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4. CATEGORIAS DO DOCUMENTÁRIO MUSICAL BRASILEIRO

4.6 Categoria matriz prosaica

Os filmes desta categoria apresentam asserções que tendem a encerrar-se sobre si mesmas, deixando pouco ou nenhum espaço para questionamentos, inferências ideológicas e associações cognitivas extrafilme. A abordagem argumentativa que prevalece nas asserções destes filmes toma o pressuposto de um conhecimento prévio

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sobre o tema abordado e está demasiadamente vinculada a algum tipo de registro factual, o que torna os filmes datados e localizados muito próximos à linha de fronteira entre o registro e o documentário musical.Os filmes são, efetivamente, documentários musicais, mas o fio narrativo flerta com o esvaziamento argumentativo, priorizando a performance factual.

As asserções classificadas nesta categoria exploram um aspecto sócio- histórico de um tema geral, como a musicalidade das festas de São João no nordeste brasileiro, caso do filme Viva São João (2002); as origens de um grupo de carnaval de rua do Rio de Janeiro, retratada no filme Banda de Ipanema – Folia de Albino (2003); os ritmos de cada região do país conforme como apresentados em Moro no Brasil (2005) e em especial o chorinho em Brasileirinho (2007) e ainda as carreiras internacionais de Caetano Veloso no filme Coração Vagabundo(2009) e Nelson Freire(2003).

Estes seis filmes tomam como referência um evento determinando, como a performance em shows ou encontros populares e complementam suas asserções priorizando aspectos pessoais ou factuais, o que esvaziam a dimensão do conflito, tendendo para a afirmação simples e direta com suporte performático de cunho ilustrativo. Um documentário musical de matriz prosaica tem como principal proposta a alusão a fatos históricos por meio da possibilidade de detecção da atualidade dos temas, sendo o suporte de recursos intrafilme o principal esforço do argumento.

Viva São João, Andrucha Waddington, 90 min., 2002 (Categoria Matriz Prosaica)

Fotogramas do filme Viva São João. Depoimentos, performances e acompanhamento do cotidiano de personagens constituem a argumentação assertiva.

A proposição do filme visa apontar o perfil das festas de São João no nordeste brasileiro, com destaque para sua musicalidade. Como dados estão presentes

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depoimentos e performances musicais. Como qualificadores de dados estão a seleção de grandes músicos como Dominguinhos e a condução narrativa de Gilberto Gil. Como garantia da argumentação são adotadas a referências regionalistas numa variedade de performances que constituem uma narrativa conduzida pelo cancioneiro característico. Como apoios, os principais aspectos da argumentação são as opiniões categóricas sobre o valor cultural da musicalidade destas festas. A análise da argumentação do filme indica a seguinte asserção: A tradição musical do nordeste relacionada às Festas Juninas é um rico patrimônio imaterial revelado na cultura regional brasileira.

Banda de Ipanema: Folia de Albino, Paulo César Saraceni, 86 min., 2003 (Categoria Matriz Prosaica)

A proposição do filme é apresentar o perfil da Banda de Ipanema, um dos principais blocos do carnaval de rua do Rio de Janeiro. Como dados são utilizados depoimentos e acompanhamento do cotidiano de um desfile de foliões. Os dados são qualificados pelos conteúdos dos depoimentos e pela observação da festa na rua. A principal característica da garantia na argumentação é a estruturação de sua narrativa em dois atos. O primeiro consiste em imagens realizadas num evento da diretoria do bloco, onde personalidades dão seu depoimento em um microfone instalado num salão em meio ao público presente, de maneira informal e aleatória. Na segunda parte acompanha-se o desfile do bloco com seus foliões e é mostrada a estrutura para a realização do carnaval de rua. Como principal característica no apoio, a referência à embriaguez é evidente em ambas as partes do filme, dado que muitos depoimentos são dados por pessoas nesta condição. A observação da argumentação do filme indica a seguinte asserção: O filme registra a memória da Banda de Ipanema, Albino Pinheiro, e destaca a cultura dos foliões do carnaval de rua do Rio de Janeiro e os bastidores do evento.

167 Nelson Freire, João Salles, 102 min., 2003 (Categoria Matriz Prosaica)

Fotogramas do filme Nelson Freire. Performances e depoimentos são a base da argumentação assertiva.

A proposição do filme visa apresentar o perfil do pianista Nelson Freire, com destaque para a sua consagração internacional. Os qualificadores de dados são as próprias performances e depoimentos em que se revela a importância do artista. Como garantias são adotados enunciados sobre a sua genialidade e como apoios a emoção do artista e seu processo de estudos, bem como declarações sobre suas origens musicais. Não há evidências de refutação. A análise da argumentação do filme indica a seguinte asserção: O pianista brasileiro Nelson Freire tem seu talento reconhecido por grandes maestros no mundo inteiro onde se apresenta como concertista.

Moro no Brasil, Mika Kaurismaki, 104 min., 2005 (Categoria Matriz Prosaica)

Fotogramas do filme Moro no Brasil. Depoimentos e performances constituem a argumentação assertiva.

A proposição do filme é apresentar a diversidade da música no Brasil, marcada por diversas influências regionalistas. Os dados são apresentados por meio de depoimentos de músicos e do próprio diretor que faz sua viagem pessoal pelos estilos musicais do País, o que credencia a narrativa como qualificador de dados. As garantias são dadas pelas performances e expressão fotográfica das regiões onde se manifesta

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cada estilo musical. Como garantia está a proposta narrativa do filme com a presença seletiva do realizador e a colagem de performances entremeada por depoimentos. Apoios são pouco utilizados na argumentação, que intenciona uma abordagem mais descritiva e deixa os aspectos emotivos para a performance musical. A análise da argumentação do filme indica a seguinte asserção: O Brasil possui vários estilos musicais e influências regionais dos músicos são percebidas por meio de suas performances.

Brasileirinho: grandes encontros do choro, Mika Kaurismaki, 90 min., 2007 (Categoria Matriz Prosaica)

Fotogramas do filme Brasileirinho. Depoimentos e performances constituem a argumentação assertiva.

A proposição do filme é mostrar a intensidade das relações de músicos brasileiros com o estilo musical do choro. Os dados constituem-se por depoimentos e performances, mas também são indicados pela presença de um narrador em determinados momentos. Os qualificadores de dados ocorrem pelo reconhecimento de artistas que interpretam as canções, em geral músicos renomados da MPB. Como garantia a estrutura narrativa é credenciada pela presença de um narrador, mas prioritariamente pela performance de músicas do estilo referido. Como apoios são utilizados alguns depoimentos categóricos, mas a prioridade são os efeitos emocionais evocados pelo acompanhamento da execução das canções. A análise da argumentação do filme indica a seguinte asserção: O choro é um ritmo genuinamente brasileiro, com características e história própria e possui músicos e compositores talentosos que mantém esta tradição musical viva.

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Coração vagabundo, Fernando Grostein Andrade, 74 min., 2009 (Categoria Matriz Prosaica)

Fotogramas do filme Coração vagabundo. Depoimentos e performances constituem a argumentação assertiva.

A proposição do filme visa retratar a carreira internacional do músico Caetano Veloso e o reconhecimento de sua obra no exterior por meio do registro de shows realizados em Nova York e em Tóquio. Os principais dados articulam imagens dos shows e dos seus bastidores, bem como a preparação do músico, sua rotina e depoimentos. Como qualificadores de dados são adotados depoimentos de personagens reconhecidos no mainstream cultural como Pedro Almodovar e David Byrne. A garantia pode ser percebida pela despreocupação do documentário em recuperar uma biografa do músico, promovendo uma narrativa leve e descolada de ancoragens essencialmente históricas. Os principais recursos do apoio à argumentação são as performances musicais e as opiniões genéricas. A análise da argumentação do filme indica a seguinte asserção: Caetano Veloso é um músico que possui carreira internacional consolidada, é admirado em vários países e tem uma rotina de shows e bastidores registrada neste filme.

170 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise empreendida nesta tese pretende contribuir para a compreensão do documentário musical brasileiro, face ao grande número de títulos lançados no País, o que demonstra um interesse deliberado por parte dos realizadores. A análise permitiu uma observação das abordagens preferidas para o tema musical no documentário e indica determinadas preferências estilísticas na argumentação nas obras analisadas. O objetivo final foi identificar uma possibilidade de categorização para estes filmes a partir de suas asserções, reveladas após análise de um corpus exaustivo composto por 61 filmes de longa-metragem, com duração superior a 70 minutos e registrados na Ancine. O levantamento inicial mostrou que há um grande número de filmes no subgênero. Para empreender a análise foi necessário o estabelecimento de critérios para uma seleção de filmes que permitisse responder à problematização da pesquisa: como organizar em categorias os documentários musicais brasileiros, de forma a contribuir para a compreensão de uma possível ordem cinematográfica que perpassa os filmes do subgênero, mas que ao mesmo tempo reconhece as especificidades assertivas de cada filme?

Como a investigação tem como objetivo analisar documentários musicais brasileiros de longa-metragem, de forma a compreender quais são as suas propostas assertivas, foi adotado um modelo que se aproximasse das competências teóricas do recorte analítico-cognitivo, em detrimento de análises apoiadas em grandes teorias como os estudos culturais, o estruturalismo, o pós-estruturalismo e a fenomenologia. Estudos realizados durante a pesquisa com o apoio de conceituações destas teorias foram empreendidos e alguns foram publicados em periódicos científicos ou anais de congressos durante o curso do doutorado. É o caso do artigo Um estudo da formalidade sonoro-narrativa no documentário musical Titãs – a vida até parece uma festa49, baseado nas proposições metodológicas de decomposição fílmica proposto por Casetti (1991)

49 Artigo apresentado na Mesa Cinema Documentário e MPB, do IV Musicom – Encontro de Pesquisadores em Comunicação e Música Popular, realizado de 15 a 17 de agosto de 2012, na escola de Comunicação e Artes da USP, São Paulo, sob coordenação do crítico e doutor em Multimeios Luciano Vaz Ramos e posteriormente publicado na revista Doc On-line, n. 12, agosto de 2012. Disponível em: http://www.doc.ubi.pt/12/dt_cynthia_schneider.pdf . Acesso em 10.03.2015.

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para compreensão de como este documentário musical opera os códigos sonoros como recursos narrativos, o enredo e a organização dada pela montagem cinematográfica. O estudo Montagem punk rock: por um design do espectador imaginado do documentário musical Botinada50 ocupou-se da análise deste documentário musical a partir do conceito de semiogramática de Odin (2005) para identificar como este filme documentário constitui, por meio das referências à sonoridade punk perceptíveis na montagem, um enunciante pressuposto. A teoria adotada para esta reflexão articulou os conceitos do pesquisador Roger Odin, propostos em sua semiopragmática. A análise deste filme foi dedicada a compreender como ocorrem os processos de ficcionalização, com destaque para o que o autor considera como modo documentarizante, além da função articuladora da montagem. A análise revela que a montagem deste filme contribui sobremaneira para a intenção de assertividade rítmica evocando as características do punk rock e evidenciando o design de um enunciante pressuposto condicionável a um modo de leitura idealizado.

Estes estudos iniciais permitiram uma aproximação aos documentários musicais mas revelaram a inviabilidade de adoção de uma grande teoria que pudesse servir a todos os filmes, pois cada um tem suas particularidades e solicitaria um modelo diferente de observação de forma a compreender as propostas formais cinematográficas. Os resultados dos debates promovidos nestes encontros científicos demonstraram que seria necessário outro tipo de abordagem para promover uma análise dos filmes, bem como valorizasse as similaridades entre os filmes, pois já fora possível perceber que as diferenças não determinariam uma análise que desse a ver possibilidades classificatórias nos filmes.

O recorte analítico-cognitivista se mostrou ideal porque permitiu a observação de um corpus complexo que tem em sua essência conceitual uma preocupação com a asserção dada pelo filme documentário e que também contribui para a definição do subgênero musical. E no âmbito dos estudos dos autores deste

50 Montagem punk rock: por um design do espectador imaginado do documentário musical Botinada. Apresentação de trabalho publicada nos anais do I Congresso Internacional de Estudos do Rock, realizado de 25 a 27 de setembro de 2013, na Unioeste – Campus Cascavel, Paraná. Resumo publicado nos Anais do evento disponíveis em: http://www.congressodorock.com.br/evento/docs/caderno_resumos.pdf . Acesso em: 10.03.2015.

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pensamento teórico, não foi identificada uma disseminação de estudos analíticos aplicados aos documentários musicais. Ao adotar o conceito de asserção individual de cada filme determinado pela sua argumentação, procurou-se preservar a individualidade dos filmes, ao passo que se tornou possível contribuir para os estudos do cinema documentário promovendo uma categorização que permite a visualização das propostas fílmicas, afastada do lugar comum das grandes teorias.

O método buscou observar estruturas intrafilme capazes de promover associações cognitivas não exclusivamente de cunho formal como a observação da montagem, dos espaços diegéticos e não-diegéticos, da produção de sentido semiótico ou de intepretação psicanalítica. Para isto, optou-se pela observação de como os filmes operam sua argumentação a partir da observação de como são usados os recursos de proposição, dados, qualificadores de dados, garantia, apoio e refutação. Este modelo foi adaptado da Teoria da Argumentação de Toulmin (2006) e aplicado individualmente a todos os filmes do corpus da pesquisa.

Com este exercício de análise fílmica no documentário, foi possível observar metodologicamente como os documentários do subgênero estabelecem sua asserção a partir da argumentação, entendendo-se que o conceito de asserção é central para o pensamento analítico-cognitivo, conforme está presente na obra de Carroll (2005), que indica o documentário como um cinema de asserção pressuposta. Por meio da análise das propostas assertivas decorrentes de sua argumentação e considerando-se as similaridades e afastamentos entre as asserções identificadas no corpus foi possível identificar que o cinema documentário musical brasileiro se organiza em três categorias: storytelling, expressão fotográfica e de matriz prosaica.

Na etapa de observação extrafilme, onde as asserções foram classificadas por associação e diferenciações entre os filmes do subgênero, percebeu-se que os filmes demonstram majoritariamente a preferência pelo ato de contar histórias, estabelecendo narrativas em atos que referenciam as trajetórias pessoais e de carreira de personagens, sejam eles individuais, como músicos, compositores e maestros ou coletivos, como grupos musicais. A categoria Storytelling foi composta por estes filmes, que ao remeter sua argumentação às ancoragens de ascensão e queda de artistas, estabelecem asserções demonstradas por narrativas marcadas por atos temáticos e pontos de virada,

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situação características da organização de roteiros cinematográficos, inclusive nos filmes documentários, conforme apontado por Puccini (2009).

A categoria Storytelling constitui-se de 85% dos filmes analisados, o que manifesta uma preferência dos realizadores por filmes que contam histórias, especialmente destacando percursos de ascensão e queda, ou o desconhecimento do público sobre determinados fatos ou carreiras de artistas ou a refutação de situações históricas que teriam sido mal esclarecidas ou a ênfase em conflitos determinantes de novas atitudes dos artistas. Estes aspectos permitiram a classificação dos filmes de Storytelling em três subcategorias, denominadas facetas, que são: Ideologia reativa, Memória de vida e obra e Revelação. Trinta e cinco filmes compõem a maior das facetas, de Memória de vida e obra, exibindo o favoritismo dos realizadores pelo apego aos argumentos que se aproximam de dados históricos e qualificadores de dados, como os depoimentos de familiares, amigos, especialistas e imagens de arquivo.

A faceta Memória de vida e obra é a única que possui subcategorias, denominadas classes, que são de fluxo laminar e turbulência. Na classe de fluxo laminar, vinte filmes determinam asserções a partir do paralelismo de dados e qualificadores de dados conforme os quatro eixos expostos por Parent-Altier (2004): a) o enredo; b) a personagem; c) o conflito e d) a estrutura. A argumentação destes filmes não necessariamente determina filmes lineares, mas procura abordar estes aspectos das histórias que narra de forma a demonstrar os pontos em que elas se tangenciam, mas mantendo estas camadas narrativas bem definidas. Na classe turbulência, estes aspectos se entrecruzam frequentemente, descortinando a interdependência, por exemplo, dos fatos da vida pessoal da carreira do artista, retornando a premissas argumentativas regularmente e determinando asserções que destacam a complexidade intercognitiva dos personagens-tema.

Além da faceta Memória de vida e obra da categoria Storytelling, as de Ideologia reativa e Revelação compõem-se respectivamente, de onze e oito filmes. Esta última prioriza recursos de argumentação que visam mostrar versões de fatos pouco difundidas pela mídia ou desconhecidas do público a partir de depoimentos e articulações fílmicas implícitas como a sobreposição de dados e referências arquetípicas além de improvisos caracterizados como garantias da argumentação. Em contrapartida, os onze

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filmes da faceta ideologia reativa optam pelo apoio como principal tipologia argumentativa, enfatizando as performances, a repetição de dados, apelos emotivos e a opinião categórica.

A segunda categoria, diferentemente da primeira, e que prioriza as imagens-câmera temáticas é a Expressão fotográfica. Dois filmes foram identificados nesta categoria por utilizarem sua argumentação de forma a dar a ver asserções que, apesar de contar histórias, preocupam-se mais com a possibilidade de visualidade e temporalidade para percepção sonora como garantia de suas propostas. A última categoria, De matriz prosaica, constitui-se dos filmes que, em sua argumentação, optam por apresentação de dados para constituir asserções mais descritivas de temas ou eventos pontuais, enfocam a maior parte de argumentação na performance dos artistas e situam-se numa fronteira muito próxima ao registro, utilizando-se basicamente de dados e qualificadores de dados para suas asserções.

Notou-se, na análise dos documentários musicais brasileiros, uma tendência à escolha de temas que trazem um conteúdo dramático, com ênfase a aspectos trágicos de carreiras e memórias de vida. Quanto à argumentação, o aspecto da encenação tem um tratamento distinto e é preterido na quase totalidade dos filmes, pois são priorizadas as situações de performances dos artistas, seja por meio de interpretações para a câmera ou pela presença de imagens de arquivos de apresentações e shows51. No corpus da pesquisa, apenas um filme assume o caso de encenação em que um ator interpreta o personagem principal. Isto acontece em Nelson Gonçalves, de Eliseu Ewald, 2001, onde o ator Alexandre Borges interpreta o personagem-título dublando canções do cantor e participando de cenas com diálogos roteirizados, com forte evocação ao docudrama. A encenação está presente também em filmes como Carmem Miranda, de Helena Solberg, 1995, onde algumas cenas com uma atriz que faz o papel da cantora são inseridas de forma a reconstituir o momento de sua morte ou como inserções poéticas, ou quando ela sai de uma vitrine de loja deixando de ser um manequim. No filme Um certo Dorival Caymmi, Aluísio Didier, 2000, as

51 Cabe ressaltar que há filmes documentários musicais que utilizam do recurso da encenação como opção central em sua argumentação, apesar de não fazerem parte do corpus da pesquisa, mas que foram observados na etapa de levantamento dos títulos nacionais. É o caso do filme Isto é Noel Rosa, de Rogério Sganzerla, 43 min. 1990, que não consta na lista da Ancine e é um filme de média-metragem.

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encenações limitam-se às composições de personagens na praia, evocando as letras do compositor que enaltece o tema do mar. Esta observação sobre uma certa negação da encenação leva ao entendimento de que pode existir uma certa convenção no subgênero de que a troca que se pretende estabelecer na fruição do filme considera como público final o nicho de fãs e admiradores dos artistas, que poderiam ter uma preferência por ver o artista em lugar de uma situação onde atores interpretam-no.

Poucos documentários musicais mostram categoricamente a presença do realizador, mas os filmes onde isto acontece merecem destaque, pois a argumentação do filme utiliza-as como elemento importante para a sua asserção. É o que acontece em filmes como Paulo Moura, Alma Brasileira, de Eduardo Escorel, 2013, onde o diretor dá seu depoimento ao final da obra indicando as dificuldades de realização do filme devido a impedimento de uso de imagens com direitos autorais reservados. Em Jards Macalé, um morcego na porta principal, de Marco Abujamra e João Pimentel, 2010, esta interferência é realizada pelo próprio artista, ao questionar logo no início do filme o fato