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3 – PLANEJAMENTO E MOBILIDADE URBANA

3.1 CIDADE COMPACTA E ALTA DENSIDADE

O planejamento integrado dos sistemas de mobilidade e das diretrizes de uso e ocupação do solo é um aspecto essencial para reduzir o impacto ambiental da mobilidade urbana.

Conforme apontam diversos autores (DALKMANN, BRANNIGAN, 2010; DUARTE, LIBARDI, SÁNCHEZ, 2008; RODIER, JOHNSTON, ABRAHAN, 2002; SERMONS, SEREDICH, 2001), cidades compactas que reduzem a necessidade de deslocamentos e concentram a população junto aos terminais e corredores de transporte coletivo representam uma das medidas de planejamento mais aceitas e eficazes para reduzir as emissões de GEE da mobilidade urbana.

De modo geral, cidades compactas diminuem a necessidade de deslocamentos pelo simples fato de que as pessoas, os centros de serviço público e outros motivadores de deslocamento estão mais próximos entre si.

Outro aspecto que deve ser destacado como uma premissa geral e bastante aceita é que a concentração populacional cria uma economia de escala muito benéfica para serviços como o tratamento de água e esgoto, coleta de resíduos e especialmente para o transporte coletivo (RIBEIRO, SILVEIRA, 2009; OJIMA, 2006).

A eficiência dos sistemas de transporte coletivo é ainda maior quando a concentração populacional se dá ao longo dos eixos troncais de transporte, justificando a utilização de sistemas de alta capacidade e baixo custo, como metrôs, trens de superficie e ônibus de alta capacidade. (RODIER, JOHNSTON, ABRAHAN, 2002; DESSOUKY, RAHIMI, WEIDNER, 2003). Este modelo de ocupação de alta densidade ao longo de eixos de transporte coletivo é uma das características da cidade de Curitiba, Estado do Paraná que serve como exemplo prático dos efeitos positivos e negativos do modelo.

Reforçando a medida trabalhada neste sub-capítulo, Romilly (1999), em estudo que compara as emissões de gases poluentes de ônibus e automóveis, conclui que somente haveria vantagem do primeiro sobre o segundo se os ônibus operassem com 75% da capacidade média, otimizando o gasto energético em relação ao número de passageiros transportados.

Cidades que mantêm baixas densidades com ocupações horizontais espalhadas no território dificultam a implementação de sistemas coletivos de transporte, sob o ponto de vista econômico, pelo fato dos veículos percorrerem grandes distâncias para coletar poucos passageiros.

Entre os aspectos negativos que podem decorrer de uma ocupação urbana concentrada, destacam-se as ameaças ao conforto ambiental dos moradores.

Para atingir altas densidades, as leis de uso e ocupação do solo urbano devem permitir residências coletivas (geralmente prédios de muitos pavimentos) próximas entre si. A proximidade destas edificações de grande porte pode levar a problemas como a falta de insolação dos apartamentos, a concentração de gases poluentes pela falta de ventilação, a perda de privacidade e outros. Para evitar estes problemas, devem ser analisados aspectos como correntes de ar, horários de insolação, afastamento entre edificações e outros aspectos construtivos (OJIMA, 2007; SILVA (b), 2009)

Buscando estimular a ocupação urbana em áreas de alta densidade populacional, Sermons e Seredich (2001) realizaram um estudo para avaliar a eficácia de estímulos financeiros à ocupação destas áreas.

Tendo com parâmetro um subsidio de 10% para a compra de imóveis nas áreas de alta densidade, autores descobriram que a atração para compra de imóveis se daria sobre pessoas que já apresentam tendência a morar

nestas áreas, tornando o subsidio pouco eficaz. O estudo foi realizado na cidade de São Francisco (EUA), onde as condições individuais de renda são altas e não representam o principal fator na escolha da moradia. Muito provavelmente, a mesma metodologia de pesquisa traria resultados diferenciados em países pobres ou em desenvolvimento. Os próprios autores também destacam que a medida em si continua sendo interessante, e que o aumento do subsídio pode trazer os resultados esperados mesmo nos países ricos (SERMONS, SEREDICH, 2001)

Um aspecto interessante trabalhado no conjunto de artigos que fundamenta as afirmações feitas neste sub-capitulo, e sintetizadas no Quadro 05, é a percepção dos moradores em relação às áreas de alta densidade. Ryan e Throgmorton (2003) compararam os conceitos de ocupação urbana sustentável em uma cidade norte-americana (Chula Vista) e uma cidade alemã (Freiburg).

Chula vista é uma cidade com aproximadamente 210.000hab. (duzentos e dez mil habitantes), enquanto Freiburg tem aproximadamente 220.000hab. (duzentos e vinte mil habitantes). Além da similariedade em relação ao número total de habitantes, ambas cidades encontram-se em processo de crescimento populacional e principalmente territorial. A questão que será destacada é a forma como as cidades estão planejando seu crescimento territorial.

Ambas as cidades procuram aliar crescimento econômico com proteção do meio ambiente e qualidade de vida, mas a visão de cada uma sobre como atingir estes objetivos é um tanto controversa. Comparando dados existentes sobre ambas as cidades, e de modo mais específico, dois projetos de expansão urbana que estão sendo implementados, os autores fazem considerações sobre as diferentes visões de sustentabilidade.

Para os norte-americanos, o cenário mais sustentável é composto por áreas residenciais com amplas áreas verdes, casas espaçosas e espaçadas entre si, distantes do caos e da poluição dos centros urbanos. Percebe-se que este cenário torna os moradores extremamente dependentes dos meios privados de transporte para se locomover da casa para a cidade, pois um sistema de transporte coletivo em áreas tão rarefeitas teria um custo muito alto. Para os alemães, o cenário da sustentabilidade é aquele que concentra moradores em áreas de alta densidade, conectadas aos centros urbanos

através de sistemas de transporte coletivo, reduzindo o uso do automóvel e promovendo o convívio social.

Se no aspecto subjetivo uma casa ampla e cercada de áreas verdes é a imagem de um modo de vida mais “natural”, a dependência do automóvel torna este modo de ocupação do território bastante insustentável sob o ponto de vista global (pelas emissões de GEE) e local (custos do sistema de mobilidade centrado no automóvel).

Para os moradores de Chula Vista, conforme consta em seu plano de desenvolvimento, o cenário urbano/rural de baixa densidade com acesso viário ao centro urbano vizinho é a visão da sustentabilidade e integração com a natureza. Atualmente, a cidade vem revendo seus planos pressionada para reduzir suas emissões de CO2,

reconhecidamente oriundas do grande número de automóveis (RYAN, THROGMORTON, 2003, p.43, tradução do autor).

A imagem de uma área de alta densidade, com arranha-céus e poucas áreas verdes na proximidade, não representa o ideal da sustentabilidade para a maioria das pessoas. Este cenário pode ser melhorado com estudos específicos para aliviar o impacto visual e garantir o conforto ambiental dos moradores. Sob o ponto de vista do impacto ambiental da mobilidade urbana, a ocupação do território com altas densidades é certamente o cenário que melhor viabiliza os meios de transporte coletivo e reduz a necessidade de utilização dos meios privados e mais poluentes de transporte.

No Quadro 3, abaixo, estão resumidas as informações trabalhadas neste sub-capítulo, com base nas conclusões alcançadas nos diversos artigos científicos citados.

Potencial Riscos Sugestões Exemplo

• Diminui as necessidades de deslocamento ao encurtar distâncias. • Melhora viabilidade econômica dos sistemas de transporte coletivo e infraestrutura

• Alta densidade pode prejudicar o conforto ambiental e construtivo ao restringir a ventilação e a insolação dos imóveis. • Alta densidade • Estimular alta densidade principalmente ao longo dos eixos de transporte coletivo, visando maior viabilidade

econômica para o sistema.

• Curitiba, Brasil. Alta densidade ao longo dos eixos de transporte coletivo.

• Nova York, EUA. Altas densidades garantem um dos maiores índices de usuários de

urbana ao agregar usuários.

• Ocupação

concentrada e controlada reduz impacto sobre áreas de proteção ambiental no entorno das cidades. populacional pode tornar-se “sufocante” quando mal planejada, sem áreas de alívio como parques e praças. • Planejar cidade polinucleada, com diversos centros de alta densidade intercalados por áreas verdes, ao invés de cidade com uma única área central de alta densidade. transporte não motorizado dos EUA. • Freiburg, Alemanha. Cidade com área central e outros pólos de alta densidade conectados por eficiente sistema de transporte coletivo. Quadro 3. Cidade Compacta e Alta Densidade

Fonte: elaborado pelo autor