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Vida , de 0ennessee Yilliams, ou mesmo do narrador puro e

No documento A Personagem de Ficção (páginas 68-75)

simples, 1ue se aceita e se apresenta como tal, de

8ossa Cidade 

, de

 0"ornton Yilder, peça 1ue por abranger a %ida de tKda uma comunidade durante alguns dec=nios dificilmente poderia ser escrita a

não ser lançandoNse mão de recursos narrati%os!

Como caracteri+ar, em teatro, a personagem 8s manuais de

 !la:%riting 

indicam tr=s %ias principais# o 1ue a personagem re%ela sKbre si mesma, o 1ue fa+, e o 1ue os outros di+em a seu respeito! Qamos eaminar sucintamente cada caso, procurando sempre isolar o elemento específico ao teatro!

A primeira solução sH oferece algum inter=sse, alguma dificuldade de ordem t3cnica, 1uando se trata de tra+er I tona =sse mundo semiN submerso de sentimentos e refleJes mal formuladas 1ue não c"egamos a eibir aos ol"os al"eios ou do 1ual nem c"egamos a ter plena consci=ncia! $o romance 3 possí%el apan"ar =sse fluo da consci=ncia, 1ue alguns críticos apontam como o aspecto mais característico da ficção do s3culo %inte , 1uase em sua fonte de origem, na1uele estado bruto, incoerente, fragment-rio, descrito pelos psicHlogos# foi, como se sabe, a proe+a reali+ada por ames o'ce no ltimo e famoso capítulo de

l:sses 

. $o teatro, toda%ia, tornaNse necess-rio, não sH tradu+ir em

pala%ras, tornar consciente o 1ue de%eria permanecer em semiconsci=ncia, mas ainda comunic-Nlo de algum modo atra%3s do di-logo, B- 1ue o espectador, ao contr-rio do leitor do romance, não tem acesso direto I consci=ncia moral ou psicolHgica da personagem! CompreendeNse, pois, 1ue o teatro não seBa o meio mais apropriado para in%estigar as +onas obscuras do ser# 3 difícil imaginar, por eemplo, um

romance como

2uincas *orba

transposto para o palco sem perder a

5. )eon Edel, 1he 9odern Ps:chological 8ovel , Gro%e Press nc!$e] or&,

p!? $a p! 4X! o autor comenta os solilH1uios de S"a&espeare e, na p! 6X, a peça

Strange nterlude .

sua imponderabilidade, a sua atmosfera feita menos de fatos do 1ue de sugestJes, de coisas 1ue temos o cuidado de não definir com clare+a nem a nHs mesmos!

$ão se conclua, por3m, 1ue o teatro, apesar de tais restriçJes, não ten"a conseguido criar no passado alguns instrumentos capa+es de eecutar, com maior ou menor delicade+a, =sse trabal"o de prospecção interior! 0r=s, pelo menos, pela fre1=ncia com 1ue foram utili+ados durante s3culos, merecem um ligeiro coment-rio# o confidente, o aparte e o monHlogo!

8 confidente 3 o desdobramento do "erHi, o

alter ego 

, o empregado ou

o amigo perfeito perante o 1ual deiamos cair as nossas defesas, confessando inclusi%e o inconfess-%el! P"`dre, desfalecente de amor e de %ergon"a, apHiaNse em 8enone em sua paião culpada por ippol'te! Como escre%eu eanN)ouis (arrault, En trag3die, le personnage est I son confident ce 1ue lW"omme est I son double! (... 8enone est le mau%ais g3nie de P"3dre2 cWest son d3mon2 sa %aleur noire 6 $o aparte o confidente somos nHs# por con%enção, sH o pblico ou%e as ma1uinaçJes em %o+ alta de ago ou de Scapin! Daí o seu aspecto algo ridículo "oBe em dia, 1uando o realismo introdu+iu outros "-bitos de pensar, outras con%ençJes, e em sentido contr-rio Is anteriores# pela teoria da 1uarta parede dos naturalistas, tanto o dramaturgo corno os atKres de%em proceder eatamente como se não "ou%esse pblico! De resto, o aparte Bamais eerceu funçJes de grande transcend=ncia# recurso fa%orito da farsa e do melodrama, o seu fim, %ia de regra, era menos analisar as personagens do 1ue pre%enir o pblico 1uanto ao

andamento presente ou futuro da ação, não o deiando e1ui%ocarNse com refer=ncia ao sentido real da cena! 8 1ue não impediu 1ue Eugene 8W$eill fi+esse d=le um uso

6.  ean Racine, PhJdre , mise en scWne et commentaires de eanN)ouis

(arrault, Vditions du Senil, p! ;X!

altamente re%elador, reintegrandoNo em sua categoria de con%enção tão til  ou tão arbitr-ria  1uanto 1ual1uer outra, desde 1ue o escritor ten"a a coragem de o impor ao pblico, apresentandoNo

sem subterfgios! Em

Strange nterlude

as personagens eprimemNse

sempre em dois planos, completando o di-logo com o monHlogo interior, 1ue 3 falado em aparte, seBa em outro tom, seBa atra%3s de microfone, segundo a fHrmula adotada pela encenação! 8 intuito 3 semel"ante ao de

l:sses+

sKmente 1ue com uma inclinação decidida para o lado da psican-lise, 1ue acabara de entrar na moda 5o romance 3 de 4?::, a peça de 4?:;7, mas os resultados não coincidem# pela necessidade de se fa+er entender de imediato pelo pblico, sem os %agares e a atenção dispensada I leitura, 8W$eill foi obrigado a dar muito maior coer=ncia lHgica ao discurso interno, pouco diferenciandoNo do eterno a não ser pelo contedo e por uma certa indeterminação da forma 7. A eperi=ncia 3 interessante, ao tentar pela primeira %e+ na "istHria do teatro pKr I mostra sistemIticamente a face oculta da personagem, mas não foi al3m dKs limites de um ac"ado pessoal feli+, ao contr-rio do 1ue sucedeu no romance, onde a t3cnica do fluo da consci=ncia incorporouNse em definiti%o aos outros recursos epressi%os, como coroamento natural de uma tend=ncia introspecti%a 1ue B- %in"a de longe!

Tuanto ao monHlogo, ao solilH1uio pr[priamente dito, se partirmos do princípio, como fa+ o realismo moderno, de 1ue a personagem est- efeti%amente sK+in"a, em con%ersa consigo mesma, de acKrdo com a etimologia da pala%ra, não "- d%ida de 1ue sH podemos admitiNlo em casos especiais, como 3 o de

A 9orte do Cai=eiro?Viaante 

, de Art"ur

6 >m amplo panorama da influ=ncia eercida pela psican-lise sobre o teatro norteN americano 3 traçado em# Y! Da%id Sie%ers, reud on *road%a: . A "istor' of ps'c"oanal'sis and t"e american drama, ermitage ouse, $c] or&, 4?66!Strange nterlude 3 analisada principa"nente nas pp! 446N44?!

neios solit-rios de Yill' )oman são o sintoma mais gra%e de sua incipiente desagregação mental! .as não era assim, e%identemente, 1ue o interpreta%am os autores dos s3culos ZQ e ZQ, período em 1ue o monHlogo alcançou o seu ponto de maior prestígio! 8 teatro cl-ssico franc=s, tão apegado a supostas %erossimil"anças, aceitouNo sem restriçJes! As estrofes em 1ue Cid desfia as ra+Jes prH e contra a sua possí%el ação contra D! Di`gue nada t=m da incoer=ncia da di%agação pessoal e tudo de um eposição oratHria sIbiamente dosada! - bem mais prHimos da marc"a real do pensarnento, com as suas %acilaçJes e incerte+as, mas sem perder com isso a sua bele+a retHrica, estão os monHlogos de S"a&speare, um dos 1uais, 0o be or not to be, gra%ouNse mesmo na imaginação popular como o eemplo mais perfeito da refleão po3tica sKbre o "omem! 8 monHlogo, em tais momentos pri%ilegiados, ultrapassa de muito o 1uadro psicolHgico 1ue l"e deu origem, sabendo os autores cl-ssicos, sem 1ue ningu3m o ti%esse estabelecido, 1ue o %erdadeiro interlocutor no teatro 3 o pblico!  0odos =sses mecanismos de re%elação interior, não obstante o papel 1ue

representaram e ocasionalmente ainda representam, parecem ter 1ual1uer coisa de artificial, de estran"o I norma do teatro! 8 contr-rio diríamos da segunda maneira de caracteri+ar a personagem# pelo 1ue ela fa+! A ação 3 não sH o meio mais poderoso e constante do teatro atra%3s dos tempos, como o nico 1ue o realismo considera legítimo! Drama, em grego, significa etimol[gicamente ação# se 1uisermos delinear dramIticamente a personagem de%emos aterNnos, pois, I esfera do comportamento, I psicologia etrospecti%a e não introspecti%a! $ão importa, por eemplo, 1ue o ator sinta dentro de si, %i%a, a paião 1ue l"e cabe interpretar2 3 preciso 1ue a interprete de fato, isto 3, 1ue a eteriori+e, pelas infleJes, por um certo timbre de %o+, pela maneira de andar e de ol"ar, pela epressão corporal etc! Do mesmo modo, o autor

tem de eibir a personagem ao pblico, transformando em atas os seus estados de espírito! Alguns teHricos c"egam inclusi%e a definir o teatro como a arte do conflito 8, por1ue s[mente o c"o1ue entre dois temperamentos, duas ambiçJes, duas concepçJes de %ida, empen"ando a fundo a sensibilidade e o car-ter, obrigaria tKdas as personalidades submetidas ao confronto a se determinarem totalmente! Esta seria a função do antagonista, bem como das personagens c"amadas de contraste, colocadas ao lado do protagonista para darNl"e rel=%o mediante o BKgo de lu+ e sombra# Antígone não seria ela mesma, ou não apareceria como tal, se não ti%esse de se medir contra a prepot=ncia de Creon e a passi%idade de smene! Ação, entretanto, não se confunde com mo%imento, ati%idade física# o sil=ncio, a omissão, a recusa a agir, apresentados dentro de um certo conteto, postos em situação 5como diria Sartre7 tamb3m funcionam dramIticamente! 8 essencial 3 encontrar os episHdios significati%os, os incidentes característicos, 1ue fiem obBeti%amente a psicologia da personagem! EplicaNse, assim, a importMncia 1ue o enr=do assume em teatro, certamente muito maior do 1ue no romance2 como se eplica igualmente por 1ue alguns romancistas 1ue amaram e corteBaram o teatro 5(al+ac, /ola, enr'  ames são ecelentes eemplos7 Bamais conseguiram obter =ito de palco# mestres da narrati%a, não souberam adaptarNse I linguagem da ação! Por outro lado, esta mesma eig=ncia da dramaticidade fa+ com 1ue a %ocação dramatrgica se apresente 1uase sempre como um talento peculiar, uma "abilidade

8. Em# (arrett ! Clar&, Euro!ean 1heories o< the Drama , Cro]n

Publis"ers, $e] or&, 4?<X, podeNse acompan"ar a elaboração da lei do conflito, desde (runeti`re 50"e )a] of t"e Drama, p! <<7 at3 o"n o]ard )arson 50"e )a] of t"e Conflict p! #$%), passando por enr' Art"ur ones, Yilliam Arc"er, (rander

.att"e]s e George Pierce (a&er! 8 li%ro de (arrett Clar&, 1ue rene autores desde os gregos at3 os modernos, 3 indispens-%el, como ponto de partida, para 1ual1uer estudo sKbre teoria teatral!

sui generis 

, le%ando Aleandre Dumas Fil"o a obser%ar 1ue >n

"omme sans aucune %aleur comme penseur, comme moraliste, comm p"iosop"e, comme 3cri%ain, peut donc =tre un "omme de premier ordre comme auteur dramati1ue, cWest I dire comme metteur en oeu%re des

mou%ements purement et3rieurs de lW"omme .

8utro fator a considerar com refer=ncia I ação 3 o tempo! A peça de teatro completa "abitualmente o seu ciclo de eist=ncia em apenas duas ou tr=s "oras! 8 ritmo do palco mant3mNse sempre acelerado# paiJes surgem I primeira %ista, odiosidades crescem, tra%amNse batal"as, perdemNse ou gan"amNse reinados, cometemNse assassínios, tudo em alguns poucos minutos peBados de acontecimentos e emoção! ste tempo característico do teatro não poderia deiar de influir sKbre a conformação psicolHgica da personagem, es1uemati+andoNa, realçandoN l"e os traços, fa%orecendo antes os efeitos de fKrça 1ue os de delicade+a   e nem por outro moti%o a pala%ra teatral passou a ter o sentido de

eag=ro B- prHimo da caricatura! 8 palco, como obser%ou Qictor ugo, 3 um espel"o de concentração 1ue congrega e condensa os raios luminosos, fa+endo dWune lueur une lumi=re, dWune lumi`re une flamme 1. -, bem entendido, autores 1ue primam pelo subentendido, pelas meiasNtintas, mas dão sempre, como 0c"e&o%, a impressão de "a%erem triunfado sKbre as limitaçJes do prHprio teatro, não sabemos por interm3dio de 1ue sortil3gio!

A necessidade de não perder tempo, somada I in3rcia do ator e ao deseBo de entrar em comunicação instantMnea com o pblico, desen%ol%eram no teatro uma predileção particular pelas personagens padroni+adas! $ão "- d%ida de 1ue o lugarNcomum 3 uma tentação permanente em tKdas as artes! .as tal%e+ "aBa

. Aleandre Dumas Fils, 1h>atre Com!let , a%ec pr3faces in3dites, O9

%olume, CalmanN)3%', Vditeur, Paris, 4;?, p! :4!

1. Qictor ugo, Oeuvres , tomo primeiro, Crom%ell , Q%e! AdreNoussilau Vditeur,

no teatro alguma coisa a mais, uma tend=ncia para se cristali+ar em tKrno de fHrmulas, uma propensão ao formalismo# compareNse, por eemplo a rigide+ do teatro '-+))i'o, com os seus preceitos imut-%eis  a distinção de g=neros, a lei das tr=s unidades, a di%isão em cinco atos   com a fluide+, a liberdade, a aus=ncia de regras 1ue sempre

%igoraram no romance! sso nos aBudaria a compreender fenKmenos tão curiosos como a Farsa Atelana e a Commedia DellWArte, nas 1uais as personagens, entendidas como indi%idualidades, foram inteiramente substituídas, durante s3culos, por m-scaras ar1u3tipos cKmicos tradicionais! Seriam produtos etremos dessa estran"a propriedade 1ue o palco sempre te%e de engendrar uma biotipologia "umana especial! Assim 3 1ue no (rasil do s3culo passado uma compan"ia 1ue dispusesse de um certo nmero de

em!lois 

  o galã, a ing=nua, o pai nobre, a dama galã, a dama central, o cKmico, a dama caricata, o tirano 5ou o cínico7, a lacaia 11  esta%a em condiçJes de interpretar 1ual1uer personagem# tKdas as %ariantes redu+iamNse, em ltima an-lise, a =sses modelos ideais! E era tão forte o ap=go I tradição 1ue as plat3ias protesta%am se por acaso o %ilão do melodrama não entra%a em cena como de costume, pisando na ponta dos p3s e erguendo com o braço es1uerdo a capa sKbre os ol"os! 8 ritual tin"a a sua utilidade por1ue marca%a de início, simb[licamente, a significação psicolHgica e moral dapersonagem!

RestaNnos analisar o terceiro modo de con"ecimento da personagem  pelo 1ue os outros di+em a seu respeito! $ada "- de rele%ante a obser%ar, eceto 1ue o autor teatral, na medida em 1ue se eprime atra%3s das personagens, não pode deiar de l"es atribuir um

11. Essa classificaç-o corresponde aos títulos dos capítulos de uma das seçJes do li%ro aleria 1heatral , Esboços e Caricaturas, Rio de aneiro, 4;;<! 8 seu autor, 1ue assina Gr'p"us, 3 o Bornalista os3 Al%es Qisconti Coarac'!

grau de consci=ncia crítica 1ue em circunstMncias di%ersas elas não teriam ou não precisariam ter!

8 problema começou a se colocar com agude+a no s3culo de+eno%e, dado 1ue as 3pocas anteriores não fec"a%am por completo o camin"o I eposição das id3ias do autor# se Vs1uilo e SHfocles %aliamNse do cKro, como %imos, um S"a&espeare ou um Corneille não "esita%am em carregar as personagens com as suas prHprias meditaçJes, enri1uecendoNas, ele%andoNas de ní%el 12. 8 realismo moderno, ao contr-rio, condena a personagem a ser nicamente ela mesma, epulsando o autor de cena, relegandoNo aos bastidores, onde de%e permanecer in%isí%el e em sil=ncio! (aia em conse1=ncia o

tonus

"umano do teto# B- não se trata de representar "erHis, s=res ecepcionais, e sim pobresN diabos 1ue não merecem Is %=+es a simpatia nem se1uer do autor! A reação %eio com a peça de tese, 1ue reintrodu+iu subNrept^ciamente o autor sob as %estes do

No documento A Personagem de Ficção (páginas 68-75)