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characters) e personagens esf3ricas (round characters)

No documento A Personagem de Ficção (páginas 47-62)

s3culo ZQ, e são por %=+es c"amadas tipos, por %=+es caricaturas! $a sua forma mais pura, são construídas em tKrno de uma nica id3ia ou 1ualidade2 1uando "- mais de um fator n=les, temos o com=ço de uma cur%a em direção I esfera! A personagem realmente plana pode ser epressa numa frase, como# L$unca "ei de deiar .r! .ica]berW! Aí est- .rs! .ica]ber! Ela di+ 1ue não deiar- .r! .ica]ber2 de fato não deia, nisso est- ela! 0ais personagens são fIdilmente recon"ecí%eis sempre 1ue surgem2 são, em seguida, fIdilmente lembradas pelo leitor! Permanecem inalteradas no espírito por1ue não mudam com as circunstMnciasO!

As personagens esf3ricas não são claramente definidas por Forster, mas concluímos 1ue as suas características se redu+em essencialmente ao fato de terem tr=s, e não duas dimensJes2 de serem, portanto, organi+adas com maior compleidade e, em conse1=ncia, capa+es de nos surpreender! A pro%a de uma personagem esf3rica 3 a sua capacidade de nos surpreender de maneira con%incente! Se nunca surpreende, 3 plana! Se não con%ence, 3 plana com pretensão a esf3rica! Ela tra+ em si a impre%isibilidade da %ida,  tra+ a %ida dentro das p-ginas de um li%ro

(Ob Cit+

.

6/) 

. Decorre 1ue as personagens

planas não constituem, em si, reali+açJes tão altas 1uanto as esf3ricas, e 1ue rendem mais 1uando cKmicas! >ma personagem plana s3ria ou

tr-gica arrisca tornarNse aborrecida

(Ob cit+

. 7.

8 mesmo Forster, no seu li%rin"o despretensioso e agudo, estabelece uma distinção pitoresca entre a personagem de ficção e a pessoa %i%a, de um modo epressi%o e f-cil, 1ue tradu+ rMpidamente a discussão inicial d=ste estudo! V a comparação entre o

@omo <ictus 

e o

@omo

sa!iens 

.

8

@omo <ictus 

3 e não 3 e1ui%alente ao

@omo sa!iens 

, pois %i%e

segundo as mesmas lin"as de ação e sensibilidade, mas numa proporção diferente e conforme a%aliação tamb3m diferente! Come e dorme pouco, por eemplo2 mas %i%e muito mais intensamente certas relaçJes "umanas, sobretudo as amorosas! Do ponto de %ista do leitor, a importMncia est- na possibilidade de ser ele con"ecido muito mais

cabalmente, pois en1uanto sH con"ecemos o nosso prHimo do eterior, o romancista nos le%a para dentro da personagem, por1ue o

3! E! .! Forster,As!ects o< the 8ovel+ Ed]ard Arnold, )ondon, 4?<?, "".

@@N@X!

seu criador e narrador são a mesma pessoa

(Ob cit+

.

//)

$este ponto tocamos numa das funçJes capitais da ficção, 1ue 3 a de nos dar um con"ecimento mais completo, mais coerente do 1ue o con"ecimento decepcionante e fragment-rio 1ue temos dos s=res! .ais ainda# de poder comunicarNnos =ste con"ecimento! De fato, dada a circunstMncia de ser o criador da realidade 1ue apresenta, o romancista, como o artista em geral, dominaNa, delimitaNa, mostraNa de modo coerente, e nos comunica esta realidade como um tipo de con"ecimento 1ue, em conse1=ncia, 3 muito mais coeso e completo 5portanto mais satisfatHrio7 do 1ue o con"ecimento fragment-rio ou a falta de con"ecimento real 1ue nos atormenta nas relaçJes com as pessoas! Poderíamos di+er 1ue um "omem sH nos 3 con"ecido 1uando morre! A morte 3 um limite definiti%o dos seus atos e pensamentos, e depois dela 3 possí%el elaborar uma

inter!reta-.o 

completa, pro%ida de mais lHgica, mediante a 1ual a pessoa nos aparece numa unidade satisfatHria, embora as mais das %=+es arbitr-ria! V como se c"eg-ssemos ao fim de um li%ro e apreend=ssemos, no conBunto, todos os elementos 1ue integram um ser! Por isso, em certos casos etremos, os artistas atribuem apenas I arte a possibilidade de certe+a,  certe+a interior, bem entendido! V notadamente o ponto de %ista de Proust, para 1uem as relaçJes "umanas, os mais íntimos contatos de ser, nada mostram do semel"ante, en1uanto a arte nos fa+ entrar num domínio de con"ecimentos absolutos!

Estabelecidas as características da personagem fictícia, surge um problema 1ue Forster recon"ece e aborda de maneira difusa, sem formulação clara, e 3 o seguinte# a personagem de%e dar a impressão de

%i%o, isto 3, manter certas relaçJes com a realidade do mundo, participando de um uni%erso dc ação e de sensibilidade 1ue se possa e1uiparar ao 1ue con"ecemos na %ida! Poderia então a personagem ser transplantada da realidade, para 1ue o autor atingisse =ste al%o Por outras pala%ras, podeNse copiar no romance um ser %i%o e, assim,

a!roveitar 

integralmente a sua realidade $ão, em sentido absoluto! Primeiro, por1ue 3 impossí%el, como %imos, captar a totalidade do modo de ser duma pessoa, ou se1uer con"ec=Nla2 segundo, por1ue neste caso se dispensaria a criação artística2 terceiro, por1ue, mesmo se fKsse possí%el, uma cHpia dessas não permitiria a1u=le con"ecimento específico, diferente e mais completo, 1ue 3 a ra+ão de ser, a

 Bustificati%a e o encanto da ficção!

Por isso, 1uando toma um mod=lo na realidade, o autor sempre acrescenta a =le, no plano psicolHgico, a sua incHgnita pessoal, graças I 1ual procura re%elar a incHgnita da pessoa copiada! $outras pala%ras, o autor 3 obrigado a construir uma eplicação 1ue não corresponde ao mist3rio da pessoa %i%a, mas 1ue 3 uma interpretação d=ste mist3rio2 interpretação 1ue elabora com a sua capacidade de clari%id=ncia e com a onisci=ncia do criador, soberanamente eercida! Qoltando a Forster, registremos uma obser%ação Busta# Se a personagem de um romance 3, eatamente, como a rain"a QitHria, 5não parecida, mas eatamente igual7, então ela 3 realmente a rain"a QitHria, e o romance, ou tKdas as suas partes 1ue se referem a esta personagem, se torna uma monografia! 8ra, uma monografia 3 "istHri-, baseada em pro%as! >m romance 3 baseado em pro%as, mais ou menos 2 a 1uantidade descon"ecida 3 o temperamento do romancista, e ela modifica o efeito das pro%as, transformandoNo, por %=+es, inteiramente

(Ob cit+

. 44.

Em conse1=ncia, no romance o sentimento da realidade 3 de%ido a fatKres diferentes da mera adesão ao real, embora =ste possa ser, e efeti%amente 3, um dos seus elementos! Para fa+er um ltimo ap=lo a Forster, digamos 1ue uma personagem nos parece real 1uando o romancista sabe tudo a seu respeito, ou d- esta impressão, mesmo

1ue não o diga! V como se a personagem fKsse inteiramente eplic-%el2 e isto l"e d- uma originalidade maior 1ue a da %ida, onde todo con"ecimento do outro 3, como %imos, fragment-rio e relati%o! Daí o confKrto, a sensação de poder 1ue nos d- o romance, proporcionando a eperi=ncia de uma raça "umana mais maneB-%el, e a ilusão de perspic-cia e poder

(Ob cit+

. 62! $a %erdade, en1uanto na eist=ncia 1uotidiana nHs 1uase nunca sabemos as causas, os moti%os profundos da ação, dos s=res, no romance =stes nos são des%endados pelo romancista, cuBa função b-sica 3, Bustamente, estabelecer e ilustrar o BKgo das causas, descendo a profundidades re%eladoras do espírito!

Estas consideraçJes 5baseadas em Forster, ou d=le prHprio7 nos le%am a retomar o problema de modo mais preciso, indagando# $o processo de in%entar a personagem, de 1ue maneira, o autor manipula a realidade para construir a ficção A resposta daria uma id3ia da medida em 1ue a

personagem 3 um ente

re!rodu5ido 

ou um ente

inventado 

. 8s casos

%ariam muito, e as duas alternati%as nunca eistem em estado de pure+a! 0al%e+ con%iesse principiar pelo depoimento de um romancista de t3cnica tradicional, 1ue %= o problema de maneira mais ou menos simples, e mesmo es1uem-tica! E o caso de François .auriac, cuBa obra sKbre =ste problema passo agora a epor em resumo ! Para =le, o grande arsenal do romancista 3 a memHria, de onde etrai os elementos da in%enção, e isto confere acentuada ambigidade Is

personagens, pois elas não

corres!ondem 

a pessoas %i%as, mas

nascem

delas! Cada escritor possui suas fiaçJes da memHria 1ue preponderam nos elementos transpostos da %ida! Di+ .auriac 1ue, n=le, a%ulta a fiação do espaço2 as casas dos seus li%ros são prIticamente copiadas das 1ue l"e são familiares! $o 1ue toca Is personagens, toda%ia, reprodu+ apenas os elementos circunstanciais 5maneira,

profissão etc!72 o essencial 3 sempre in%entado!

.as 3 Bustamente aí 1ue surge o problema# de onde parte a in%enção Tual a substMncia de 1ue são feitas as personagens Seriam, por eemplo, proBeção das limitaçJes, aspiraçJes, frustraçJes do

romancista $ão, por1ue o princípio 1ue rege o apro%eitamento do real 3 o da

modi<ica-.o 

, seBa por acr3scimo, seBa por deformação de

pe1uenas sementes sugesti%as! 8 romancista 3 incapa+ de reprodu+ir a %ida, seBa na singularidade dos indi%íduos, seBa na coleti%idade dos grupos! Ele começa por isolar o indi%íduo no grupo e, depois, a paião no indi%íduo! $a medida em 1ue 1uiser ser igual I realidade, o romance ser- um fracasso2 a necessidade de selecionar afasta dela e le%a o romancista a criar um mundo prHprio, acima e al3m da ilusão de fidelidade!

$este mundo fictício, diferente, as personagens obedecem a uma lei prHpria! São mais nítidas, mais conscientes, t=m contKrno definido,  ao contr-rio do caos da %ida  pois "- nelas uma lHgica pr3N estabelecida pelo autor, 1ue as torna paradigmas e efica+es! 0oda%ia, segundo .auriac, "- uma relação estreita entre a personagem e o autor! Este a tira de si 5seBa da sua +ona m-, da sua +ona boa7 como reali+ação de %irtualidades, 1ue não são proBeção de traços, mas sempre modificação, pois o romance transfigura a %ida!

4. François .auriac, La 4omancier et ses Personnages , Vditions Corr=a,

Paris, 4?6:!

O %ínculo entre o autor e a sua personagem estabelece um limite I possibilidade de criar, I imaginação de cada romancista, 1ue não 3 absoluta, nem absolutamente li%re, mas depende dos limites do criador! A partir de tais id3ias de .auriac, poderNseNia falar numa lei de constMncia na criação no%elística, pois as personagens saem necessIriamente de um uni%erso inicial 5as possibilidades do romancista, a sua nature+a "umana e artística7, 1ue não apenas as limita, mas d- certas características comuns a tKdas elas! 8 romancista 5di+ .auriac7 de%e con"ecer os seus limites e criar dentro d=les2 e isso 3 uma condição de angstia, impedindo certos %Kos son"ados da imaginação, 1ue nunca 3 li%re como se supJe, como ele prHprio supJe!  0al%e+ cada escritor procure, atra%3s das suas di%ersas obras, criar um tipo ideal, de 1ue apenas se aproima e de 1ue as suas personagens

não passam de esboços!

(aseado nestas consideraçJes, .auriac propJe urna classificação de personagens, le%ando em conta o grau de afastamento em relação ao ponto de partida na realidade#

4! Disfarce le%e do romancista, como ocorre ao adolescente 1ue 1uer eprimirNse! SH 1uando começamos a nos desprender 5en1uanto escritores7 da nossa prHpria alma, 3 1ue tamb3m o romancista se configurar em nHs

(Ob cit+

. 7.  0ais personagens ocorrem nos romancistas memorialistas!

:! CHpia fiel de pessoas reais, 1ue não constituem prJpriamente criaçJes, mas reproduçJes! 8correm estas nos romancistas retratistas! O!

nventadas 

, a partir de um trabal"o de tipo especial sKbre a

realidade! V o caso d=le, .auriac, segundo declara, pois n=le a realidade 3 apenas um dado inicial, ser%indo para concreti+ar %irtualidades imaginadas! $a sua obra 5di+ =le7 "- uma relação in%ersamente proporconal entre a fidelidade ao real e o grau de elaboração! As personagens secund-rias, estas são, na sua obra,

co!iadas 

de s=res eistentes!

V curioso obser%ar 1ue .auriac admite a eist=ncia de personagens reprodu+idas fielmente da realidade, seBa mediante proBeção do mundo íntimo do escritor, seBa por transposição de modelos eternos! $o entanto, declara 1ue a sua maneira 3 outra, baseada na in%enção! 8ra, não se estaria ele iludindo, ao admitir nos outros o 1ue não recon"ece na sua obra E não seria a terceira a nica %erdadeira modalidade de criar personagens %-lidas $este caso, de%eríamos recon"ecer 1ue, de maneira geral, sH "- um tipo efica+ de personagem, a

inventada 

; mas

1ue esta in%enção mant3m %ínculos necess-rios com uma realidade matri+, seBa a realidade indi%idual do romancista, seBa a do mundo 1ue o cerca2 e 1ue a realidade b-sica pode aparecer mais ou menos elaborada, transformada, modificada, segundo a concepção do escritor, a sua tend=ncia est3tica, as suas possibilidades criadoras! Al3m disso, con%3m notar 1ue por %=+es 3 ilusHria a declaração de um criador a respeito da sua prHpria criação! le pode pensar 1ue copiou 1uando

in%entou2 1ue eprimiu a si mesmo, 1uando se deformou2 ou 1ue se deformou, 1uando se confessou! >ma das grandes fontes para o estudo da g=nese das personagens são as declaraçJes do romancista2 no entanto, 3 preciso consider-Nlas com precauçJes de%idas a essas circunstMncias!

8 nosso ponto de partida foi o conceito de 1ue a personagem 3 um

ser 

fictício2 logo, 1uando se fala em

c"!ia 

do real, não se de%e ter em mente uma personagem 1ue fKsse igual a um ser %i%o, o 1ue seria a negação do romance! Da1ui a pouco, %eremos como se resol%e o problema aparentemente paradoal da personagemNserNfictício, mesmo 1uando copiada do real! $o momento, assinalemos 1ue, tomando o deseBo de ser fiel ao real como um dos elementos b-sicos na criação da personagem, podemos admitir 1ue esta oscila entre dois pHlos ideais# ou 3 uma transposição fiel de modelos, ou 3 uma in%enção totalmente imagin-ria! São =stes os dois limites da criação no%elística, e a sua combinação %ari-%el 3 1ue define cada romancista, assim como, na obra de cada romancista, cada uma das personagens! - personagens 1ue eprimem modos de ser, e mesmo a apar=ncia física de uma pessoa eistente 5o romancista ou 1ual1uer outra, dada pela obser%ação, a memHria7! SH poderemos decidir a respeito 1uando "ou%er indicação fora do prHprio romance,  seBa por informação do autor, seBa por e%id=ncia document-ria! Tuando elas não eistem, o problema se torna de solução difícil, e o m-imo a 1ue podemos aspirar 3 o estudo da tend=ncia geral do escritor a =ste respeito! Assim, diremos 1ue a obra de Vmile /ola, por eemplo, parece baseada em obser%açJes da %ida real, mesmo por1ue isto 3 preconi+ado pela est3tica naturalista 1ue ele adota%a2 ou 1ue os romances indianistas de os3 de Alencar parecem baseados no trabal"o li%re da fantasia, a partir de dados gen3ricos, o 1ue se coaduna com a sua orientação romMntica! Al3m daí, pouco a%ançaremos sem o material informati%o mencionado acima! E 3  Bustamente esta circunstMncia 1ue nos le%a a constatar 1ue o problema 51ue estamos debatendo7 da origem das personagens 3 interessante para o estudo da t3cnica de caracteri+ação, e para o estudo da relação

entre criação e realidade, isto 3, para a prHpria nature+a da ficção2 mas 3 secund-rio para a solução do problema fundamental da crítica, ou seBa, a interpretação e a an-lise %alorati%a de cada romance concreto! Feitas essas ressal%as, tomemos alguns casos de romancistas 1ue deiaram elementos para se a%aliar o mecanismo de criação de personagens, pois a partir d=les podemos supor como se d- o fenKmeno em geral!

Qeremos uma gama bastante etensa de in%enção, sempre bali+ada pelos dois tipos polares acima referidos, 1ue podemos

es1uemati+ar, entre outros, do seguinte modo#

4! Personagens transpostas com relati%a fldelidade de modelos dados ao romancista por eperi=ncia direta,  seBa interior, seBa eterior! 8 caso da eperi=ncia interior 3 o da personagem

 !roetada 

, em 1ue o escritor

incorpora a sua %i%=ncia, os seus sentimentos, como ocorre no

Adol<o 

,

de (enBamin Constant, ou do

9enino de Engenho 

, de os3 )ins do

R=go, para citar dois eemplos de nature+a tão di%ersa 1uanto possí%el! 8 caso da eperi=ncia eterior 3 o da transposição de pessoas com as 1uais o romancista te%e contato direto, como 0olstoi, em

uerra e Pa5 

,

retratando seu pai e sua mãe, 1uando moços, respecti%amente em $icolau Rostof e .aria (ol&ons&i!

:! Personagens transpostas de modelos anteriores, 1ue o escritor reconstitui indiretamente,  por documentação ou testemun"o, sKbre os 1uais a imaginação trabal"a! Para ficar no romance citado de 0olstoi, 3 o caso de $apoleão , 1ue estudou nos li%ros de "istHria2 ou de seus a%Hs, 1ue reconstruiu a partir da tradição familiar, e são no li%ro o %el"o Conde Rostof e o %el"o Príncipe (ol&ons&i! A coisa pode ir muito longe, como se %= na etensa gama da ficção "istHrica, na 1ual Yalter Scott pKde, por eemplo, le%antar uma %isão arbitr-ria e epressi%a de Ricardo Coração de )eão!

O! Personagens construídas a partir de um mod=lo real, con"ecido pelo escritor, 1ue ser%e de eio, ou ponto de partida! 8 trabal"o criador

desfigura o mod=lo, 1ue toda%ia se pode identificar,  como 3 o caso de  0om-s de Alencar

n'Os 9aias 

, de Eça de TueirHs, baseado no poeta

(ul"ão Pato, bem distante d=le como compleo de personalidade, mas recon"ecí%el ao ponto de ter dado lugar a uma %iolenta pol=mica entre o mod=lo, ofendido pela caricatura, e o romancista, negando tIticamente 1ual1uer ligação entre ambos!

<! Personagens construídas em tKrno de um mod=lo, direta ou indiretamente con"ecido, mas 1ue apenas 3 um preteto b-sico, um estimulante para o trabal"o de caracteri+ação, 1ue eplora ao m-imo as suas %irtualidades por meio da fantasia, 1uando não as in%enta de maneira 1ue os traços da personagem resultante não poderiam, l[gicamente, con%ir ao modelo! $o caso da eploração imagin-ria de %irtualidades, teríamos o c3lebre .r! .ica]ber, do

David Co!!er<ield 

,

de Dic&ens, relacionado ao pai do romancista, como =ste prHprio declarou, mas afastado d=le a ponto de serem inassimil-%eis um ao outro! $o entanto, sabemos 1ue o %el"o Dic&ens, pomposo, %erboso, prHdigo, estHico nas suas desditas de inepto, bem poderia ter %i%ido as %icissitudes da personagem, com a 1ual partil"a, inclusi%e, o fato "umil"ante da prisão por dí%idas, 1ue marcou para todo sempre a sensibilidade do romancista! .as noutros casos, o ponto de partida 3 realmente apenas estímulo inicial, e a personagem 1ue decorre nada tem a %er l[gicamente com =le! V o 1ue ocorre com o 1ue "- do seminarista (ert"et no ulien Sorel, de Stend"al, em

O Vermelho e o

8egro 

; ou, na

Cartu=a de Parma+

do mesmo escritor, com as sementes

de Aleandre Farn3sio 1ue, etraídas de crKnicas do s3culo ZQ, compJem o temperamento de Fabri+io del Dongo!

#. Personagens construídas em tKrno de um mod=lo real dominante,

1ue ser%e de eio, ao 1ual %=m BuntarNse outros modelos secund-rios, tudo refeito e construído pela imaginação! V um dos processos normais de Proust, como se %erifica no (arão de C"arlus, inspirado sobretudo em Robert de .ontes1uiou, mas tcebendo elementos de um tal (arão Doa+an, de 8scar Yilde, do Conde Aimer' de )a Roc"efoucauld, do prHprio romancista!

@! Personagens elaboradas com fragmentos de %-rios modelos %i%os, sem predominMncia sensí%el de uns sKbre outros, resultando uma personalidade no%a,  como ocorre tamb3m em Proust! V o caso de Robert de SaintN)oup, inspirado num grupo de amigos seus, mas diferente de cada um, embora a maioria de seus traços e gestos possam ser referidos a um d=les e a combinação resulte original 5modelos identificados# Gaston de Cailla%et, (ertrand de F3nelon, .ar1u=s de Albufera, Georges de )auris, .anuel (ibesco e outros7! X! Ao lado de tais tipos de personagens, cuBa origem pode ser traçada mais ou menos na realidade, 3 preciso assinalar a1uelas cuBas raí+es desaparecem de tal modo na personalidade fictícia resultante, 1ue, ou não t=m 1ual1uer mod=lo consciente, ou os elementos e%entualmente tomados I realidade não podem ser traçados pelo prHprio autor! Em tais casos, as personagens obedecem a uma certa concepção de "omem, a um intuito simbHlico, a um impulso indefiní%el, ou 1uais1uer outros estímulos de base, 1ue o autor corporifica, de maneira a supormos uma esp3cie de ar1u3tipo 1ue, embora nutrido da eperi=ncia de %ida e da obser%ação, 3 mais interior do 1ue eterior! Seria o caso das personagens de .ac"ado de Assis 5sal%o, tal%e+ as

d'O 9emorial de

No documento A Personagem de Ficção (páginas 47-62)