• Nenhum resultado encontrado

DIREITO COMPARADO

4.2. CLÁUSULAS E ASPECTOS RELEVANTES

4.2.1. Cláusula arbitral

Previamente, tratou-se da cláusula de resolução de controvérsias, nesse momento, volta-se para a cláusula compromissória. Esta, conforme explicitado anteriormente, consiste

30 José Alberto Bucheb (2007, p. 5) delineia as principais cláusulas a serem trazidas pela joint bidding agrement,

as quais são: “a que define o roteiro para a formulação da oferta a ser apresentada na licitação e estabelece o conceito à melhor proposta(aplication procedure), as que regulam o direito de retirada das partes, a que contém o compromisso de cada uma das partes e de suas respectivas afiliadas de não concorrer com as demais, isoladamente ou em grupo, em qualquer licitação que tiver como objeto o bloco em questão (ou parte dele), durante o período acordado (undertaking) e a que lista os itens pré-acordados do documento que será negociado, futuramente, em caso de sucesso na licitação (JOA principles).”

56 na disposição contratual em que os contraentes se comprometem, em caso de eventual conflito, a submetê-lo a um tribunal arbitral.

É cediço que a arbitragem concerne a um meio alternativo de solução de litígios dotado de caráter sigiloso, de forma semelhante ao joint operating agreement. Dessa forma, mantém suas características, sendo regida pelos princípios e normas do direito internacional e da lex petrolea.

As partes poderão optar por um procedimento arbitral ad hoc ou institucional, devendo assim verificar qual dessas modalidades pode ser mais proveitosa para os envolvidos.

No primeiro capítulo, discorreu-se sobre a arbitragem em sede das minutas de joint operating agreement da AIPN, desse modo, cumpre relembrar algumas questões. Os modelos demonstraram uma preferência pelo arbitramento em detrimento da jurisdição estatal, aplica- se o que fora abordado sobre as minutas de contrato de JOA da AIPN, ou seja, são aconselhados a utilização dos regulamentos das câmaras arbitrais mencionadas no primeiro capítulo, mesmo que a arbitragem seja ad hoc.

Insta salientar que a cláusula compromissória do acordo-base não poderá atingir os acordos satélites, ou seja, não haverá a possibilidade de extensão dos efeitos da cláusula arbitral, em razão da ausência do instituto da conexão do processo judicial na arbitragem (Timm e Rodrigues, 2009). Para melhor compreensão, cumpre trazer a doutrina de Luciano Bennetti Timm e de Marcos Rodrigues:

“Outro cuidado importante é que só existe arbitragem se houver consenso entre partes. Com efeito, não se pode esquecer que a mesma não possui regras de conexão tal qual o juízo estatal (na esteira do Código de Processo Civil, artigos 88 e 89). Não existe presunção de arbitragem, vigorando o princípio da força relativa dos contratos; por este motivo, também os contratos satélites de joint venture, lastreados no acordo base, devem estar também com a cláusula compromissória designando, na medida do possível, o mesmo juízo arbitral, sob pena de se entender a não presença da cláusula como a ausência de vontade das partes levarem a arbitragem às lides destes contratos específicos.” (Rodrigues; Timm, 2009)

Deste modo, cada acordo deverá compreender uma cláusula arbitral nos mesmos moldes daquela disposta no acordo-base. Inclusive, há julgado da 21ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e do Superior Tribunal de Justiça a respeito do tema, no entanto, ambos dispuseram no sentido de que, havendo cláusula compromissória no acordo mãe, essa será oponível a todos os acordos satélites, exceto quando houver disposição em contrário. Nesse sentido, há o excerto do voto do Desembargador André Ribeiro sobre o assunto:

57

Agravantes: ETX SERVIÇOS DE PERFURAÇÃO E SONDAGEM DE PETRÓLEO LTDA E OUTRA

Agravado: JP OIL COMPANY LLC Relator: Desembargador André Ribeiro

AGRAVO DE INSTRUMENTO. MEDIDA LIMINAR DE

REINTEGRAÇÃO DE POSSE. DEFERIMENTO. COMPETÊNCIA. AÇÃO DECLARATÓRIA MOVIDA PELA AGRAVADA EM FACE DOS AGRAVANTES, NA QUAL O JUÍZO A QUO DEFERIU A REINTEGRAÇÃO DE POSSE DAS SONDAS DESCRITAS NA INICIAL. ALEGAÇÃO DE INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DO JUÍZO, PELA INSTITUIÇÃO DE CLÁUSULA ARBITRAL EM CONTRATO DE JOINT VENTURE AGREEMENT. NO OBJETO DO JVA HÁ ESPECÍFICA MENÇÃO AO CONTRATO DE ARRENDAMENTO, CONFORME SE INFERE DA CLÁUSULA 1.1. UMA VEZ ESTABELECIDA EM CONTRATO CLÁUSULA COMPROMISSÓRIA AMPLA, A SUA DESTITUIÇÃO DEVE VIR ATRAVÉS DE IGUAL DECLARAÇÃO EXPRESSA DAS PARTES, NÃO SERVINDO, PARA TANTO, MERA ALUSÃO A ATOS OU A ACORDOS QUE NÃO TINHAM O CONDÃO DE AFASTAR A CONVENÇÃO DAS PARTES. O CONTRATO

ACESSÓRIO SEGUE O PRINCIPAL. APESAR DO

ESTABELECIMENTO DE CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM NO INSTRUMENTO CONTRATUAL, NOS CASOS EM QUE HAJA NECESSIDADE DE ALGUMA MEDIDA CAUTELAR OU DE URGÊNCIA ANTES DA INSTAURAÇÃO DO JUÍZO ARBITRAL, RESTA CLARO QUE NÃO ESTARÁ IMPEDIDO O SEU ACESSO AO JUDICIÁRIO, EIS QUE O DEMANDANTE PODERÁ PROPOR A MEDIDA CAUTELAR NECESSÁRIA, DESDE QUE PREENCHIDOS OS SEUS REQUISITOS, NA FORMA DO ART. 800 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL BRASILEIRO, O QUE NÃO OCORREU. AUSÊNCIA DE INTERESSE PROCESSUAL. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO, DE OFÍCIO. RECURSO PREJUDICADO. (...)

Alegam os agravantes, em síntese, que a decisão agravada deve ser reformada, pois as partes pactuaram expressamente cláusula compromissória, estipulando que, em caso de conflitos oriundos de contratos em questão, seria instituída a arbitragem, esclarecendo que no “Joint Venture Agreement” (JVA) celebrado entre as partes restou consignado que todo e qualquer litígio oriundo do JVA deve ser decidido por arbitragem, a ser instituída perante a renomada Câmara de Comércio Internacional (CCI), acrescentando que a cláusula pactuada estende-se para todas as relações que são reguladas por esse instrumento, inclusive ao contrato de arrendamento; que recente precedente do E. STJ estabeleceu a orientação segundo a qual uma cláusula arbitral constante de um contrato de joint venture é oponível a todas as demais avenças dele decorrentes, salvo na hipótese de convenção específica das partes em contrário; que a Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Vigésima Primeira Câmara Cível cláusula de eleição de foro contida no contrato de arrendamento não é incompatível com a cláusula compromissória contida no JVA, alegando a incompetência do Juízo a quo para apreciar a demanda e o consequente descabimento da liminar deferida inaudita altera parte.”

Portanto, cada acordo integrante do joint operating agreement deve possuir sua cláusula compromissória, e, se for de conformidade às vontades das partes, devem reproduzir

58 aquela do acordo-base para que os contratos satélites possam ser apreciados pelo mesmo tribunal arbitral daquele. Não há, diante do julgado acima e da doutrina, a possibilidade de extensão da cláusula arbitral do acordo-base para os acordos satélites.

Documentos relacionados