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Nessa parte aceno para a importância em apresentar o processo vivenciado por mim, pois a experiência é o que dá sentido à escrita (LARROSA, 2015). Destaco o percurso de formação inicial compartilhado com colegas que também escolheram a área de CNT como espaço profissional e, nesse relato, retomo aspectos do meu passado, a fim de oportunizar aos leitores deste texto, especialmente aos que apresentam formação na área, que possam encontrar também as suas origens.

Quando iniciei minha trajetória escolar, a escola encontrava-se regida pela Lei 5.692/71, a qual determinava as diretrizes da Educação Nacional no Brasil - LDB. No que se refere à formação de professores, a primeira LDB, nº 4024/61, resolvia em seu artigo 59 que ela era realizada “nas faculdades de filosofia, ciências e letras e a de professores de disciplinas específica de ensino médio técnico em cursos especiais de educação técnica” (BRASIL, 1961). Já a LDB de 1971 organizava a educação básica em dois graus de ensino, sendo o 1º grau organizado em oito anos e o 2º grau em três anos. Para a formação de professores, a referida lei apresentava em seu artigo 29 que

a formação de professores e especialistas para o ensino de 1º e 2º graus será feita em níveis que se elevem progressivamente ajustando-se às diferenças culturais de cada região do País, e com orientação que atenda aos objetivos específicos de cada grau, às características das disciplinas, áreas de estudo ou atividades e às fases de desenvolvimento dos educandos (BRASIL, 1971a).

Eu estava no 1º grau e minha professora alfabetizadora tinha a formação exigida na época para trabalhar em turmas de 1ª à 4ª série, o curso de magistério ou ensino normal. Nesse momento, minha pretensão maior de formação era essa, eu ficava imaginando como seria confeccionar o meu diário de classe, poder preencher um caderno de chamada e colocar um carimbo de parabéns no caderno dos meus alunos, tudo isso era muito colorido na minha imaginação.

Durante a realização do ensino normal, vivenciei uma realidade compartilhada por muitos dos colegas professores, que se encontram nas escolas atuando ainda hoje, a de uma docência com ênfase no acúmulo de informações, que buscava promover na escola a formação em ciências naturais pelo método científico21. Essa era a visão repassada na

21 O método científico trata de uma metodologia de trabalho divulgada nas escolas no início da década de oitenta

disciplina de Didática das Ciências, no então curso de magistério, em que a professora trabalhava possíveis metodologias para ensinar ciências naturais aos estudantes das séries/anos iniciais. Como normalista fazia um esforço para buscar exemplos do dia a dia que pudessem contribuir para que o aluno compreendesse melhor os conceitos que estavam sendo trabalhados em sala de aula.

Ao ingressar na graduação, em 1994, tive a oportunidade de analisar as discussões propostas para a implantação da LDB nº 9394/96, a qual apresentava importantes alterações para os sistemas de ensino. De forma especial na educação básica, destaco a nova organização curricular, que passou a ser formada pela educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio. Juntamente com a nova LDB surgiram as diretrizes curriculares nacionais, as quais promoveram debates muito significativos acerca do currículo escolar, pois as novas demandas buscavam promover um ensino mais contextualizado, com ênfase na perspectiva interdisciplinar.

Com a graduação, alcancei o objetivo de ter uma formação técnica, formar-me como professora de Química, pois tinha a intenção de me especializar em algo. E foi o que prevaleceu no decorrer da realização do curso de Ciências - Licenciatura Plena, com habilitação em Química para o 2º Grau. O ingresso ocorreu no curso de Licenciatura Plena em Ciências e Matemática, momento em que eu fazia parte de uma turma de sessenta alunos. Ao final do terceiro semestre, com a mudança curricular do curso, realizei a migração para a área de habilitação, sendo que decidi pela Química.

Mesmo separados pelas habilitações distintas, eu e os demais colegas compartilhávamos as aulas de disciplinas específicas, como cálculo integral, química básica e física básica, entre outras. Tal situação evidenciava certa falta de preocupação em fazer com que os licenciandos compreendessem a importância do que estava sendo repassado para o contexto profissional em que iríamos atuar. As disciplinas pedagógicas, as quais hoje correspondem às práticas de ensino eram escassas, foram doze créditos de Instrumentação para o Ensino de Química, quatro créditos de Ciências para o 1º grau, sendo que as aulas se concentraram nos três últimos semestres da graduação, além dos estágios curriculares que eram dois, um no ensino fundamental e outro no ensino médio.

Como nesse período eu já trabalhava como professora de Química, com um contrato emergencial proposto pela Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul (SEDUC/RS), percebia que muito pouco do que estava estudando na universidade eu usava para trabalhar

dos seguintes passos: observação, descrição ou hipóteses, previsão ou experiência e explicação das causas a partir de uma teoria ou um modelo.

em sala de aula, foi então que as primeiras complicações em meu EP acerca da profissão surgiram. Os conteúdos das disciplinas específicas eram demasiadamente técnicos, realizei cálculos e mais cálculos nas aulas da graduação, enquanto na educação básica percebia que o que realmente ajudava os alunos era o uso da regra de três. Das disciplinas pedagógicas tenho muitas recordações, de forma especial porque os registros que eram feitos em cadernos individualizados que tenho guardados até hoje. Neles fui fazendo reflexões das conversas realizadas em aula, que me fizeram pensar muito acerca do trabalho docente.

Em uma das metodologias realizadas pelos meus professores na graduação tive que minstrar um conteúdo de Química para meus colegas. Esse processo foi gravado em vídeo e áudio por ele, a fim de que eu pudesse observar mais tarde; ao longo da aula o professor ia fazendo intervenções, contribuindo com a minha forma de falar, com as questões que eram relevantes fazer, entre outras observações. Esse momento foi muito significativo na minha formação, pois toda a vez que eu ia dar aula desse conteúdo no ensino médio, eu lembrava das contribuições realizadas e dos diálogos dos colegas na aula de graduação.

Após estar graduada, foram implantadas novas demandas legais, oriundas da LDB de 1996, as quais estabeleceram as áreas do conhecimento: Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias, Linguagens Códigos e suas Tecnologias e Ciências Humanas e suas Tecnologias. Como professora de Química percebi que o conceito área era usado na escola para designar as disciplinas próximas, aquelas em que os professores haviam compartilhado estudos na formação inicial. Na escola, falava-se muito sobre as novas áreas do conhecimento, mas na sala de aula pouca coisa mudou, nada se fazia para mudar o pensamento disciplinar historicamente construído.

Ao retomar aspectos vivenciados que me preocupam na formação de professores da área compreendo a importância em apresentar a história e formação dos participantes dos Ciclos Formativos, no ano de 2015.