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Um certo regime de formas na periferia do capitalismo – ironização das ideias, volubilidade,

CAPÍTULO 1. UM MUNDO DUPLO Um panorama de Esaú e Jacob

1.5. O duplo e a duplicidade a partir das configurações históricas da ironia, da alusão e da

1.5.3. Um certo regime de formas na periferia do capitalismo – ironização das ideias, volubilidade,

A ironia machadiana garante esse tipo de objetividade mediada pelo seu contrário: a subjetividade de um ponto de vista de classe que se autoapresenta como tal, ou que se deixa compreender como tal. Mais ou menos nessa linha que viemos seguindo, desde o ensaio de referência de Antonio Candido nos anos 70, Roberto Schwarz mostrou por meio de reflexões escoradas na história social das formas como se dá o “acerto da composição” machadiana (1990: 194): uma objetividade conseguida através de um narrador volúvel – ironicamente posto em

situação (ib.: 184). Daí a presença poderosa e difusa da matéria social, sem contorno fixado, “a

existência que pesa e influi mas não se vê refletida numa formulação” (ib.: 78). Lá onde falta essa total objetividade construída pela técnica da “ironia”, identifica o crítico, a composição desliza e contradiz seu próprio princípio de composição (cf. ib.: 175-6 e 184). Nesse deslocamento geral leitura de SAFATLE (2008) vai no sentido de identificar (com o apoio de Hegel) a ironia em geral com essa forma de cinismo, para isso prescindindo do giro reflexivo pressuposto por Rongier.

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Friedrich SCHLEGEL, Philosophische Vorlesungen (1804-06) apud Walter BENJAMIN, O conceito de crítica de

motivado pelo capricho, o distanciamento irônico “faz que nada seja o que parece à primeira vista” e o “verbalizado cede o passo à composição” (ib.: 175). Assim,

Trata-se (...) de um livro escrito contra o seu pseudo-autor. (...) a denúncia de um protótipo

e pró-homem das classes dominantes é empreendida na forma perversa da autoexposição ‘involuntária’, ou seja, da primeira pessoa do singular usada com intenção distanciada e inimiga (comumente reservada à terceira). A chave deste procedimento está na insuficiência calculada dos pontos de vista do narrador em relação aos materiais que ele mesmo apresenta. (ib.: 78-9)

Por isso, explica o crítico, a “forma profunda” das Memórias póstumas não corresponde à “forma ostensiva” da volubilidade do narrador (ib.: 78). Antes é constituída pelo deslocamento sofrido pela volubilidade e pelas explicações universalistas correspondentes, “deslocamento devido à presença tácita e sempre poderosa do conjunto das relações sociais”. Isso significa alcançar um nível de reflexão superior, que se dá “fora do âmbito reflexivo do livro” (ib.: 195, grifo nosso), pois “a forma

latente se manifesta pela desqualificação da forma de primeiro plano, reconsiderada à luz da

matéria romanesca” (ib., g.n.). Essa “insuficiência calculada” do ponto de vista demanda como sua regra primeira de leitura, portanto, tirar consequências dos desplantes desse narrador volúvel, o que é feito muito mais por comparação entre a narração e a matéria narrada, em geral sufocada, e só residualmente por meio da “nota ignóbil” da reflexão do narrador (ib.: 66). As ideologias universalistas ou referências convencionais submetem a realidade inteira à satisfação imaginária de sua subjetividade, assentada no poder patriarcal e escravista, permitindo-nos percebê-lo, malgré lui, como “parte facciosa da história” (ib.: 162). Este será, mutatis mutandis, o mesmo princípio de construção (e de leitura crítica) objetivado em Esaú e Jacob. Contrariamente ao que seria de se esperar, a objetividade social do relato é recobrada através da objetivação – sob a moldura vazia do espírito esteticista da virada do século – dessa subjetividade irônica e cínico-reflexiva de primeiro plano. É assim que se pode produzir o elo entre esses dois contextos tão distantes:

A sistematização do impasse moral da elite brasileira, condenada a uma como que ilegalidade estrutural, permitia a Machado a retomada não-esteticista do esteticismo emergente, o qual justamente ensaiava e estilizava o novo assalto às garantias civis burguesas, o mesmo assalto a que noutro plano o Imperialismo começava a dar a manifestação mais espetacular. (...) Machado de Assis pormenorizava e apurava a dimensão não-burguesa da existência burguesa no Brasil, e a estendia ao âmbito da convenção artística, na forma generalizadora da transgressão. Esse passo naturalmente se via facilitado pelas

evoluções antiliberais que na Europa começavam a empurrar em direção da ilegalidade assumida, evoluções de que era possível emprestar ideias e formas ‘adiantadas’. Em

consequência, escravismo e clientelismo não são fixados pelo lado óbvio, do atraso, mas também pelo lado perturbador e mais substantivo de sua afinidade com a tendência nova (ib.: 173-4, grifos nossos).

Poderemos reunir também as duas metades de nossa argumentação teórica: a figura do duplo e sua aclimatação numa ex-colônia periférica como o Brasil. A duplicidade contida na ironia romântica (e que está pressuposta na prosa de Sterne ou Voltaire, na teoria hugoana dos contrastes, em ensaios de Mme. de Staël etc.) pressupõe a constituição social do princípio da subjetividade reflexiva moderna. Ora, aparentemente nada mais estranho a isso do que a matriz social brasileira regida por laços de escravidão, dependência, clientelismo e favor. Isso que faria do duplo uma figura muito difundida mas incompleta no Brasil: face à longa permanência da escravidão, em vez do “excesso ou desmedida da reflexão” como na Europa, teríamos uma “carência ou suspensão da reflexão”, como resultado de uma distinção precária entre o mesmo e o outro, entre a identidade e a alteridade nesta formação híbrida, de tipo liberal-escravista124.

De fato, essa forma tipicamente europeia (na verdade, uma especialidade dialética alemã, àquela altura um país ainda semiburguês e periférico) ecoou tardiamente na periferia brasileira como uma importação algo exótica e postiça, cintilando nas obras de Álvares de Azevedo, Macedo, Alencar125, rondando a crítica literária do tempo (cf. Candido, 2000, v. 2: 301-2; 320), refletindo-se

124 Esta é a opinião de PASTA JR.: “É assim, então, que o duplo se forma no Brasil – como o produto inapreensível de

uma suspensão da reflexão justamente sobre o limite entre o mesmo e o outro, ou entre as exigências de sua distinção e de sua indistinção. É também por isso que o duplo, no Brasil, é mais frequente e mais intenso que alhures e, ao mesmo tempo, não chega nunca às configurações inteiramente nítidas e bem apreensíveis que conheceu em outras literaturas. É por excesso de duplicação que o duplo, aí, não se completa e se furta. Suspenso no jogo infinito dos reflexos – como que aprisionado no espelho – esse duplo é demasiado puro para que se possa desdobrar na polaridade ambígua que caracteriza o duplo inteiramente configurado” (2011: 118-9, Cap. “Singularidade do duplo no Brasil”).

125 Uma pesquisa intertextual minuciosa e mais apurada que a nossa encontraria diversas influências brasileiras

diretamente implicadas em Esaú e Jacob. O que segue são poucas indicações sobre o tema. De Azevedo, poderíamos citar o prefácio da Lira dos vinte anos (texto que Machado tinha em alta conta), o poeta dividido entre Ariel e Caliban, possuído pelas “duas almas” do Fausto, pelos contrastes de Musset, Hugo e Byron (modelo possivelmente usado para a alma fáustica de Flora) etc. como já apontado por SANSEVERINO (1998); ou ainda, a atmosfera perversa, de cisão e luta de morte, partilhada entre os vários duplos de A Noite na Taverna, um deles (um duplo de Bertram) muito próximo eu diria à figura de um velho viajante como o conselheiro Ayres (Cf. AZEVEDO, 2001, p. 51-2). Nos melhores momentos do romance de Alencar, um crítico cuidadoso como CANDIDO (Formação da literatura

brasileira, 2000, vol. 2) descobriu os conflitos ou “desarmonias” internas e externas às suas personagens, plasmados

numa certa “dialética do bem e do mal” etc., e certamente algo da ideia geral aqui presente em que os mortos

governam os vivos, mais o tema do espiritismo, vêm de seu último romance, Encarnação (1893) (Cf. PASTA Jr.,

2008). Em Joaquim M. de MACEDO, uma peça burlesca como A torre em concurso ([1863]/in: Joaquim Manuel de

Macedo - Teatro completo, vol. 1, 1979) traz a disputa entre duas personagens que representam a mesmice política de

liberais e conservadores no Império, esboçando o ambiente político aprofundado pelo conflito de Pedro e Paulo em EJ (Cf. o Prefácio de Márcio J. YUNES ao volume 1, 1979: 18; além da resenha dessa peça feita pelo próprio Machado em “O teatro de Joaquim Manuel de Macedo”, OC, III: 896 e ss.); mas pode-se citar ainda a cisão e a ironia levada ao ápice do cinismo das Memórias do sobrinho do meu tio ([1867-8]/2002), em que o narrador autodiegético, aliás, arranca do Ministro um cargo de diplomacia na Europa, tornando-se presidente de cinco províncias. Quando retorna ao Rio, comenta: “Cheguei transpirando princípios liberais, e máximas severas de moralidade política por todos os poros (...) Estas rápidas metamorfoses se reproduzem constantemente: absolutistas da segunda-feira, republicanos na terça-feira, ministerialistas na véspera do dia de despacho, que desenganou (...)” (ib.: 337-8). MACEDO ainda voltará ao tema da duplicidade da visão de um personagem/narrador em A luneta mágica ([1869]/2001), modelo que será aqui reaproveitado diretamente no capítulo sobre a Epígrafe, como veremos. O tema do duplo, por fim, embasa a teoria e a crítica literária do próprio Machado, que sentiu a presença tardia de Baudelaire, e principalmente de Hugo na Nova

Geração: “o jeito axiomático, a expressão antitética, a imagem viva e rebuscada” da “forma conceituosa” de Hugo,

coisa que às vezes cheirava ao “puro leite romântico” (OC, III); ver também sobre o tema da ironia e as antíteses românticas na literatura brasileira: CANDIDO, 2000, vol. 2.

ainda na primeira fase de Machado de Assis, inicialmente nas crônicas, nos contos, mais tarde no romance, desde Ressurreição (1873). Exótica, pois a princípio seria uma singularidade do intelectual alemão do pré-romantismo, uma consciência infeliz, iludida ou presunçosa vivendo o atraso nacional às margens de uma sociedade industrial europeia em constituição. Mas não havia algo de uma consciência “alienada” e “desterrada no próprio país” também em nossos românticos? Postiça, dissemos também, pois no Brasil serviu como um retalho a mais na costura do figurino romântico, muitas vezes compondo, bem ou mal, o lado ideal e fantasista de enredos, que do contrário estiolariam no chão batido da vida das fazendas, no dia-a-dia prosaico das relações de dependência e escravidão. Bem feitas as contas, ajustando-se o modelo à singularidade da matéria brasileira mais amplamente considerada, as formas do duplo e da ironia romântica poderiam ser muito bem retrabalhadas para exprimir uma consciência cindida entre os dois padrões de sociabilidade antagônicos que nos definiam, porquanto permeava a vida das elites e dos estratos médios. Sobretudo após 1850, o comportamento reflexivo dessas camadas fazia praça, inchava a retórica parlamentar, dotava a imprensa de assuntos polêmicos, alimentava a crônica, o romance e o teatro, entrava no cálculo subjetivo de carreiras públicas ou empresariais, formava e reformava laços de família etc. (Sevcenko, 1983: 27; Needell, 1993). Não teríamos exatamente falta de reflexão, mas dificuldade de determinação prática e concreta dos seus termos numa realidade social gelatinosa e “eternamente” alienada. O excesso de ideias e duplicações, a volubilidade e o constante desrespeito de alguma norma, que modelam todo o mundo ficcional construído pelas Memórias

póstumas de Brás Cubas, conforme a leitura crítica de Schwarz, ligam-se estreitamente a essa nova

dinâmica histórica: “O acento satírico sugere que ciência, política, filosofia etc. aqui não passam de afetação. Nem por isso deixam de ser presenças atuantes, indispensáveis à fisionomia da personagem, que não seria ela mesma se não ambicionasse glória, fortuna, saber e um ministério” (1990: 62). Nesse sentido, apesar do deslocamento histórico das ideias, “Brás encarna perfeitamente

o princípio da subjetividade moderna, que não acata limitações e se sabe intitulada à totalidade do

que o mundo tem a oferecer de mais recente” (ib., g.n.). A relativa transparência da dominação direta brasileira, mediada pela forma-mercadoria totalizada no corpo do escravo, moldava uma

consciência social radicalmente volúvel e ambivalente que poderíamos denominar também radicalmente irônica, oscilando vertiginosamente entre seriedade e frivolidade, entusiasmo e

indiferença, agitação e melancolia, numa perpétua desmoralização da esfera da lei e da ação prática. “O espírito negador” de um sujeito “fáustico” como Brás, completa Schwarz, “embora desrespeitoso de restrições”, “não agride as iniquidades consagradas pela História; mas a julgar pela conduta do memorialista, é certo que livra a classe dominante da obrigação para com os dominados, dando-lhe latitude total à irresponsabilidade” (ib.). Noutros termos, ainda: ideias liberais aqui foram

levadas a sério muito mais como instrumentos diretos de legitimação do comércio e da propriedade mercantil do que como formas de implantação de mecanismos democráticos de poder, que de resto nunca foram efetivos também no centro do capitalismo126. Por fim, a desordem financeira causada pelo Encilhamento parece completar o processo de autonomização de ideias liberais, poder econômico-político e práticas sociais efetivas – um poder ele mesmo altamente ficcionalizado e instável, exercido através da especulação desenfreada com o “capital fictício” (Marx).

Desse modo, “o processo geral de ironização das ideias” do contexto periférico alemão, nos termos de Paulo Arantes (1996: 230), em grande parte também nos concerniria. Lá como cá, desdobrando por nossa conta os estudos sobre as origens dessa dialética truncada, “a ironia consistia antes de tudo numa certa maneira de cortar as asas às ideias”, “na verdade, uma forma singular de conviver com a ‘alienação’”, forjando “um espírito volúvel”, que “manifesta um elevado apreço pela contradição” e que tende a desaguar no “ceticismo” e no “niilismo” (ib.: 240-1). No Brasil, uma consciência desse naipe sempre acusou seu próprio dualismo e incoerência, seu caráter fictício, seu vazio retórico, sua falta de firmeza moral, sua convivência viciosa com a desigualdade e a contradição. Em Ayres, que agora se dá por achado em nosso mapa de formas, tais ideias são descobertas e encobertas praticamente a cada linha; note-se a exatidão machadiana: de um lado, um relator capaz de criar relações, imaginar e reconstruir contextos etc. a fim de descobrir antagonismos. De outro, mas no mesmo movimento, capaz de neutralizar, conciliar e encobrir toda matéria antagônica de que ele mesmo é parte ativa, por fim declarando-se neste ato espúrio enquanto tal: a conciliação irônica forçada do que não tem conciliação. É deste chão social, desta comédia ideológica de segundo grau (como já apontara Schwarz, 2000), que surgem o humor e a

ironia machadiana em Esaú e Jacob. A ironia romântica suprassumida tende a mudar de sinal, revertendo o realismo em seu contrário, em instrumento de dominação127. Contudo, é preciso

distinguir dois planos do processo irônico em Machado, como aprendemos com Schwarz. Se podemos pensar com Safatle em uma condição contemporânea caracterizada pela “ironização

absoluta das condutas e valores” (2008: 16 e 38), no caso do romance, constituindo o cerne das

personagens e do narrador – que tendem à inversão e à perversão de toda a realidade, pois expressariam de fato “estruturas normativas duais” (ib.: 15 e 78-9), isto é, uma espécie de “forma de vida” ela mesma “irônica”, “estetizada”, “cínica” e “pervertida” capaz de tornar toda “contradição

126 Também na Europa e nos Estados Unidos o discurso liberal “reflexivo” serviu como defesa do processo de total

mercantilização da vida e de um Estado oligárquico a ser administrado por um executivo forte de tipo cesarista ou bonapartista, que Domenico Losurdo compreende dentro do amplo contexto das táticas de esvaziamento do sufrágio universal e da democracia popular, controle da imprensa operária, rebaixamento da “multidão criança”, sufocamento implacável de revoltas sociais e instauração de formas veladas de estado de exceção. (Domenico LOSURDO,

Democracia ou bonapartismo – triunfo e decadência do sufrágio universal, 2004, especialmente p. 109 e ss.) 127 Devo em parte essa observação à arguição feita pelo prof. Antonio Sanseverino durante o exame da tese.

posta” em “contradição resolvida” (ib.: 84) – não podemos dizer que o metaplano crítico construído pela enunciação irônica da obra seja incapaz de tematizar objetivamente essa estetização espúria das condutas, essas formas de contradição e negatividade estruturais que jamais se resolvem salvo num plano discursivo puramente ideológico (Rongier, 2007). É nesse sentido que diremos que o narrador eirõn converter-se-á em um alazón.

A certa altura de sua produção literária, o escritor diz claramente não querer “fazer romance de costumes”, mas antes tentar “o esboço de uma situação e o contraste de dous caracteres” (OC, I, 32); um deles (Félix) é descrito como um caráter não “inteiriço”, mas “incoerente e caprichoso, em que se reuniam opostos elementos, qualidades exclusivas, e defeitos inconciliáveis” – um verdadeiro espírito de “duas faces”: “uma natural e espontânea, outra calculada e sistemática” (OC I, 34) etc. Tirante a temática amorosa meio insossa e a reflexão verbosa desse narrador da primeira fase, será esta a célula básica dos romances da segunda, passando a elaborar integralmente não apenas a matéria, mas a forma e o ponto de vista do narrador, que a fará através do modo objetivo da (auto)exposição irônica. Valer dizer: através de um esteticismo corrosivo e degradado, que escarnece do mundo impotente, ao passo que enaltece o poder inconteste da classe dominante. Essa ironia não visa a verdade e a utopia, mas o riso de escárnio. Em Esaú e Jacob essa forma atinge seu “último” estágio, para não dizer o seu zênite. Podemos concluir essa parte do capítulo com a reflexão decisiva de Paulo Arantes, em Sentimento da dialética (1992: 95, g.n.):

Na Europa, a dialética negativa ou inconclusiva dos românticos alemães anunciava o nascimento moderno do sujeito sem tutela, o momento quase libertário de indefinição entre o Antigo Regime agonizante e a nova ordem burguesa ainda não estabelecida. Foi assim com o discurso ilustrado francês – basta pensar em obras-primas do sentimento nascente da dialética como Le Neveu de Rameau e Jacques le Fataliste. Mais adiante, já para o fim deste primeiro período, ela ainda se apresentaria na existência irônica do intelectual de vanguarda, encarnada nos românticos de Iena: a tendência do Witz ao niilismo era a um tempo expressão de uma subjetividade reforçada em sua soberania pela desindentificação irônica com conteúdos positivos e prenúncio de um esvaziamento estetizante que se avizinhava. O

discernimento infalível de Machado levou-o a reanimar esse esqueleto da dialética em estado bruto [a sátira menipeia pressuposta em Diderot e a ironia romântica] na sua dimensão degradada posterior ao contravapor de 1848, depois do fiasco da fraseologia

burguesa, divisando o valor mimético e o alcance crítico da operação.