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3. PARÂMETROS PARA A SELEÇÃO DE MATERIAIS SUSTENTÁVEIS

3.2. Certificação AQUA

Em 2007, a Fundação Vanzolini (instituição privada, sem fins lucrativos), criada e gerida pelos professores do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) apresentou o AQUA, o primeiro selo de certificação de construções sustentáveis adaptado à realidade brasileira.

O AQUA é uma certificação inspirada na metodologia de certificação Francesa HQE (Haute Qualité Environnemental). Na França, em 2002, foi criado o HQE, conceituado pela ADEME26 (2004 apud MARQUES, 2007) como uma abordagem de gerenciamento de projetos visando diminuir os impactos ambientais, da construção ou da reabilitação de

38 edifícios, levando em consideração também as condições de saúde e conforto no interior da edificação.

O referencial técnico francês, assim como o AQUA, é um dos poucos sistemas a integrar ao desenvolvimento sustentável os aspectos: ambiental, social e econômico. No aspecto ambiental aborda itens como: meio ambiente exterior, emissões ao ar e água, canteiro de obra com poucas interferências. No social os itens relacionados são: conforto e saúde, meio ambiente interior. E no aspecto econômico trata-se da gestão de recursos.

Zambrano (2008) diferencia a metodologia francesa das demais ressaltando que o referencial técnico francês apresenta como objetivo principal o auxílio às diferentes etapas da concepção projetual. Segundo Hetzel27 (2003 apud ZAMBRANO, 2008), seu objetivo principal não é a certificação de edificações, mas sim a promoção de ações voluntárias e o envolvimento de todos os agentes do setor e a certificação é uma opção voluntária. Na metodologia em questão, considera-se todo o processo de concepção e uso e, não apenas o saldo final dos impactos gerados. Dessa forma, essa metodologia possibilita uma avaliação mais criteriosa e subjetiva, pois considera, prioritariamente, o usuário como elemento central na edificação avaliada.

Tal como o selo francês, a metodologia se difere das outras porque avalia o sistema de gestão ambiental implementado pelo empreendedor, além de também avaliar o desempenho arquitetônico e técnico da construção. Segundo Cabreira (2010), a certificação AQUA se baseia no estabelecimento de um perfil ambiental determinado em função das estratégias adotadas para as fases de programa, concepção e realização da obra. O Referencial Técnico de Certificação apresenta as estratégias em que se podem basear: proteção do meio ambiente (preservação de recursos, redução da poluição e dos resíduos), gestão patrimonial (durabilidade, adaptabilidade, conservação, manutenção, custos de uso e operação), conforto e saúde (dos usuários, da vizinhança e do pessoal da obra). A hierarquização das categorias se dá em função dos desafios ambientais estabelecidos segundo a relação existente entre elas e as estratégias determinadas para o empreendimento (FUNDAÇÃO VANZOLINI, 2007).

Comparando-se o referencial HQE com o AQUA percebe-se que algumas recomendações francesas consideradas desfavoráveis não foram incluídas no referencial brasileiro. Nos casos onde se detectou a ausência de regulamentação brasileira sobre um determinado aspecto adotou-se o parâmetro francês ou europeu conforme indicado no referencial francês original, porém alguns itens já contemplados no referencial francês estão

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HETZEL, J. Haute Qualité Environnementale du cadre bâti. Enjeux et pratiques. Saint-Denis de La Plaine: AFNOR, 2003.

39 fora de questão no contexto brasileiro por conta da ausência de dados confiáveis para estabelecimento de estimativas ou por conta de baixos índices de incidência, como é o caso das chuvas ácidas e dos resíduos radioativos, respectivamente (CABREIRA, 2010).

A estrutura de avaliação AQUA fundamenta-se em 14 categorias de preocupações ambientais, (apresentadas no Anexo 1) que agrupam-se em 2 domínios e 4 famílias: (1) controle dos impactos sobre o ambiente exterior, cujas famílias são Eco-construção e Ecogestão e (2) criação de um ambiente interior satisfatório, cujas famílias são Conforto e Saúde. O procedimento inicia-se com a compreensão das especificidades do empreendimento e a criação de seu perfil ambiental através da implementação do Sistema de Gestão do Empreendimento. Esse permite definir a Qualidade Ambiental visada para o edifício onde são elencadas, priorizadas e hierarquizadas as categorias mais e menos impactantes a serem trabalhadas. A partir dessa definição pode-se organizar o empreendimento para atingir os objetivos estabelecidos. Nas etapas posteriores, até a construção e a ocupação da edificação, esse perfil ainda é objeto de controle.

Diferente do LEED, a metodologia AQUA não se baseia num sistema de pontuação. No AQUA, as categorias e subcategorias a elas associadas são analisadas segundo um critério de avaliação relacionado a um indicador ou atendimento do critério de avaliação. No primeiro caso resulta em uma categorização em B (Bom), S (Superior) ou E (Excelente); no segundo caso a preocupação é qualificada pelo nível Atende (A) ou Não Atende (NA) (FUNDAÇÃO VANZOLINI, 2007).

O referencial técnico de certificação AQUA analisado nesse trabalho foi de Edifícios do Setor de Serviços- Escritórios e edifícios escolares. As categorias do referencial da Qualidade Ambiental do edifício, conhecidas também como alvos ou conjunto de preocupações ambientais, foram avaliadas. Nesse estudo foram selecionadas as que estavam diretamente ou indiretamente relacionadas às considerações necessárias durante o processo de especificação dos materiais. O Quadro 3.1 apresenta as principais categorias AQUA e suas subcategorias e preocupações diretamente relacionadas aos critérios de escolha de materiais para construções de alto desempenho.

Quadro 3.1. Categorias AQUA diretamente relacionados à seleção de materiais

Categoria Subcategorias e/ou Preocupações

Escolha integrada de produtos, sistemas e processos construtivos

Escolhas construtivas para a durabilidade e a adaptabilidade da construção- considerar vida útil, adaptabilidade, desmontabilidade, redução de resíduos, escolha de produtos ou sistemas cujas características são verificadas

Escolhas construtivas para a facilidade de conservação da construção- manutenção e fácil conservação.

40 Escolha dos produtos de construção a fim de limitar os impactos socioambientais da construção- preferir materiais regionais (raio de 300 km do empreendimento), madeira certificada, materiais com reuso ou recicláveis no fim da vida útil.

Escolha dos produtos de construção a fim de limitar os impactos da construção à saúde humana- produtos de fontes não tóxicas.

Canteiro de obras com baixo impacto ambiental

Otimização da gestão dos resíduos do canteiro de obras- minimizar a produção de resíduos, beneficiá-los e assegurar a correta destinação. Redução dos incômodos, poluição e consumo de recursos causados pelo canteiro de obras.

Gestão da energia Redução do consumo de energia por meio da concepção arquitetônica- melhorar a aptidão da envoltória para limitar desperdícios de energia, avaliar desempenho energético dos produtos e limitar o consumo de energia no canteiro de obras.

Gestão da água Redução do consumo de água potável- limitar o consumo de água no canteiro de obras.

Gestão dos resíduos de uso e operação do edifício

Otimização da valorização dos resíduos gerados pelas atividades de uso e operação do edifício.

Manutenção – permanência do desempenho ambiental

Escolha de produtos de fácil conservação e escolha de produtos de baixo impacto ambiental e sanitário durante sua fase de uso e operação

Conforto higrotérmico Implementação de medidas arquitetônicas para otimização do conforto higrotérmico. Escolha integrada de produtos, sistemas e processos construtivos: desempenhos higrotérmicos dos produtos.

Conforto acústico Escolha integrada de produtos, sistemas e processos construtivos: desempenhos acústicos dos produtos. Criação de uma qualidade do meio acústico adaptado aos diferentes ambientes- controlar a acústica interna dos ambientes.

Conforto olfativo Controle das fontes de odores desagradáveis- limitar fontes de odores (Não exigido nesta versão- exigência da versão francesa). Escolhas de produtos com baixas emissões de odores.

Qualidade sanitária dos ambientes

Criação de condições de higiene específicas- escolher produtos que restrinjam o crescimento fúngico e bacteriano e que favoreçam as boas condições de higiene (Não exigido nesta versão- exigência da versão francesa).

Qualidade sanitária do ar Limitar fontes de poluição- escolha de produtos com baixas emissões de poluentes para o ar. Emissões químicas (COV e formaldeído) dos produtos /materiais de construção (Não exigido nesta versão- exigência da versão francesa, exceto pelo uso de tintas e adesivos somente à base de água).

Qualidade sanitária da água Escolha dos produtos de construção cujas características são verificadas e em função de critérios de durabilidade e de impactos sanitários. Qualidade e durabilidade dos materiais empregados em redes internas. Fonte: FUNDAÇÃO VANZOLINI, 2007.