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3. RESULTADOS: A RELAÇÃO MÚSICO-CORPO-INSTRUMENTO NO PROCESSO

3.3 Causas dos problemas corporais

Na seção deste trabalho que trata das causas de problemas, dificuldades e desconfortos durante o processo de aprendizagem nos instrumentos, buscou-se desvelar nas falas dos professores os motivos que atribuem aos problemas corporais.

Alguns fatores apresentados neste tópico como causas de problemas corporais, aparecem na seção 3.2 como conseqüência. A tensão, por exemplo, que aparece na seção 3.2.2 como um problema, é aqui tratada como causa de dor. Portanto, há “tensão-conseqüência” e “tensão- causa”. Outros fatores são apontados pelos participantes como causa de mais de um problema, como é o caso do movimento repetitivo, que seria o causador de dores, cansaços e lesões.

Os tópicos que seguem, portanto, se referem às causas atribuídas pelos professores para as questões relativas à dor, tensão, má postura, dificuldades e desconfortos durante o período de aprendizagem dos alunos em seus instrumentos musicais.

3.3.1 Tensão (como causa de problemas)

Os participantes descrevem tensão como “enrijecimento muscular”, uma “concentração” muito grande de “energia” em determinada parte do corpo, que, segundo eles, provocaria diversos problemas e dificuldades no processo de aprendizagem de instrumentos. Tais “contrações” seriam o oposto do relaxamento, que, segundo os entrevistados, poderia ser observado fisicamente. O fator tensão é apontado 21 vezes como causa de contrações, estaticidade, articulação dura, dificuldade técnico-musicais, como apertar e puxar a corda, entre outros. É o fator mais indicado como causador dos problemas e dificuldades enfrentados no processo ensino-aprendizagem do músico, provocando dores, estrangulamento de nervos, desconforto geral, fadiga, tensão, dificuldade de coordenação motora, bolhas nos dedos e tendinite, conforme se depreende das falas a seguir:

Então, se o aluno, se a gente vê que ele está trabalhando tenso, fatalmente ele vai ter dor daqui a pouco, né? (“Percussão”)

A questão da dor é uma contração que não relaxa, que você, sem perceber, segura vinte, trinta minutos com o músculo travado, não há posição, tem ácido lático, o músculo vai doer e outras coisas; você vai começar a contrair músculos, para ajudar aquele que não agüenta mais; você vai contrair outros músculos menores e aí vai ferrar tudo, vai ser uma avalanche, um efeito em cascata. (Violão)

Só não pode tocar apertando que dá tendinite. O pulso é porque quando você toca harpa, às vezes você encosta ele na caixa e apóia... com a movimentação dos dedos, você movimenta aqui com os dedos comprimidos, aí dá tendinite. (Harpa)

3.3.2 Instrumentos (como causa de problemas)

Cada instrumento musical tem suas particularidades. Possui uma história que envolve determinada época, diferentes materiais para construção, tecnologias específicas, artesãos, fábricas, distribuidores, etc. Instrumentos variam em altura, largura peso e tamanho. Muitos instrumentos não passaram por modificações ergonômicas no decorrer do tempo, conservando seu formato original.

Tal fato poderia passar despercebido se os corpos de outrora fossem ainda os corpos que se movem, pensam e sentem na contemporaneidade. Mas, como apontam os próprios entrevistados, as crianças de hoje, por exemplo, não são mais aquelas que sobem em árvores, nem tampouco, aquelas que correm, brincam pelas ruas em seu dia-a-dia. Hoje, as crianças

parecem vivenciar corpos virtuais, em frente a computadores, vídeos e televisores, experimentando outras formas de corporeidade.

Assim, o instrumento é apontado (18 vezes) como causa para problemas corporais, tais como tensão e lesões. Os professores consideram que os instrumentos não seriam ergonomicamente adequados, levando em conta o peso, tamanho, altura, embocadura, porquanto, segundo eles, causariam desconforto físico, dores musculares, lesões, dificuldade de coordenação, sensação de incômodo, dificuldades cognitivas.

Os instrumentos barrafones, eles são desconfortáveis... são instrumentos maravilhosos, mas, ergonomicamente, fisicamente falando... (“Percussão”)

Se força, tenciona os braços, pescoço... tem haver com a própria construção do instrumento... um instrumento de sopro que não veda as sapatilhas, o aluno precisa colocar mais pressão nos dedos. Você ter um instrumento ruim... é melhor desistir.

(Grupo focal/ “Sopros”)

Os menores violões são grandes para uma criança de dez, onze anos, então, nós temos esse problema sério da indústria... reflete terrivelmente uma má qualidade dessas, é um desconforto danado, provoca o esforço excedente que a pessoa tem que fazer, pode levar à tendinite, lesão, síndrome do túnel do carpo, essas coisas, porque dificulta muito todo o trabalho muscular que você tem. (“Violão”)

Existe a posição do queixo, tem que ser puxado para baixo, porque ele pressiona para cima, o lábio inferior ele pressiona contra os dentes, aí dá mais dor. A embocadura da clarineta é uma embocadura muito difícil, muito complicada né?

(“Clarineta”)

A trompa, por ser um instrumento com aquele monte de voltas, e ter um bocal estilo funil, e a base do bocal da trompa é aquela coisinha, não tem base, então eu sofri essa dificuldade. (“Trompa”)

3.3.3 Fatores emocionais

Os entrevistados descrevem esses fatores como travas, bloqueios, pressões cotidianas, aluno “agitado”, ansiedade, distúrbios neuróticos, entre outros, que podem, em geral, serem vistos como emocionais. Esses fatores aparecem 11 vezes no discurso dos participantes, e são apontados como causadores de tensões, contrações e processos somáticos na aprendizagem de músicos instrumentistas, além de dificultarem a aprendizagem. Segundo os professores, os alunos parecem não perceber esses bloqueios, descritos pelos docentes como ansiedade, medo de tocar, mesmo em sala de aula. Para os participantes, esse seria o “jeito de ser” de alguns alunos, uma característica pessoal.

Porque tem problemas do lado emocional, e aí começa a travar. (“Violoncelo”)

É o jeito do aluno, ele é agitado, ele é muito agitado, meio nervoso. Então ele está começando, no violino, a ficar relaxado, mas ele fica tenso às vezes... É uma coisa que vai acontecendo e ele nem percebe. (“Violino”)

Ele não conseguiu fazer. Eu acho que aí já é a história da pessoa, são os bloqueios, traumas físicos, a gente fica muito traumatizado... vai atravessar uma rua, passa um carro que te ameaça, e você se assusta, você prende a respiração e não solta mais. Você vai adquirindo várias tensões, bloqueios. Você fica com raiva de alguém, quer matar a pessoa, mas não pode, não fala, prende a respiração. Quer dar uma resposta, mas não dá, pro chefe, sei lá quem, aí você se repreende. Então, isso vai gerando muita tensão física. Se a pessoa não compensa... (“Oboé”)

Não sei, talvez ansiedade, vontade de aprender... trava, em alguns casos trava mesmo então eu tenho uma aluna que ela foi fazer prova e na banca, quando a gente foi chamar ela, ela estava chorando, alguns alunos trazem um estado de tensão muito grande. (“Percussão”)

3.3.4 Falta de consciência corporal (como causa de problemas)

A falta de consciência corporal, na perspectiva dos entrevistados, pode ser compreendida como a falta do sentido do corpo em movimento. Os participantes consideram que esse é um sentido necessário à aprendizagem do instrumento. As oito vezes em que essa noção aparece no discurso indicam que os professores vêem o sentido proprioceptivo como um produto acabado, e não como um processo. Assim, na perspectiva dos entrevistados, os alunos “têm ou não têm” tal sentido (sentido do corpo em movimento). Desse modo, o discurso aponta para o fato de que os professores não se sentem responsáveis pela participação na construção deste processo.

A falta de consciência corporal provocaria, segundo as falas dos professores, dificuldade na compreensão do movimento nos membros superiores, falta de coordenação motora, tensão, falta de tônus muscular, hipotonia, insegurança, e até mesmo depressão.

É da falta de conscientização do próprio corpo, às vezes a gente fala: olha gente, vamos concentrar o movimento no pulso, e não no antebraço, aí o aluno não sabe o que é pulso, ou sabe o que é pulso e não sabe o que é antebraço, ele acha que o antebraço é no ombro, para cima. (“Percussão”)

A propriocepcão, pelo que eu entendi, a concepção da gente no instrumento, do nosso corpo no instrumento. Eu não tinha essa concepção. E minha concepção no instrumento, peso da mão, eu não sabia de nada, até esse professor ... ponto de contato do dedo, peso, relaxamento. Desorientada, não ir para frente, não progredir.

Tudo era mais difícil... Falavam pra mim: fica relaxado! Mas eu não sabia como ficar, relaxar. A consciência do relaxamento te confunde. (“Violoncelo”)

Hoje em dia, vejo nos alunos que estão começando separar mão esquerda da mão direita, porque cada uma faz uma coisa no instrumento, e noto que é a maior dificuldade deles no início, dos pequenos principalmente, nove, dez anos. Eu não sei se isso é conhecimento corporal, mas para eles é difícil separar as duas mãos, uma fazer uma coisa e a outra fazer outra. (“Violino”)

3.3.5 Movimento repetitivo

Para os professores, o movimento repetitivo é mais uma das causas para cansaço, dores e lesões. A repetição, para os entrevistados, seria inerente ao trabalho do músico. Mesmo assim, haveria, além disso, excesso de movimentação repetitiva, sem qualquer tipo de compensação muscular. Com sete citações, os participantes denunciam certa preocupação sobre a sua tarefa possuir esse caráter de movimentação repetitiva, pois ouvem falar de outras profissões que possuem a mesma característica e que os profissionais também estariam adoecendo. Os participantes citam, por exemplo, os bancários, que vivenciam o movimento repetitivo, sofrem com isso e manifestam problemas com a saúde. Esses, no entanto, teriam conseguido utilizar estratégias preventivas em sua rotina. O músico não teria a mesma preocupação, a visão das possíveis conseqüências do problema, como exemplificam as próximas falas:

E aí é que a gente se preocupa, com esse excesso de repetição, não torne um problema, são quatro, seis horas... não é possível, não é possível, o corpo não agüenta, pode até estudar dois, três, quatro dias, depois de uma semana ele não vai agüentar se não fizer paradas em intervalos ou mesmo outras atividades, começa a ficar cansativo (...) Está sentindo dor? É pela repetição... Eu acho que é um campo novo, até porque só foi, em minha opinião, só foram pensar nisso a partir da LER. É, acho que nem tanto do músico, do pessoal que trabalha em banco, que houve um “bum”, porque se fosse só músico, ia ficar... movimento repetitivo, justamente, é, você tem que estar repetindo, no caso de percussão, você está sempre repetindo, na manulação direita e esquerda, o pulso, é mais ou menos o trabalho de um caixa, que está lá sempre fazendo com o dedo ... é uma coisa mecânica... só houve um “bum” nessa história, por causa dos profissionais da área de banco, na parte de digitação, eu acho que de repente, se tivesse ficado só na música, não teria, de repente...

(“Percussão”)

Eu quase morria de dor, porque a musculatura estava travada, porque não se alongava. O exercício não era adequado, era muito forte para você começar... é esforço repetitivo, o músculo, o músico não faz outra coisa a não ser esforço repetitivo, é aquele negócio, um determinado pedaço difícil, com aberturas, concentrações e distensões da mão e repete, repete, repete, aperfeiçoa, aperfeiçoa, aperfeiçoa né? É muito de repetição né? (“Violão”)

O outro problema foi dos dedos, que o camarada fez um exercício forçado, repetitivo, muito tempo, e a pessoa, eu quero ficar boa, ficar boa, aí deu um problema de tendinite. Qualquer exercício repetitivo causa... os caras que mexem com computador o dia todo estão aí aposentando, cheio de problemas, usando talas.

(“Trompa”)

Algum estudo de velocidade, eu tinha que ficar repetindo e ficava cansada.

(“Piano”)

3.3.6 Má postura (como causa de problemas)

A má postura, que surge cinco vezes na fala dos participantes, é apontada como fator gerador de dores nas costas, dificuldades técnicas e lesões. As falas indicam que os professores tendem a responsabilizar os alunos, que são apontados como responsáveis pelas dores que sentem a partir de sua postura errada. A má postura é também associada a uma espécie de “preguiça” dos alunos, como afirmam os professores, que, por não conseguirem ficar na postura que seria a correta pra tocar o instrumento, vão se posicionando “de qualquer jeito”, para compensar. “Harpa” atribui os problemas físicos que vivenciou – tendinite no pulso esquerdo, epicondinite, inflamação no cotovelo direito – à sua má postura, enquanto estudante. Em relação ao fato, parece existir certa negligência entre os entrevistados quanto à responsabilidade como docentes, como indicam as próximas falas:

Os alunos, às vezes, se posicionam mal, põem o pescoço para baixo... começam a reclamar de dor nas costas. (“Percussão”)

Às vezes, acontece que a postura das pessoas é muito relaxada, uma eterna preguiça, não consegue levantar o ombro, não mantém. Conseguem de primeira, depois vai ficando com preguiça e o ombro vai baixando, até o cotovelo encostar na cintura, de tanta preguiça. Aí seguram o oboé só com o cotovelo, e o cotovelo não segura o peso e nem o dedo. (“Oboé”)

Eu tive tendinite no pulso esquerdo, epicondinite, inflamação no cotovelo direito, de tocar... postura errada, postura errada. (“Harpa”)

3.3.7 Acessórios

Os materiais de apoio do estudo no instrumento, entre eles, cadeiras bancos e queixeiras, aqui chamados de acessórios, aparecem cinco vezes no discurso dos participantes. São apontados como uma das causas de problemas na postura, dor na coluna, calo no queixo. Os alunos, além de terem de lidar com o aprendizado do instrumento, têm de se ajustar

também a bancos, queixeiras, talabartes, que igualmente, por serem não-anatômicos, seriam fatores que dificultam a aprendizagem. O tipo de banco, mais alto ou mais baixo, por exemplo, modificaria toda a relação entre corpo e instrumento, interferindo na postura, como exemplificam as falas a seguir:

Na viola é a spalera, o tamanho dos instrumentos... a falta de acessórios adequados para os aluno. (grupo focal/ “Cordas”)

Um ponto de partida pra você achar a sua postura, porque cada anatomia é uma coisa. A proporção do tamanho do teu braço, o tamanho do teu tronco, o tamanho da tua perna, é deferente pra cada pessoa. A cadeira tem uma altura padrão, pra cada um de nós, essa cadeira vai ser alta ou baixa, conforme o teu tamanho, o próprio banquinho... Tudo isso interfere na tua postura. (“Violão”)

Dependendo da cadeira em que está sentada. Você está tocando sentada, dependendo da cadeira, com o tempo vai começando a ter dor, cadeira não muito anatômica, enquanto profissional. Tem horas em que a coluna começa a doer um pouco, mas eu sei que é pela cadeira, e não pela minha posição (...) O calo no queixo, porque fica o atrito da queixeira, o violino, aqui no queixo é normal. No começo ele, enquanto está formando, fica dolorido um pouco, mas, aí, com o tempo, vai acostumando e pára e você fica horas e horas com o instrumento no queixo.

(“Violino”)

O aluno tem que memorizar qual é a distância ideal do instrumento, porque dependendo da distância você força a coluna, ou muito perto é inadequada, a altura do banco. Na escola francesa, o banco tem que içar elevado para que o cotovelo fique reto. Pareço papagaio, aprendi assim. A razão disso, é que se você está acima do nível, você vai jogar o peso do braço. Sempre tem alguma coisa para observar e se cuidar também. (“Piano”)

3.3.8 Constituição física inadequada

Para os participantes, a constituição física de cada aluno seria um dos fatores geradores de má postura, dificuldades na amplitude do movimento, ferimentos nos lábios. Aparecendo cinco vezes no discurso dos participantes, é apontado como empecilho para o aprendizado de certos instrumentos. O estudo de alguns deles só poderia ser iniciado depois de determinada idade. Desse modo, o tamanho da mão, do braço, a altura da pessoa, o tipo de arcada dentária, a espessura dos dedos, entre outros itens, seriam considerados como fatores predeterminantes para que o aprendizado tenha menos obstáculos. Assim, parece existir um processo de discriminação e desigualdade nesse contexto, cuja idéia será desenvolvida no capítulo de discussão dos resultados. As próximas falas ilustram a situação:

Você não pode exigir muito de uma criança de dez anos, uma sonoridade de um jovem de trinta anos, a criança não tem a musculatura ainda trabalhada.

(ALCESTE/ grupo focal)

Se o aluno tem o antebraço curto, então para ele poder alcançar a caixa ele não vai poder fazer um ângulo de quarenta e cinco, ele vai ter que fazer um ângulo maior ou menor... pode ter prejuízo, é físico mesmo, por exemplo, a gente trabalha com tendões e articulação basicamente, nosso trabalho é feito, no caso da caixa e no caso do instrumento de teclado, uma articulação maior que já envolve ombro, etc.

(“Percussão”)

Atrapalha, sobretudo na arcada dentária. A gente deveria fazer uma pré-aptidão física. A arcada dentária tem que ficar os dentes de cima por cima dos debaixo, e isso é uma coisa muito importante, senão a pessoa não pode estudar clarineta, como todas as pessoas não podem ser médicas. Acho que o mais importante é agente escolher aquele aluno que realmente tem condições físicas... (“Clarineta”)

Eu acho que a tensão tem haver... características físicas de cada um. (ALCESTE/ grupo focal)

3.3.9 Falta de estudo do aluno

A falta de estudo, bem como a indisciplina ao estudar é apontada (duas vezes) como causa de dores e de tensão. Os professores sugerem que os alunos é que seriam responsáveis por seus próprios problemas, ocasionados por pouco ou nenhum estudo. A falta de prática seria responsável pela geração de tensões, pois o corpo não teria o tempo necessário para se acostumar ao instrumento. As falas indicam uma culpabilização do aluno pelos professores, que não comentam sobre sua participação na formação de uma possível educação formadora de hábitos para o estudo, como exemplificam as próximas falas:

Se ele for um aluno que não tem uma disciplina de estudar diariamente, nem que seja um período de intervalo pequeno, daqui a pouquinho ele vai reclamar: professor: estou sentindo dor. (“Percussão”)

No começo é um pouco mais difícil, mas com o estudo, o normal, acontece o relaxamento, porque se não ele fica duro, não fica dom o dedo acostumado a cair naquele buraquinho, mas depois, com a prática... (“Clarineta”)

3.3.10 Falta de conhecimento do Professor

Neste tópico, os professores apontam a deficiência na formação de docentes. Os entrevistados revelam que não existem disciplinas no curso de Licenciatura em Música que habilitem o professor a lidar com questões acerca do corpo. Com duas expressões, os participantes se responsabilizam pelos problemas corporais dos alunos, especificamente, as dificuldades de movimentos no instrumento, já que esses não seriam explicados adequadamente. Desse modo, dores e tensões, por exemplo, poderiam ser evitadas. Também a falta de cursos de atualização que propiciem esse tipo de conhecimento acentuaria a inabilidade do professor quanto ao emprego de procedimentos que visem ao trabalho com o corpo, que em outras áreas sofre constante modernização. As falas a seguir ilustram esse aspecto:

Porque o universo do músico é ainda: ah, ele é músico, músico é assim mesmo, tudo faz parte, o músico não se conhece ainda, ele, agora que a gente está tendo, mas ele ainda não se conhece ele, até às vezes, você tem um profissional muito bom que vai te dar aula e: mas como você tem essa dificuldade? É fácil! Não vê, ele pega o movimento e faz! Mas eu não consigo! Mas é fácil! Olha só! Né? E ele não consegue enxergar o outro profissional. Porque nós temos professores que há muito tempo já saíram de, das academias, que não tem essa noção. (“Percussão”) Você tem que saber sobre o seu instrumento, seu corpo, o que é bom funcionamento e o que é mau funcionamento, quais são os sintomas. Tem gente aí, tem violonistas que tem, dá uma dor e o cara não tem a menor idéia onde vai bater aquilo, pessoas que se... sei lá, talvez por desinformação, eu acho que fundamentalmente por desinformação. (“Violão”)

As causas atribuídas aos problemas no ensino-aprendizagem de instrumentos musicais, pelos professores, têm por base a experiência desses como docentes, leituras ocasionais e trocas de idéias com colegas e profissionais de outras áreas. As falas indicam certa “fragilidade” quanto às bases teóricas, quanto à relação problemas-causas, indicando tratar-se de opiniões que foram sendo construídas ao longo do tempo e que não possuem respaldo de pesquisas específicas na área. Assim, esse levantamento inicial solicita investigações interdisciplinares posteriores.

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