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2. NATUREZA DA PESQUISA E MÉTODO

2.8 Estratégias de análise

Em uma primeira fase de análise, foram seguidas as estratégias comuns à análise do discurso, como delineadas por Bauer e Gaskell (2003). Primeiramente, as falas dos entrevistados foram transcritas pela pesquisadora, que teve a oportunidade de reviver a cena

da entrevista, possibilitando que aspectos da interação pesquisador-entrevistado fossem relembrados, dando à investigadora nova oportunidade de refletir sobre a fala.

A partir daí, na relação com o texto, emergiram novas articulações conceituais. A busca de sentidos e de compreensão é o sentido amplo da análise. Os dados foram constituídos por meio do que é realmente falado. Temas com conteúdos comuns e suas funções foram procurados.

Foram feitas leituras e releituras do texto completo das entrevistas, incluindo anotações paralelas, que permitiram, ao longo do tempo, a elaboração de sínteses provisórias, de pequenos insights, bem como a visualização de falas dos participantes, referindo-se aos mesmos assuntos. Esses constituíram subcategorias, nomeadas pelos aspectos do fenômeno a que se referem.

A categorização dos dados e a forma particular de agrupamento concretizaram a imersão da pesquisadora nos dados. Essa construção depende da experiência pessoal do investigador, das teorias as quais acessa, de suas crenças e valores. Após a realização da análise de cada entrevista, de cada fala em relação ao todo, e após o confronto dos significados atribuídos aos assuntos, as subcategorias foram agrupadas em grandes temas. Em síntese, elaboraram-se subcategorias a partir da explicitação dos significados, sendo essas agrupadas aos temas referidos para que se pudessem discutir os temas e retornar em um processo circular até que certo nível de exaustão conceitual fosse atingido (SZYMANSKY; ALMEIDA; PRANDINI, 2002).

Assim, essa primeira fase de análise consistiu, após a gravação e transcrição das falas dos entrevistados, na categorização, subcategorização, hierarquização e análise do discurso dos participantes, o que foi realizado pela pesquisadora sem auxílio de software. As grandes categorias foram formuladas a partir dos objetivos específicos norteadores deste trabalho (significados de corpo, problemas, causas, procedimentos e soluções). As subcategorias (relativas às categorias) foram agrupadas de acordo com o contexto a que se referiam (corpo como instrumento, corpo como sujeito, dor, técnicas corporais) As subcategorias foram geradas a partir das falas dos participantes, de acordo com o núcleo temático, e foram hierarquizadas consoante a quantidade de vezes em que as expressões aparecem no discurso. O mesmo procedimento de análise foi realizado nas entrevistas de grupo focal, já que as questões utilizadas como roteiro para esse tipo de entrevista também emergiram dos objetivos específicos (categorização, subcategorização, hierarquização).

Em um segundo momento da análise, as falas já transcritas em formato Word foram ajustadas ao formato de texto, com quebra de linha, para que pudessem ser aplicadas ao

programa de análise de dados – o software Análise Lexical por Conjunto de Segmentos de um Texto (ALCESTE) –, que gera dados qualitativos e quantitativos.

Igualmente como na primeira fase (sem utilização do ALCESTE), também houve categorização (com base nas questões de pesquisa), subcategorização (a partir das falas dos entrevistados) e hierarquização das falas grupais (número de vezes em que as expressões apareceram no discurso) geradas pelo ALCESTE com base nas entrevistas individuais e de grupo focal.

O software ALCESTE fornece os resultados brutos obtidos sobre os textos a partir das entrevistas. O programa pode ser aplicado aos conteúdos ou corpus de diversos tipos de textos, tais como entrevistas, respostas a perguntas abertas ou ainda a conjuntos de artigos ou relatórios. Esse procedimento tem como objetivo metodológico desvelar a informação essencial contida em um texto. Desse modo, o ALCESTE é um software de análise de dados textuais (CARDÉNAS, 2000).

A análise de diálogo, de questões abertas de pesquisas sociais, auto-relatos, entrevistas, romances, entre outros, é realizada de forma automática pelo programa. Trata-se de um método de análise de conteúdo de textos a partir de entrevistas orais abertas, semi-estruturadas, auto-relatos e reportagens. O ALCESTE realiza classificação hierárquica descendente, com o objetivo de extrair os diferentes temas de um texto, bem como as frases que caracterizam cada tema, contextualizando, assim, a fala dos participantes de uma pesquisa em análise.

São considerados as unidades de contexto e os contextos representativos. Esses são classificados pelo software. As unidades de contexto fazem referência ao contexto de uma palavra em um segmento do texto, e o contexto representativo a certa regularidade das unidades de contexto. O ALCESTE gerou grande quantidade de informações, as quais não foram utilizadas totalmente, já que isso implicaria ampliar consideravelmente a análise, não havendo espaço para isso nesta investigação. Assim, os dados gerados pelo ALCESTE não foram aproveitados em todo o seu potencial, tendo sido arquivados para posteriores análises e publicações.

Os quadros 2.1 e 2.2 oferecem um exemplo de como os períodos são formados a partir das palavras mais faladas e formas associadas ao contexto, segundo o tratamento do ALCESTE.

D9 dedo+ : dedo (35), dedos (19) D8 pulso+ : pulso (24), pulsos (1) D7 braço+ : braço (37), braços (3) D7 cima: cima (21)

D7 dor: dor (35)

639 24 A #TENDÊNCIA E QUERER #FAZER AS #DUAS IGUAL. #ENTÃO, SE #VOCÊ #PEDE #PARA #FAZER #COM O #ARCO MAIS #FORTE, #ELES TENDEM A #APERTAR A #MÃO #DIREITA E #APERTAR A #MÃO #ESQUERDA TAMBÉM #NO #VIOLINO, #PORQUE #ESTA #APERTANDO UMA, #ENTÃO #ELES NÃO #CONSEGUEM #SEPARAR.

Quadro 2.2 – Frase/ ALCESTE – EI

Em uma terceira fase, foi realizada a soma dos resultados totais obtidos (freqüências) nas entrevistas individuais, nas entrevistas de grupo focal, e no ALCESTE (entrevistas individuais e de grupo focal), da qual se obteve freqüência e hierarquização final, como demonstrado no APÊNDICE A. Desse modo, para hierarquizar as subcategorias, foram consideradas tanto as falas obtidas na primeira fase quanto na “fase ALCESTE”. A partir da obtenção da freqüência final das subcategorias, quer dizer da hierarquização final dessas, procurou-se aprofundar a análise do discurso dos participantes. Assim, buscou-se trazer à tona, os significados e significantes contidos no discurso dos professores, considerando o contexto onde o discurso foi produzido.

De acordo com Brandão (2002), é necessário considerar algumas dimensões, em se tratando de análise do discurso. Primeiramente, deve-se considerar o quadro das instituições, em que é produzido o discurso, que seriam fatores delimitadores da enunciação. Em segundo lugar, as questões históricas e sociais cristalizadas nos discursos, como também o espaço criado em cada discurso, que faz parte de um interdiscurso. Assim, a prática discursiva também poderia ser explicada por uma competência ideológica, em que estariam implícitas a possibilidade de ações e novas significações.

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