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Níveis escalares de regionalização midiática

No documento PORTCOM (páginas 128-131)

Com base nessa perspectiva de regionalização midiática, propõe-se aqui um breve estudo exploratório das principais escalas observáveis na distribuição geográfica e nos recortes territoriais que demarcam a atuação das emissoras próprias e afiliadas que compõem a Rede Globo de Televisão, estrate- gicamente espraiada por quase todo o território nacional. Se- gundo o Dicionário de Mídia, publicado pela Direção Geral de Negócios da Globo (FURGLER e FERREIRA, 2018), “afiliada” é uma emissora “de rádio ou TV vinculada a outra pela retrans- missão de alguns programas ou a totalidade da programação desta, sendo, porém, empresarialmente independente”. Todas as afiliadas da Globo são por ela consideradas “exibidoras” – “emissora de TV que retransmite a programação de uma rede”, embora várias delas sejam também “geradoras”: “emissora de rádio ou TV que, detendo outorga oficial, transmite progra- mação própria ou de terceiros dentro de uma região, podendo explorar o sinal comercialmente”. Ainda de acordo com o mes- mo Dicionário, apenas na Amazônia Legal uma retransmissora pode ter estatuto de geradora, podendo produzir programa- ção local e realizar comercialização local, “mas sem os direitos de uma geradora formalmente outorgada”.

O Atlas de Cobertura da Rede Globo (2018) apresenta a distribuição das suas 123 exibidoras na escala nacional, por meio de duas representações cartográficas: uma a partir do mapa das cinco macrorregiões geográficas, das quais se desdo- bra a localização das emissoras por estado e regiões interme- diárias (mapa clicável disponível apenas para consulta online7);

outra que identifica todas as cidades de cada estado e região nas quais estão sediadas essas exibidoras.

A tabela de dados que acompanha o primeiro mapa registra que a “área de cobertura” das 122 emissoras que compõem a Rede (contra 123 indicadas no mapa) abrange 98,33% dos mu- nicípios do país e 99,37% dos seus habitantes. Ficam fora dessa cobertura 93 municípios e seus pouco mais de 1,3 milhão de habitantes. Vale esclarecer que para a Rede Globo “cobertu- ra” tem um caráter geográfico, correspondendo à “distância máxima a que pode chegar a emissão de determinado meio de comunicação”. Ou seja, não se traduz em “efetivação do alcan- ce em termos de audiência”, como induzia a primeira edição do Dicionário de Mídia. Já “alcance” é definido como o “número de diferentes pessoas (ou domicílios) expostas pelo menos uma

7. Ver em http://negocios8.redeglobo. com.br/Paginas/Brasil.aspx (acessado em 18/11/2018).

vez a um veículo ou a uma combinação de veículos”, que pode ser “expresso em porcentagem ou número absoluto”. Note-se que se trata de uma concepção bem restrita de “audiência”, que merece estudos específicos.

A partir da navegação no mapa clicável foi possível identi- ficar que a “cobertura” da Rede realiza-se por meio de grupos de mídia regionais que atuam em cinco escalas geográficas, as quais extrapolam as tradicionais divisões territoriais do IBGE, conforme apresentado a seguir.

- SupraeStadual: quando um mesmo grupo empresarial

atua em dois ou mais estados contíguos com um con- junto de emissoras: Rede Amazônica (13 emissoras em 5 estados); Rede Anhanguera (12 emissoras em 2 esta- dos); Rede Mato-grossense de Comunicação (7 emisso- ras em 2 estados);

- eStadual: escala de atuação das emissoras pertencentes

a um mesmo grupo empresarial cujo sinal alcança todas ou a maior parte das regiões intermediárias de um es- tado: TV Liberal (Pará); TV Mirante (MA); Rede Bahia; Rede Gazeta (ES); Rede Paranaense de Comunicação (RPC); Rede Brasil Sul de Comunicação (RBS)8 e emis-

soras “avulsas”, como a maioria nos estados do Nordes- te.

- SubeStadual: onde atuam grupos de emissoras locais as-

sociadas que cobrem algumas regiões intermediárias ou imediatas de um estado, como a TV TEM e a EPTV em São Paulo e a Integração em Minas, por exemplo. - localcomcoberturaSub-regional: nível de atuação de

empresas que detêm uma única outorga de TV aberta, geralmente situada em capital ou cidade polo, que atu- am como retransmissora da rede nacional e geradoras de programação local.

- multiterritorial: caso de empresas que detêm outorgas

em territórios não contíguos às quais atribuem status de “rede”, como a Rede Inter TV, que possui seis afiliadas à Globo em três estados de duas regiões diferentes. Para se chegar a essa categorização foram confrontadas as representações cartográficas de todos os estados de cada re- gião com as tabelas correspondentes dos dados de cobertura fornecidos pela Rede Globo, levando em conta também as di- visões de regiões intermediárias (antigas mesorregiões) adota- das pelo IBGE (2017). Nesse procedimento, constatou-se que não é a abrangência da área geográfica que define a localização das afiliadas e sim a densidade populacional e a influência eco-

8. O Grupo RBS foi, durante décadas, o maior conglomerado regional de mídia do país, com 18 emissoras em dois estados até março de 2016, quando vendeu todos os jornais, emissoras de rádio e TV que possuía em Santa Catarina para o Grupo NBC, formado especificamente para a operação (ver AGUIAR, 2016, p.221).

nômica e política que suas cidades-sede exercem além do seu próprio território, pelo que isto representa em termos de au- diência, mercado publicitário e prestígio. Contudo, mesmo em um estado como São Paulo, onde as redes subestaduais e sub -regionais possuem cobertura densa, há “lugares em que não chega nenhum tipo de programação local e nacional”, como identificou Munhoz (2008a, p.123)9 .

Outras variáveis específicas também foram levantadas, caso a caso, no percurso da pesquisa, o que permitiu identifi- car “redes regionais de TV”, mesmo quando não identificadas como tal no portal de negócios da Globo, com diferentes es- calas de atuação. Foram consideradas como tal emissoras per- tencentes ao mesmo grupo de comunicação, geralmente utili- zando a mesma denominação, diferenciadas apenas pelo nome da cidade-sede.

9. Em novembro de 2018 o portal Negócios Globo indicava que dois municípios de São Paulo, que somavam 72.429 habitantes, não eram cobertos pelas suas 12 emissoras afiliadas e uma própria no Estado.

No documento PORTCOM (páginas 128-131)

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