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ser cientificado pessoalmente, ou por seu advogado, das diligências requeridas ou das decisões proferidas por meio de carta de aviso de recebimento ou, quando desconhecido, por meio de Edital

(grifo nosso).

Na “Justificação” do projeto de lei acima, destaca-se a fragilidade do procedimento atualmente existente, ao afirmar que, “com a ausência de regras e limites bem definidos nos processos administrativos de cunho sancionador, foi gerada verdadeira celeuma na socie- dade brasileira, que rotineiramente se empenha em buscar o Poder Judiciário para estancar determinado abuso, ilegalidade ou efeitos de decisão desmotivada ou infundada”.69

De fato, é crescente o número de causas nas quais são questionadas as decisões admi- nistrativas, que “induzem o assoberbamento do judiciário com demandas que, se bem tratadas na instrumentalização do processo administrativo, não seriam a causa de inúmeras suspensões de exigibilidade de penalizações aplicadas em desfavor do jurisdicionado”.70

Espera-se que o Projeto de Lei nº 83/2017 ganhe trâmite célere e, brevemente, seja introduzido no ordenamento jurídico pátrio.

6.2 Transparência nos procedimentos de ambientais no Brasil

Quando se fala de procedimentos administrativos ambientais, devem-se considerar os procedimentos iniciados pelo próprio particular, como os requerimentos de autorização e licenciamento, assim como os procedimentos instaurados de ofício pela Administra- ção, como nos casos de fiscalização. Em ambos os casos, a administração deve garantir ao particular o acesso às informações, em atenção ao princípio da transparência.

Através dos procedimentos de licenciamento ambiental pretende-se a construção, instalação, ampliação, funcionamento e operação de empreendimentos potencialmen- te causadores de degradação ambiental, nos termos art. 10 da Lei nº 6.938/81.71 Tais atividades devem ser submetidas a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), visando evi- tar, minimizar, reparar e compensar possíveis danos causados ao meio ambiente (meios físico, biótico e socioeconômico). Sendo assim, a Licença Ambiental e a Avaliação de Impacto Ambiental são considerados os instrumentos mais importantes da Política Na- cional do Meio Ambiente.

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBA- MA) é o órgão responsável pelo licenciamento ambiental na esfera federal,72 tendo a Lei

69 Justificação do Projeto de Lei do Senado no. de 2017, p. 4. Disponível em <https://legis.

senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=5207061&disposition=inline>. Acesso em: 4 jul. 2017.

70 Ibid. p. 5.

71 Lei Complementar nº 140, de 8 de dezembro de 2011. “Art. 10. A construção, instalação,

ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação am- biental dependerão de prévio licenciamento ambiental. § 1o Os pedidos de licenciamento, sua

renovação e a respectiva concessão serão publicados no jornal oficial, bem como em periódico regional ou local de grande circulação, ou em meio eletrônico de comunicação mantido pelo órgão ambiental competente”. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp140. htm#art20>. Acesso em: 20 ago. 2017.

Complementar nº 140/11, Decreto nº 8.437/ 2015, estabelecido o rol dos projetos a serem submetidos ao Licenciamento Ambiental Federal (LAF), que deverá ser iniciado por requerimento do interessado junto ao órgão, para instauração do processo.

A Resolução CONAMA nº 237/97 estabelece a definição dos licenciamento ambien- tal como sendo aquele

procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais , consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso.73 Mencione-se ainda que o art. 8o. a referida Resolução Conama 237 prevê a possibi- lidade de expedição de três tipos de Licenças, sendo elas, a Licença Previa (LP), Licença de instalação e Licença de Operação.

O sítio eletrônico do IBAMA disponibiliza um roteiro prático para requerimento das autorizações, quais sejam, Autorização de Supressão de Vegetação (ASV), Autorização para captura, coleta e transporte de material biológico, Autorização para a inclusão da Unidade Marítima de Perfuração, sendo ainda previstas as seguintes licenças:

• Licença-Prévia (LP) emitida pela Diretoria de Licenciamento Ambiental (Dilic), que atesta a viabilidade ambiental de empreendimentos, aprovando sua localização e concepção e estabelecendo condições a serem atendidas para a próxima fase; • Licença-Prévia de produção para pesquisa;

• Licença-Prévia para perfuração;

• Licença ambiental única de Instalação e de Operação, que tem como finalidade a implantação e a operação de empreendimento em atividades relacionadas aos siste- mas de esgotamento sanitário sujeitos ao licenciamento ambiental simplificado de competência federal;

• Licença de Instalação (LI), que autoriza a instalação do empreendimento ou da atividade, de acordo com as especificações constantes nos planos, programas e pro- jetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e condicionantes; • Licença de Operação (LO), que autoriza a operação da atividade ou do empreendi-

mento, após verificar o cumprimento do que consta nas licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e as condições determinadas para a operação; • Licença de Operação para Pesquisa Mineral, que autoriza a exploração de lavra ex-

perimental para pesquisa de mineração;

• Licença de Pesquisa Sísmica (LPS), que autoriza pesquisas sísmicas marítimas e em zonas de transição e estabelece condições, restrições e medidas de controle ambien- tal que devem ser seguidas pelo empreendedor para realizar essas atividades.

Apesar do referido portal do IBAMA fazer menção especificamente ao acesso à infor- mação,74 só se tem acesso a textos legais, resoluções e portarias, ou seja, informações acerca

nível em http://www.ibama.gov.br/licenciamento-ambiental-processo-de-licenciamento/licencia- mento-ambiental-projetos-sujeitos-ao-laf >. Acesso em: 20 jun. 2017.

73 CONAMA. Resolução nº 237, de 19 dezembro de 1997. Disponível em: <http://www.

mma.gov.br/port/conama/res/res97/res23797.html>. Acesso em: 4 ago. 2017.

de atos gerais, não sendo efetivamente disponibilizada qualquer informação específica, relativamente, por exemplo, ao número de licenças analisadas e concedidas por ano, ou tempo médio de concessão.

Não obstante, através de pesquisa realizada pelo Conselho Nacional das Indústrias para o aprimoramento do procedimento ambiental, disponível no portal do Ministério do Meio Ambiente, tem-se que o processos levam, em média, 28 meses para serem con- cluídos, podendo chegar a 7 anos, por diversas razões, dentre elas a incompatibilidade entre as normas nacionais, estaduais e municipais, a ausência de parâmetros homogêneos de classificação do empreendimento com base no porte e no potencial poluidor em todos os estados, sobretudo, a falta de clareza e uniformização na definição do conteúdo dos estudos ambientais, que são muito genéricos.75

“Garantir acesso a informação de qualidade, atualizada e informatizada é fundamen- tal para os órgãos licenciadores”.76 Partindo dessa premissa, elaborou-se estudo sobre a transparência nos procedimentos ambientais, em que “foram sugeridas a adoção de boas práticas que certamente auxiliariam na análise dos processos, pois, dentre elas a melhoria dos sistemas informatizados para preenchimentos de formulários customizados, na me- dida que “a informatização dos pedidos de licenciamento para pelo menos modalidades simplificadas de licença também foi avaliada como uma boa prática na pesquisa...”.77 Concluindo, a elaboração de manuais e a facilitação da participação do público na ela- boração de estudos, através de audiências públicas, por meio da disponibilização de ca- lendários de audiências públicas, dos seus mecanismos de peticionamento, participação e atas resultantes.78

Ademais, de forma a atender aos princípios da transparência, está previsto na legislação ambiental que os processos de licenciamento devem ser precedidos de consultas e audiên- cias públicas (CPP),79 as quais, invariavelmente, são contestadas judicialmente,80 conforme

parque de cavernas em rochas ferríferas do mundo. Brasília, jun. 2017. Disponível em: < http://www.

ibama.gov.br >. Acesso em: 20 ago. 2017.

75 CARNEIRO, Shelley. Aprimoramento do licenciamento ambiental. In: SEMINÁRIO IN-

TERNACIONAL: Licenciamento ambiental e Governança territorial, 2016, Brasília. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/reuniao/dir1641/CNI_ApresLicenc_ShelleyCarneiro. pdf>. Acesso em: 20 jun. 2017.

76 FONSECA, Alberto; RESENDE, Larissa. Boas práticas de transparência, informatização e

comunicação social no licenciamento ambiental basileiro: uma análise comparada dos websites dos órgãos licenciadores estaduais. Eng. Sanit. Ambient. v. 21, n. 2, p. 295, abr./jun. 2016. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/esa/v21n2/1809-4457-esa-S1413_41522016146591.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2017.

77 Ibid., p. 295. 78 Ibid., p. 295.

79 CONAMA. Resolução nº 9, de 3 de dezembro de 1987. Disponível em <http://www.mma.

gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=60>. Acesso em: 20 fev. 2017.

80 PEDROSO-JUNIOR, Nelson N.; SCABIN, Flavia S.; CRUZ, Julia C.C. Desafios para

o aprimoramento da participação pública como instrumento de controle de impactos sociais em processos de licenciamento ambiental de obras e atividades de significativo impacto no Brasil. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO, 3, 2016, Ribeirão Preto: Anais

se concluiu em recente estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas, in verbis:

De todo modo, apesar da previsão legal dos mecanismos de CPP ser reconhecida como positiva, sua efetividade vem sendo considerada baixa pelos diferentes atores envolvidos com o licenciamento. São diversos os fatores aos quais se reputa essa ineficiência: disseminação insuficiente das informações do projeto; isolamento das audiências no processo de licenciamento; baixa participação da sociedade nas audiências e respectiva contribuição para os estudos; falta de clareza entre as responsabilidades públicas e privadas na implantação de grandes empreendimentos; e falta de controle social da implantação do projeto e cumprimento das condicionantes.81

Assim, conclui-se que a morosidade dos processos de licenciamento ambiental está diretamente relacionada com a falta de transparência dos órgãos ambientais fiscalizado- res e licenciadores.82 Por outro lado, há falta de transparência na imposição das multas, e, de igual forma, na destinação de sua arrecadação.

7 Conclusão

O Estado brasileiro se comprometeu, ao assinar o Acordo de Paris, com seus termos e princípios, especialmente no que diz respeito à transparência na gestão ambiental. No entanto, em que pese o Brasil já possuir um acervo legislativo e instrumentos jurídicos que permitam o acesso à informação, na prática percebe-se que a transparência não faz parte do cotidiano da Administração Pública, o que obriga, invariavelmente, os admi- nistrados a socorrerem-se do Judiciário para obter as informações que deveriam já estar disponibilizadas, de modo fácil e acessível.

De igual forma, na seara do procedimento administrativo ambiental, o acesso à in- formação é bastante restrito, especialmente no que diz respeito à motivação das decisões, obrigando o interessado se valer das vias judiciais para ter acesso aos dados, o que termi- na por impedindo, ou ao menos dificultando, a participação popular nas tomadas de de- cisões, contribuindo para a morosidade do procedimento, e, sobretudo, inviabilizando o controle das ações do governo.

Com a implementação das regras do Acordo celebrado em Paris, devidamente ratifi- cado, o Brasil será obrigado a promover uma profunda alteração nas suas práticas admi- nistrativas, de sorte a adequá-las aos padrões internacionais, na medida em que impõe a Associação Brasileira de Avaliação de Impacto, Ribeirão Preto: FGV Direito, 2016. p. 1-8. Dispo-

nível em: <https://direitosp.fgv.br/sites/direitosp.fgv.br/files/arquivos/desafios_para_o_aprimora- mento.pdf>. Acesso em: 2 mar. 2017.

81 PEDROSO-JUNIOR, Nelson N.; SCABIN, Flavia S.; CRUZ, Julia C.C. Desafios para

o aprimoramento da participação pública como instrumento de controle de impactos sociais em processos de licenciamento ambiental de obras e atividades de significativo impacto no Brasil. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO, 3, 2016, Ribeirão Preto: Anais

Associação Brasileira de Avaliação de Impacto, Ribeirão Preto: FGV Direito, 2016. p. 1-8. Dispo-

nível em: <https://direitosp.fgv.br/sites/direitosp.fgv.br/files/arquivos/desafios_para_o_aprimora- mento.pdf>. Acesso em: 2 ago. 2017.

82 CALIXTO, Bruno. Como a transparência pode mudar o licenciamento ambiental para

melhor, Revista Época, abr. 2017 apud Boletim ambiental, abr. 2017. Disponível em: <http://www. boletimambiental.com.br/noticia/2017-04-28/como-a-transparencia-pode-mudar-o-licenciamen- to-ambiental-para-melhor/>. Acesso em: 22 ago. 2017.

adoção de ações de acesso irrestrito às informações governamentais, por meio da dispo- nibilização, em tempo razoável, de informações corretas, precisas e fidedignas, contidas em meio eletrônico, ou seja, on line, de fácil acesso, conforme as orientações já seguidas pelos países da comunidade europeia e do continente americano.

Conclui-se, portanto, a ratificação do Acordo de Paris deu-se em boa hora, pois impul- sionará à implementação de medidas de transparência, e a concretização de políticas de acesso público aos dados e informações ambientais, as quais, apesar estabelecidas há mais de 15 anos pela Lei nº 10650/03,83 em especial aos dados do Sistema Nacional do Meio Ambiente — SISNAMA, instituído pelo art. 6o Lei nº 6.938/81,84 até hoje apresentam deficiências e dificuldades burocráticas, especialmente no âmbito dos procedimentos administrativos, o que somente contribuirá para a celeridade, eficiência e confiabilidade das ações do governo e consequentemente, para o fortalecimento da democracia.

83 Lei nº 10.650, de 16 de abril de 2003. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-

vil_03/leis/2003/L10.650.htm>. Acesso em: 4 de ago. 2017.

84 Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci-

(DUE ADMINISTRATIVE PROCESS THROUGH INCORPORATION OF TECHNOLOGY IN THE BRAZILIAN PUBLIC HEALTH SYSTEM — SUS)

Flávia Martins Affonso*

Resumo Em atenção à importância que deve ter o procedimento administrativo de incorpo- ração de tecnologia no âmbito do sistema público de saúde, o que não vem ocorrendo de fato, e diante do quadro de excessiva judicialização das ações de saúde, com o deslocamento da discussão da elaboração de políticas públicas do Executivo para o Judiciário, a quem falta co- nhecimento técnico sobre a matéria, buscou o artigo fortalecer e aprimorar as instâncias admi- nistrativas de decisão, ao apostar na efetiva observância dos princípios da legalidade, igualdade, imparcialidade, boa-fé, moralidade, participação, responsabilidade, transparência, publicidade, coordenação, eficácia, economia e celeridade, como forma mais adequada de se cuidar não só dos direitos subjetivos do administrado, mas de toda a coletividade.

Palvaras-chave: direito à saúde; incorporação de tecnologia; procedimento administrativo. Abstract Technology is not being incorporated into the public health system to a sufficient degree, although it is of the utmost importance. Given the excessive judicial review of health- care claims, with the shift of public policy debates from the Executive to the Judiciary Branch, which lacks the necessary technical expertise on the subject, this article attempts to strengthen and improve administrative decision-making bodies based on compliance with the principles of due process of law, equality, impartiality, good faith, morality, participation, responsibility, transparency, publicness, coordination, effectiveness, economy and a speedy trial, as a more suitable form of protecting not only the rights of the beneficiaries of the public service but of the entire community.

Keywords: right to health, incorporation of technology, administrative procedure.

Sumário 1 Introdução. 2 O direito à saúde e o princípio da integralidade. 3 Dos princípios e