• Nenhum resultado encontrado

2 CORPO, ESPETÁCULO E CONTOS DE FADAS

2.3 CINEMA HOLLYWOODIANO

Os filmes de Hollywood ganharam fama e se consolidaram no mercado por suas produções grandiosas e pelo investimento em efeitos especiais. A estética dos filmes hollywoodianos é sempre dotada de cenas de eternos duelos entre o bem e o mal, do mundo mágico, onde tudo é possível, e o final feliz. Neste subitem, abordamos uma breve historicidade do cinema de Hollywood, assim como alguns conceitos interessantes para a cinematografia feita ainda hoje.

Esse modo de fazer cinema vem sendo estudado por diversos pesquisadores, das mais variadas áreas, por conter uma história social, tecnológica e devido aos estudos do próprio cinema, aos aspectos positivos que Hollywood trouxe para os mais diversos países e telas cinematográficas, desde o uso dos estúdios detalhadamente decorados até aos efeitos visuais cinematográficos. No entanto, os estudos sobre o cinema de Hollywood também observam os aspectos negativos que ele traz em relação às fortes influências que exerce no social e nas práticas sociais. Mascarello (2006) afirma que:

Hollywood vem sendo tratada, costumeiramente, de forma segregativa como objeto de estudo. De modo geral, não se encontram, no campo de interesses de pesquisadores e professores, os aspectos e abordagens mais "neutros" ou afirmativos - a história social, econômica ou tecnológica, o estudo não aprioristicamente ideológico dos procedimentos de narração, estilo e conformação temática, a teoria dos gêneros cinematográficos, a recepção concreta dos filmes pelas audiências etc. Em contrapartida, destacam-se as aproximações e os recortes negativos, pautados pelo ideológico - o estudo do sistema textual clássico como agente de assujeitamento, a análise fílmica como denúncia, a teorizaçao abstrata e apassivadora do espectador. (MASCARELLO, 2006, p. 333).

Segundo Butcher (2004), a Hollywood clássica teve seu início nos anos de 1920 e seu apogeu nos 1940, com filmes que ainda retratavam fábricas/ indústrias e suas

concepções críticas e reais no contexto da época. Ao surgir novos equipamentos tecnológicos, tal como a televisão, nos anos de 1950, o cinema passa por uma grande crise, tendo de competir com outros mercados, e precisa se reestruturar para ganhar o topo novamente. É então nos anos de 1970 que uma nova Hollywood ganha novas perspectivas e é inserida no modelo do capitalismo integrado.

Essa Hollywood passará por algumas modificações ao longo da história, e passa a analisar como o filme poderia ter sucesso estética e economicamente, ao mesmo tempo. Desta forma, uma nova Hollywood nasceu, a fábrica dos sonhos, que trabalharia temas universais, não esgotando seus produtos e filmes em um único mercado interno, mas sim, expandindo-se para o mundo todo.

Os primeiros momentos do novo cinema americano estabeleceram formas de representação inseridas nas produções capitalistas. Em outras palavras, os filmes americanos passaram a ser grande veículo de difusão de produtos de consumo, tais como o automóvel, a estética corporal, o estilo de vida americana, entre outros. Butcher (2004) afirma que:

Os mitos americanos do “self made man”, da liberdade de expressão e da América como terra das oportunidades, por exemplo, são constantemente representados e reafirmados, num processo de fabricação e venda de estilos de vida e modos de comportamento. Firmam-se, também, alianças com outros setores da indústria. (BUTCHER, 2004, p. 19).

Por este viés, o cinema hollywoodiano precisou também reformular seus desempenhos estéticos, tais como: aparência visual, desempenho dos atores, a música, a tipologização das personagens, todos os aspectos precisaram ser refeitos para entreter ao seu espectador e, com isso, lucrar mais pelas produções feitas. Essa nova fase fílmica será nomeada de high concept, que visa não apenas desempenhos estéticos, já mencionados, mas também os efeitos dos conjuntos industriais, fator econômico/capital.

Cada um desses aspectos é essencial para a produção fílmica; a visualidade seja, talvez, a mais importante entre elas, pois por meio desta, o espectador é levado para admirar a própria imagem projetada na tela, e não tanto a história a ser contada. Segundo Wyatt (1994):

[...]Em boa parte assimiladas à estética publicitária (que transforma "visões cotidianas banais" num espetáculo "impactante"), essas técnicas por vezes se unem para induzir o espectador a "contemplar a estranheza da imagem", em vez de preocupar-se com o desenvolvimento da história. Além de oferecer imagens espetaculares e superficialmente atraentes, a aparência high concept também objetiva a criação de uma identidade consistente para o filme produto. (WYATT, 1994, p. 24 apud MASCARELLO, 2006, p. 350-351)

Em relação ao outro elemento, a performance dos atores é imprescindível. Na atuação, movimentos e interpretações da personagem são realizados de forma convincente e ao mesmo tempo natural, verossímil, espontâneo, pois uma boa performance do ator no espetáculo contribui também para sua ascensão ao nível “estrela de cinema”. Wyatt (1994) afirma que:

ela procura maximizar sua condição de estrelas, distinguindo-se pela interpretação ostentatória, fundada no gesto, em oposição ao trabalho mais naturalista do restante do elenco [...] o autor observa como é flagrante, mais uma vez, a precedência do espetáculo sobre o desenrolar da narrativa. (WYATT, 1994, p. 31-33 apud MASCARELLO, 2006, p. 351).

Segundo Wyatt (1994 apud MASCARELLO, 2006), a musicalidade também é explorada em um filme, desde as faixas de músicas clássicas, até as mais atuais trilhas sonoras de sucesso. A música ajuda de certa forma o filme, pois se adequa ao tom da música para os momentos de ação, aos efeitos de suspense, do drama, da transformação mágica e outros aspectos notórios no interior da narrativa. A música combinada com a imagem em movimento gera explosões musicais momentâneas que interferem diretamente nas emoções e sentimentos do espectador.

E, por fim, os recursos de tipologização dos personagens, conforme Wyatt (1994 apud MASCARELLO, 2006), referem-se aos aspectos físicos das personagens, já que cada personagem necessita de um número mínimo de atributos, com destaque para a aparência física, pois esta espetacularização do corpo belo, por exemplo, atende com alta perfeição às solicitações do mercado de consumo, fazendo desta forma, a sujeição do espectador para o desejo de ter um corpo ideal materializado no espetáculo visto. Hollywood e seus elementos estilísticos do high concept contribuem diretamente à economia social de uma produção de sonhos, de desejos, e modos de perceber o mundo.

Os aspectos apresentados anteriormente são a (re)configuração do espetáculo sob a forma de imagem em movimento, fazendo parte do imaginário do expectador, formando práticas sociais e, principalmente, levando ao consumo, não apenas no país de origem produzido, mas também repercutindo aos demais países ao redor do mundo.

Documentos relacionados