novas formas de pensar as sociedades e as comunidades pelas formas de (re)produzir seu espaço e sua comunicação é imbricada de novos modos de construção das identidades e cidadanias e, compreender como os processos de informação e consumo cultural se constituem nessa dinâmica tão rápida e viva quanto o espaço urbano é obrigatória.

Se não conseguirmos refletir sobre as novas socialidades, os cieng urbanos, o enraizamento e dezenraizamento em fluxo global, a recente (ou nem tão recente) busca por novos lugares de memória culturalmente significativos para os processos de identificação e pertencimento dos sujeitos, ficaremos reféns das fissuras e da desordem de experiências que o caos da cida- de oferece em seu veio, na obrigatoriedade de sua mobilidade e artificial liberdade. Esse novo sensorium é o campo que de- safia o pesquisador nas geografias da comunicação. Os novos modos de estar e sentir juntos que estão se (re)produzindo so- cialmente.

Como afirma Martín-Barbero (2004, p.276) “é enquanto narrativa que a cidade nos dá o que pensar”.

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Televisão Brasileira nas fronteiras

No documento PORTCOM (páginas 85-91)

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