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Integração dos trabalhadores com relação jurídica de emprego público con stituída até 31 de dezembro 2005, com a qualidade de funcionários ou agentes

Sumário 1 Introdução 2 O Modelo Brasileiro de Jurisdição Administrativa 3 O Protagonismo do Judiciário 4 O procedimento administrativo para o cumprimento de decisões judiciais 5 O

2. Integração dos trabalhadores com relação jurídica de emprego público con stituída até 31 de dezembro 2005, com a qualidade de funcionários ou agentes

(subscritores da Caixa Geral de Aposentações) no chamado regime de proteção social convergente.

Assim, enquanto que relativamente aos trabalhadores abrangidos pelo regime de pro- teção social da Segurança Social é esta entidade que assume o pagamento das prestações compensatórias pela perda de remuneração ou subsídios nas eventualidades de doença e parentalidade;35no caso dos trabalhadores do regime de proteção social convergente é a entidade empregadora pública que chama a si também esta função previdencial... na eventualidade da doença36paga a remuneração (embora com descontos nos primeiros 30 dias) e no caso da parentalidade paga os subsídios compensatórios.37

É sobretudo a partir de 2009 (quando todos os vínculos laborais passam a integrar- se apenas na nomeação e no contrato de trabalho em funções públicas) que de forma expressa se assume como imperativo legal que a proteção social dos trabalhadores públi- cos se desenhe num regime convergente... será assim?

Se no âmbito do regime da parentalidade em toda a sua extensão o regime jurídico está idêntico para todos os tabalhadores públicos (apenas com a diferença já apontada quanto à entidade que paga as prestações compensatórias ou subsídios), já no caso das faltas por doença do trabalhador público as diferenças mantêm-se, e a um nível muito acentuado:38a partir do 4º dia os trabalhadores da Segurança Social só têm um subsídio equivalente a 55% nos 30 primeiros dias (60% durante o segundo mês, 70% até comple- tar 1 ano de faltas) da remuneração de referência; enquanto os trabalhadores do regime convergente têm redução de 10% da remuneração base durante 27 dias e a partir do 31º dia recebem a remuneração a 100%... (e que poderá extendender-se, em alguns casos, por vários anos).

No caso das faltas para assistência a familiares39verificamos que o regime legal tem andando “à deriva”...

Fazendo uma breve retrospetiva para melhor compreensão, verificamos que para os então funcionários e agentes o regime jurídico destas faltas estava a coberto do artigo 35 Consulte “Sou Cidadão” em Segurança Social Direta (Disponível em: <http://www.seg-so-

cial.pt/subsidio-de-doenca>. Acesso em: 31 ago. 2017) e DL nº 91/2009, de 9 de abril.

36 Artigo 15º e seguintes da Lei nº 35/2014, de 20 de junho. 37 DL nº 89/2009, de 9 de abril para o regime convergente.

38 Todos têm regime idêntico nos 3 primeiros dias de faltas por doença — não é paga nem

remuneração, nem subsídio.

54º do DL 100/99 (com remissão para o regime da parentalidade e com efeitos idên- ticos às faltas por doença do próprio); já para os então contratos a termo e contratos individuais de trabalho abrangidos pelo regime de proteção da Segurança Social existia a possibilidade de faltar justificamente com perda de remuneração e sem direito a qual- quer prestação compensatória (tal como ainda hoje acontece). Com a entrada em vigor do anterior Código do Trabalho e respetiva Regulamentação40constatamos que o regime legal então vigente (artigos 112º e 113º da Lei nº 35/2004) nada referia quanto aos efeitos remuneratórios... Rapidamente instalou-se a dúvida sobre quais os efeitos destas faltas — teria o legislador pretendido dar-lhe os mesmos efeitos que são aplicáveis aos trabalhadores abrangidos pelo regime de protecção social da Segurança Social (faltas jus- tificadas sem direito a remuneração nem a subsídio)? Nos meses que se seguiram à entra- da em vigor da Lei nº 35/2004 muitos foram os funcionários e agentes que perderam na íntegra a remuneração quando justificaram as faltas para assistência a familiares; porém, em alguns organismos simplesmente ignorou-se a omissão da lei e procedeu-se como até ali…criando-se situações de verdadeira desigualdade de tratamento para trabalhadores abrangidos por idêntico regime laboral e de protecção social! A dúvida (em rigor, o va- zio legal!) veio a ser resolvida não com uma alteração legislativa (tal como se esperava e a única que seria a correta!), antes por uma Orientação Técnica da Direcção Geral da Administração Pública e Ministério das Finanças.41Os serviços que tinham efetuado os descontos da remuneração relativa aos dias de faltas para assistência à família corrigiram o processamento, aplicando-lhes os mesmos efeitos das faltas de doença do próprio tra- balhador. Não termina aqui...

Com a entrada em vigor, em janeiro de 2009, do regime do contrato de trabalho em funções públicas aprovado pela Lei nº 59/2008, verificamos que o artigo 19º desta Lei prevê expressamente que “Em caso de faltas para assistência a membros do agregado fa- miliar previstas na lei, o trabalhador integrado no regime de proteção social convergente tem direito a um subsídio nos termos da respectiva legislação”. Ora, apenas a partir de agosto de 2014, com a LTFP, é que o pagamento da prestação compensatória por estas faltas ficou previsto — artigo 40º da Lei nº 35/2014.42Fazemos neste ponto duas observações: a primeira é que pese embora sem enquadramento normativo mais uma vez a prática generalizada dos serviços foi o abono de remuneração nestas faltas com os efeitos idênticos às faltas do trabalhador; a segunda — e que nos merece especial reflexão — é que após termos estado vários anos sem que o abono destas faltas aos trabalhadores tivesse enquadramento legal o legislador opte por prever o pagamento do subsídio ou prestação compensatória apenas aos trabalhadores públicos do regime de proteção social convergente! Deixando, portanto, sem remuneração e sem subsídio os trabalhadores pú- blicos do regime de proteção social da Segurança Social... No mínimo desconcertante; incoerente face a um “imperativo legal de convergência”!!

40 Lei nº 99/2003, de 27 de agosto e Lei nº 35/2004, de 29 de julho.

41 Orientação Técnica 1/DGAP/2006 de 24/02/2006 (Circulares e Orientações Técnicas).

Disponível em: <www.dgaep.gov.pt>. Aceso em: 31 ago. 2017.

42 Já estava previsto pelo artigo 36º do DL nº 89/2009, de 9 de maio apenas para os trabalha-

Não se poderá — em abono do legislador — apresentar como justificação que não pretendeu criar um tratamento desigual destes trabalhadores públicos com os do setor privado! Desde logo, porque o primeiro critério que deverá pautar o impulso legislativo será a igualdade de tratamento entre os trabalhadores públicos; em segundo lugar, por- que quando é essa a “vontade”, o legislador concretiza-o muito bem! Deixamos apenas o exemplo do regime de acidentes de trabalho e doenças profissionais (DL nº 503/99) que passou a ser aplicado a todos os nomeados e contratos de trabalho em funções públicas sem distinção quanto ao regime de poteção social.43

Em síntese, (com ou sem norma habilitante) os trabalhadores públicos do regime de pro- teção social convergente têm tido um maior leque de garantias ao nível da proteção social.

3.3 Algumas garantias remuneratórias

Também aqui pretendemos apontar algumas formas de garantia ao nível do direito substantivo - que tocam pontos muito diversos da relação de emprego público — e que se afiguram interessantes (reveladoras de um nível de garantias para os trabalhadores públicos distinto do existente no setor privado), idênticas para todos os trabalhadores públicos abrangidos pela LTFP.

Comecemos pelo regime de proteção no âmbito dos acidentes de trabalho e doenças profissionais: as ausências são equiparadas a serviço efetivo para todos os efeitos legais incluindo o direito à remuneração, suplementos e subsídio de refeição;44

No âmbito do regime de mobilidades intercarreiras e intercategorias quando estas acontecem para carreira e categoria inferior àquela em que o trabalhador está integrado a lei exige sempre a concordância do trabalhador e este nunca poderá a auferir remunera- ção inferior, pelo que o mesmo raciocínio deverá estender-se ao regime da consolidação (omisso quanto a este aspeto);45

O horário de trabalho em regime de jornada contínua deve determinar a redução do período normal de trabalho diário até 1 hora, sem redução (ainda que proporcional) da remuneração;46e o novo regime de meia-jornada (no âmbito do acompanhamento de filhos ou netos menores de 12 anos de idade ou independentemente da idade no caso de crianças com deficência o doença crónica) que corresponde a 50% do tempo de trabalho semanal (ou seja, 17 horas e 30 minutos) mas com remuneração equivalente a 60% da 43 Não poderíamos deixar de referir que desde 2009, com a alteração introduzida ao DL nº

503/99 pela Lei nº 59/2008 — agora reforçada pelo nº 4 do artigo 4º da LTFP — este regime de acidentes de trabalho e doenças profissionais deixou de aplicar-se aos trabalhadores com contrato de trabalho em funções públicas ao serviço das entidades públicas empresariais. Abre-se aqui uma janela para um tratamento diverso que está a ser dado a estes trabalhadores públicos e eventual- mente matéria para apreciação em sede de constitucionalidade (um caso concreto de diminuição das garantias e de violação do princípio da igualdade para trabalhadores com vínculo idêntico e em que a única diferença é a natureza jurídica da entidade empregadora).

44 Artigo 15º do DL nº 503/1999, de 20 de novembro. 45 Artigos 94º, nº 2, 153º, nº 2 e 99-A da LTFP. 46 Artigo 114º da LTFP.

remuneração base e sem prejuízo da contagem integral do tempo de serviço para efeitos de antiguidade;47

A possibilidade de faltar para consultas médicas, tratamentos ambulatórios e realiza- ção de tratamentos ambulatórios (do próprio e familiares), de acordo com os pressupos- tos legais, sem perda de remuneração;48

Os trabalhadores públicos — com a qualidade de delegados sindicais — dispõem para o exercício das suas funções de um crédito de 12 horas por mês, sem perda de remuneração.49

Este elenco (meramente exemplificativo) de garantias dos trabalhadores públicos com impacto remuneratório não nos deverá contudo fazer perder de vista que a realidade reveste-se também de um reverso da medalha em que são muitas as fragilidades. Os trabalhadores públicos têm como entidade empregadora pública (tal como se referiu) o Estado... e este — que também é legislador — tem sobre os seus trabalhadores uma po- sição de autoridade muito reforçada (que o distingue a todos os níveis dos empregadores privados).50Se durante anos o Tribunal Constitucional não teve um papel muito ativo no âmbito das relações de emprego público, a verdade é que de 2009 em diante não teve mãos a medir! E ora reconheceu que as opções do legislador estavam em conformidade com as garantias constitucionais,51ora revelavam desconformidade exigindo novos en- quadramentos e soluções legislativas.52

47 Artigo 114º -A da LTFP (aditado pela Lei nº 84/2015, de 7 de agosto).

48 Artigo 134º nº 2 al i) e nº 3 e nº 4 al b) da LTFP e DL nº 57-B/84, alterado pelo DL nº

70-A/2000, quanto ao subsídio de refeição.

49 Artigos 344º e 316º da LTFP (enquanto que no âmbito do Código do Trabalho os delegados

sindicais têm um crédito de apenas 5 horas mensais, conforme artigo 467º, nº 1 da Lei nº 7/2009).

50 Assim, e socorrendo-nos apenas da história recente, temos o Estado — empregador públi-

co — que pode aplicar aos seus trabalhadores reduções remuneratórias; suspensão do pagamento do subsídio de férias; suspensão do pagamento do subsídio de Natal em novembro (e pagamento em duodécimos...); suspensão das normas que obrigam ao pagamento de remuneração superior no caso das mobilidades intercarreiras e intercategorias para carreira ou categoria superior daquela que o trabalhador é titular; redução dos acréscimos do trabalho suplementar; proibição de alteração de posicionamento remuneratório seja obrigatório seja por opção gestionária e proibição do paga- mento de prémios de desempenho (pese embora a aplicação do sistema integrado de avaliação do desempenho continue a ser obrigatório); redução dos valores que são pagos a título de ajudas de custo; a possiblidade de aumentar a duração semanal de trabalho para 40 horas (em lugar das 35 horas) sem o aumento proporcional da remuneração; a previsão genérica de um suplemento remu- neratório para os trabalhadores abrangidos por regime de isenção de horário mas a falta de norma a habilitar aos serviços esse pagamento; a existência de um regime de abono para falhas mas que não é pago a todos os trabalhadores públicos que manuseiam valores, etc.

51 TRIBUNAL CONSTITUCIONAL. Processo nº 177/2009 — Acórdão nº 154/2010

(constitucionalidade da Lei de vínculos, carreiras e remunerações). Lisboa, 20 de abril de 2010; Processo nº 962/2013 — Acórdão nº 794/2013 (constitucionalidadade das 40 horas de trabalho semanal). Lisboa, 18 de dezembro de 2013. Disponíveis em: <http:/ http://www.tribunalconstitu- cional.pt/>. Acesso em: 31 ago. 2017.

52 TRIBUNAL CONSTITUCIONAL. Processo nº 2/2013 — Acórdão nº 187/2013 (in-

constitucionalidade da suspensão do pagamento de subsídio de férias). Lisboa, 5 de abril de 2013; Processo nº 754/13 — Acórdão nº 474/2013 (apreciação preventiva do regime da requalificação).

4 Post Scriptum

Foi hoje publicada a Lei nº 25/2017, de 30 de maio (para entrar em vigor no dia 1 de junho de 2017). Constato, através de uma muito breve leitura sobre o diploma, que os artigos 245º a 275º da LTFP relativos ao regime de reafetação de trabalhadores em caso de reorganização e racionalização de efetivos, bem como o nº 2 do artigo 289º e artigos 311º a 313º também da LTFP são revogados! Entrará em vigor um novo regime de valorização profissional dos trabalhadores com vínculo de emprego público na sequência dos procedi- mentos de reorganização e racionalização de efetivos geradores de valorização profissional.

Deste novo enquadramento legal resultam (numa análise ainda por amadurecer) pelo menos três traços muito importantes:

É opção do legislador (atual) não distinguir os trabalhadores públicos (nomeados e contratos de trabalho em funções públicas — e nestes últimos sem distinção entre os que estão abrangidos pelo nº 4 do artigo 88º da Lei nº 12-A/2008 e os restantes) face a este novo regime de “valorização profissional”;

É opção do legislador que os trabalhadores públicos com vínculo por tempo indeterminado não possam ver o seu vínculo terminado na sequência de procedimentos de reorganização e racionalização de efetivos (ou seja, deixa de ser causa de cessação do vínculo laboral) — uma importante alteração ao nível das garantias de proteção do vínculo laboral;

E, finalmente, uma vez colocados em regime de valorização profisisonal não sofrem