• Nenhum resultado encontrado

A formação inicial dos professores da área de CNT tem sido realizada de diferentes formas ao longo dos últimos vinte anos22. As diferenças impactam diretamente no trabalho em sala de aula, conforme apresenta Maldaner (2003). De acordo com o autor, os modelos de formação inicial que privilegiam conteúdos específicos sobre os pedagógicos limitam a atuação do professor em sala de aula e “em situação prática de ensino, o professor não terá

disponível um conhecimento profissional peculiar” (2003, p. 45). Essa realidade, ainda muito presente nos cursos de formação inicial no Brasil “leva os professores a negarem a validade de sua formação na Graduação” (MALDANER, 2003, p. 45).

Tendo como objeto de pesquisa o processo dos Ciclos Formativos, compreendo a importância de, além de conhecer o espaço-tempo em que se formou o grupo no projeto, identificar o percurso histórico de formação dos integrantes. A realização do presente estudo é nutrida pela ideia de que os EP dos professores em formação (inicial e continuada) se desenvolvem a partir de uma coesão histórica, pois “alguma coisa de cada estilo de pensamento permanece” (FLECK, 2010, p. 150). Com isso, destaco a importância em empreender estudos acerca da formação inicial dos sujeitos, a fim de identificar aspectos que possam contribuir para o desenvolvimento do CP. Para tanto, nesta parte do estudo apresento dados que foram obtidos por meio da realização de um questionário semiestruturado aos professores de Educação Básica e formadores dos Ciclos Formativos, no ano de 2015 (APÊNDICE 1).

Com as informações obtidas busco revelar características do grupo de formadores e dos professores da educação básica que venham contribuir à pesquisa. Nesse caso, priorizaram-se os aspectos relacionados à formação inicial e características atinentes ao início da docência na educação básica.

No decorrer do ano de 2015, o projeto contou com a presença de convidados externos ao GEPECIEM, aqui denominados de colaboradores. Houve um total de treze colaboradores, que se encontram integrados a outros grupos e/ou instituições de ensino, todos pesquisadores na área do ensino de Ciências, com vínculos de amizade junto aos integrantes do GEPECIEM. A presença dos professores colaboradores ocorreu de forma esporádica no grupo, sendo que em cada encontro havia a presença de um ou dois.

Os professores formadores (vinculados ao GEPECIEM), num total de sete, eram responsáveis pelo planejamento e organização das ações a serem realizadas nos encontros. O grupo era formado por três professores com Licenciatura em Ciências Biológicas, sendo um com formação também em curso de bacharelado; um professor com licenciatura em Física; e outros três licenciados em Química. Dos sete formadores, quatro possuem pós-graduação stricto-sensu em curso de Doutorado, sendo que os demais na modalidade de Mestrado, todos na área do ensino ou educação em Ciências. Um dos formadores apresenta experiência em docência no ensino superior maior que dez anos, os demais atuam nesse nível de ensino há menos tempo. Todos ministraram aulas na educação básica em pelo menos dois anos, sendo

apenas um com experiência exclusiva no ensino médio, os demais atuaram tanto no ensino médio como no fundamental.

As percepções compartilhadas quanto ao processo de inserção na escola básica, após a realização da graduação, acenam para duas categorias distintas de compreensão da realidade inicial vivenciada, uma tendo como referência as dificuldades a serem superadas e a outra numa perspectiva de oportunidade, momento de inovar e aprender sempre. Destaco que dois professores formadores fazem parte do grupo dos Ciclos desde 2010, um a partir de 2012 e outros quatro tiveram a experiência somente com o grupo separado, pois estão inseridos no projeto desde 2013.

Quanto aos professores da educação básica, a quantidade de participantes teve alterações no decorrer dos encontros, sendo que a média de participação foi de trinta e três professores. Dezessete responderam ao questionário, sendo que nove possuem licenciatura em Biologia, três professores com habilitação para Matemática no ensino fundamental e Física no ensino médio, três com formação em licenciatura em Química, e dois professores com formação em Ciências Físicas e Biológicas na modalidade curta, um plenificou em Biologia na sequência do curso e outro realizou a plenificação em Química, nove anos após a primeira etapa. Em seus compartilhamentos quanto ao processo de iniciação à docência, relatam a importância da formação continuada que estão vivenciando e explicitam a sensação de isolamento na escola quando iniciaram a atividade docente.

Para caracterizar os licenciandos, os dados não foram obtidos por meio do questionário, conforme os demais sujeitos. Nesse caso, realizei o levantamento da participação e selecionei os sujeitos, que estiveram presentes em todos os encontros, para o processo de análise. Na sequência, separei os nomes conforme a matrícula no curso de graduação correspondente, bem como se realizaram o processo de migração23 ou não.

No decorrer do presente estudo, o projeto teve a participação de uma média de 110 licenciandos, os quais são oriundos dos cursos de Química Licenciatura, Física Licenciatura e Licenciatura em Ciências Biológicas. Do curso de Ciências Biológicas houve uma representatividade maior de licenciandos durante os encontros, tendo em vista a participação de dois grupos vinculados ao PIBID Ciências Biológicas. Dos demais cursos havia apenas um grupo de cada. É importante considerar que o curso que habilita para ministrar aulas de Biologia é realizado durante o dia, com ingresso de até 60 alunos anualmente, enquanto os cursos de Química e Física Licenciatura ocorrem no período da noite, com ingresso de até 30

23 O processo de migração mencionado refere-se à escolha realizada pelos licenciandos, oriundos do curso de

alunos por ano. Do total de participantes licenciandos havia no grupo alguns oriundos do antigo curso de Ciências24, que realizaram a migração após o processo de reestruturação ocorrido ao final do ano de 2012, o qual contava com a participação de uma média de quinze licenciandos.

A formação inicial dos participantes dos Ciclos Formativos e suas percepções com relação ao processo de iniciação à docência revelam características significativas. Os professores formadores e os professores da educação básica aproximam-se quanto à formação inicial, pois alguns realizaram a graduação na mesma instituição, ou seja, tiveram os mesmos professores e apresentam perspectivas muito próximas sobre o trabalho docente. Com relação ao processo de iniciação à docência, as colocações divergem, os professores formadores reconhecem as dificuldades, porém demonstram aspectos positivos, como por exemplo, as possibilidades de aprendizagem. Enquanto que os professores da educação básica expressam problemas e frustrações e remetem à importância do compartilhamento de práticas por meio do processo de formação nos Ciclos.

Nas escritas dos professores da educação básica e dos professores formadores repete- se a palavra investigação. O conceito remete à perspectiva de trabalho que está sendo realizado nos encontros desde 2010 e passou a fazer parte do dia a dia dos participantes. Compreendo que o conceito aproxima e caracteriza as ações do grupo. Assim, cabe, neste momento, tratar da perspectiva da IA defendida pelo grupo, no qual estou incluída. Reitero a importância desse trabalho para a constituição do grupo e na sequência destaco minhas compreensões acerca dessa temática.