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o crescimento e a variedade de espaços alternativos são indicati- vos da dinâmica da rede e que vem propiciando, principalmente ao longo da década de 1990, o incremento de critérios de seleção profissional.

É preciso esclarecer, no entanto, em que nível se dá essa seleção. em vários espaços alternativos que visitei e pude conversar mais detida-

mente com seus coordenadores, a tônica da argumentação centrava-se no caráter aberto dos espaços. vários terapeutas enfatizaram que em seus espaços todos os profissionais são bem-vindos, sejam eles terapeu- tas ou não; que não existem restrições a nenhuma atividade específica, que a clientela é a mais diversificada possível.

apesar dessas indicações, ao longo das entrevistas alguns aspectos destoavam desse referencial inclusivo e tolerante, evidenciando alguns critérios informais – na maior parte dos casos de caráter pessoal – de seleção dos profissionais envolvidos. É o caso, por exemplo, da astro- terapeuta que coordena um espaço alternativo na Zona sul carioca. em um determinado momento da conversa em que abordava a questão da alta rotatividade de profissionais em seu espaço, ela se lembrou de dois profissionais em particular, descrevendo o seu perfil:

Álvaro: formado em engenharia, começou a anunciar terapias variadas, atendendo inicialmente em outro espaço alternativo. Possuía um tipo físico expressivo e começou a juntar em torno de si muitos clientes, em sua maioria mulheres. Fazia terapia de vidas passadas e de equilíbrio energético. Parece, segundo ela, ter misturado várias terapias e outros conhecimentos esotéricos, dizendo ter produzido um “traba- lho próprio”, identificado por “equilíbrio energético”. Começou a dar consultas no espaço em questão, inicialmente com tarô e búzios, mas após um ano de atividades necessitou de um local mais apropriado para o seu trabalho, um local mais amplo e com maior visibilidade. ainda segundo essa astroterapeuta, ele “ouvia vozes” e possuía vidência.

Breno: também formado em engenharia, frequentou o mesmo curso de astrologia que a nossa astroterapeuta. Começou sua trajetó- ria a partir da astrologia, mas logo se “encantou” e dizia que já sabia o suficiente. Passou, então, a trabalhar com várias terapias (inclusive cor- porais) e também com equilíbrio energético. Conversava sobre tudo e, segundo ela, costumava “envolver” as pessoas com seu carisma. Possuía um poder de convencimento muito forte.

Quando perguntada acerca do motivo que levou à saída dos dois profissionais que trabalhavam em seu espaço, alguns “critérios de seleção” começaram a surgir. embora ela afirmasse que seu espaço se

caracterizava enquanto um “espaço aberto”, recebendo terapeutas sem regras formais de avaliação, nos dois casos narrados os profissionais não se coadunavam com sua linha de trabalho. apesar de não terem sido “dispensados”, ela explicitou a aprovação da saída deles, afirmando que o espaço “não se harmonizava com este tipo de profissional”.

não são raros os casos de críticas ao trabalho de outros profissio- nais e mesmo de espaços alternativos onde comparecem como argumen- tos principais a seriedade e a competência profissional. os critérios de seleção são variados e parecem ser mais ou menos implícitos de acordo com o grau de “abertura” adotado pelo espaço. ainda que sejam espaços “abertos”, os profissionais que trabalham no local constroem, de for- ma mais ou menos explícita, uma identidade profissional e afinidades pessoais que viabilizam a convivência profissional.

Muito embora seja intensa a rotatividade dos profissionais pelos espaços, ela não parece ser ilimitada, orientando-se por critérios e graus variáveis de seletividade. a rede terapêutica alternativa configura um espaço social bastante heterogêneo, não somente do ponto de vista da capacitação profissional, como também dos critérios concorrenciais de legitimação.

as diferenças de perfil observadas entre os espaços alternativos apontam para a confecção de redes intersticiais com fronteiras não muito definidas que coexistem e ao mesmo tempo se tensionam e in- terpenetram, complexificando a questão em torno dos limites da rede terapêutica alternativa. no âmbito da classificação dos espaços exis- tentes, parece existir uma correlação entre o perfil terapêutico e uma menor flexibilidade na adoção de critérios de escolha dos profissionais, como é apresentado no esquema 6:

espaços alternativos que se aproximam do tipo terapêutico de- senvolvem maior controle e preocupação com a questão da seriedade e da competência terapêuticas, implicando uma maior seletividade do quadro de profissionais que participam das atividades permanentes do espaço.

nesse sentido, embora a rotatividade e a “abertura” à multipli- cidade de experiências caracterizem a rede terapêutica alternativa, no que diz respeito à circulação de profissionais, é importante ressaltar a existência de áreas de “trânsito livre” convivendo com áreas de “trânsito controlado”.

no que diz respeito à distinção entre sexos, parece existir uma diferença marcante entre os terapeutas e a clientela. todos os tera- peutas descreveram a sua clientela como majoritariamente feminina, o que, para muitos, significava algo em torno de 90%. a partir de um levantamento de anúncios de terapeutas (e não de espaços alternativos), onde comparecem 207 nomes, pude constatar que a proporção entre os sexos é menos acentuada entre os profissionais:

Gráfico 5 – inserir aqui o título do gráfico

através dos anúncios publicados nos jornais alternativos da área, pode-se também distinguir várias formas de veiculação da competência terapêutica. a mais recorrente é a apresentação da habilidade específica sempre associada à finalidade terapêutica do trabalho. assim, nos dife- rentes anúncios, podem constar simplesmente a nomeação “terapeuta” ou um conjunto de variantes que lhe são diretamente relacionadas, como, por exemplo: terapeuta floral, floralista, astroterapeuta, tera- peuta holística, massoterapeuta.

a nomeação do qualificativo “terapeuta” também pode se encon- trar associada à formação profissional anterior ou articulada a outras capacitações já adquiridas no âmbito da nebulosa místico-esotérica. a perspectiva, nesse caso, parece ser a de conquista de maior legitimida- de através do elenco das habilidades específicas, como nos exemplos: “terapeuta floral e psicóloga”; “taróloga e terapeuta”; “nutricionista e te- rapeuta”; “astrologia, terapia floral e corporal”; “biólogo e terapeuta”.

Por fim, uma terceira forma de apresentação também adotada pode ou não se articular às demais: nesse caso divulgam-se as creden- ciais de formação ou de participação em grupos específicos. encontrei as seguintes possibilidades de apresentação: “formado pelo instituto sorku-in”, “graduada pelo Mestre Choa Kok sul”, “shiatsuterapeuta japonês diplomado”, “professora da técnica alexander”, “Membro da society of the alexander tecnique”, “terapeuta licenciado no estado da Califórnia”, “phd”, ou ainda “cft”, que significa que o profissional se encontra legalizado em sua profissão, devidamente registrado no Conselho Federal de terapia.58

a partir do levantamento dos anúncios de terapeutas nos jornais observam-se mudanças variadas: no nome do profissional, na apresen- tação da competência profissional e no conjunto de terapias oferecidas. neste último caso, identifiquei (não apenas nos anúncios, mas princi- palmente através das entrevistas): aumento do número das terapias oferecidas; substituição da terapia anteriormente anunciada por outra técnica; alteração da nomeação do trabalho terapêutico desenvolvido (a medida que se vão acrescentando novas técnicas, o trabalho pode apresentar uma nomeação geral distinta da anterior). É o que podemos observar nos anúncios a seguir, extraídos de vários jornais alternativos da área, em diferentes anos:

a. Boris Zainotti terapeuta holístico

Boris Zainotti

terapeuta Xamã

radiestesia (diagnose dos chakras), aconselhamento neurolinguístico, tratamentos de desintoxicação b. Dra. Célia Araújo

Graduada pelo Mestre Choa Kok sul, introdutor do método no Brasil

Cura prãnica

Dra. Célia Araújo

crm 5223422 - rj Cura Prãnica c. Mirian Calisman

curso de cromoterapia, atendimento

Mirian Calisman

massagem de energia e relaxamentos: cursos e terapia d. Rogério Favilla

holoterapia: formação teórica e prática, síntese de técnicas terapêuticas

Rogério Favilla

terapia reiki

a utilização do termo terapeuta comporta um leque de desig- nações mais ou menos definidas, segundo a habilitação profissional, conforme se depreende da lista a seguir, baseada em todos os anúncios dos jornais analisados:

astroterapeuta Cromoterapeuta Massoterapeuta Musicoterapeuta shiatsuterapeuta taróloga e terapeuta