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As alterações cíclicas que ocorrem no endométrio constituem o ciclo uterino, comumente referido como o ciclo menstrual, porque é a menstruação o fenômeno mais conspícuo.

A parede uterina consta de três camadas (Figura 1.17 A):

Uma serosa

Uma espessa porção de músculo liso – o miométrio

Uma estrutura interna – o endométrio. Durante a fase secretória do ciclo menstrual, há também três camadas no endométrio (Figura 1.17 B e C):

Camada compacta, fina, superficial, formada por células do estroma, densamente

arranjadas em torno das porções vizinhas às glândulas endometriais

Camada esponjosa, espessa, edemaciada, contendo glândulas dilatadas e tortuosas

Camada basal, fina, que não apresenta edema ou hipertrofia e contém as porções distais das

A camada basal tem sua própria vascularização e não se destaca na menstruação. A compacta e a esponjosa, ao contrário, desprendem-se durante o catamênio ou após o parto, e, em razão disso, constituem, conjuntamente, a camada funcional.

Figura 1.17 A. Secção frontal do útero mostrando as três camadas: serosa, miométrio e endométrio. B. Pormenores da área delimitada em A. C. Mesmo esquema sob outra interpretação. (id. ibid.)

Os hormônios ovarianos causam alterações cíclicas nas estruturas do aparelho genital, notadamente no endométrio. O ciclo menstrual pode ser dividido em 4 fases (Figura 1.14):

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Fase menstrual: o 1o dia da menstruação é contado como o início do ciclo. A camada funcional do endométrio descama-se e é expelida durante o sangramento, que normalmente ocorre a cada 28 dias e dura de 3 a 5 dias

Fase proliferativa ou folicular: os estrogênios determinam a recuperação do endométrio, o

crescimento glandular e a multiplicação das células do estroma

Fase secretória ou progestacional: a progesterona induz o entortilhamento das glândulas, que

passam a segregar em abundância, e o edema do estroma

Fase isquêmica ou pré-menstrual: se o óvulo não é fertilizado, o corpo lúteo degenera, os

efeitos progestacionais declinam e surgem alterações vasculares acentuadas que ocasionam a isquemia da camada funcional.

À menstruação, segue-se novo ciclo uterino. Antes de completar-se a fase menstrual, o FSH induz o desenvolvimento de outro grupo de folículos, iniciando mais um ciclo ovariano, com os estrogênios recomeçando a exercer os seus efeitos no endométrio.

Em caso de gravidez, o ciclo menstrual não se completa, mas se continua com o ciclo gravídico. Finalizada a gestação, realizado o parto e completada a involução puerperal, os ciclos ovariano e uterino ressurgem, após intervalo variável.

Após os 40 anos de idade, os ciclos sexuais ainda se sucedem nitidamente, embora muitos deles não mais ovulatórios, e, entre 48 e 55 anos, encerra-se definitivamente a vida reprodutora da mulher, fato que se exibe ostensivamente pela cessação da função menstrual (menopausa).

Fecundação

Na sequência de fenômenos que se originam das gametogêneses masculina e feminina e culminam na fecundação, destacam-se:

Inseminação: deposição do sêmen na vagina. Os gametas masculinos assim liberados já

alcançaram plena maturidade, são espermatozoides. As divisões de maturação, redutoras, transformaram os espermatogônios, células diploides, 44 + XY, em espermatócitos, células haploides, 22 + X ou 22 + Y (Figura 1.18). Os espermatócitos evoluem para espermátides. Há, portanto, espermatozoides de dois tipos.

A espermatogênese dá-se, em média, no prazo de 75 dias. Em outras palavras, qualquer que seja a idade do homem, seus espermatozoides têm sempre 2 meses e meio

Ascensão dos espermatozoides pelo aparelho genital feminino: cerca de 300 milhões de

espermatozoides são depositados no fundo de saco posterior da vagina, durante o coito, próximo ao orifício externo do útero. Impulsionados por movimentos das próprias caudas, transitam através do canal cervical, embora o percurso pelo útero e pelas tubas se faça principalmente pela contração da musculatura desses órgãos. Espermatozoides podem ser encontrados no muco cervical 90 s depois da ejaculação e no local da fecundação, a ampola

espermatozoides a penetrarem na tuba não sejam capazes de fecundar, papel desempenhado por aqueles que guardados no muco cervical seriam liberados posteriormente. Em consequência da ação letal da secreção vaginal, ácida, e da insuficiência dos mecanismos de transporte, menos de 200 espermatozoides conseguem chegar às tubas.

Na ovulação, as oogônias, diploides 44 + XX, durante a vida fetal, proliferam por mitoses

reducionais e passam a oócitos I (Figura 1.18), que, rodeados por camada de células da granulosa, constituem os folículos primários.

Ao contrário do que se dá no homem, a oogênese é um processo extremamente lento. As oogônias são formadas exclusivamente durante a vida intrauterina; no feto, os oócitos I iniciam a divisão de maturação antes do nascimento, mas não se completa a prófase, que ocorrerá somente após a puberdade, precedendo imediatamente a ovulação, que é singular, em cada ciclo. Assim, o óvulo de uma adolescente de 14 anos tem essa idade ou um pouco mais, uma vez que, ao nascer, as células germinativas contavam já alguns meses; pela mesma razão, o óvulo de uma mulher de 40 anos tem 40 anos ou ligeiramente mais. Justifica-se a afirmação de que o homem, jovem ou idoso, tem espermatozoides invariavelmente jovens, enquanto a mulher, independentemente da fase de sua vida, gera óvulos “velhos”. O fenômeno tem consequências clínicas.

Em virtude do amadurecimento do folículo, o oócito I adquire membrana – zona pelúcida –, e, como foi referido, precedendo, de perto, a ovulação, completa-se a primeira divisão de

maturação ou meiose. O oócito II recebe todo o citoplasma e o primeiro corpúsculo polar quase

nada, acabando, mais tarde, por se degenerar (Figura 1.18). O núcleo do oócito II inicia a segunda divisão de maturação, que progride, todavia, só até a metáfase, em que a divisão é paralisada. Se a fertilização ocorre, a segunda divisão de maturação se completa e novamente o óvulo maduro recebe a maioria do citoplasma, e a outra célula, o segundo corpúsculo polar, pequena, logo se desintegra.

Figura 1.18 ■ Espermatogênese e oogênese. O complemento cromossômico está indicado a cada estágio. Após divisões de maturação, o número diploide de cromossomos (46) é reduzido para o número haploide (23). Enquanto quatro espermatozoides se formam apenas de um espermatócito, um só óvulo resulta de um oócito. (id., ibid.)

O óvulo, liberado no momento da ovulação, está cercado pela zona pelúcida e pela camada de células da granulosa nomeada coroa radiada. A respeito dos cromossomos sexuais, ao contrário dos espermatozoides, há apenas um tipo X, de tal modo que os óvulos são sempre 22 + X.

Em geral, cerca de 1 a 2 milhões de oócitos estão presentes nos ovários de recém-nascida, mas a maioria regride durante a infância, permanecendo à puberdade apenas 300 mil. Desses, somente 1 em cada mil alcança plena maturidade e é expulso durante a ovulação. Todos os oócitos restantes degeneram, à medida que os folículos que os contêm tornam-se atrésicos, isto é, regridem.

Transporte do óvulo. Após a ovulação, o óvulo está cercado pelas células da granulosa que aderem à superfície do ovário até serem finalmente captadas pelas fímbrias da tuba uterina (Figura 1.15 A). As células da granulosa proporcionam contato indispensável para que os cílios, existentes em determinadas células do epitélio das fímbrias, impulsionem o óvulo para dentro do

infundíbulo da tuba. O transporte ulterior do óvulo para a ampola (Figura 1.17 A) ocorre em minutos ou horas, e o fator responsável por isso é a contração da musculatura tubária, cabendo ao aparelho ciliar o papel menor.

Vitalidade das células germinativas. Os espermatozoides parecem reter a capacidade de fertilização por 24 a 48 h e o óvulo apenas por 12 a 24 h.

Capacitação e reação acrossômica. Antes de o espermatozoide fecundar o óvulo, deve sofrer alteração fisiológica nomeada capacitação (perda da camada protetora) e outra estrutural, a reação acrossômica (Figura 1.19). A reação acrossômica é caracterizada pelo aparecimento de pequena perfuração na parede do acrossoma por onde saem as enzimas que digerem a coroa radiada e a zona pelúcida, favorecendo o percurso do espermatozoide no interior do óvulo. Fenômenos importantes em diversas espécies animais parecem ter pouca relevância no homem.

Fecundação (fertilização ou concepção) é a fusão dos gametas, células haploides,

restabelecendo o número diploide de cromossomos e constituindo o ovo ou zigoto (Figura 1.20). A fusão de espermatozoide 22 + Y com óvulo, esse sempre 22 + X, resulta em um ovo 44 + XY, cuja evolução natural será a formação de indivíduo masculino. Se o espermatozoide for 22 + X, o zigoto será 44 + XX, e o indivíduo, feminino.

Os principais tempos de fecundação são:

O espermatozoide atravessa a coroa radiada e penetra na zona pelúcida, auxiliado pela ação

das enzimas liberadas no acrossoma (Figura 1.19 B). Embora diversos espermatozoides possam atravessar a zona pelúcida, em condições normais apenas um atinge o óvulo e o fertiliza

Figura 1.19■ Esquema ilustrativo da reação acrossômica e da penetração do espermatozoide no óvulo. O detalhe ampliado da área delimitada em A vê-se em B, em que: 1, espermatozoide após a capacitação; 2, espermatozoide durante a reação acrossômica; 3, espermatozoide percorrendo seu caminho pela ação de enzimas liberadas pelo acrossoma; 4, fusão do espermatozoide com o óvulo. (id., ibid.)

A cabeça do espermatozoide liga-se à superfície do óvulo (Figura 1.19 B); a união da membrana celular é de tal ordem que as duas células ficam conjugadas dentro de envoltório único

A célula sexual feminina reage ao contato do espermatozoide de duas maneiras: (1) ocorrem

alterações na zona pelúcida e na membrana celular que inibem a entrada de outros espermatozoides (liberação de grânulos pelo citoplasma ovular); (2) o oócito II completa a

segunda divisão de maturação e expele o segundo corpúsculo polar (Figura 1.20 B). O óvulo está, então, maduro, e seu núcleo é conhecido como pronúcleo feminino (Figura 1.20 B)

Uma vez no interior do citoplasma ovular, o espermatozoide rapidamente perde a cauda e sua cabeça aumenta de tamanho para formar o pronúcleo masculino (Figura 1.20 C). O oócito contendo dois pronúcleos haploides é chamado de oótide

Os pronúcleos feminino e masculino se aproximam no centro do óvulo, onde ficam em

contato, perdem as membranas nucleares e fusionam seus cromossomos (Figura 1.20 D), constituindo o ovo (Figura 1.20 E).

Figura 1.20 Esquema ilustrativo da fecundação. A. Oócito II prestes a ser fecundado (são vistos apenas 6 dos 23 pares cromossômicos). B. A coroa radiada desapareceu; um dos espermatozoides penetrou no óvulo e a segunda divisão de maturação ocorreu. C. A cabeça do espermatozoide constitui o pronúcleo masculino. D. Os pronúcleos se fundem. E. Formação do ovo que se prepara para a segmentação. (id.,

ibid.)