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FAMÍLIA DE CLASSIFICAÇÕES INTERNACIONAIS DA OMS (FCI-OMS)

2.3.1 CID – Classificação Internacional de Doenças

A CID é usada com a finalidade de traduzir diagnósticos de doenças, condição, problema, sintoma, sinal, diagnóstico e outras questões relacionadas à saúde em um código alfanumérico padronizado dentro de uma classificação, o que permite o armazenamento, a recuperação e a análise dos dados. A CID tornou-se um padrão internacional de classificação para todos os propósitos epidemiológicos gerais e muitos propósitos de gerenciamento de saúde, incluindo análise da situação geral de saúde de grupos populacionais, monitoramento da incidência e prevalência de doenças e outros agravos à saúde em relação a outras variáveis, como as características e circunstâncias dos indivíduos afetados (OMS, 2022).

Atualmente a CID chegou à sua 11ª revisão21 e, assim como todo processo histórico, ocorreu em várias fases. A revisão da CID-10 para a criação de uma nova classificação, que viria a ser denominada CID-11, teve como ponto de partida a compilação de uma lista de problemas conhecidos com o uso da CID-10 e que não puderam ser resolvidos em sua estrutura de classificação, tendo como propósito formular possíveis soluções. Em segundo lugar, foram recebidas contribuições de muitos grupos científicos de diversos países nas principais áreas temáticas, com foco na perspectiva clínica (OMS, 2022).

Por fim, elaborou-se uma edição centralizada, cujo objetivo foi absorver as contribuições dos diagnósticos locais realizados pelos grupos científicos partícipes, a fim de ajustar os desequilíbrios nos conteúdos gerados separadamente por esses grupos diversos de especialistas, que operaram de forma independente na fase anterior da revisão, bem como para garantir que a estrutura geral fosse consistente e praticável para os usuários em geral nas estatísticas de mortalidade

21 Ver contexto histórico no item 2.1 “As primeiras formas de classificar”.

e morbidade. A versão final também recebeu contribuições de testes de campo, comentários dos estados membros e do envio e processamento de propostas em andamento (OMS, 2022).

Oficializada em 1º de janeiro de 2022, a CID-11 não está em vigor no Brasil, tendo em vista que ainda não há tradução oficial. De acordo com a Nota Técnica n. 60/2022 (CGIAE/DAENT/SVS/MS), o Ministério da Saúde está coordenando o processo de tradução da CID-11 para a língua portuguesa, com previsão de conclusão até dezembro de 2022. O processo inclui etapas de revisão e validação por especialistas na área de classificações e está sendo realizado em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A CID-10 apresentava 10.607 códigos, enquanto a CID-11 contém 14.662 códigos, sendo identificável uma equivalência direta entre 4.037 termos das duas edições. São novos em relação à CID-10 os capítulos 4 (Doenças do sistema imunológico), 7 (Distúrbios do sono-vigília), 17 (Condições relacionadas à saúde sexual), 26 (Capítulo Suplementar - Medicina Tradicional), V (Seção suplementar para avaliação de funcionamento) e X (Códigos de extensão), este último utilizado exclusivamente para fins de pós-coordenação, ou seja, para combinação com os códigos principais quando recomendado (GALVÃO, 2022).

Na CID-11 a primeira posição do código é um dígito ou letra, que se refere ao capítulo, na segunda posição uma letra, na terceira um dígito, seguido de um dígito ou letra. Se for necessário, há um ponto que separa dois dígitos ou letras.

Por exemplo:

QD85 - Burnout

É importante destacar que não se deve analisar o código isolado, mas o conjunto em que está inserido. No caso do código QD85 – Burnout, ele não está dentro do grupo de transtornos mentais, mas sim no capítulo 24, que diz respeito a fatores que influenciam o estado de saúde (abordaremos especificamente esse capítulo mais adiante neste estudo). Assim, ao analisar sua classe podemos compreender que o Burnout está associado a questões de trabalho.

Figura 5. Raiz do código QD85 - Burnout

Fonte: WHO (2022).

Alguns códigos contam com descrição e indicação de casos de exclusão, ou seja, que não devem ser associados. No caso do código em questão (QD85 - Burnout) tem-se a seguinte descrição e respectivas exclusões:

Descrição

Burnout é uma síndrome conceituada como resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso. Caracteriza-se por três dimensões: 1) sentimentos de esgotamento ou exaustão de energia; 2) aumento da distância mental do trabalho, ou sentimentos de negativismo ou cinismo em relação ao trabalho; e 3) uma sensação de ineficácia e falta de realização. Burn-out refere-se especificamente a fenômenos no contexto ocupacional e não deve ser aplicado para descrever experiências em outras áreas da vida (OMS, 2022).

Exclusões

Transtorno de ajuste (6B43)

Distúrbios especificamente associados ao estresse (6B40-6B4Z) Transtornos relacionados à ansiedade ou medo (6B00-6B0Z) Transtornos do humor (6A60-6A8Z)

Ao analisar toda a estrutura em que o código foi alocado é possível utilizá-lo da forma mais adequada e com mais segurança.

Por tais razões, o uso de classificações demanda uma análise detalhada de sua aplicação e pertinência para cada situação, objeto ou fenômeno.

Especialmente no caso da CID, por se tratar de uma classificação com implicações para a vida de indivíduos, famílias e sociedade, não se deve empregá-la de forma mecânica com um ou dois códigos previamente decorados. Pelo contrário, para usar a CID é necessário ter acesso ao seu conteúdo em completude. Dito de outro modo, é importante alertar que muitos aplicativos disponíveis na Internet trazem apenas o código com respectivo termo da CID, porém não contemplam as notas explicativas tão necessárias para que o usuário da CID faça um uso adequado de seu conteúdo. Logo, as consultas às fontes oficiais da OMS são sempre recomendadas (GALVÃO, 2021, p. 108).

Uma diferença marcante da CID-11 para as demais é seu formato totalmente digital, sendo compatível com ferramentas eletrônicas de saúde e permitindo, assim, a interoperabilidade22 com sistemas de informações.

22 A interoperabilidade é a capacidade de diversos sistemas e organizações trabalharem em conjunto (interoperar), de modo a garantir que pessoas, organizações e sistemas computacionais interajam para trocar informações de maneira eficaz e eficiente (ENAP, 2015, Disponível em:

<https://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/2399/1/Módulo_1_EPING.pdf)>).

Figura 6. Visão da Plataforma eletrônica CID-11 web (online)

Fonte: WHO (2022).

Segundo Almeida (2013), a interoperabilidade possibilita a expansão do exercício da cidadania, permitindo, ao menos tecnicamente, o acesso pelo cidadão a serviços e informações que antes da era digital eram pulverizados e inacessíveis, por exemplo o Portal da Transparência, o Imposto de Renda, entre outros. Nessa perspectiva, a interoperabilidade não é apenas uma questão de as máquinas e sistemas conversarem entre si, mas sim uma proposta para que as pessoas consigam se comunicar com e através desses sistemas.

No Brasil, após a finalização da tradução, os sistemas de informação em