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re<er;ncia , estabelecimento de relação entre um traço e outro traço,

No documento A Personagem de Ficção (páginas 62-66)

para 1ue o todo se configure, gan"e significado e poder de con%icção! De certo modo, 3 parecido o trabal"o de compor a estrutura do romance, situando ade1uadamente cada traço 1ue, mal combinado, pouco ou nada sugere2 e 1ue, de%idamente

convencionali5ado 

, gan"a todo o seu

poder sugesti%o! Cada traço ad1uire sentido em função de outro, de tal modo 1ue a %erossimil"ança, o sentimento da realidade, depende, sob =ste aspecto, da unificação do fragment-rio pela organi+ação do

conteto! Esta organi+ação 3 o elemento decisi%o da %erdade dos s=res fictícios, o princípio 1ue l"es infunde %ida, calor e os fa+ parecer mais coesos, mais apreensí%eis e atuantes do 1ue os prHprios s=res %i%os!

/ PER0O/E O E/RO

5Pag! ;47

As semel"anças entre o romance e a peça de teatro são Hb%ias# ambos, em suas formas "abituais, narram uma "istHria, contam alguma coisa 1ue supostamente aconteceu em algum lugar, em algum tempo, a um certo nmero de pessoas! A partir d=sse ncleo, muitas %=+es proporcionado pela %ida real, pela "istHria ou pela legenda, 3 possí%el imaginar algu3m 1ue escre%a indiferentemente um romance ou uma peça, conforme a sua formação ou a sua inclinação pessoal! $ão 3 raro, ali-s, %er adaptaçJes do romance ao palco2 e se a recíproca não 3 %erdadeira, de%eNse isso, pro%I%elmente, antes de mais nada a moti%os de ordem pr-tica!

.as o 1ue nos interessa no momento são as diferenças  e a personagem, dc certa maneira, %ai ser o guia 1ue nos permitir- distinguir os dois g=neros liter-rios! $o romance, a personagem 3 um elemento entre %-rios outros, ainda 1ue seBa o principal! Romances "- 1ue t=m nomes de cidades

(4oma+

e o-a ou 1ue pretendem apan"ar um segmento da %ida social de um país

(EA+

e 9o!& o) Pa))o)

ou mesmo de uma +ona geogrIficamente delimitada (0o

orge de

lh>us+

e 9or%e /mao, não 1uerendo, ao menos em princípio, centrali+ar ou restringir o seu inter=sse sKbre os indi%íduos! $o teatro, ao contr-rio, as personagens constituem prIticamente a totalidade da obra# nada eiste a não ser atra%3s delas! 8 prHprio cen-rio se apresenta não poucas %=+es por seu interm3dio, como acontecia no teatro isabelino, onde a e%ocação dos lugares da ação era feita menos pelos elementos materiais do palco do 1ue pelo di-logo, por essas

luuriantes descriçJes 1ue S"a&espeare tanto aprecia%a! E isso tra+ imediatamente I memHria a frase de um espectador em face do palco 1uase %a+io de uma das famosas encenaçJes de ac1ues Copeau# como não "a%ia nada 1ue %er, %iamNse as pala%ras! Com efeito, "- tKda uma corrente est3tica moderna, baseada em ilustres precedentes "istHricos, 1ue procura redu+ir o cen-rio 1uase I neutralidade para 1ue a soberania da personagem se afirme ainda com maior pure+a! Em suma, tanto o romance como o teatro falam do "omem  mas o teatro o fa+ atra%3s do prHprio "omem, da presença %i%a e carnal do ator! Poderíamos di+er a mesma coisa de outra maneira, B- agora começando a aprofundar um pouco mais essa %isão sint3tica inicial, notando 1ue teatro 3 ação e romance narração AristHteles, em sua

Po>tica 

, foi 1uem

primeiro colocou a 1uestão nesses t=rmos, ao coteBar o poema 3pico 51ue sob =ste aspecto se assemel"a ao romance7 com a trag3dia# Efeti%amente, com os mesmos meios pode um poeta imitar os mesmos obBetos, 1uer na forma narrati%a 5assumindo a personalidade de outrKs, como fa+ omero, ou na prHpria pessoa, sem mudar nunca7, 1uer mediante tKdas as pessoas imitadas, operando e agindo elas mesmas!

(... Donde %em o sustentarem alguns 1ue tais composiçJes se denominam dramas, pelo fato de imitarem agentes 1  8utra tradução em portugu=s 3 ainda mais eplícita 1uanto ao ltimo par-grafo# Daí %em 1ue alguns c"amam a essas obras dramas, por1ue fa+em aparecer e agir as prHprias personagens 2

A personagem teatral, portanto, para dirigirNse ao pblico, dispensa a mediação do narrador! A "istHria não nos 3 contada mas mostrada como se fKsse de fato a prHpria realidade! Essa 3, de resto, a %antagem específica do teatro, tornandoNo particularmente persuasi%o Is pessoas sem imaginação suficiente para transformar, idealmente, a narração em ação# frente ao palco, em confronto direto com a personagem, elas são por assim di+er obrigadas a acreditar nesse tipo de ficção 1ue l"es entra pelos ol"os e pelos ou%idos! Sabem disso os pedagogos, 1ue tanta importMncia atribuem ao teatro infantil, como o sabiam igualmente os nossos Besuítas, ao lançar mão do palco para a

cate1uese do gentio!

- muitos modos de conceber o narrador no romance! Enumeramos alguns, não para esgotar o assunto, mas sKmente para estabelecer as bases de uma comparação ainda mais estreita entre romance e teatro! 8 narrador, por ecel=ncia, tal%e+ seBa o dominante no romance do s3culo ZZ, o narrador impessoal, pretensamente obBeti%o, 1ue se comporta como um %erdadeiro Deus, não sH por "a%er tirado as personagens do nada como pela onisci=ncia de 1ue 3 dotado! ele est- em todos os lugares ao mesmo tempo, abarca com o seu ol"ar a totalidade dos acontecimentos, o passado como o presente, 3 ele 1uem descre%e o ambiente, a paisagem, 1uem estabelece as relaçJes de causa e efeito 1uem analisa as personagens 5re%elandoNnos coisas 1ue Is %=+es elas mesmo descon"ecem7, 3 ele 1uem discorre sKbre os mais %ariados assuntos 5lembremoNnos das intermin-%eis consideraçJes marginais de  0olstoi em

A uerra e a Pa5 

), carregando o romance de mat3ria etraN

1! AristHteles! Po>tica+ , tradução direta do grego com introdução e índices, por Eudoro de Sousa, Guimarães e Cia! EditKra, )isboa, p! X!

2. AristHteles, Arte 4et"rica e Arte Po>tica+ tradução de AntKnio Pinto de Car%al"o, Cl-ssicos Garnier da Difusão Europ3ia do )i%ro, São Paulo, p! 4X:!

est3tica, dandoNl"e o seu sentido social, psicolHgico, moral, religioso ou filosHfico! Dessa concepção olímpica do narrador, podeNse descer at3 %ersJes bem mais delimitadas e modestas, como o narradorN testemun"a ( 

Carmen 

, de .erim3e7 ou o narradorNpersonagem ( 

H la

No documento A Personagem de Ficção (páginas 62-66)