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Direção de design

V- ANÁLISE DE PRÁTICAS DE DESIGN

5.1 Casos de sucesso

5.1.2 Caso Camper

País de origem| Espanha Sector de atividade| Calçado

Através do seu espírito tradicional e familiar, a Camper destaca-se no mercado das restantes marcas de calçado, afirmando-se com uma personalidade bastante diferente dos seus concorrentes.

O seu legado iniciou-se em 1887, quando Antoni Fluxá, sapateiro de Maiorca, partiu para Inglaterra para se formar nas mais recentes técnicas industriais utilizadas no ramo do calçado. No regresso, reuniu um grupo de sapateiros onde aplicou e ensinou os conhecimentos adquiridos, grupo este, que viria a tornar-se a fundação base da Camper.

Só em 1975 a empresa foi criada, pelo neto de Antoni, Lorenzo Fluxá. Pela primeira vez a empresa pode ser chamada Camper, que significa camponês em catalão. O nome que pretendia não só refletir o compromisso da marca com as técnicas tradicionais, como também vincular a sua origem rural onde ainda hoje é feita a sua produção.

Valores como a responsabilidade, o compromisso e a qualidade foram adotados desde então, tornando-se fundamentais na filosofia Camper. Não se trata apenas de obter lucros, a sua prioridade é dirigida para o bem-estar e qualidade de vida proporcionada aos seus consumidores, assentando sobre o preço justo de mercado.

A Camper revela ainda a sua preocupação com a responsabilidade social, ambiental e corporativa. Estas preocupações são transpostas nos seus produtos e espaços, melhorando o entendimento da marca junto do público.

A sua identidade e abordagem aos consumidores é por assim dizer, um dos principais focos da participação do design na empresa. Para além do desenho de novos modelos, o design constitui um elemento integrante na estratégia da empresa, tornando a criatividade num negócio viável, permitindo o seu crescimento através da inovação e da aplicação de novos conceitos aos seus produtos.

Por exemplo, o sapato Wabi (fig.25), é fruto do esforço em criar um produto funcional e simplista. O objetivo era criar um modelo que fosse facilmente produzido sem que isso representasse um risco para o ambiente. Nesse sentido os designers da Camper optaram por utilizar materiais naturais e biodegradáveis na sua produção, garantindo assim que o sapato fosse reciclável e ecológico.

Foi ainda possível, através da simplificação dos componentes do Wabi, reduzir para quatro o número de fases do processo normalmente utilizado para a fabricação de calçado, economizando energia, recursos e tempo, sem com isso perder a qualidade garantida pela empresa.

11http://logodatabases.com/wp-content/uploads/2012/06/camper-logo-500x205.jpg Fig. 24 – Logótipo Camper Fig. 24 – Logótipo Camper11

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Em outros modelos, como os Twins (fig.25), procurou-se uma abordagem mais conceptual. Neste caso explorou-se a ideia de ter dois sapatos e não um par. Desta forma, cada sapato é diferente e assimétrico relativamente ao outro, complementando-se ao mesmo tempo como um conjunto. Um produto que se destaca por uma estratégia singular e pouco usual no universo do calçado.

Já o modelo Cameleon (fig.25), explora as raízes maiorquinas da empresa. Este foi o primeiro modelo a ser comercializado pela empresa, consistindo numa réplica dos sapatos usados pelos camponeses no início do séc. XX e pretende assim refletir as origens da Camper, nas quais se insere o espírito rural, simples e irónico, com o sentido prático e confortável, facilmente adaptável ao meio urbano e aos consumidores citadinos.

Fig. 25 – Modelos de calcado da Camper (Wabi12, Twins13 e Cameleon14)

Para uma maior aproximação ao seu público, a Camper mobilizou uma estratégia muito própria de manifestar a sua marca, para além dos métodos convencionais de divulgação e publicidade.

Em 1981, a Camper inaugurou, em Barcelona a sua primeira loja de venda direta ao público. Ao mesmo tempo implementou um novo conceito de sapataria, que visava uma abordagem diferente no conceito (a venda de sapatos), instituindo o modelo self-service. Este modelo consiste na disposição de todos os modelos disponíveis na loja, dispostos de maneiras pouco usuais e organizados por estilo ou género, permitindo aos clientes experimentar ou apenas observar os modelos do seu maior agrado, e promovendo desta forma a interação livre dos clientes com os sapatos.

Foi sempre uma prioridade que as lojas exprimissem o espírito Camper, mas que ao mesmo tempo pudessem ser relacionadas culturalmente com o local onde são estabelecidas.

Os elementos gráficos presentes nas lojas,

website

, posters, sacos e embalagens, são um contributo explícito do design na comunicação da marca, difundindo a ideologia da Camper ou utilizando simples mensagens que pretendem tornar o dia dos seus clientes um pouco melhor.

Em 1990, a marca iniciou a sua expansão internacional. Devido à imensidão do desafio e dos encargos financeiros inerentes, a Camper encontrou uma solução que permitia reduzir o tempo de

12 http://www.planetshoes.com/mmplanet/Images/9495/9495_208_zoom.jpg (esquerda) 13 http://www.fibre2fashion.com/news/images/26/twins_artista_camper_2606425.JPG (centro) 14 http://www.azulloco.com/images/CAMALEON.jpg (direita)

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abertura das lojas e desta maneira rentabilizar o investimento inicial. Assim surge em 2000 o modelo conhecido por

Walk In Progress

(fig.26), que permitia abrir quase de imediato as lojas, tornando-as em provisórias galerias de design. Assumindo claramente o seu aspeto inacabado e em obras, estas instalações temporárias eram compostas por equipamentos feitos por materiais reciclados ou utilizando as caixas dos sapatos como mobília da loja. Ao mesmo tempo, os clientes podiam participar na construção da loja, sob o título

“imagine a better world”

, no qual os colaboradores distribuíam canetas e convidavam os clientes escrever nas paredes mensagens, ideias ou sugestões sobre este tema.

The interactive nature of the Walk in progress concept is simple, sustainable and