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CAPÍTULO I | INTRODUÇÃO

1. ÂMBITO

1.1. Mudança do paradigma de desenvolvimento

1.1.2. Visão empresarial em mudança

O impacte das políticas e da legislação não é suficiente se outros sectores-chave, tal como a sociedade civil, não se empenharem activamente no caminho da sustentabilidade. O sector empresarial é uma parte da sociedade que tem tido uma postura conservadora perante os problemas ambientais e sociais, tem-se focado mais no lucro e menos em factores sociais e ambientais, talvez por pensar que o seu desempenho económico seria prejudicado se desse mais atenção a estes factores. Por esta razão, tem sofrido pressões de outros grupos da sociedade civil para repensar o seu comportamento.

O relatório económico realizado para o governo do Reino Unido, apresenta a visão do problema ambiental, particularmente o das alterações climáticas, pelo lado económico, concluindo que:

Contributos para uma Metodologia de Design Sustentável Aplicada à Indústria do Mobiliário: O Caso Português 8

“(...) os custos e os riscos totais das alterações climáticas serão equivalentes a perder pelo menos 5% do PIB global todos os anos, agora e para sempre (…); em contraste, os custos da acção - reduzindo emissões de gases de estufa para evitar impactes mais graves na mudança do clima - podem ser limitados a cerca de 1% do PIB global todos os anos”5 (Stern, 2006, vi).

Podemos assim concluir que ignorar a existência de problemas irá ter consequências mais gravosas do que se os aceitarmos e os conseguirmos integrar na nossa prática.

Para entendermos esta mudança de atitude nas empresas, devemos falar primeiro sobre a evolução da relação entre as empresas e o ambiente nas últimas décadas. Após a 2ª Guerra Mundial, com o grande desenvolvimento económico dos anos 50 e a euforia do consumo, particularmente nos Estados Unidos, desenvolveu-se o conceito de obsolescência planeada (Julier, 1993a). Esta técnica permitia desenvolver ainda mais a economia, modelando as consciências dos consumidores para a utilização de produtos que teriam um prazo de validade bastante curto. Esta validade verificava-se no aspecto formal, pois existia um grande aprimoramento das formas por modas, em que o styling dos Cadillacs americanos talvez seja o exemplo mais emblemático, mas também em termos materiais, pois os objectos deixariam de funcionar correctamente passado pouco tempo.

O livro editado pelo Clube de Roma sobre os limites do crescimento em 1972 que se tornou no livro mais vendido no mundo sobre o ambiente, apresentava um futuro sombrio para a Humanidade, em que os aumentos exponenciais de consumo de alimentos, de recursos e de população versus a capacidade limitada do planeta de fazer face a esses aumentos, iriam provocar uma ruptura no nosso modelo de sociedade e consequentemente a redução de características essenciais para a qualidade de vida contemporânea e redução da esperança média de vida (Meadows et al., 2004). Apesar de muitas das suas previsões se terem vindo a provar demasiado dramáticas e do planeta ter demonstrado maior capacidade de carga, este livro serviu de alerta e dedespertar das consciências. Juntamente com a crise do petróleo dos anos 70, alertou para a realidade de que os recursos do planeta são finitos, especialmente num contexto de globalização e de acelerado crescimento da população e do consumo. Os anos 80 foram marcados por uma visão corporativa, mais interessada na riqueza e nas questões materiais, por oposição a alguma espiritualidade que marcou as duas décadas anteriores. Foi também uma década de grandes desastres provocados pelo Homem, como o acidente da Central Nuclear de Chernobyl, o derramamento de crude do navio Exxon Valdez no Alasca, o acidente químico de Bhopal e a descoberta da depleção da camada do ozono devido à utilização de gases como os clorofluorcarbonetos (CFC’s).

Estes acontecimentos vieram colocar pressão sobre o sector empresarial, obrigando-o a reagir e corrigir o seu modo de operar. O primeiro sinal de mudança tinha vindo de um economista, E. F. Schumacher, em 1973, com o seu livro Small is Beautiful – Economics as if people matter, em que advogava uma economia mais à escala do Homem e das suas necessidades (Schumacher, 1989). Na década de 80 as empresas começaram a introduzir métodos de eficiência, reduzindo os custos através da redução da intensidade de recursos (Bhamra e Lofthouse, 2007) e métodos focados na limpeza da poluição, para evitarem penalizações das primeiras legislações existentes. Só com o passar dos anos é que se foram apercebendo de que seria mais benéfico e lucrativo centrarem-se na implementação de sistemas de final de linha para evitar que a poluição saísse das suas instalações.

5 T.L. –“(…) the overall costs and risks of climate change will be equivalent to losing at least 5% of global GDP each year, now and forever(...) In contrast, the costs of action – reducing greenhouse gas emissions to avoid the worst impacts of climate change – can be limited to around 1% of global GDP each year.”

O passo seguinte foi a melhoria dos processos para prevenção de poluição e desperdícios, designado por produção mais limpa, com a utilização de tecnologias limpas (Vezzoli e Manzini, 2008). Só a partir da década de 90 é que as empresas evoluíram para além da produção mais limpa, para uma forma de pensar os seus processos e produtos de forma mais sustentável.

Em 1992, por altura da Conferência do Rio, foi criado o Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD), apesar de só denominado assim em 1995. Esta organização centra a sua estratégia na eco-eficiência que significa continuar a crescer economicamente mas reduzindo a utilização de recursos, tentando separar o crescimento económico da degradação ambiental. Apesar de, até recentemente, a avaliação duma empresa se focar apenas no seu desempenho económico, existe uma força crescente para que se julgue uma empresa pelo seu comportamento geral no mercado (Blincoe, 2004). Isto é feito através da responsabilidade social, para a qual a empresa tem a obrigação de considerar as necessidades de todas as partes interessadas no seu processo empresarial (Bhamra e Lofthouse, 2007). Esta é uma forma das empresas tomarem decisões com base, não apenas em factores económicos, mas também em aspectos sociais e ambientais. Com isto as empresas conseguem desenvolver a sua actividade de forma positiva, transparente e honesta, evitando assim má reputação e os efeitos negativos no seu desempenho económico.

Para que a imagem das empresas seja beneficiada por um correcto desempenho mais orientado para a sustentabilidade, desenvolveu-se a prática de realização de relatórios de sustentabilidade, à imagem dos relatórios de contas. Desta forma, as empresas podem divulgar os princípios que as norteiam, apresentar os valores do seu desempenho e conferir maior transparência e responsabilização a todo o processo.

Para além da responsabilidade social e da eco-eficiência, existem mais três abordagens que servem de resposta, para o mundo empresarial, ao desafio do desenvolvimento sustentável: (Bhamra e Lofthouse, 2007, pg. 25-30)

- Five Capitals (Natural, Humano, Social, Manufacturado, Financeiro); - Natural Step;

- Design para sustentabilidade;

Esta tese centra-se nesta última abordagem que, através da actividade do design, permite às empresas melhorarem o seu desempenho de sustentabilidade.