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CAPÍTULO III | DESENVOLVIMENTO EMPÍRICO

1. PAINEL DE PERITOS

1.5. Discussão

3.3.5. Categoria Desenvolvimento da Sociedade

Na Categoria Desenvolvimento da Sociedade, o ponto “envolvimento da comunidade” foi considerado aplicável pois é possível ao designer seleccionar matérias primas e fornecedores locais e pode fomentar a preservação do património cultural através do aproveitamento e reinterpretação do património tradicional e sua incorporação no projecto. Este último aspecto é partilhado com os dois próximos pontos. O ponto “educação e cultura” é aplicável pois a actividade do design pode fomentar a diferenciação e identidade para fazer face à neutralidade da globalização. O ponto “criação de emprego e desenvolvimento de competências”, foi considerado aplicável pois, para além do já referido na categoria das práticas laborais, este sector representa um forte elemento de emprego nas comunidades locais. O ponto “criação de riqueza” foi considerado aplicável, mas sobrepondo-se ao envolvimento da comunidade no que diz respeito a seleccionar materiais e fornecedores locais e à criação de emprego no ponto anterior. O ponto “saúde” foi considerado não aplicável, pois para além do que já pode ser feito pelo design na selecção de processos e materiais não prejudiciais à saúde e aos ecossistemas locais e que está abordado na parte ambiental das ferramentas, o restante é demasiado vago e diz respeito a questões de saúde pública, nomeadamente em casos de países com baixos índices de desenvolvimento humano. O ponto “acesso e desenvolvimento de tecnologia” foi considerado aplicável, pois é possível o design fomentar o desenvolvimento e a introdução de tecnologia nos móveis, como a utilização de domótica, iluminação e outros sistemas de tecnologias de informação, o que fomenta o desenvolvimento de conhecimento nos trabalhadores, fornecedores locais e por consequência na comunidades. O ponto “investimento social” pode ser aplicável através do desenvolvimento de projectos que aproveitem competências e recursos da empresa para retribuir à comunidade local.

3.4. Resultados

O trabalho da informação descrita acima resultou no conjunto de estratégias e critérios adequados ao sector em questão conforme a tabela 19 e que poderão integrar o modelo de ferramentas em desenvolvimento.

Estas cinco categorias, e seus respectivos critérios, já deverão permitir um maior equilíbrio e ponderação entre as diversas áreas de influência no decorrer do processo de desenvolvimento de produtos de mobiliário, fomentando uma tomada de decisão mais fundamentada, o que irá possibilitar por sua vez a realização de compromissos mais conscientes e integrados numa visão global.

Contributos para uma Metodologia de Design Sustentável Aplicada à Indústria do Mobiliário: O Caso Português

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CRITÉRIOS E DETALHES POR CATEGORIA

SALVAGUARDA DOS DIREITOS HUMANOS

Não utilizar mão-de-obra infantil Internamente ou selecção de fornecedores, demonstrável através do cumprimento de normas de RS

Não discriminação entre sexos Internamente ou selecção de fornecedores, demonstrável através do cumprimento de normas de RS

Respeito pelos direitos civis e políticos Selecção de fornecedores, demonstrável através do cumprimento de normas de RS Respeito pelos direitos sociais e

culturais Selecção de fornecedores, demonstrável através do cumprimento de normas de RS

BOAS PRÁTICAS LABORAIS Promover a utilização de

competências internas Integrar competências dos trabalhadores no projecto para reforçar os seus vínculos Promover o desenvolvimento de

novas competências Escolhas que fomentem nova formação e inovação para desenvolvimento humano Promover o cumprimento de regras

SST Contribuir pelas escolhas de projecto para boas condições de SST

Seleccionar processos menos

perigosos Propor e seleccionar processos produtivos mais seguros para os trabalhadores Seleccionar de materiais menos

perigosos Propor e seleccionar materiais menos tóxicos e perigosos para os trabalhadores Seleccionar fornecedores com boas

práticas SST

Critério de selecção de fornecedores, demonstrável através do cumprimento de normas de RS

BOAS PRÁTICAS OPERACIONAIS Seguir código de conduta profissional

de designers Trabalhar segundo princípios profissionais de conduta éticos e deontológicos Respeitar os direitos de autoria e

propriedade Não copiar ou de alguma forma usurpar a autoria e a propriedade industrial Proceder ao registo do design Registar através do Desenho ou Modelo nos mercados onde for comercializado QUESTÕES RELEVANTES P/ O CONSUMIDOR

Desenvolver estratégias de marketing

responsáveis Encetar acções de marketing positivas, informativas, educacionais e honestas Desenvolver suportes de comunicação

responsáveis Comunicação que permita uma compra informada e uma utilização correcta

Desenvolver suportes de comunicação

educacionais Comunicar os critérios subjacentes ao produto, dar dicas sobre manutenção Desenvolver publicidade responsável Não desenvolver publicidade enganosa ou tendenciosa

Desenvolver manual de

montagem/desmontagem Para promover correctas montagem e desmontagem sem danificar produto Respeitar o princípio de precaução Ver Declaração Rio92 ONU

Utilizar elevados padrões

ergonómicos Produtos que sejam fáceis, confortáveis e que não provoquem lesões Utilizar princípios de design inclusivo Produtos que possam ser utilizados por todos

Utilizar princípios para a segurança na

utilização Produtos seguros para utilização doméstica. Atenção p/ grupos específicos Prevenir emissão passiva de

substâncias tóxicas durante a utilização

Como o caso do formaldeído, contribui para doenças respiratórias

DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE

Seleccionar fornecedores locais Contribuir para o desenvolvimento da comunidade local Seleccionar matérias primas locais Contribuir para o desenvolvimento da comunidade local Fomentar a diferenciação de

identidade Incorporar referências locais como forma de fazer face à globalização Fomentar a utilização de

competências locais Incorporar conhecimento das industrias e artesãos locais Fomentar a preservação do

património cultural Incorporar e reinterpretar o património tradicional Fomentar o desenvolvimento

tecnológico Desenvolver e incorporar avanços tecn., quer internamente quer pela comunidade Desenvolver projectos de

investimento social Aproveitar recursos da empresa para retribuir para a comunidade

Os designers podem e devem ter um papel importante na integração de critérios sociais no processo de design, tanto a nível estratégico como a nível operacional. As suas opções podem influenciar tanto o desempenho operacional da empresa, por exemplo em termos de práticas de saúde e segurança no trabalho, como a própria criação de valor para as partes interessadas da empresa, por exemplo em termos de padrões de consumo ou influência no desenvolvimento local.

Neste sentido, a criação de um conjunto de estratégias de design na área da responsabilidade social e dos critérios que com estas se relacionam, significa um passo relevante na operacionalização do design sustentável. Embora a norma ISO 26000 tenha sido desenvolvida numa óptica de gestão organizacional, o exercício teórico cujos resultados aqui se apresentam permitiu constatar que os aspectos e princípios da norma podem ser traduzidos em estratégias e critérios de design, que, devido à sua complexidade e transversalidade, ainda carecem de validação prática.

A utilização de uma abordagem focada no sector do mobiliário e a selecção de critérios relevantes para este sector permitiu a análise e reconstrução dos mesmos para uma realidade prática ao alcance do design. Esta abordagem permitiu ainda a integração de práticas de design que já se realizam fora do âmbito do design sustentável, como é o caso do design inclusivo.(Vicente et al., 2010)

3.5. Sumário

Uma vez que a informação tratada na crítica literária não produziu estratégias e critérios sociais passíveis de serem integrados nas ferramentas de forma equitativa com as estratégias e critérios ambientais e que as tarefas previstas inicialmente no desenho da investigação (entrevista ao painel de peritos e inquérito por questionário ao sector) também não foram suficientes para colmatar esse défice, no início do desenvolvimento do modelo revelou-se necessário realizar uma tarefa extra que permitisse reunir informação de qualidade sobre as estratégias relevantes para este sector e que estivessem dentro do âmbito de acção do design.

Com objectivo de corrigir estas deficiências foi preparado um workshop de especialistas que pretendeu reunir as partes interessadas do sector, do design e da responsabilidade social, de forma a realizar uma discussão estruturada com base na norma de responsabilidade social ISO 26000. A discussão entre os vários peritos permitiu seleccionar diversos aspectos em cada categoria da norma que foram posteriormente trabalhados, de forma a reunir um conjunto de estratégias e critérios com algum detalhe.

Apesar de ter ficado patente que ainda existe uma grande diferença entre os critérios ambientais e sociais, este processo permitiu equilibrar um pouco a balança, através do conhecimento específico da realidade do sector e da prática do design.

Contributos para uma Metodologia de Design Sustentável Aplicada à Indústria do Mobiliário: O Caso Português

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Referências Bibliográficas

HAGUE, P. (1994) Questionnaire design, London, Kogan pages.

IPQ (2008) NP 4469-1:2008 - Sistemas de Gestão das Responsabilidade Social. Lisboa, IPQ. ISO (2009) ISO/DIS 26000 Guidance on social responsibility. Genebra, ISO.

VICENTE, J., et al. (2010) The Integration of Social Criteria in Sustainable Design for Furniture Knowl-

edge Collaboration & Learning for Sustainable Innovation: 14th European Roundtable on Sus- tainable Consumption and Production. Delft, The Netherlands, TU Delft.