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CAPÍTULO I | INTRODUÇÃO

1. ÂMBITO

1.1. Mudança do paradigma de desenvolvimento

1.1.3. O papel do design

Impõe-se aos designers elevados níveis de integridade moral e ética. O Professor Daciano Costa costumava referir nas suas aulas que os designers devem funcionar como a consciência crítica da sociedade e que, portanto, devem olhar para as necessidades Humanas e não apenas para os seus desejos. Hoje, o design está intimamente ligado à forma como a sociedade, cultura e o ambiente interagem. As responsabilidades dos designers nestas áreas são factores determinantes no nosso esforço comum em direcção a uma sociedade sustentável e harmoniosa (Amland, 2004).

Ao longo da história moderna o design sempre se apresentou como uma ferramenta com respostas adequadas às principais questões que foram sendo levantadas pela sociedade. Deutscher Werkbund, DeStijl e Bauhaus são exemplos influenciadores que responderam às questões e inquietações do seu tempo e que acreditavam que a transformação artística do ambiente humano iria, por si só, provocar uma melhoria da qualidade de vida (Bakker, 1995). Nós temos que abordar as questões e os

Contributos para uma Metodologia de Design Sustentável Aplicada à Indústria do Mobiliário: O Caso Português 10

problemas do nosso tempo: o ambiente, o desenvolvimento sustentável e globalização (Walker, 2006), de forma a que, também nós, possamos contribuir para não deixar cair os níveis de qualidade de vida, mas que pelo contrário os consigamos estender a toda a população Humana.

Devemos fazer face aos desafios que o presente nos apresenta, tendo em atenção a necessidade referida por vários autores (Dewberry, 1996, Behrendt et al., 1997, Manzini e Vezzoli, 2002) de virmos a utilizar apenas 10% dos recursos que utilizávamos em 1990. Apesar do uso de técnicas de produção mais limpas e eficientes e de, em muitos casos, o impacte ambiental por pessoa ter diminuído nos últimos anos, o consumo de recursos e a emissão de desperdícios têm vindo a aumentar, tal como também aumentou a polarização entre ricos e pobres (Nieminen, 2008). O crescimento da população mundial, do consumo e da produção significam que, a não ser que se esteja constantemente a introduzir novas medidas e técnicas, vai existir sempre uma tendência para o aumento de emissões e desperdícios (Bakker, 1995).

Sabendo que os produtos não têm o preço real, pois não reflectem todos os factores que pesam numa verdadeira e completa formulação do valor de um produto, o nosso modus operandi trouxe, associado a muita riqueza, devastação ecológica e desequilíbrios sociais. Para corrigirmos isso, a cultura material tem que se tornar mais benigna (Walker, 2006) e para tal o design pode ser uma das ferramentas mais adequadas.

Os pioneiros do design ambientalmente consciente, como Buckminster Fuller e Victor Papanek, viam o design como uma das profissões que mais potencial tinha para prejudicar tanto o ambiente natural como o ambiente humano. Papanek refere inclusivamente no prefácio do seu livro Design

for the Real World, de 1971, que “existem profissões mais prejudiciais que a de designer industrial,

mas poucas”6. No entanto, ele contrapõe na mesma página que:

“nesta era de produção massificada, em que tudo tem que ser planeado e desenhado, o design transformou-se na mais poderosa ferramenta do Homem com a qual consegue modelar os seus instrumentos e os seus ambientes e, por extensão, a sociedade e o próprio Homem” 7 (Papanek, 1997, pg. ix).

Desde então a consciência ambiental dos designers tem evoluído positivamente e com ela o desenvolvimento de ferramentas e processos que lhes permitem melhorar a sua actividade, de forma a que os produtos que desenham tenham menor impacte.

Sabemos hoje que as nossas decisões enquanto designers têm uma influência negativa ou positiva no ambiente e na sociedade, ao ponto de podermos influenciar o próprio comportamento do consumidor (Bhamra e Lofthouse, 2007) e que é na fase de design que fica desenhada a maioria dos impactes que um produto tem no ambiente ao longo de todo o seu ciclo de vida (Brezet e Hemel, 1997, Frazão, 2003, Weenen, 1997), ou seja, é neste momento que fica traçado o perfil ecológico do produto.

Sabemos também que o design pode contribuir para duas das metas definidas na estratégia europeia para o desenvolvimento sustentável: promover padrões de consumo e de produção sustentáveis; contribuir para a conservação e gestão dos recursos naturais. Concretamente, o design pode contribuir para atingir estas metas através do objectivo operacional: “melhorar o desempenho ambiental e social dos produtos e processos e incentivar a sua aceitação pelas empresas e pelos

6 T.L. – “There are professions more harmful than industrial design, but only a very few of them.” 7

T.L. – “In this age of mass production when everything must be planned and designed, design has become the most power- ful tool with which man shapes his tools and environment (and by extension, society and himself).”

consumidores” (CE, 2006), contribuindo assim para a promoção do consumo e da produção sustentáveis, mantendo o desenvolvimento social e económico dentro da capacidade de carga dos ecossistemas e dissociando o crescimento económico da degradação ambiental. Com esta participação e escolhendo materiais e processos conscienciosamente, vai estar também a contribuir para a conservação e gestão dos recursos naturais.

O Centro Português de Design (CPD) realizou um estudo sectorial para analisar o contributo do design para o processo de desenvolvimento sustentável (Nogueira, 2003). Para conseguir alcançar esse objectivo tentou-se compreender duas questões: (1) qual a profundidade do conhecimento do conceito desenvolvimento sustentável junto dos vários intervenientes?; (2) qual o grau de interiorização deste conceito na prática dos vários intervenientes? No estudo conclui-se que o desenvolvimento sustentável é um conceito de fácil apreensão, mas de difícil integração e operacionalização e que a maioria dos intervenientes fica centrado apenas num dos seus componentes:

“ter uma prática que respeite os princípios do desenvolvimento sustentável é uma tarefa complexa que implica muitas vezes uma sofisticação processual que está acima das capacidades da maioria das empresas” (Nogueira, 2003, pg. 17).

Apesar de já existir alguma preocupação com a sustentabilidade, tal não se “costuma traduzir numa visão estruturada e numa estratégia global de actuação” (Nogueira, 2003). Apesar das empresas não pensarem imediatamente em design quando se fala em desenvolvimento sustentável, conclui-se também neste estudo que:

“a intervenção do design é transversal a todo o conceito de desenvolvimento sustentável e, como tal, o designer tem um papel fundamental no projecto de produtos sustentáveis, na sensibilização das empresas e no alargamento do número de critérios de sustentabilidade” (Nogueira, 2003, pg. 17). Uma das principais recomendações deste estudo vai no sentido de se reforçar a credibilidade técnica do designer, compilar informação de apoio a decisões de sustentabilidade e desenvolver formação nesta área.

O design que integra uma abordagem para a sustentabilidade permite às empresas melhorar o seu desempenho, através da redução do impacte dos seus produtos e processos, do aumento de eficiência, da redução de custos e aumento da penetração no mercado (Bhamra e Lofthouse, 2007). É, portanto, muito importante que o designer aprenda sobre sustentabilidade e responsabilidade social de forma a conseguir aproveitar esta oportunidade e fazer a diferença, tanto para a empresa sua cliente como para a sociedade e o ambiente (Blincoe, 2004).