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Práticas associativas não constituem novidade na história das classes trabalhadoras. O associativismo para fins beneficentes, assistenciais, para apoio às famílias de trabalhadores desempregados, presos ou demitidos por razões políticas, ou mesmo de trabalhadores falecidos, que o movimento operário organizou, tanto no Brasil quanto em outros países parece constituir parte da própria identidade da classe trabalhadora. A já mencionada obra de Thompson tem como referência central o associativismo dos trabalhadores do final do século XVIII, que eram, sobretudo, artesãos, como ele próprio mostra, quando trata da composição social da Sociedade Londrina de Correspondência. (THOMPSON, 1987, p. 171-172).

As práticas associativas dos trabalhadores, que, na França, resultaram nas experiências do mutualismo, ocasionaram ou fortaleceram o surgimento de teorias de tendência filantrópica, socialista e humanista. De acordo com Silva, são idéias que municiaram teóricos como Charles Fourier, Joseph Proudhon, que questionavam efetivamente o individualismo liberal, em defesa de um pensamento humanista conectado com a reciprocidade de ação.30 As

sociedades já existentes na Grã-Bretanha a partir da segunda metade do século XVIII, com base em sentimentos de amizade e de fraternidade, pelo que eram comumente conhecidas por "Friendly Societies", serviram como modelo para alguns dos sistemas adotados na França. Já, em relação ao século XIX, Michelle Perrot lembra o papel, nas greves, das sociedades de socorro mútuo, que dissimulavam, freqüentemente, uma sociedade de resistência, segundo ela, ―herdeiras de um tempo em que a coalisão, sendo um delito, tornava necessário esconder seus organizadores‖. (PERROT, 1984, p. 49).

Segundo Fortes,

[...] a criação de formas associativas voltadas ao atendimento das demandas dos trabalhadores por proteção frente à doença, à velhice, ao desemprego e às condições adversas ligadas à morte de um familiar tem sido talvez um dos elementos mais característicos do movimento operário em diferentes contextos históricos. Tão antiga quanto a existência do mutualismo é também a polêmica sobre o seu papel no desenvolvimento de um processo de organização classista e de luta pelos interesses coletivos dos trabalhadores. (FORTES, 1999, p. 174).

30 O Mutualismo é um sistema privado de proteção social que visa o auxilio mútuo em situações de carências, de

dificuldades ou de melhoramento das condições de vida das pessoas, como forma voluntária de realização do ideal de solidariedade. Estes objetivos genéricos de proteção social solidária são promovidos por instituições, geralmente do tipo associativo, ditas Associações Mutualistas, sem fins lucrativos, que se especializam de conformidade com as modalidades de proteção a serem estabelecidas. (SILVA, 2015).

De fato, embora o mutualismo seja, para a história do movimento operário, tão importante quanto os sindicatos ou as organizações partidárias, algumas formas de ―mutualidade‖ causaram polêmicas e esse mesmo autor menciona o Congresso Operário Estadual de 1898, no Rio Grande do Sul, que rejeitou a proposta de formação de cooperativas de produção e consumo por entidades operárias, sob o argumento de que as cooperativas representavam o capital e não poderiam lutar contra este mesmo capital. (FORTES, 1999, p. 179). As práticas associativas, no entanto, já eram parte da experiência dos trabalhadores do Rio Grande do Sul, a exemplo da Associação Beneficente das Classes Laboriosas, em Pelotas, fundada em 1880, e cujas finalidades incluíam ―prestar aos sócios e às pessoas de suas famílias os socorros a seu alcance, quando doentes, presos ou decrépitos; e promover, por todos os meios lícitos, o bem estar de seus membros‖ (FORTES, 1999, p. 177).

Nas duas maiores cidades do país, Rio de Janeiro e São Paulo, a experiência do mutualismo se multiplicou mais intensamente nas últimas décadas do século XIX e nas primeiras décadas do século XX. Tanto a formação quanto o desenvolvimento da classe trabalhadora aconteceram de modo diferente nessas duas cidades, mas, em ambos os casos,

[...] o mutualismo deve ser entendido como pertencente ao conjunto das experiências que se manifestaram concretamente em práticas de solidariedades horizontais, aglutinando homens e mulheres (em geral pobres e trabalhadores) e gerando uma cultura emergente, diante das transformações econômicas, sociais, políticas e ideológicas que marcaram o período. (JESUS, 2007, p. 155).

Nesse sentido, vale observar que Cláudio Batalha critica a visão tradicional que distingue as associações mutuais e as sindicais em etapas que se sucederam no tempo e questiona a hipótese de que as associações de resistência teriam substituído as mutuais a partir da segunda década do século vinte.31 Na verdade, Batalha acredita que as ações de ambos os

tipos de associação de trabalhadores, resistência e assistencialismo, se confundiram durante a segunda metade do século dezenove, no contexto mais amplo das práticas sociais e culturais dos trabalhadores. Para ele, importa reconhecer que a questão central para o entendimento da formação da classe operária é a análise das continuidades e descontinuidades das formas de organização operária. (BATALHA, 1999 p. 41-69).

Trabalhos que relatam as experiências das associações mutualistas em São Paulo, inclusive em cidades do interior apontam efetivamente para essa dimensão que associa ações

31 O período mutualista - caracterizado pelo auxilio mútuo aos seus associados, principalmente no que tange ao

auxílio desemprego, doenças e invalidez - seria o que vem antes de 1888. O período de resistência – sociedades criadas para exercerem funções eminentemente sindicais, como a luta por melhores salários, diminuição da jornada de trabalho e condições de labuta mais dignas - o que se estenderia de 1888 a 1917.

assistencialistas e ações de resistência, como este caso das sociedades mutuais italianas em Ribeirão Preto:

Na primeira década do século XX, esta mesma sociedade (Sociedade Unione Italiana ) abrigou a Liga Operária e juntamente com ela foi responsável por diversas manifestações na cidade em favor, por exemplo, das oito horas de trabalho, do descanso semanal remunerado e também por várias festas em homenagem ao dia 1º de maio, demonstrando a confluência entre as práticas das associações mutuais e dos nascentes sindicatos. (FURLANETTO, 2009, p. 5).

Todavia, em estudo realizado na cidade de Campinas, Nomelini observa:

Quando a finalidade dessas associações mutualistas era considerada ―humanitária‖,

o grupo de trabalhadores que as fundavam tinha a intenção de associar as inseguranças do trabalho assalariado (doenças, acidentes e morte) à sua condição de trabalhador dentro da sociedade campineira. Quando as associações reafirmavam

sua característica ―beneficente‖, o grupo fundador desejava ressaltar que oferecia as

possibilidades para que trabalhadores, pequenos comerciantes, donos de oficinas e outros grupos pudessem ter acesso a tratamentos na área da saúde. Por isso, a maior

parte das associações ―humanitárias‖ mobilizavam a identidade operária ou negra e as associações ―beneficentes‖, em grande parte, mobilizavam as identidades

nacionais (italiana, portuguesa ou espanhola). (NOMELINI, 2010, p. 148.).

A mesma autora registra que diferentes associações operárias no começo do século XX podiam ter relações complexas no seu convívio. Por exemplo, a Sociedade Humanitária Operária e a Liga Operária de Campinas, não só compartilhavam associados, mas também dividiram o espaço da sede em que funcionavam:

[...] em 1906, a Sociedade Humanitária Operária comunicou aos sócios que sua sede

social seria junto com a da Liga Operária de Campinas, na Rua Ferreira Penteado nº 171. Entretanto, os Congressos Operários realizados, nas primeiras décadas do século XX, declaravam que as associações de resistência deveriam ter apenas essa finalidade, evitando oferecer benefícios mutualistas ou assistenciais. Essa orientação influenciou a Liga Operária de Campinas, que liderou os grevistas em 1906, gerando tensões em sua relação com a Sociedade Humanitária Operária. (NOMELINI, 2010, p. 163.).

É importante considerar que os movimentos que criaram associações de trabalhadores, resultando em mutualismo ou em resistência, ou mesmo em ações de ambas as vertentes se alternando na trajetória de um mesmo sujeito coletivo, fazem parte de uma enorme multiplicidade de experiências e de uma grande pluralidade de expressões na trajetória do movimento dos trabalhadores, do século dezenove às primeiras décadas do século vinte. As duas vertentes associativas conviveram lado a lado naquele período, de forma que foram processos contemporâneos e não excludentes na história da classe trabalhadora.

O fato de as mutuais não terem como propósito a luta política em favor dos trabalhadores não implica que estivessem indiferentes às mesmas. Apesar de as mutuais poderem ser dirigidas por setores médios ou por membros de camadas superiores, a maior parte de seus sócios era composta por trabalhadores simples e empobrecidos. Por essa razão, algumas mutuais envolveram-se na luta operária, apoiaram greves, cederam seus espaços para as sociedades de resistência, compareceram nos congressos operários, comemoraram o primeiro de maio e, em alguns momentos, tornaram-se, inclusive, sindicatos. Mas tal envolvimento não era uma prerrogativa do mutualismo e não ocorreu na maior parte das associações. (VISCARDI, 2010, p. 33).

Diversos autores que trataram do mutualismo e do associativismo de resistência em São Paulo e também no Rio de Janeiro observaram a realidade de ambos os fenômenos sob esse mesmo ponto de vista.32 Na verdade, o grande número de associações para fins de mutualismo, fins reivindicativos, recreativos, culturais, em ambas as cidades, em um contexto de formação de um movimento sindical atuante e combativo conforme descreve Siqueira (2008, p. 22-83), oferece elementos para uma variada gama de constatações. Essa diversidade e essa movimentação constante favorecem a construção de novos olhares sobre os processos associativos, que contribuem para a consolidação de identidades entre os trabalhadores e para a produção de saberes e consolidação de uma cultura que, por sua vez encaminha para a construção e fortalecimento do sujeito político. (CHAUÍ, 1986).

Trata-se da construção do olhar para a cultura operária como um espaço e objeto de lutas. (DECCA, 1987; HARDMAN, 1983). Contudo, é importante ver que esses processos de formação no campo do associativismo não resultam somente das transformações do capitalismo, como produtos dele, vindos de suas transformações. O associativismo se faz história enquanto resultado das experiências cotidianas dos trabalhadores, no sentido que Thompson atribui ao conceito de experiência.

São as experiências dos trabalhadores num contexto de crise econômica e política do regime monárquico, que se materializaram na criação de instituições, de busca de permanência de um processo que fortalece a identidade. A iniciativa de criar, de institucionalizar, se dá como forma de responder a pressões que são legíveis na correlação de forças políticas, econômicas e culturais.

Pelas falas dos trabalhadores que entrevistamos, parece ser possível traçar um paralelo entre os acontecimentos que impregnavam o cotidiano dos trabalhadores de Betim e Contagem, nos anos setenta e oitenta, as formas de organização a que eles recorreram e o que Thompson chamou de resposta individual ou de um grupo social:

Essa agitação, esses acontecimentos, se estão dentro do "ser social", com freqüência parecem chocar-se, lançar-se sobre, romper-se contra a consciência social existente. Propõem novos problemas e, acima de tudo, dão origem continuadamente à experiência – uma categoria que, por mais imperfeita que seja, é indispensável ao historiador, já que compreende a resposta mental e emocional, seja de um indivíduo ou de um grupo social, a muitos acontecimentos inter-relacionados ou a muitas repetições do mesmo tipo de acontecimento. (THOMPSON, 1981, p. 15).

Vale lembrar que o que se chama aqui de consciência social existente incluiria os diversos canais pelos quais se constrói cotidianamente a hegemonia. Por suposto, será na relação dialética com a construção da hegemonia que sujeitos, individuais ou coletivos (grupais), construirão a sua experiência, sua resposta, construindo-se como sujeitos.

Avançar com os diversos discursos sobre a experiência do Mutirão permitirá identificar as diversas experiências que se construíram enquanto resposta, organização e ação de sujeitos e grupos, o que faz alguma aproximação com o que Thompson chama de experiência determinante, em um processo de mudanças e novas propostas:

O que queremos dizer é que ocorrem mudanças no ser social que dão origem à experiência modificada; e essa experiência é determinante, no sentido de que exerce pressões sobre a consciência social existente, propõe novas questões e proporciona grande parte do material sobre o qual se desenvolvem os exercícios intelectuais mais elaborados. (THOMPSON, 1981, p. 16.).33

Talvez, nas palavras de Thompson, se vislumbre uma via para explicar os diferentes posicionamentos entre a formação de associações para assistencialismo e a formação para resistência. Ele lembra, citando Raymond Williams, que a coexistência de idéias alternativas sobre a natureza das relações sociais constitui ―o principal elemento característico da vida inglesa a partir da Revolução Industrial‖. E prossegue:

Em contraste com as idéias da classe média sobre o individualismo ou (na melhor

das hipóteses) sobre a assistência, ―o que se entende propriamente por ‗cultura da classe operária‘... é a idéia básica de coletivismo, e as instituições, maneiras, hábitos

de pensamento e intenções que provêm dela.‖ As sociedades de auxílio-mútuo não

‗provêm‘ de uma idéia. Tanto as idéias quanto as instituições surgem em resposta a

certas experiências comuns. (THOMPSON, 1987, p. 316.).

No caso brasileiro, os exemplos que já foram mencionados e os que serão citados a seguir atestam uma movimentação relativamente intensa de organização de coletivos entre diversos segmentos das classes trabalhadoras, com e sem articulação ativa e visível com os

33 Segundo Keith McClelland (1990, p.3), tal é o mérito da obra de Thompson, a saber, de que ―é possível para as pessoas fazer de si mesmas algo diferente do que é aquilo que a história fez delas‖. Sewell Jr. (1990, p.65)

compartilha tal visão e aponta para a relação desse processo concreto com sua narrativa, sugerindo que

―Thompson não desenvolve uma elaborada teoria do sujeito, mas passa boa parte do tempo construindo sujeitos em sua narrativa‖. (NICOLAZZI, 2004).

bairros populares, o que significava também uma realidade impregnada pelo cotidiano de resistência.

O acúmulo de experiências que esse exercício associativo proporcionou à classe trabalhadora não pode ser ignorado, pois surgiram várias possibilidades nos processos de criação e articulação de diversas modalidades de organização coletiva, entre associações de classe, beneficentes, movimentos e associações culturais, partidos políticos e até grupos de teatro e associações com finalidades educacionais. (DECCA, 1987, p. 125-126; SOUZA, 2003, p. 31).

No Brasil, o associativismo que vinha do século dezenove, seja beneficente ou humanitário, ou de resistência dos trabalhadores tem presença historicamente significativa registrada por estudos realizados em diversos estados. E entrou, em alguns casos, pela década de trinta, já num contexto em que havia intensa propaganda de sindicalização instaurada pelo governo federal. Ao falar dos trabalhadores da Paraíba, por exemplo, Ferreira lembra que

[...] os registros da imprensa, durante a primeira metade dos anos 30, noticiam seguidamente a criação de novas entidades como Ligas Protetoras, Associações, Uniões e Sociedades beneficentes. Passando ao largo da nova realidade sindical, e do discurso liberal em prol da sindicalização oficial, as agremiações atravessam um período em que a necessidade de sindicalização foi o assunto predominante, parecendo alheias à discussão. (FERREIRA, 1997, p. 203).

A autora menciona diversas entidades que sobreviviam ainda em 1935, como a

Aliança Proletária Beneficente, Associação dos Empregados do Comércio, Centro Beneficente dos Barbeiros, Centro dos Chofers da Parahyba do Norte, Centro Proletário Alberto de Brito, Liga Protetora dos Carroceiros, Liga Protetora dos Sapateiros, Sociedade Artistas e Operários, União Beneficente dos Estivadores, dentre outros. (FERREIRA, 1997, p. 204).

A mesma autora observa que, em Pernambuco, a experiência associativa dos trabalhadores remonta ao final do século dezenove e que se mostra na organização de ―numerosas entidades de representação de base e na presença de entidades de coordenação aglutinando várias associações, no que viria a ser chamado de intersindicais.‖ (FERREIRA, 1997, p. 129). A autora lembra, ainda, que os socialistas foram os primeiros a exercer influência ideológica sobre os trabalhadores pernambucanos. Segundo ela, os socialistas participavam do movimento organizado, através do Centro Protetor dos Operários, fundado em 1900, e promoviam conferências sobre o socialismo, sobre a situação dos trabalhadores e as comemorações do 1º de maio. (FERREIRA, 1997, p. 130). O estudo de Ferreira prossegue,

examinando as experiências no Rio Grande do Norte, Ceará e Alagoas, onde ficam registradas as experiências de algumas greves e a presença do associativismo.

Ainda no Ceará, Galvão estuda o associativismo dos trabalhadores portuários de Fortaleza, no período 1912-1937, que criaram a Sociedade Deus e Mar, que, por sua vez, experimentou uma divisão entre seus associados, de onde resultou a Sociedade Marítima Beneficente (GALVÃO, 2014). Era intenso o associativismo cearense, segundo mostra essa autora, ao citar matéria do jornal Trabalhador Gráfico :

Conforme havíamos noticiado, realizou-se, terça-feira, 1 de fevereiro presente, a soleníssima sessão de fundação da Federação dos Trabalhadores do Ceará, assistida por numerosos representantes das sociedades União Geral dos Trabalhadores, Associação Gráphica do Ceará, União dos Tecelões, Centro dos Carroceiros, União dos Ferroviários Cearenses em cuja sede teve lugar a grande reunião e as quais foram fundadoras da Federação, e elementos representativos, sociedade ―Deus e

Trabalho‖, e ―Deus e Mar‖, ―União dos Pedreiros‖ e ―União dos Sapateiros‖ que

infelizmente, não foram fundadores deste importantíssimo centro das forças trabalhadoras em geral. (Federação dos Trabalhadores do Ceará – sua fundação. Trabalhador Gráfico, n. .4, 05/02/1921 apud GALVÃO, 2014, p. 8 ).

Em relação ao associativismo no Piauí, Silva Júnior e Melo Filho apontam que:

O Centro Proletário do Piauí, fundado em 1906, funcionou como uma das organizações operárias mutualistas, com ações decorrentes disso, como criação de

escola de ideologia socialista, a escola ―14 de Julho‖, para que os operários

associados matriculassem seus filhos, apoio financeiro as atividades desenvolvidas por operários, como clubes, festas, festas do 1° de maio, custeamento de jornais militantes e da defesa das classes trabalhadoras junto às questões de polícia. (SILVA JÚNIOR; MELO FILHO, 2014).

Ou seja, a presença dos dois tipos, das duas vertentes de atividades, assistencialismo e mobilização para finalidades classistas do ponto de vista político, de resistência, acompanhando a trajetória do associativismo.

De modo geral, essas formas de associativismo permaneceram até meados da década de trinta, quando muitas categorias profissionais passaram a buscar a sindicalização como forma de ter mais condições legais para participação política e negociação com o patronato ou com o governo.

Em Minas Gerais, a expansão do movimento mutualista se verifica a partir na década de 1910, mas já existiam algumas organizações desde a década de 1870. Além das inúmeras organizações associativas e beneficentes de origem religiosa, que existiam em diversas cidades mineiras, é preciso lembrar que o Estado, os fazendeiros e empresários estimulavam a imigração.

Giroletti registra que, em 1887 esses grupos do patronato organizaram a Sociedade Promotora da Imigração em Minas Gerais, para introdução e estabelecimento de imigrantes na Província e, em 26 de agosto do mesmo ano, o governo provincial criou a Hospedaria Horta Barbosa, para receber os imigrantes. Isto significava que o governo oferecia para cada imigrante:

a) hospedagem gratuita por dez dias, b) passagem e frete para a bagagem, gratuitamente, para todos os membros da família; c) 90 mil réis para cada um que tivesse idade superior a 12 anos e que se empregasse na lavoura ou em estabelecimentos industriais com capital não inferior a 70 contos, noventa dias após seu estabelecimento na Província. d) ao fazendeiro, um auxílio de 100 mil réis por casa construída destinada ao aluguel para os colonos. (GIROLETTI, 1988, p. 66.).

O autor observa que, diante de diversos obstáculos que dificultaram a fixação dos imigrantes na agricultura, como o despreparo e a violência dos fazendeiros, a baixa remuneração ou a sonegação de salários, o inadimplemento dos contratos de parceria, entre outros, muitos imigrantes não permaneceram no meio rural. Segundo ele, ―grande parte dos imigrantes parece ter-se estabelecido na cidade, como operários, comerciantes, pequenos industriais ou no setor de serviços.‖ (GIROLETTI, 1988, p. 67).

As formas de organização dos trabalhadores na cidade não tardaram a se manifestar. Já no final da década de 1880, notam-se os primeiros movimentos de reivindicação de alguns setores das classes trabalhadoras, na reivindicação de seus direitos. O primeiro relato mencionado por Giroletti refere-se à luta pela redução das horas de trabalho, para os empregados do comércio. Naquela época, os estabelecimentos comerciais de Juiz de Fora atendiam até a noite, mesmo nos domingos e feriados, dias em que os do Rio de Janeiro atendiam somente até as 14 horas. Os comerciários organizaram-se para reivindicar a redução das horas de trabalho e conseguiram modificar o horário para as 16 horas, aos domingos e