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Mapa 17 RIO VERDE localização de setores nobres e loteamentos fechados de Rio Verde,

2.3 A centralidade regional de Rio Verde em função do agronegócio

2.3.4 Centralidade de Rio Verde no início do século XXI

Em 2007 o IBGE desenvolve o último estudo sobre as Regiões de influência das Cidades (REGIC), publicado em 2008. Após um período de 14 anos, a pesquisa irá retratar

um período de intenso dinamismo populacional e econômico no estado de Goiás, que teve início entre os anos de 1990 e o início do novo século.

Com o apoio do Estado (nos três níveis), empresas diversas são criadas ou transferidas para Goiás, e junto com elas, uma massa de mão de obra migra para essas terras. Rio Verde vive essa realidade mais intensa a partir da década de 1990.

Portanto, seu crescimento é visível em termos populacionais e econômicos, destacando neste último, o crescimento imobiliário, os investimentos empresariais, a ampliação do custo de vida e o aparecimento de algumas mazelas que acompanham tal crescimento. Considerando as transformações no território brasileiro, o IBGE também avançou na sua metodologia conceitual, repensando o conceito dos lugares Centrais de Christaller para um sistema de redes, onde as cidades são os nós.

O estudo de 2007 tem como embasamento teórico Dematteis (1998) e Offner (2000). Este último afirma que convivem dois tipos de sistema urbano, o sistema de localidades centrais, com regiões formadas no entorno dos centros, como apresentou originalmente Christaller, e o sistema reticular, onde a cidade funciona como nó de uma rede mundial, ou seja, um ponto inserido nas redes globais, mais dinâmicos economicamente, tais como as metrópoles.

Nesse contexto de hierarquia e globalização, o REGIC (2007) contribui com uma visão da rede de cidades definidas por um sistema de relações horizontais, não-hierárquicas, de complementaridade e cooperação entre centros do mesmo nível.

Portanto, diante das transformações contemporâneas do Brasil, verificamos que coexistem redes hierárquicas e redes não-hieráquicas, possibilitadas por meio da instalação dos fluxos de informação e controle. Corrêa (2003) em seus estudos sobre a rede urbana brasileira, também, mostra-nos que a gestão pública ou empresarial, mantém o controle e comando dos centros urbanos, por meio de decisões que definem relações e destinam investimentos.

Mas, as cidades, também mantém relações horizontais de complementaridade, definidas por sua especialização produtiva, pela divisão funcional de atividades e pela oferta diferencial de serviços.

Considerando esse fenômeno de subordinação e de cooperação, o IBGE considerou a influência de órgãos do executivo, do judiciário, de grandes empresas e a oferta de ensino superior, serviços de saúde e domínios de internet. A mudança na metodologia revelou redes

que se sobrepõem à divisão territorial oficial, estabelecendo forte influência até mesmo entre cidades situadas em diferentes unidades da federação.

Além disso, para aqueles municípios que não se caracterizaram como centros de gestão, o IBGE investigou as principais ligações de transportes regulares, em particular, as que se dirigem aos centros de gestão e os principais destinos dos moradores locais, para obter produtos e serviços (compras, educação superior, aeroportos, serviços de saúde, aquisição de insumos e destino dos produtos agropecuários).

Na classificação dos centros e de sua área de atuação, foram identificadas 12 redes de primeiro nível, caracterizadas pelas metrópoles que mantêm grande relacionamento entre si, e forte poder de decisão e gestão. Sendo elas divididas em três subníveis: a- Grande metrópole nacional; b- Metrópole nacional e c- Metrópoles.

Goiânia e Manaus, apesar de terem menos de dois milhões de habitantes em 2007, foram incluídas no grupo das metrópoles, por apresentarem porte e projeção nacional que lhes garantem a inclusão neste conjunto. Em termos de abrangência, Goiânia centraliza os estados de Goiás e Tocantins, e ainda partes do Pará, Maranhão, Piauí e Mato Grosso. As demais cidades foram classificadas em quatro níveis de centralidade, divididos em subníveis (Tabela 8).

Tabela 8: Classificação da hierarquia urbana brasileira segundo o IBGE, 2007

Classificação Subníveis Principais cidades e quantidade

Metrópoles

a- Grande metrópole nacional São Paulo

b- Metrópole nacional Rio de Janeiro e Brasília

c- Metrópoles Manaus, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba, Goiânia e Porto Alegre.

Capital Regional

Capital Regional A 11 cidades Capital Regional B 20 cidades Capital Regional C 39 cidades

Centro Sub-regional Centro Sub-regional A Centro Sub-regional B 85 cidades 79 cidades Centro de Zona Centro de Zona A Centro de Zona B 192 cidades 364 cidades

Centro Local - 4.473 cidades

Fonte: IBGE, Regiões de influência das cidades, 2007. (Org.: OLIVEIRA, B. S. de, 2015).

As Capitais regionais incluem as cidades que se relacionam também com o estrato superior da rede urbana, em termos de tecnologia, gestão, informação, comando, no entanto apresentam uma área de influência de âmbito regional, com capacidade de gestão no nível imediatamente inferior ao das metrópoles.

Os subníveis quantificam as cidades por tamanho populacional e relacionamentos regionais, portanto, no nível A, incluem aquelas com até 955 mil habitantes e possuem até 487 relacionamentos, enquanto que o nível B apresenta 435 mil habitantes/406 relacionamentos e o nível C, 250 mil habitantes/162 relacionamentos.

Os Centros sub-regionais, segundo o IBGE (2007), são os centros que possuem atividades de gestão menos complexas, com área de atuação reduzida e com relacionamentos restritos a no máximo, três metrópoles nacionais. Possui presença mais adensada no Nordeste e no Centro-Sul. Nessa categoria, inclui cidades entre 71 e 95 mil habitantes.

Quanto aos Centros de Zona, configuram como cidades de menor porte e com atuação restrita a sua área imediata, entre 23 e 45 mil habitantes; no entanto exercem funções de gestão elementares. Santos (1979) as denominam de “Cidades Locais”, e mostra que são cidades que possuem relativa autonomia regional e conseguem estabelecer um papel de complementaridade com outras da mesma classificação, além de exercer centralidade sobre os Centros locais.

No último nível da classificação da rede urbana, estão os Centros locais, que abarcaram em 2007, a maior parte das cidades brasileiras. Elas se caracterizam como centros em que a centralidade e atuação não extrapolam os limites do seu município, possuem comércio e serviços básicos e têm população inferior a 10 mil habitantes.

No que se refere a nosso objeto de estudo, Rio Verde, analisamos que esse centro se manteve na classificação de Centro Sub-regional (A). No entanto, gostaríamos de fazer algumas comparações com o resultado do REGIC de 1987. Com base na tabela 9, podemos fazer algumas comparações entre as redes apresentadas no REGIC de 1987 e no de 2007.

Tabela 9: Hierarquização dos centros urbanos polarizados por Goiânia, Rio Verde e Jataí em 2007 Metrópole

Nacional Regional Capital Centro Sub Regional Centro de Zona Centros locais

GOIÂNIA

Rio Verde (GO)

-

- Aparecida do Rio Doce (GO) - Cachoeira Alta (GO) - Caçú (GO) - Castelândia (GO) - Itarumã (GO) - Maurilândia (GO) - Montividiu (GO) - Porteirão (GO)

- Santa Helena de Goiás (GO) - Santo Antônio da Barra (GO) - Turvelândia (GO)

Quirinópolis

- Gouvelândia - Paranaiguara - São Simão Jataí (GO) Caiapônia Perolândia

Serranópolis

Em duas décadas, verificamos algumas mudanças na configuração de várias redes:

- Goiânia ascende de Metrópole Regional para Metrópole Nacional em 2007. - Brasília ascende de Centro sub-regional para Metrópole Nacional.

- Jataí perde o posto de Centro Sub-regional e reduz sua área de influência econômica e política. Passa a ser classificado em 2007 como Centro de Zona (A), exercendo influência direta em apenas três municípios.

- Rio Verde se mantém na posição de Centro Sub-regional (A) e amplia consideravelmente sua área de atuação, incorporando a área de influência de Quirinópolis. Ganha influência econômica e política a partir do agronegócio.

- Além de Rio Verde e Jataí, os municípios de Mineiros e Acreúna tornam-se área de influência direta de Goiânia.

- São Simão e Paranaiguara têm influência direta de Quirinópolis e Rio Verde, como também de Ituiutaba e Uberlândia (MG).

Podemos verificar, com base nos estudos do REGIC, que Rio Verde sempre apresentou alguma importância regional, seja ela em escala menor ou maior, devido a seu crescimento populacional, econômico e funcional.

Historicamente, teve menor importância política e econômica que Jataí, explicado pela melhor localização geográfica dessa última, e pela elite política, religiosa (católica) e empreendedora desse local.

Mas, assistimos que a partir da década de 1990, novos fenômenos socioeconômicos vão se desencadeando no Sudoeste Goiano, e também uma elite empreendedora passa a investir maciçamente em Rio Verde; o crescimento populacional e econômico acelera, e o colégio eleitoral passa a eleger representantes políticos de peso regional, para facilitar novas decisões políticas e economias em função da cidade.

Portanto, Rio Verde se configura como um nó articulador e centralizador regionalmente, nos ramos do comércio e serviços, voltados ao consumo produtivo do setor agrícola (produtos e serviços), como também ao consumo consumptivo do setor urbano (educação, saúde, transporte aéreo).

Nesse contexto, destacamos ainda que Jataí perde força política e econômica, mas mantém-se como um dos municípios importantes economicamente no âmbito regional. Mesmo com menor força de centralidade, ainda concentra centros decisórios no segmento da

segurança e na igreja, tais como a Sede da Polícia Rodoviária Federal e a sede da Diocese Católica, que subordina as paróquias do Sudoeste Goiano.

Os estudos das Regiões de Influência (REGIC) nos permitem avaliar que a rede urbana ainda segue uma hierarquia de funções, no entanto não se trata de uma hierarquia engessada; as decisões políticas e econômicas possibilitam mudanças espaciais, possibilitam que centros ganhem novas funções, que fixos do transporte e da comunicação favoreçam novas centralidades ou complementaridades.

Sposito (2001) nos mostra que o centro pode tornar-se múltiplo e a centralidade pode ser redefinida de tempos em tempos segundo os interesses do capital. Esse processo é denominado de centralidade cambiante, que segundo a autora, é resultante não apenas das relações decorrentes da articulação entre o que está fixo e o que está em movimento, mas das variações impressas e expressas nessa articulação no decorrer de determinados intervalos de tempo.

A gestão de investimentos dos grandes centros estão constantemente redirecionando novos fluxos pelo país, e muitos deles estão cada vez mais se instalando em cidades médias de população acima de 100 mil habitantes. Tais investimentos podem, muitas vezes, refuncionalizar alguns centros e/ou potencializar a economia de outros, desencadeando numa reconfiguração das redes locais.

Considerando os diferentes processos decorrentes dos investimentos dos setores público/privado e as possíveis reconfigurações das redes locais, buscaremos avaliar se Rio Verde apresenta uma rede urbana contemporânea distinta daquela apresentada pelo REGIC (2007) num período de 7 anos.

Em outras palavras, buscaremos nessa pesquisa, identificar em campo, por meio de aplicação de entrevista em diferentes setores, se a centralidade que Rio Verde apresenta em 2014 configura numa rede semelhante àquela apresentada pelo IBGE em 2007.

É necessário ressaltar que nossa metodologia é mais simplificada, pois trata-se de um roteiro de entrevista simples aplicado em alguns setores do comércio e de serviços selecionados.

Tomamos como modelo, alguns dos setores investigados pelo próprio IBGE em 2007: comércio (consumo e aquisição de insumos) e serviços (educação superior, serviços de saúde e transporte aéreo). O resultado da configuração dessas pequenas, mas, importantes redes funcionais das cidades médias, será tratado logo mais na seção 3.

Além da apresentação conceitual de cidades médias, teremos como respaldo teórico- metodológico à nossa tese, alguns processos que Rio Verde tem vivenciado, e que nos servirão também de eixos norteadores no decorrer da confirmação da tese. São eles: os resultados da reestruturação produtiva agrícola no campo, e os resultados desse processo na cidade, com destaque para a refuncionalização urbana, a diversificação econômica, a centralização regional contemporânea e a produção do espaço intraurbano.

Esses processos serão discutidos nas seções a seguir, no sentido de confirmar Rio Verde enquanto uma cidade que apresenta características de uma cidade média que se refuncionalizou para o agronegócio, submetendo a transformações de ordem funcional econômica, social e habitacional, impostas pela reestruturação produtiva agrícola.

3 A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA AGRÍCOLA EM GOIÁS E A